Economia de Serviços

um espaço para debate

Month: março 2018

Quais serviços de infraestrutura, para quem e para que fim?

O Brasil investe menos de 2% do PIB por ano em serviços de infraestrutura, quando teria que investir ao menos 5% para atender às suas necessidades correntes básicas. O acúmulo de serviços de infraestrutura não satisfeitos é elevado e têm trazido dificuldades tanto para as capitais como para o interior do país, e tanto para atender às pessoas como às empresas. Indicadores de infraestrutura do Fórum Econômico Mundial e do Banco Mundial posicionam o país entre aqueles com as maiores deficiências.

De fato, o custo de serviços logísticos tem peso anormalmente elevado nas atividades econômicas e o tempo médio de deslocamento de trabalhadores das grandes cidades de casa para o trabalho também é muito elevado. Cerca de 40% da população ainda não têm acesso à água tratada e parcela ainda maior não tem acesso a esgoto encanado.

Os serviços de infraestrutura são, portanto, um problema econômico e social a ser resolvido. Mas a infraestrutura também é uma espécie de “low hanging fruit” com substanciais benefícios potenciais de curto prazo para a produtividade e para o bem estar das pessoas. Por isto, ela pode e deve ser parte do “core” das políticas públicas.

Em razão do longo atraso no atendimento das demandas por serviços de infraestrutura, o Brasil se depara, hoje, com a premência de enfrentar tanto as necessidades do “passado” como as necessidades do “futuro”, quais sejam, as infraestruturas logísticas e de saneamento e energia, bem como as  infraestruturas de banda larga, serviços de telecomunicações avançados e cidades inteligentes.

Para muito além de ter que investir mais, planejar melhor, melhorar a eficiência e a eficácia na gestão de projetos, atrair o setor privado e desenvolver e encorajar novos modelos e fontes de financiamento, o país também terá que ser mais seletivo, já que já não há mais tempo nem recursos para avançar em todas as frentes simultaneamente. Logo, será necessário estabelecer prioridades de investimentos em serviços de infraestrutura.

Mas como priorizar?  Quais serviços, para quem e para que fim?

Sabemos que o tema da definição de prioridades dos investimentos em infraestrutura é espinhoso e perturba os governantes em razão da sua forte exposição às questões de economia política. Por isto, o emprego de um conjunto mínimo de princípios e critérios seria um bom ponto de partida para ajudar a orientar a definição das prioridades.

Obviamente, não há um conjunto de princípios e critérios inquestionáveis e imunes à criticas. Além disso, as realidades e necessidades variam não apenas entre países e entre unidades da federação mas, também, ao longo do tempo.

Parece-nos razoável partir da premissa de que, num país emergente, o principal critério de prioridade de serviços de infraestrutura deveria ser o atendimento das necessidades humanas básicas. Logo, investimentos em água, saneamento, gestão dos recursos hídricos e habitação deveriam merecer destaque.

Serviços de infraestrutura que tenham os maiores impactos em termos de externalidades positivas para mais pessoas e mais empresas e  serviços que mais encorajem a diversificação dos investimentos e a agregação de valor também deveriam ser critérios orientadores da decisão. Obras como metrôs e rodoaneis em grandes metrópoles seriam exemplos dessa classe de infraestruturas.

A garantia de fornecimento de serviços fundamentais, como energia elétrica e telecomunicações, também deveria constar do rol de critérios.

Critérios que promovam o ataque simultâneo aos hiatos de infraestrutura do passado e do futuro também deveriam ser considerados. Exemplos não faltam e, dentre eles, estão a inclusão de requisitos nos editais para que os concessionários de infraestruturas de logística enderecem a conectividade de banda larga ao longo das vias e requisitos para que as concessionárias de distribuição de energia promovam os postes inteligentes, de forma a ampliar o acesso à internet e outros serviços.

Obviamente, novas soluções podem requerer ajustes regulatórios.

Exercícios de priorização de serviços de infraestruturas devem levar em conta a coordenação e o sequenciamento de projetos com vistas a ampliar as sinergias e as complementariedades, otimizar o uso dos tempos e dos recursos e, enfim, alcançar o máximo de benefícios para o conjunto da sociedade.

Por fim, o emprego de princípios e critérios identificáveis e mensuráveis de priorização de projetos de infraestrutura permitirá o desenvolvimento de modelos e de instrumentos metodologicamente robustos úteis ao desenho das políticas públicas.

2025: Novos Mestres

[Este post faz parte da série “10 Tendências que afetarão o ensino superior até 2025]

Ainda em 2025, professores como Claudio Faria, da escola de medicina de uma faculdade particular, continuarão necessários dentro de salas de aula. Também fora, como referências de conhecimento para o suporte ao crescimento exponencial do poder do ensino a distância. Tão essenciais como os alunos, que ainda frequentarão escolas com o objetivo de alcançar a formação universitária que, pelo menos em tese, abrirá novas oportunidades de trabalho.

Mesmo com a proliferação em larga escala de cursos a distância, os professores não serão, pelo menos ainda, membros de uma das categorias em extinção em ambientes físicos. Inclusive, porque alguém de carne e osso vai receber os estudantes nas salas de aula.

As boas vindas diárias às salas de aula não serão dadas por robôs impessoais, muito menos por totens onde o aluno se identifica com a digital ou com reconhecimento facial. Estudantes ainda irão às faculdades e terão os responsáveis humanos para cada atividade do currículo. O que muda de verdade, na próxima década, é o conforto existencial dos mestres. No século anterior, eles praticamente não sentiram mudanças na relação com os estudantes.

Em 2018, o professor Claudio Faria, por exemplo, dava aulas para os seus 40 alunos de anatomia praticamente da mesma forma como fazia quando começou a lecionar no final dos anos 1990: As mesmas anotações, o mesmo Power Point, as mesmas observações. Até os cadáveres utilizados em atividades práticas eram identificados por apelidos durante anos seguidos.

Transformações exponenciais

As mudanças na relação entre alunos e professores começam a fazer efeito, de verdade, a partir do ano 2020, com o salto da velocidade da internet e com o amadurecimento geral das tecnologias. Agora, sim, a internet em todas as coisas mostra a sua verdadeira face, onipresente, absoluta. Vídeos são o padrão de comunicação. Telas estão em todos os lugares. Muitas das pessoas nem terão mais smartphones.

Um estudo do Pew Research Center e da Universidade de Elon, dos Estados Unidos, sintetiza o que terá acontecido. Assim como o acesso à Internet discada viabilizou o uso do e-mail e a navegação na web como padrão dos anos 1990 e a Internet de banda larga estimulou downloads de música, transmissão de vídeo e redes sociais, a Internet com velocidade gigabit estimulará um novo conjunto de tecnologias e serviços.

No cenário de transformação exponencial, o professor é obrigado a sair da zona de conforto para aprender a lidar com tecnologias como inteligência artificial, realidades virtual, aumentada e mista, sistemas de análise de dados, big data, assistentes virtuais e comunicação a distância com tradução online, entre outros. Mesmo em cursos como filosofia e história é impossível imaginar que a transmissão de conhecimento será da mesma forma dos nossos pais, avós e bisavós.

O que diferenciará o bom do mau professor não será, necessariamente, o domínio do conhecimento, mas a capacidade de explorar o poder tecnológico para ampliar o acesso dos alunos às informações. Portanto, o poder de uso da tecnologia faz a diferença. Mesmo que as aulas de anatomia ainda venham a precisar recorrer a cadáveres (o que é provável), o professor terá, à sua disposição, o apoio da realidade virtual e da realidade aumentada como suporte. Esqueça o que já existe hoje de virtualidade, no futuro, o aluno terá a sensação exata de estar diante de um corpo com seus bilhões de detalhes.

Ao contrário do que ainda é comum nos dias de hoje, o professor não é “aquele que fala”, como detentor absoluto do conhecimento. Professor é quem, detendo um saber, direciona estudantes para um roteiro de estudos. Por onde começar, para onde seguir. O que é prioridade ou não. Cada aula representa uma oportunidade de integração entre o aluno e a informação que se pretende alcançar.

Sob um viés conceitual, o educador passa a ocupar uma posição no centro da relação. Esqueça a sua memória de um mestre na lateral da sala, pouco vulnerável ao poder dos alunos. Em um futuro no qual serão cada vez mais comuns as aulas virtuais, o mestre terá a função de um intermediário entre o conhecimento, a tecnologia e o aluno.

Desafios do aprendizado

Estudantes, assim como os trabalhadores, estarão sendo desafiados em todos os momentos. O modelo de aula expositiva é substituído, então, pela estratégia de ensino por tarefas. A multiplicidade de informações disponíveis é tão relevante quanto a possibilidade de encaminhar estudos personalizados.

No caso do nosso professor de anatomia, Cláudio, ao invés de simplesmente apresentar um pedaço do crânio, pode desafiar a turma ou um aluno específico a encontrar na rede as últimas referências sobre o tema. E propor a criação de uma apresentação que, para os padrões atuais, certamente parecerá uma produção de cinema.

Indústria ou serviços? Afinal, qual é a participação da indústria na economia?

Muito tem se falado sobre o encolhimento da indústria manufatureira brasileira. Opiniões divergentes abundam. Uns dizem que o encolhimento da indústria fragiliza a economia nacional. Outros acham que a indústria já não importa e tomam o caso dos Estados Unidos como referência.

Mas, afinal, o que se passa com a nossa indústria? A partir das contas nacionais, o IBGE identifica que a indústria representaria algo em torno de 11% a 12% do PIB. Como já foi quase três vezes maior e a participação segue um padrão de queda quase monotônico desde os anos 1980, então muitos analistas acreditam que o país estaria passando por um processo de  desindustrialização. O professor da Universidade de Cambridge, Ha-Joon Chang, por exemplo, caracteriza o recuo da indústria no Brasil como um dos maiores movimentos de desindustrialização jamais registrados.

A atual participação da indústria americana no PIB é similar à brasileira, sendo que lá ela também já foi substancialmente maior. Porém, para Dani Rodrik, diferentemente dos Estados Unidos, o Brasil estaria experimentando um processo de desindustrialização prematura, já que ainda é um país emergente.

De fato, a despeito das supostas similaridades das participações da indústria dos dois países no PIB, é preciso se levar em conta as substanciais diferenças entre os dois casos. Enquanto a queda da participação da indústria americana no PIB foi acompanhada de significativo aumento da densidade industrial, a queda da participação no Brasil foi acompanhada de estagnação da densidade — a densidade americana é, hoje, mais de quatro vezes maior que a brasileira e a diferença segue aumentando. Já a participação no PIB dos serviços utilizados como insumos de produção, tais como os serviços de custos e de agregação de valor, é quase duas vezes maior nos Estados Unidos do que no Brasil.

Logo, as evidências sugerem que a indústria americana mobiliza e articula uma extensa cadeia de valor e produz bens de muito mais alto valor adicionado que a brasileira.

É preciso, ainda, considerar que a indústria americana se estende mundo afora, com gigantesca presença global através das suas multinacionais e que é parte ativa de muitas das mais influentes cadeias globais de valor, como a automobilística, a química, a eletrônica e a aeronáutica. A contabilização da indústria americana operando no seu próprio e em terceiros territórios indica que os Estados Unidos têm, juntamente com a China, as duas mais poderosas indústrias manufatureiras do globo.

Indicadores menos convencionais, como emprego de engenheiros, patentes depositadas e encomenda e financiamento do P&D do setor de serviços, sugerem que a indústria americana tem vasta contribuição para a inovação e para a tecnologia e é mobilizadora de recursos para o P&D.

Pense, agora, na Google, Amazon, Microsoft, Uber e Apple, que estão entre as mais valiosas empresas globais de serviços. Um olhar mais cuidadoso mostra que essas empresas são, e cada vez mais, desenvolvedoras de bens industriais que trazem consigo elevadíssima porção embarcada de serviços e alta tecnologia.

Nada disto está colocado para o Brasil. Logo, comparar Brasil com Estados Unidos é como comparar laranjas com maçãs.

Isto posto, é difícil concluir que o caso do Brasil é similar ao dos Estados Unidos. Pelo contrário, o que parece é que a indústria americana estaria passando por um sofisticado processo de transformação baseado numa relação sinergética e simbiótica com os serviços para criar valor em nível global.

Em tempos de densidade industrial e de profundas transformações nas tecnologias de produção e de gestão da produção e no conceito de produto industrial, a comparação da participação da indústria no PIB ou mesmo a comparação do perfil geral da produção de países pode pouco ou nada dizer.

Serviços em agricultura – A revolução verde de nossa época

[1]Ver nota do autor

O Brasil enfrenta o chamado “imperativo da produtividade”, situação em que o crescimento, geração e distribuição de renda de um país não pode mais ser baseado em variáveis exógenas — como aumento da demanda externa, preços de commodities ou ganhos demográficos –, e passa a depender basicamente do aumento sustentado de sua produtividade média. Como temos visto no blog, um dos grandes entraves para o aumento da produtividade brasileira é o setor de serviços. De fato, a rápida desindustrialização da economia brasileira tem revelado que o padrão de rápido crescimento da produtividade puxado pela atividade manufatureira vivido pelo Brasil até a década de 80 dificilmente se repetirá. O país busca então novas formas de se valer do setor de serviços para crescer a passos mais rápidos e sem a grande volatilidade de outrora (retratada por Arbache e J.B Sarquis em “Growth Volatility and Economic Growth in Brazil“).

O setor agrícola é constantemente citado como exceção à estagnação brasileira, ensejando esperança em tal busca. De fato, a produtividade total dos fatores neste setor teve crescimento alto e estável desde a década de 1970 (em torno de 3.5% ao ano), na contramão da tendência de estagnação ou leve crescimento de grande parte dos demais setores da economia brasileira. A abertura de novas fronteiras agrícolas impulsionada pelo avanço genético e técnico liderado por instituições como a Embrapa — como o caso do cerrado –, a mecanização e profissionalização do campo (particularmente em grandes e médias propriedades), e a adoção em larga escala dos pacotes bioquímicos e defensivos explicam o “milagre” agrícola brasileiro. Em suma, a fazenda Brasil se expandiu e adotou novas máquinas e técnicas para converter mais eficientemente seus abundantes recursos naturais em produtos agropecuários, colhendo os frutos da chamada Revolução Verde.

A inovação agrícola no mundo, no entanto, tem se deslocado atualmente do modelo mecânico-químico do século XX para um novo paradigma de produção baseado na incorporação de serviços de alto valor agregado nos produtos agrícolas. Ao invés de novas expansões da fazenda e de seu maquinário, o foco agora é conectá-la aos novos conhecimentos tecnológicos do século XXI — especialmente tecnologias digitais, biotecnologia, tecnologia da informação e ciência de dados — para aumentar a produtividade agrícola na mesma medida em que se reduz a intensidade de uso de recursos naturais e insumos químicos em sua produção.

Conhecida no mundo como as inovações “agtech”, muitos entendem que esta onda transformadora de avanço tecnológico corresponda à nova Revolução Verde do século XXI. Uma de suas principais tendências é o impulso para digitalizar a agricultura. Aplicações digitais como drones e satélites para monitoramento de solo e de plantações de forma remota; sensores para o controle do crescimento e nutrição das plantas; e chips eletrônicos para monitoramento e detecção localizada de doenças em animais conectam o agricultor a dados valiosos que guiam sua tomada de decisão nas principais dimensões de seu negócio, tornando seu sistema de gestão de informação uma ferramenta tão importante quanto seu maquinário.

Diversas startups “agtech” que oferecem aplicações digitais têm aflorado no Brasil, como a Agrosmart, que oferece soluções de detecção antecipada de doenças em soja e milho e poupa até 60% da necessidade de água para irrigação com a colocação de sensores nas plantações (em sistema de Internet das Coisas); a empresa InCeres, que oferece softwares para análise de dados climáticos e do solo viabilizando agricultura de precisão com algoritmos geoestatísticos para aumento da fertilidade da terra; e a empresa TerrasApp, que desenvolve ferramentas de monitoramento satélite e aplicações digitais que permitem o diagnóstico precoce de doenças bem como o monitoramento da conservação ambiental e do solo; entre tantas outras.

Outra tendência “agtech” é o uso de novos conhecimentos de biotecnologia para reduzir a intensidade do uso de defensivos químicos com a utilização aplicações naturais, como anticorpos que previnem pragas e novos macrobióticos que melhoram seu desempenho nutricional. A startup BR3, por exemplo, desenvolve microrganismos naturais que substituem a necessidade de defensivos químicos em certos tipos de pragas. Outro exemplo é a startup ChipInside, que desenvolveu uma coleira biológica que monitora a ruminação, saúde e cio em bovinos leiteiros, permitindo aumento da produção e prevenção de doenças no rebanho.

A onda “agtech” representa uma oportunidade concreta e plenamente atingível de liderança global para o Brasil, e pode ensejar o início de um novo ciclo de crescimento de produtividade no campo brasileiro, potencialmente mais sustentável ambientalmente. No entanto, para que o Brasil se torne não apenas um usuário, mas um desenvolvedor e gerenciador global de soluções “agtech”, terá de enfrentar diversos entraves regulatórios e tecnológicos, como integração efetiva da pesquisa acadêmica com a indústria e o agronegócio; acesso a financiamento e capital de fundos de capital empreendedor (venture capital); redução de entraves regulatórios no setor agrícola (principalmente para permitir a adoção exponencial das novas soluções pelos agricultores); novas formas de propriedade intelectual; e formação de profissionais da área. Esta seria uma área interessante para a implementação de uma nova geração de políticas de desenvolvimento produtivo que solucionem as falhas de coordenação entre setor público e privado que surgirão no caminho.

Ainda assim, há ao menos duas razões estruturais que deveriam nos motivar a perseguir a ponta na corrida “agtech”.

Em primeiro lugar, evidência empírica de diversos autores (como Giuseppe Berlingieri, 2014) mostra que os serviços de alta produtividade (especialmente aqueles conhecidos como professional business services) não surgem de forma autônoma, e sim por demanda dos setores finalísticos, como indústria e agricultura. Países com setores finalísticos mais desenvolvidos tem maiores condições de desenvolver serviços de alto valor agregado. Se por um lado a desindustrialização torna cada vez difícil para o Brasil desenvolver serviços complexos para a indústria, por outro, o país tem um mercado agrícola interno capaz de demandar e impulsionar o desenvolvimento de um rico ecossistema de soluções “agtech”.

Em segundo lugar, diferente de outros ramos de economia digital (como e-commerce, sistemas computacionais e entretenimento) onde os efeitos de rede e plataforma já consolidaram grandes plataformas globais (como Amazon, Google, Facebook), o ramo “agtech” segue campo relativamente aberto a ser conquistado. Ainda que a recente aquisição da empresa Climate Corporation pela Monsanto por quase US$ 1 bilhão seja um exemplo simbólico da possível formação de plataformas globais de agricultura digital, que podem por exemplo oferecer soluções de big data para agricultores em diversos biomas e culturas, o ecossistema “agtech” ainda está em fase de crescimento fragmentado, o que permite ao Brasil colocar-se na fronteira da criação de conhecimento nesta área sendo potencialmente um dos líderes de sua futura consolidação global.

Com quase duas décadas findas, o Brasil já olha pelo retrovisor para diversas ondas tecnológicas do século XXI. A onda “agtech”, no entanto, ainda está aberta a quem souber surfá-la.

 

[1]As opiniões ou visões contidas no texto não necessariamente representam aquelas das instituições com as quais o autor mantém vínculos empregatícios ou acadêmicos.

Tomás é formado em economia pela Universidade de São Paulo e possui mestrado em desenvolvimento econômico pela Universidade de Harvard. Ele é especializado em desenvolvimento produtivo e inovação, e atuou no setor público, privado e em organismos multilaterais – como economista das Nações Unidas (ONU) em Genebra e do Banco Mundial. Atualmente lidera operações de inovação via setor privado no Banco Interamericano de Desenvolvimento na América do Sul.

2025: o ano do ensino massivo, online e aberto

[Este post faz parte da série “10 Tendências que afetarão o ensino superior até 2025]

Sebastian Thrun estava certo, apesar dos escorregadas de previsão acumuladas pelo caminho. Em 2015, o co-fundador da Udacity disse que, em 2025, a formação baseada em Cursos Massivos Abertos e Online (MOOCs, em inglês) estaria não apenas consolidada, seria um padrão global, capaz de deixar para trás, finalmente, a atual estrutura, criada nos séculos passados.

A Udacity é fruto de um experimento na Universidade de Stanford, onde os fundadores Sebastian Thrun e Peter Norvig lecionavam e queriam fazer um curso aberto para o mundo. Inicialmente, eles criaram a plataforma para oferecer um curso aberto e gratuito de “Introdução à Inteligência Artificial”. Após o estrondoso sucesso, com mais de 160 mil alunos inscritos em 190 países, a  plataforma começou a operar comercialmente em 2011. Atualmente, conta com centenas de cursos criados em parceria com empresas como Amazon e Facebook.

Em 2025, de uma forma geral, os cursos de formação profissional, inclusive os universitários tradicionais, deverão ter perdido espaço e sentido com o amadurecimento das tecnologias e com a transformação dos modelos de ensino. O ensino será mais online porque a internet terá altíssima velocidade. Ele deverá ser também mais aberto, como consequência das mudanças e eliminação dos entraves vinculados às atuais normas e regras de ensino. Os MOOCs deverão ser, também, fenômenos de massa, pois as tecnologias possibilitarão a formação de turmas globais.

Entre erros e acertos

O criador do Udacity foi ousado. Além de dizer que os seus “diplomas” seriam um padrão, ele também previu que, por volta de 2065, haveria apenas uma dezena de instituições educacionais no mundo fornecendo educação superior, e que a Udacity seria uma delas. Porém, até aqui, o caminho para essa dominação não parece tão simples como de início, quando o mercado era dominado por Udacity, Coursera e edX, as três pioneiras no segmento MOOC.

Em 2012, talvez empolgado pelo crescimento acelerado do segmento, o New York Times chegou a declarar 2012 como o ano do MOOC. Foi o ano em que as três empresas pioneiras criaram uma onda e prometeram um tsunami positivo.

Dois anos depois, em 2014, o próprio Sebastian Thrun voltou atrás em suas convicções absolutas. Ele disse, então, que “o MOOC básico é ótimo para os 5% melhores estudantes, mas não é ideal para os 95% restantes “. Como resultado, o  Udacity mudou suas prioridades de curto prazo e implantou estratégias para se tornar uma das 10 maiores instituições do mundo com foco em treinamento corporativo e profissional.

A concorrência também cometeu erros de avaliação. Também em 2012, Anant Agrawal, CEO da edX, previu que, em menos de um ano, uma das universidades parceiras da edX ofereceria um diploma puramente online. Os anos se passaram desde então e ainda não há sinal de diploma puramente online de nenhuma das instituições parceiras. Em 2015, a Coursera, fundada por dois professores de Stanford, é, de longe, a maior em termos de número de cursos oferecidos e estudantes matriculados.

Em 2025, os atestados de sucesso

O tempo passou, o tempo voou nos braços da revolução digital e os MOOCs passaram pelo processo de amadurecimento, como qualquer outro negócio. Em 2025, aos 58 anos, cada vez mais remoçado, Sebastian Thrun reconhecerá que a transformação da educação superior ocorreu por razões diferentes daquelas inicialmente imaginadas.

Inclusive, Thurn terá se equivocado com relação à expectativa de uma enorme quantidade de estudantes recorrendo às instituições de ensino de ensino massivo. O desenvolvimento dos MOOCs terá se adaptado, então, a mudanças sociais. Ok, até lá, a tecnologia terá consolidado o avanço exponencial previsto. As aulas serão em realidade mista, com a incorporação de benefícios dos avanços da holografia. E, com a tradução instantânea, será possível integrar turmas em todos os idiomas.

Todas as condições para a existência de cursos superiores integralmente online via MOOCs estarão disponíveis no cenário. O problema deverá ser, ironicamente, o excesso de tecnologia. Cada cidadão global deverá ter 9,5 dispositivos tecnológicos vinculados a ele. Portanto, é possível prever, também, uma onda anti-MOOCs, como um desejo global de resgatar a humanização do ensino. Com isso, é provável que o segmento siga evoluindo.

Padrões globais de auditoria interna

Quando pensamos em globalização, imediatamente somos remetidos ao comércio de bens entre os países, a diminuição das fronteiras, firmas transnacionais, cadeias globais de valor etc. Nos últimos 60 anos, o crescimento da participação dos serviços no PIB evidenciou um novo marco no processo de globalização. O processo de digitalização remodelou o que entendemos sobre globalização e sobre os fluxos transacionais entre as diversas economias.

Estudo recente do McKinsey Global Institute detalha os principais aspectos dessa nova globalização. Com um mundo cada vez mais interconectado por meio de plataformas digitais, temos acesso facilitado ao conhecimento.

Economias interconectadas pelo conhecimento estão progressivamente se alinhando em indicadores de desempenho, padrões de qualidade, sustentabilidade, responsabilidade sócio-ambiental, compliance e sistema de controle interno. Um dos principais benefícios desse processo é a comparabilidade baseada em parâmetros uniformes.

As auditorias internas das organizações, sejam elas públicas ou privadas, têm importante papel na definição de padrões de controles internos em escala global. Os referenciais teóricos para a prática de auditoria interna dão o respaldo necessário à convergência.

Dentre os referenciais teóricos para a prática de auditoria interna mais difundidos, destacam-se o referencial do COSO, o COBIT e a ISO 31000, que dispõe sobre gerenciamento de riscos. No aspecto de conduta e prática profissional, o padrão mais conhecido — e reconhecido — é o do Instituto dos Auditores Internos (IIA).

Dentre os principais referenciais teóricos difundidos pelo IIA e que viraram padrões para as auditorias internas, destacamos:

  • Definição de auditoria interna;
  • Princípios fundamentais para a prática profissional de auditoria interna;
  • Código de Ética; e
  • Normas internacionais para a prática profissional de auditoria interna.

Para o IIA, a auditoria interna é uma atividade independente e objetiva de garantia e consultoria destinada a agregar valor e melhorar as operações de uma organização. Isso ajuda uma organização a atingir seus objetivos, trazendo uma abordagem sistemática e disciplinada para avaliar e melhorar a eficácia dos processos de gerenciamento, controle e governança de risco.

Os “Princípios Fundamentais” articulam a eficácia da auditoria interna. Para que uma função de auditoria interna seja considerada efetiva, todos os princípios devem estar presentes e operando efetivamente. A realização dos “Princípios Fundamentais” pode ser bastante diferente de organização para organização, mas a falta de cumprimento de qualquer dos princípios implicaria em uma atividade de auditoria interna não tão eficaz quanto poderia ser, segundo a Missão da Auditoria Interna.

O Código de Ética estabelece os princípios e expectativas que regem o comportamento de indivíduos e organizações na condução da auditoria interna. Ele descreve os requisitos mínimos de conduta e expectativas comportamentais ao invés de atividades específicas.

Finalmente, as Normas internacionais para a prática profissional de auditoria interna (Normas), têm como propósito orientar a aderência com os elementos obrigatórios da Estrutura Internacional de Práticas Profissionais (IPPF), fornecer uma estrutura para a execução e a promoção de um amplo espectro de serviços de auditoria interna de valor agregado, estabelecer as bases para a avaliação de desempenho da auditoria interna, e promover a melhoria dos processos e operações organizacionais.

SISTEMA DE CONTROLE INTERNO DO PODER EXECUTIVO FEDERAL BRASILEIRO

As diretrizes para o exercício do controle no âmbito do Poder Executivo Federal remontam à edição do Decreto-Lei nº 200,  de 1967. De lá para cá, outros dispositivos, como a Lei nº 10.180 e o Decreto nº 3.591 trataram de organizar o Sistema de Controle Interno do Executivo.

O Ministério da Transparência e Controladoria Geral da União (CGU) tornou-se o Órgão Central do Sistema de Controle Interno, incumbido da orientação normativa e da supervisão técnica dos órgãos que compõem o Sistema.

Para dar efetividade às suas competêcias, o CGU criou uma série de Instruções Normativas (IN). Dentre as mais recentes e em vigor, destacamos a IN Conjunta MP/CGU nº 1/2016, que dispõe sobre controles internos, gestão de riscos e governança no âmbito do Poder Executivo Federal, e, finalmente, a IN nº 3/2017, que aprova o referencial técnico da atividade de auditoria interna governamental do Poder Executivo Federal.

A seção introdutória da IN nº 3 deixa clara a utilização do referencial teórico internacional para a normatização do Sistema de Controle Interno no âmbito do Poder Executivo Federal:

“Nesse contexto, o presente Referencial Técnico posiciona-se como um instrumento de convergência das práticas de auditoria interna governamental exercidas no âmbito do Poder Executivo Federal com normas, modelos e boas práticas internacionais e com a Instrução Normativa Conjunta MP/CGU nº 1, de 10 de maio de 2016, que determinou a sistematização de práticas relacionadas a governança, gestão de riscos e controles internos no Poder Executivo Federal.”

A definição dos princípios fundamentais para a prática da atividade de auditoria interna governamental da IN nº 3 é muito semelhante aos princípios fundamentais definidos pelo IIA, assim como os componentes para avaliação do sistema de controle interno são os mesmos estabelecidos pelo COSO: ambiente de controle, avaliação de riscos, atividades de controle, informação e comunicação e atividades de monitoramento.

A adoção de padrões globais de auditoria, portanto, faz muito sentido. As normas e os padrões de conduta definidos pelo IIA, por exemplo, são universais, principalmente quando se trata das questões éticas. Muito do que se apregoa tem origem no mais puro bom senso e são apenas desdobramentos da definição de auditoria interna. Quando se define que a auditoria interna é uma atividade independente e objetiva de garantia e consultoria destinada a agregar valor e melhorar as operações de uma organização, ajudando-a a atingir seus objetivos, os “Princípios Fundamentais” se mostram indiscutíveis.

A convergência do referencial aceito internacionalmente e do referencial nacional não é por acaso ou por comodismo. Ao contrário, a convergência demonstra o quão alinhado o país deseja estar dos seus pares na esfera pública no tocante à governança, gestão de riscos e controles internos. Os ganhos da convergência são inúmeros em um cenário de globalização, no qual as relações internacionais, sobretudo as comerciais e financeiras, são respaldadas por uma avaliação da credibilidade de um país. Quão mais similares os parâmetros de avaliação, mais facilitada a análise dos pares e mais fácil a tomada de decisão.

 Rodrigo Madeira é administrador e trabalha em auditoria interna há 6 anos.

Trade in Services and Trade Balance

Production in the service sector and trade in services have become two variables of increasing importance that are hard not to take into account. In most countries, the service sector accounts for more than half of GDP: according to the World Bank’s World Development Indicators, in 2015 in only ten countries[1] did the service sector correspond to less than 50% of GDP.

As far as foreign investment flows (FDI) are concerned, two thirds of global FDI stock is concentrated (UNCTAD (2017)) in services, mainly in finance, business activities, trade and telecommunications[2]. Finance and business activities account for 62% of total global FDI stock in services.

The service sector – or at least several segments in it – often pays higher than average wages. Yet several of these high wage-sectors are precisely the sources of a good deal of service exports, like software and financial services.

The empirical difficulty in mapping the actual contribution of the service sector goes beyond the limits imposed by the conventional National Accounts and by analyses based on the limited number of sectors in input-output matrices. Statistics of trade in services rely strongly on the information provided by the Balance of Payments, often rather aggregated and hardly illustrative of the intertwining relation between goods and built-in services in the production and commercialization of each good.

Trade in services presents some peculiarities.

Trade in services has been the fastest growing component of international trade since the early 1990s, with average annual growth rates of about 10%. Over the past two decades, trade in goods has grown by a factor of 3.5, whereas total trade in services has increased by a factor of 5. Trade in services now accounts for about one-fifth of global trade[3].

In parallel to this impressive growth, there has also been a change in the type of services that are most intensevely traded, with an increasing share of high-skill intensive services. Consequently, the importance of new features that challenge traditional trade disciplines, such as cross-border services, has increased significantly.

This makes the identification of the actual barriers to trade in services more challenging. In the case of merchandise trade, there is a considerable amount of conventional methodologies to measure existing barriers and their multiple effects. Not so much for services. If a doctor or a lawyer decides to establish himself in another country this is not something that can happen by paying some tax at the border. Each country has its own regulations and imposes conditions to allow for the work by one such professional. Likewise, if a bank decides to open a branch in another country it has to be formally authorized by the authorities and fulfill a number of requirements in order to be allowed to operate.

Barriers to trade in service are mostly “behind the border”, comprising a whole set of norms and regulations that differ from country to country.

It is, therefore, hardly surprising that the producers of services in industrialized countries have been pressing for quite some time for a more disciplined and open world market for services, given the difficulties in surpassing domestic regulations.

According to UNCTAD statistics, in eleven years (2005 to 2016) the value of global trade (exports plus imports) in services increased 185%, compared to the 151% increase in global trade in goods. As an outcome, trade in services gained importance, increasing from 25% to 30% of the corresponding amount of merchandise trade. This is a universal tendency (Table 1): the share of trade in services to trade in goods increased to 35% in developed economies, to 24% in developing economies and to 28% in transition economies.

Table 1 – Trade(*) in Services as (%) of total merchandise trade
2005 2016
World 24.6% 30.1%
Developing Economies 18.6% 24.0%
Transition Economies 20.4% 28.3%
Developed Economies 28.0% 34.9%
(*) Exports plus Imports Source: UNCTADStat

The increasing importance of trade in services raises several new issues. This phenomenon affects the international movement of human resources, it provides dynamic comparative advantage, it increases the presence of domestic producers abroad, hence demanding norms to facilitate the operation of foreign suppliers in the domestic markets, and it requires the adaptation of domestic regulation with regards to a number of aspects, such as temporary and permanent migration rules.

Furthermore, these statistics refer only to exclusive trade flows in services. They do not identify the amount of services incorporated into merchandise trade, such as export financing and insurance, management and others. Hence, the actual importance of trade in services is probably bigger than these data suggest.

While disaggregating by categories of countries (Graph 1), it is clear that most of the trade in services (exports plus imports) is done among developed economies, even though there has been a remarkable increase in the volume of trade in services involving developing economies, in comparison to the starting position, in 2005. Transition economies remain in a marginal position.

Source: UNCTADStat

Comparing exports and imports of services, Graph 2 shows that the set of developed countries has always experienced trade surplus in services and has increased its surplus recently. The years 2009 to 2014 have witnessed an increase in the trade deficits of both developing and transition economies – certainly much bigger than in 2005 – even though figures for 2016 indicate a light reduction of those deficits in the latter.

Source: UNCTADStat

In summary, trade in services has become a very dynamic activity, but remains dominated by the developed countries. This phenomenon naturally influences the direction of the negotiations to facilitate this type of trade. It also brings some specific political economy implications.

The service sector comprises a wide range of heterogeneous activities. Shoe-shining is a service, as much as housekeeping, taxi driving, health treatment and space engineering. Hence the difficulties in dealing more clearly with the object of analysis, especially at an aggregate level.

Conventional approaches of the Heckscher-Ohlin type explain a good deal of trade in services. Think, for instance, in terms of health care. Medical procedures are approximately the same everywhere to deal with a given kind of disease. Serious doctors learn the best practices from the same set of respected journals, and keep updated in terms of new techniques and of new medicines and medical apparatuses. What is it, then, that explains the movement of people from, say, the United States, to Central American countries, looking for medical treatment? The sheer difference in costs. Because wages in these countries are lower than in the US, and presumably the quality of the services provided are not too different (same technology), some countries in the region have become exporters of medical care. The main reason for that is the lower costs of a labor-intensive activity in countries that are relatively abundant in labor, in comparison to the US.

Connell (2006) reports on a number of countries exploiting this type of tourism, such as India, Singapore, Thailand, South Africa, Belarus, Latvia, Lithuania and others. In Latin America, Cuba is well-known for the quality of its treatment of skin diseases, plastic surgery and dentistry. In Costa Rica, medical tourism accounted in 2016 for 13% of total tourism revenue; in El Salvador health tourism revenue tripled in the last five years, and in Guatemala there has been a 18% increase in the number of tourists looking for medical and dental treatment between 2015 and 2016.

The production of services is essentially labor-intensive. Jensen (2011) presents data for the US economy in 2007 that illustrate this point: in that year mining has generated only 0.5% of the total employment, construction 5.5% and manufacturing 9.9%. The set of services related to business (finance, professional services, administrative services and others) accounted for 25% of total jobs, and personal services (education, health, arts, entertainment and others) another 25%. There is a clear concentration of well-paid, more qualified workers in services than in other sectors of the US economy. For instance, only 7% of the employees in manufacturing had high degrees of professional qualification in manufacturing, whereas in business services this percentage reached 17%, 12% in finance and insurance, and 27% in technical and scientific areas.

Other sources of supply-side determined comparative advantages are linked to the cheapening of commodities stemming from the existence of economies of scale. Certain productive processes have the characteristic that one additional unit of input provides more than one unit of output. This is often the case in sectors with high fixed costs, such as the pharmaceutical industry: a new drug, however expensive to create, might be of universal use, hence provide a significant return to the firm that designed its formula. The increasing return leads to an ever-increasing production: the more a firm produces, the lower its costs per product unit.

From the perspective of international trade, a country that hosts these kinds of industries with economies of scale of some sort is likely to become a net exporter, given the increasing amount of production, at decreasing unit costs.

The relation of economies of scale to services is not immediate. Services often require specific work that depends on individual skills. This makes the service industry less prone to capture economies of scale than manufacturing.

This is not to say, however, that service sectors cannot take advantage of economies of scale in some ways. If service industry outputs tend towards customization, it can capture economies of scale through big orders. This is the case, for instance, of health plans and fast-food chains. Standardization allows for improving efficiency and produce more in the same amount of time.

The evidence presented thus far raises the question of to what extent does the increasing involvement of developing economies in trade in services contribute to their trade balance.  Between 2009 and 2016 the aggregate trade surplus in services for developed economies increased from US$ 323 billion to US$ 483 billion. At the same time, the corresponding result for the set of developing economies increased from a deficit of US$ 191 billion to an even more negative result of US$ 382 billion in the same period.

The reason seems to be in the peculiarities of (at least) some service sectors. Table 2 illustrates the point. Take as a reference the five BRICS countries and four major economies, in 2005 and 2016. It follows that for “charges for the use of intellectual property” the BRICS have increased their share of world exports, yet their trade deficit actually increased. The same is observed in “commercial services” for Brazil and China, whereas the selected developed countries have improved their trade balance. For financial services, the four developed economies improved their trade balance, in spite of the performance by the BRICS.

What these figures suggest is that notwithstanding a high positive performance by developing countries in the exports of services there seem to be some elements that determine a more favorable position by developed countries, at least in some sectors.

If confirmed, this leads to the recommendation of a cautious opening of the service sector. To the extent that trade is made in foreign currency, the concern with the actual impact on trade balance should not be disregarded.

REFERENCES

Connell, J. (2006), Medical tourism: Sea, sun, sand and…surgery, Tourism Management, 27, 1093-1100

Jensen, J.B. (2011), Global Trade in Services – Fear, Facts and Offshoring, Peterson Institute for International Economics, Washington

UNCTAD (2017), World Investment Report, Geneva

UNCTAD (2017a), Handbook of Statistics

 

[1] Mali, Mauritania, Niger, Oman, Qatar, Sierra Leone, Tajikistan, Tanzania, Togo and Vietnam.

[2] The same report by UNCTAD alerts to the fact that this high percentage of FDI stock in services is partly due to sectoral classification. A good deal of reported FDI data are based on the economic activity of foreign affiliates, performing activities such as financial holdings, logistic hubs, distribution and after-sales services, hence not classified as in the same industry of the transnational company to which they belong.

[3] See UNCTAD (2017a).

Boletim de Serviços – Fevereiro de 2018

O Boletim de Serviços de fevereiro de 2018 está no ar, clique aqui para acessá-lo. Alguns dos destaques:

  • O volume do setor de serviços apresentou crescimento de 0,9% em dezembro de 2017 na comparação anual, com destaque positivo para os serviços tradicionais (4,4%).
  • A inflação de serviços acumulada em 12 meses apresentou queda no mês mas seguiu alta, em 5,1% em janeiro de 2018, consideravelmente acima do IPCA geral (2,9%).
  • O setor de serviços apresentou resultado negativo na geração líquida de emprego, tendo destruído 176,7 mil novas vagas em dezembro, com destaque negativo para os serviços de custo (170,3 mil vagas criadas).
  • A balança de serviços seguiu apresentando déficit no mês de janeiro, de US$ 3,3 bi.

Para acessar a metodologia e as séries históricas em excel, acesse: https://economiadeservicos.com/boletim.

O Protocolo de Contratações Públicas do Mercosul

No dia 21 de dezembro de 2017, durante a 51ª Cúpula do Mercosul, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai assinaram o Protocolo de Contratações Públicas do Mercosul. Embora o bloco tenha sido criticado nos anos recentes pela sua aparente dificuldade em concretizar avanços relativos à integração econômica, com a assinatura deste Protocolo e com o avanço do Mercosul em negociações de acordos comerciais com terceiros países, podemos esperar um ciclo mais promissor no que se refere à agenda econômica e comercial da região.

O Protocolo de Contratações Públicas do Mercosul é um acordo sobre compras governamentais cujos princípios basilares são a transparência, a não discriminação e o acesso a mercados entre seus Estados Partes. Isso significa que cada uma de suas partes se comprometem a aplicar padrões mínimos de transparência em seus procedimentos de licitação, de forma a permitir que empresas instaladas em suas contrapartes sejam tratadas como fornecedores locais para um conjunto de contratações públicas.

É importante notar que, a exemplo dos compromissos sobre compras governamentais vigentes em diversos acordos de livre comércio firmados entre outros países e mesmo no Acordo sobre Compras Governamentais da OMC, o Protocolo de Contratações Públicas do Mercosul também não abrange a totalidade das compras públicas de seus membros. Em geral, cada país busca manter algumas exceções relativas a certas políticas públicas específicas que poderiam ser incompatíveis com as obrigações do acordo.

Em suma, o Protocolo de Contratações Públicas do Mercosul representa um importante passo em direção à consolidação de um mercado comum. Uma vez que os países do bloco buscaram preservar algumas de suas políticas de compras públicas, é razoável supor que há espaço para adotar uma cobertura mais ambiciosa no futuro. Neste sentido, o aspecto de maior destaque imediato do Protocolo para potenciais exportadores interessados em oferecer seus produtos e serviços consiste na eliminação de tratamento discriminatório presente em várias de suas legislações internas, além de maior previsibilidade nas regras aplicáveis.

Outro importante aspecto do acordo é seu caráter evolutivo. Isto porque, por um lado, suas cláusulas de cooperação (com destaque para a cooperação em políticas para micro, pequenas e médias empresas) abrem espaço para uma convergência normativa que, futuramente, facilitará ainda mais a participação de empresas do bloco em contratações públicas fora de seu estado parte. Os efeitos dessa convergência e o aproveitamento das oportunidades geradas tendem a fortalecer empresas dos países do Mercosul, inclusive frente a competidores de terceiros mercados. Por outro lado, o acordo também prevê uma ampliação gradativa da sua cobertura, por meio da ampliação da lista de entidades e, idealmente, da inclusão de todos os bens e serviços atualmente excetuados, sob sua aplicação.

A experiência na aplicação do acordo trará aprendizados importantes para empresas e governos relativas à eficácia das políticas públicas de compras e novas oportunidades poderão ser criadas, com efeitos na produtividade das empresas e possível especialização. Importante destacar, ainda, que o aproveitamento das oportunidades advindas do Protocolo dependerá também de esforços de promoção comercial e de integração produtiva entre os países do bloco.

José Carlos Cavalcanti de Araújo Filho é formado em administração (UFPE) e pós-graduado em Relações Internacionais (UnB). Atualmente é Coordenador-geral de Comércio Exterior do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão.