Economia de Serviços

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Dinâmica comparada: A evolução da produtividade setorial no período 1950-2011

Por Marcelo Arend, Guilherme Singh, Julimar da Silva Bicharra e Adilson Giovanini

Segundo Rodrik e MacMillan (2011), a teoria das vantagens comparativas defende que uma maior abertura comercial leva os países a especializarem as suas estruturas produtivas, ou seja, aprofundar as vantagens comparativas. Os autores frisam que os países periféricos têm vantagem comparativa em bens primários, predominantemente agrícolas. Logo, um impulso em direção a uma economia mais aberta e globalizada, sem contrapartes, diminuiria o incentivo para mudanças estruturais. Nesse caso, os países incorreriam em aprofundamento da especialização agroexportadora, não gerando significativo transbordamento tecnológico para outras atividades.

Esse tipo de especialização está normalmente associado a um padrão em que fração pequena do pessoal ocupado da economia ganha salários acima da produtividade. Apesar disto, o aumento da renda tende a fomentar postos de trabalho no setor de serviços, mas de perfil tradicionalmente improdutivo. Esta mecânica e canais de transmissão reforçariam uma trajetória de baixo crescimento da produtividade e, por conseguinte, do produto de longo prazo da economia.

Dada esta problemática, este post verifica o modo como evoluiu a produtividade setorial brasileira no período 1950-2011. Isto é, examina se a produtividade do setor de serviços se reduziu frente ao processo de globalização observado nas últimas décadas.

O Gráfico 1 apresenta a evolução da produtividade do trabalho dos setores agropecuário e de serviços em relação ao industrial, que é usado como referência (1950=100). Ele mostra que a produtividade do trabalho do setor agropecuário está convergindo lentamente para o nível de produtividade do setor industrial. Todavia, a distância entre os setores segue elevada no transcurso do tempo.

Gráfico 1 – Evolução da produtividade do trabalho em relação ao setor industrial no período 1950-2011.

g1Obs: produtividade industrial, 1950 = 100.

Fonte: GGDC. Elaboração própria.

Importa observar que a produtividade média do trabalho do setor de serviços tem diminuído em relação à produtividade do setor industrial. Em 1980, a produtividade média do setor de serviços era equivalente à produtividade do setor industrial. Entretanto, a partir daquele ano, iniciou-se um movimento acentuado de queda relativa.

Em 2010, a produtividade do trabalho no setor de serviços era somente 58% da produtividade do setor industrial, situação inversa à do período de industrialização, quando a produtividade do setor de serviços era superior à do setor industrial. Esta situação revela que, até a década de 1980, os trabalhadores que abandonavam o setor agropecuário e encontravam emprego nos demais setores produziam mais, em média, que os trabalhadores que ficavam no campo. Os trabalhadores que migravam do setor industrial para o setor de serviços também produziam mais, contribuindo para a elevação da produtividade agregada da economia. Assim, o processo de mudança estrutural percebido pela transferência de trabalhadores para os setores industrial e de serviços, até o final da década de 1970, sempre implicou em aumento da produtividade. Porém, a partir da década de 1980, a transferência de trabalhadores da indústria para os serviços esteve associada à queda da produtividade total da economia.

Ao que parece, o processo de desindustrialização brasileiro e, ao mesmo tempo, de crescimento da participação do setor de serviços na geração de emprego e renda, levou a um processo de mudança estrutural redutora de produtividade. O Brasil retirou recursos da indústria, seu setor relativamente mais produtivo, e transferiu para o setor de serviços, com tendência de queda acentuada de produtividade relativa nas últimas décadas.

Esse processo de mudança estrutural sugere que o Brasil depende cada vez mais do desempenho do setor de serviços para elevar a sua produtividade agregada, já que o setor de serviços tem maior peso na produtividade total da economia. A importância do setor de serviços reside notadamente no seu tamanho. Já o crescimento da produtividade do setor agropecuário, apesar de relevante, produz efeitos reduzidos na produtividade agregada, pois seu tamanho é bem menor.

A situação é mais problemática ao se comparar o nível de produtividade do trabalho do setor de serviços brasileiro com o seu congênere norte-americano. Conforme mostra o Gráfico 2, durante a década de 1970 constata-se um processo de convergência da produtividade do setor de serviços brasileiro com o norte-americano. Entretanto, a partir da década de 1980, a produtividade do trabalho no setor de serviços brasileiro cada vez distancia-se mais da produtividade média dos serviços dos EUA. Este fato revela que o setor de serviços brasileiro, além de comprometer a produtividade agregada nacional nas últimas décadas, também exerceu efeito importante para o fenômeno do falling behind brasileiro em nível internacional, já que, em termos comparativos, o seu setor com maior peso na estrutura produtiva é cada vez menos produtivo em relação à fronteira produtiva internacional.

Gráfico 2 – Nível de produtividade do trabalho relativa do setor de serviços brasileiro ao dos Estados Unidos da América.

g2Fonte: Unctadstat. Elaboração própria.

Estas evidências dão suporte à hipótese do post. O aumento da produtividade do setor agropecuário não estaria contribuindo suficientemente para o aumento da produtividade agregada. Ademais, a mudança estrutural no caminho da desindustrialização e elevação do setor de serviços na ajudaria a explicar o processo de estagnação relativa do nível de renda e de produtividade nas últimas três décadas.

Dado o elevado peso dos setores industrial e de serviços, seria premente a adoção de políticas de mudança estrutural centradas naqueles setores como forma de garantir o crescimento da produtividade agregada e do nível de renda nacional.

 

MCMILLAN, Margaret S.; RODRIK, Dani. Globalization, structural change and productivity growth. National Bureau of Economic Research, 2011.

O Retorno da ‘Mudança Estrutural’ à Agenda de Pesquisa de Crescimento Econômico

A visão de que as mudanças estruturais desempenham um papel fundamental no processo de desenvolvimento econômico não é nova na Economia. A possibilidade de que economias concentradas em setores tradicionais e produtores de bens com baixa elasticidade renda da demanda apresentassem entraves graves ao processo de desenvolvimento econômico já era levantada por estudiosos do desenvolvimento econômico desde a década de 50[1]. De acordo com essa visão estruturalista, por exemplo, [ver e.g. Prebisch (1950, 1959)], a posição de cada país na hierarquia mundial, baseada na sua estrutura produtiva desempenharia um papel fundamental no padrão de desenvolvimento econômico a ser seguido.

Nesse sentido, o desafio do desenvolvimento econômico não consistiria em apenas se alcançar elevadas taxas de crescimento, mas sim em ter sucesso na realização de transformações estruturais necessárias para permitir o país superar restrições em termos de uma estrutura produtiva arcaica. Nesse contexto, a existência de mudanças na estrutura de uma economia como pré-requisito para o desenvolvimento econômico já está presente na literatura há algum tempo. Tais padrões já haviam sido documentados do ponto de vista empírico por Kuznets (1966). Apesar disso, a mudança estrutural ainda continua ser uma área pouca estudada dentro do campo de crescimento econômico.

Pasinetti (1993) foi um dos primeiros autores que procurou desenvolver, do ponto de vista teórico, um arcabouço matemático que levasse em conta padrões específicos de mudança estrutural. O ponto de partida para isso foi a abordagem da dinâmica de mudança estrutural, proposta por Pasinetti para o estudo da interação entre o progresso tecnológico e as preferências não homotéticas dos consumidores, capturadas através da Lei de Engel. Por um lado, o progresso tecnológico traz aumentos de renda per capita, em função do aumento da produtividade, que se traduzem em aumentos desiguais na demanda por bens e serviços. Por outro, ela gera o desemprego setorial em função de sua natureza poupadora de trabalho. Assim, a estrutura produtiva da economia reflete no longo prazo os padrões dinâmicos de evolução da demanda e das necessidades básicas dos consumidores. Por sua vez, a estrutura resultante desse processo determina em larga medida o perfil tecnológico a ser adotado. Ou seja, a mudança estrutural é afetada e acaba afetando a absorção e difusão de novas tecnologias.

Além disso, a partir dessa abordagem é possível identificar padrões de desenvolvimento relativamente estáveis para diferentes países com níveis de renda per capita semelhantes. Isso porque, para níveis de renda per capita mais baixos, há o predomínio do setor primário, uma vez que as necessidades básicas têm de ser satisfeitas.  Na medida em que ocorrem aumentos permanentes do nível de renda per capita, devido a processos como acumulação de capital e progresso tecnológico, há a tendência de diminuição de participação do setor primário. Essa diminuição de participação do setor primário é acompanhada pelo aumento de participação do setor secundário, fato esse que é em geral explicado pelos ganhos mais expressivos de produtividade, uma vez que tal setor é caracterizado por retornos crescentes de escala. Tal fenômeno pode dar origem a aumentos mais expressivos de renda per capita que vão permitir a continuidade da evolução nos padrões de consumo, fazendo, assim, que o setor de serviços passe a ter primazia na participação setorial em economias desenvolvidas. Não é sem motivo que atualmente esse setor desempenha um importante papel na dinâmica de mudança estrutural. Economias que têm sido capazes de reconhecer a relevância do setor de serviços no sentido de gerar encadeamentos produtivos com o setor industrial têm sido mais bem-sucedidas em levar adiante mudanças estruturais adequadas.

Quando se trata de se estabelecer um marco em termos do renovado interesse em se estudar a mudança estrutural, é necessário levar em consideração o estudo de Alwyn Young (1995) sobre a experiência de crescimento dos chamados ‘tigres asiáticos’. Esse autor mostrou que a experiência bem sucedida de Hong Kong, Singapura, Coreia do Sul e Taiwan não poderia ser explicada apenas pelo aumento da produtividade total dos fatores (PTF), mas principalmente pela acumulação de capital e realocação de trabalho e outros fatores de produção de setores com baixa produtividade para setores com produtividade mais elevadas. Esse autor foi o primeiro a desafiar a visão de que a experiência de crescimento dos tigres havia sido ‘milagrosa’ no sentido de não haver uma explicação econômica plausível pra elas em termos de aumento da PTF.

Mais recentemente McMillan e Rodrik (2011) confirmaram que, na verdade, a fonte de crescimento dos países asiáticos foi a destacada mudança estrutural ocorrida no período. Ou seja, a mão-de-obra se deslocando de setores com baixa produtividade para outros com mais alta produtividade levou a um aumento na produtividade média da economia como um todo. Eles observaram também que na América Latina o contrário ocorreu, sendo a mudança estrutural growth-reducing, ou seja, de setores mais dinâmicos para especialização na produção e exportação de produtos primários. Como resultado, os países asiáticos analisados tiveram um crescimento da produtividade do trabalho de cerca de 2,5% ao ano acima do que os países da América Latina entre 1990 e 2005. Assim, uma explicação a la Arthur Lewis se adequa melhor do que uma explicação a la Solow à experiência de crescimento tanto de países asiáticos quanto latino-americanos. Diante dessas evidências, atualmente é reconhecido que o desafio do crescimento econômico é na verdade o desafio de se fazer as mudanças estruturais adequadas [Ocampo (2005)], fazendo com que esse tópico volte a estar presente na agenda de pesquisa da teoria do crescimento econômico [ver e.g. Acemoglu e Guerrieri, (2008) e Ngai e Pissarides (2007)].

 

servletrecuperafotoRicardo Azevedo Araújo é Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade de Brasília, Brasil, desde 2008. Ele também é bolsista de produtividade  do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CNPq) e líder do grupo de pesquisa ‘Crescimento e Distribuição’ da UnB/CNPq. Atualmente é coordenador da programa de pós-graduação em Economia da UnB e editor associado da revista EconomiA.

Referências

Acemoglu, D. e Guerrieri, V. (2008), Capital Deepening and Nonbalanced Economic Growth.  Journal of Political Economy 116(3), 467 – 498.

McMillan, M. and Rodrik, D. (2011). Globalization, Structural Change and Productivity Growth. NBER Working Paper No. 17143.

Ngai, R. and Pissarides, C. (2007). Structural Change in a Multisector Model of Growth, American Economic Review, 97(1), 429 – 443.

Ocampo, J. (2005) The Quest for Dynamic Efficiency: Structural Dynamics and Economic Growth in Developing Countries. In: J. Ocampo. Beyond Reforms: Structural Dynamics and Macroeconomic Vulnerability. Stanford University Press and The World Bank.

Pasinetti, L. (1993). Structural Economic Dynamics – A Theory of the Economic Consequences of Human Learning. Cambridge University Press. Cambridge, UK.

Prebisch, R. (1950). The Economic Development of Latin America and its Principal Problems, New York: ECLA.

Prebisch, R. (1959). Commercial Policy in Underdeveloped Countries, American Economic Review, Paper and Proceedings 49(2), 251 – 273

Young, A. (1995). The Tyranny of Numbers:  Confronting the Statistical Realities of the East Asian Growth Experience. Quarterly Journal of Economics 110, 641 – 680.

[1] Esse tipo de mudança estrutural já havia sido considerado por Arthur Lewis (1952) em seu modelo dual, que assume a existência de um setor tradicional com baixa produtividade e outro, moderno, com elevada produtividade. Nesse caso, a variável chave é a capacidade de transição de mão-de-obra do setor tradicional para o setor moderno.

A saída da crise passa pelos serviços

A crise pela qual passa o Brasil atualmente é extremamente grave. Apesar de ainda não ser possível ver o fim da turbulência, já é seguro afirmar que esta é uma das quedas mais rápidas e profundas da nossa história econômica. No gráfico abaixo, é possível ver o crescimento econômico no Brasil do período de 1901 a 2018, utilizando o Boletim Focus como referência para as projeções de 2016 a 2018.

A perda acumulada estimada para o período de 2015 e 2016, de 7,1%, deve ser superior à do período pós-segundo choque do petróleo, entre 1981 e 1983 (-6,3% acumulados), e até à do período de 1930-31 (-5,3%), pós-Crise de 29. Levando-se em conta a variação do PIB per capita, o brasileiro deverá ficar, ao fim do período de 2014 a 2016, 10% mais pobre — ou cerca de 30%, se calculado em dólares.

Gráfico 1

PIB1901-2018

As causas para quadro tão dramático são diversas e estão sendo amplamente discutidas, tanto na imprensa, quanto na academia, e envolvem tanto questões conjunturais (desequilíbrio fiscal, crise política, distorções de preços causadas por subsídios, cenário internacional mais desfavorável, etc) quanto estruturais (baixa produtividade, desindustrialização precoce, infraestrutura deficiente, “custo Brasil”, entre outras).

Sem dúvida, para sair da crise, será preciso atacar questões de ambos os tipos, de maneira coordenada, simultânea e rápida. Entretanto, surpreende como, nesses debates, o setor de serviços é raramente lembrado.

Como é possível ver no Gráfico 2 abaixo, pelo menos desde 1947, o setor é o de maior participação no PIB, e, de 1986 a 2015, aumentou seu percentual de maneira significativa, tendo chegado a mais de 70%. Para além de sua contribuição mais direta, os serviços são importantes insumos para outros setores, em especial a indústria, conforme já exposto aqui no blog.

Gráfico 2

SetoresPIB

Fonte: IBGE.

O problema é que o setor de serviços, no Brasil, se concentra principalmente em atividades de baixa complexidade e, mesmo nas atividades de maior valor agregado, o país não costuma ser competitivo, como pode ser percebido pelos constantes déficits desses serviços na balança comercial e pela baixa produtividade, para níveis internacionais, dessas atividades. Esse quadro fica ainda mais claro ao olhar a evolução da produtividade do setor como um todo (Gráfico 3): de 1980 a 2011, o setor apresentou queda de quase 50% (!!!), pior resultado dos grandes setores.

Gráfico 3

Fonte: Moreira (2015) com base em Timmer, de Vries e de Vries (2014).

Fonte: Moreira (2015) com base em Timmer, de Vries e de Vries (2014).

Por conta do processo de mudança estrutural e das mudanças em curso na economia — descentralização da produção, maior interação entre bens e serviços, indústria 4.0, etc. — a tendência é que os serviços sigam sendo, com alguma distância, o maior setor da economia brasileira. Logo, não há outro caminho: o Brasil não conseguirá crescer sustentavelmente e ser competitivo no século XXI sem colocar os serviços no centro de suas políticas. O setor de serviços pode não ter sido a principal causa da crise atual, mas torná-lo mais eficiente e produtivo será indispensável para um crescimento mais sustentado.

Novas tecnologias e o baixo crescimento da produtividade nos países ricos

Nos últimos anos, tem havido um debate sobre a capacidade das novas tecnologias promoverem um crescimento de longo prazo e a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Afinal, o avanço da Internet e de serviços sofisticados é capaz de promover aumento de produtividade no longo prazo?

Nos países desenvolvidos, e nos Estados Unidos em especial, há uma discussão a respeito do baixo crescimento da produtividade na última década. Como é possível ver no gráfico abaixo, entre 2007 e 2015, a produtividade do trabalho nos EUA cresceu, em média, 1,2% ao ano, consideravelmente abaixo do longo período pós-guerra, entre 1947 e 1973 (2,8%), ou do boom do começo da Internet, entre 1990 e 2000 (2,2%).

Gráfico 1 – Crescimento anual médio da produtividade do trabalho do setor privado não-agrícola nos Estados Unidos em períodos selecionados

produtividadeEUAHá várias hipóteses para essa desaceleração da produtividade. Para alguns autores, esse fato se deve principalmente à dificuldade de se mensurar, pelos meios tradicionais, os ganhos financeiros e não financeiros dos avanços tecnológicos dos últimos anos, como a popularização do smartphone, da banda larga, das redes sociais e de serviços disruptivos da “economia colaborativa”, que visam diminuir ineficiências e ociosidade, como o Uber, o AirBnB, o Waze, etc.

Para outros acadêmicos, já não haveria mais grandes invenções a serem feitas, e os avanços recentes simplesmente não seriam suficientes para aumentar o nível de produtividade da economia de maneira substancial. Na visão desses autores, a introdução de um serviço como o Skype ou Uber não se compara, em termos econômicos, com as revoluções promovidas pelas grandes inovações dos séculos XIX e XX, como o telefone, a eletricidade, o avião comercial e os eletrodomésticos. Em uma frase já famosa de Peter Thiel, cocriador do PayPal e um dos primeiros investidores do Facebook, “queríamos carros voadores, mas nos deram 140 caracteres”.

Em trabalho recente, Chad Syverson mostra que, entre os países desenvolvidos, não parece haver relação entre o uso de tecnologia da informação e o crescimento da produtividade do trabalho nos últimos anos (ver Gráfico 2 abaixo). Por meio de testes contrafactuais, Syverson conclui que a queda recente do crescimento da produtividade nesses países não poderia ser explicada apenas por um erro de mensuração. Segundo ele, o mais provável é que tenho havido, de fato, uma queda no ritmo de crescimento de produtividade nesses países.

Essa discussão é extremamente importante para o Brasil, país que apresenta um baixo nível e crescimento da produtividade nas últimas décadas. Melhorar nossa educação e nossa infraestrutura e promover uma maior inclusão digital serão passos importantes para a melhora da qualidade de vida e para o aumento da produtividade no país. Porém, provavelmente será preciso fazer mais do que isso para darmos um salto de patamar.

Gráfico 2 – Mudança no crescimento de produtividade (%) entre os períodos de 1995-2004 e 2005-2014 e percentual de famílias com acesso à Internet de banda larga em 25 países da OCDE

produtividade e banda larga

Fonte: Syverson, 2016.

Em que atividades se concentram as empresas de serviços?

Como tem sido discutido neste blog, o setor de serviços é bastante heterogêneo. Por isso, sempre que possível, apresentamos os dados do setor utilizando classificações de atividades econômicas, de modo a trabalhar com categorias mais homogêneas. Em geral, analisamos dados de emprego, PIB, inflação, etc. É interessante, também, saber em que atividades se concentram as empresas do setor.

Segundo o DataSebrae, 80% das empresas brasileiras são de serviços (incluindo comércio). Desses 7,6 milhões de empreendimentos, a maioria se concentra em atividades tradicionais (84%), predominantemente voltadas para o consumidor final (74%). Apenas 6% dessas empresas estão em atividades classificadas como de agregação de valor (ver gráfico 1).

Gráfico 1 – Distribuição das empresas de serviços (inclusive comércio), por categorias – 2014

Empresas por categoria

Fonte: Elaboração própria a partir de DataSebrae (2016), a partir de classificações utilizadas no Boletim de Serviços.

Quando analisamos as 10 atividades econômicas mais frequentes entre as empresas de serviços (Tabela 1), fica clara a concentração dos negócios em segmentos de menor valor agregado. As três atividades mais frequentes — (i) Comércio varejista de artigos do vestuário; (ii) Cabeleireiros, mercearias e armazéns; (iii) Minimercados, mercearias e armazéns — concentram, sozinhas, quase 20% das empresas do setor e têm como características comuns a baixa produtividade e a mão-de-obra geralmente pouco qualificada.

Tamanha concentração em atividades mais tradicionais não é surpresa, levando-se em conta o fenômeno do Microempreendedor Individual (MEI), que facilitou (e barateou) consideravelmente a abertura e a formalização de firmas de baixo faturamento; o fato de 84% da população brasileira viver em regiões urbanas (IBGE, 2012); o fenômeno da transformação estrutural, fato estilizado na economia; e o aumento da demanda por serviços pessoais, puxada pela ascensão social ocorrida até recentemente.

Embora não seja surpreendente, esta configuração do setor de serviços, que responde por mais de 70% do PIB, demonstra parte do enorme desafio do aumento da produtividade na economia brasileira.

A promoção de um ambiente de negócios mais amigável e um maior foco no aumento da eficiência dessas empresas em atividades tradicionais (principalmente por meio da qualificação de empresários e empregados) podem não ser medidas suficientes para o país dar um salto na sua produtividade, mas são indispensáveis para isso.

Tabela 1 – Distribuição de empresas nas 10 atividades econômicas mais frequentes no setor de serviços (inclusive comércio) — 2014

Atividade econômica (CNAE 7 dígitos) Número de Empresas Participação no total de empresas de serviços
Comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios 740.605 9,8%
Cabeleireiros, manicure e pedicure 374.174 4,9%
Minimercados, mercearias e armazéns 314.691 4,2%
Lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares 254.391 3,4%
Restaurantes e similares 174.151 2,3%
Bares e outros estabelecimentos especializados em servir bebidas 141.395 1,9%
Transporte rodoviário de carga intermunicipal, interestadual e internacional 134.931 1,8%
Comércio a varejo de peças e acessórios novos para veículos automotores 131.458 1,7%
Atividades de estética e outros serviços de cuidados com a beleza 127.943 1,7%
Comércio varejista de cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal 123.311 1,6%

Fonte: DataSebrae (2016). Alguns nomes de atividades econômicas foram simplificados.

Qual a relação entre o setor de Tecnologia da Informação e Comunicação e o desenvolvimento econômico?

Desenvolvimento econômico e crescimento de longo prazo têm suas origens, usualmente, na inovação e no aumento da produtividade. A caracterização da produtividade e seu aumento contínuo como um fator determinante do desenvolvimento econômico é um fato estilizado da economia: um grande número de estudos mostra que diferenças no crescimento da produtividade são responsáveis não só pela variação na taxa de crescimento dos países ao longo do tempo, mas também pela diferença no nível de desenvolvimento deles.

Neste sentido, o objetivo deste post é avaliar qual a contribuição do setor de TIC para o desenvolvimento econômico dos países. Como este setor é conhecido por sua inovação constante e por fornecer significativos ganhos de produtividade, há de se esperar alguma correlação positiva entre o setor de TIC de um país e seu grau de desenvolvimento econômico. Para avaliar esta correlação quantitativamente, optou-se por calcular o coeficiente de correlação de Pearson utilizando as seguintes variáveis: como medida do setor de TIC, utilizou-se o Networked Readiness Index (NRI); como medida de desenvolvimento econômico, foi utilizado o conceito de densidade industrial.

O coeficiente de correlação de Pearson é uma medida do grau de relação linear entre duas variáveis quantitativas. Calculando-se o coeficiente de correlação entre duas variáveis, podemos avaliar não só se elas estão relacionadas, mas também qual a intensidade desta relação. O coeficiente varia entre -1 e 1. Quanto mais próximo dos extremos, mais correlacionadas as variáveis estão: ou seja, o crescimento de está associado ao crescimento da outra. O sinal indica se a correlação observada é direta ou inversa (se elas crescem no mesmo sentido ou em sentidos opostos).

O Networked Readiness Index (NRI) é um índice desenvolvido pelo Fórum Econômico Mundial para medir o nível de preparo tecnológico das economias. Seu objetivo é avaliar o grau de propensão dos países analisados para explorar as oportunidades oferecidas pelo setor de TIC, possibilitando, com isso, identificar áreas de prioridade para alavancar o desenvolvimento. Por ser considerado o indicador mais abrangente na avaliação das tecnologias da informação e comunicação dos países analisados, ele pode ser considerado um bom indicador de medida do grau de desenvolvimento do setor de TIC de um país. O índice foi abordado de forma mais abrangente em um post anterior.

A densidade industrial é uma medida que reflete a razão entre o valor adicionado da indústria de um país e sua população total. O conceito de densidade industrial busca identificar a capacidade e o interesse de um país em mobilizar seus recursos produtivos para promover o desenvolvimento industrial. O diagrama de espaço indústria, mostrado na Figura 1 abaixo (e explorado em post anterior), descreve a trajetória do desenvolvimento industrial dos países, utilizando um gráfico de três dimensões: densidade industrial, participação da indústria no PIB e participação dos serviços comerciais no PIB. O diagrama é dividido em quatro regiões distintas: R1, R2, R3 e R4.

Figura 1 – Diagrama Espaço Indústria

Diagrama Espaço IndustriaFonte: Arbache (2014).

Em geral, os países iniciam sua trajetória rumo ao desenvolvimento industrial na região R1. Nesta região, a densidade industrial é baixa, a participação da indústria no PIB é pequena e a participação dos serviços no PIB também é baixa. Logo, pode-se concluir que os países em R1 são essencialmente agrários, com grande parte do PIB vindo da agricultura. Com a chegada à região R2, os países alcançam o primeiro estágio de desenvolvimento industrial: indústrias de base, manufaturas de baixo valor adicionado e serviços de custo ganham importância na economia: a participação da manufatura no PIB cresce, mas a dos serviços comerciais é baixa.

O grande salto para o desenvolvimento é observado na transição da Região R2 para R3. Neste estágio, a densidade industrial passa a crescer rapidamente e vem acompanhada do aumento da participação dos serviços comerciais no PIB. A indústria passa a produzir bens mais sofisticados, que começam a requerer serviços profissionais especializados no processo de produção. Em virtude disso, a participação da indústria no PIB tende a diminuir: parte dos serviços da linha montagem industrial, até então executados internamente pela própria indústria, passam a ser terceirizados para empresas de serviços comerciais mais especializadas. É justamente neste ponto que começam a aparecer os serviços de outsourcing.

Finalmente, a região R4 é caracterizada pelo estágio mais avançado do desenvolvimento industrial (o qual poucos países alcançam). Nela, a densidade industrial continua a se expandir, juntamente com a demanda por serviços comerciais. Como consequência, a participação da indústria tende a declinar ainda mais, indicando uma intensa participação do setor de serviços profissionais na indústria, visando à produção de bens cada vez mais sofisticados: bens e serviços passam a se combinar para criar um terceiro produto, que não é um bem industrial tradicional, nem tampouco um serviço convencional. Os exemplos vão desde smartphones e tablets (nos quais os serviços de software compõem a maior parte do valor agregado) até mesmo carros e apartamentos do século XXI (com seus computadores de bordo e softwares de automação residencial).

Se, empiricamente, podemos esperar uma correlação positiva entre densidade industrial e serviços comerciais e profissionais, podemos esperar que esta correlação se manifeste também entre a densidade industrial e o setor de TIC. Este comportamento foi de fato observado avaliando-se os valores dos coeficientes de correlação calculados, apresentados na Tabela 1 abaixo.

Tabela 1 – Coeficiente de Correlação de Pearson para NRI e Densidade Industrial – 2012 a 2014

Coeficientes Correlação NRI-DIFonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial e do Fórum Econômico Mundial.

Como era de se esperar, a correlação calculada é positiva e bastante forte. O resultado indica que os conceitos e indicadores por trás do NRI estão fortemente correlacionados com a densidade industrial dos países. Como o conceito de densidade industrial é uma medida de desenvolvimento econômico, o resultado nos leva a crer que o setor de TIC pode ter papel importante no desenvolvimento econômico dos países. Consequentemente, dar atenção especial ao setor de TIC pode ser um caminho interessante para o desenvolvimento.

O Brasil precisa pensar políticas públicas de desenvolvimento econômico que levem em conta o setor de serviços, que hoje representa 75% do PIB nacional. O tempo de se negociar acordos de comércio pensando em commodities e subsídios agrários ficou para trás: o país precisa pensar em como transformar seu setor de serviços, hoje essencialmente focado em serviços de custo de baixo valor agregado e de baixa produtividade, em um setor de serviços comerciais sofisticados, de alto valor agregado. Para tanto, reformas estruturantes (política, administrativa, tributária) são necessárias para que não só o setor de TIC volte a crescer, mas principalmente para que os setores demandantes de soluções de TIC também voltem a crescer, impulsionando assim a inovação e o desenvolvimento do país.

O Potencial dos Serviços em Nuvem

Em post anterior, foi discutida a rápida expansão recente da Cloud Computing, possibilitando o armazenamento e compartilhamento de informações e softwares via rede. Tal movimento é uma clara resposta à demanda cada vez maior por serviços mais eficientes e de menor custo de tecnologia da informação (TI).

Em pesquisa recente promovida pela KPMG, 49% dos empresários entrevistados reportaram que a nuvem contribui para a transformação do ambiente empresarial por meio de ganhos de eficiência.   Cerca de 70% dos entrevistados apontaram que a migração de parte dos negócios para a nuvem tem contribuído para melhorar a performance das empresas, automatizar serviços, reduzir custos e acessar novas soluções.

Sem título

Fonte: 2014 Cloud Survey Report/KPMG.

A ideia por trás do aumento da produtividade das empresas via adoção de serviços em nuvem é bem simples: enquanto no modelo tradicional de TI é necessário um alto investimento em infraestrutura tecnológica, softwares e contratação de pessoal – em que parte dos recursos se torna rapidamente obsoleta ou subutilizada -, a cloud permite o acesso instantâneo aos mesmos serviços de forma compartilhada e com menor custo. A manutenção, a segurança dos dados e a modernização dos recursos ficam a cargo do prestador do serviço (o “dono” da nuvem), tornando a terceirização das atividades de TI muito mais atraentes. Assim, a migração de parte dos processos dos negócios para a nuvem libera recursos humanos e financeiros para as atividades principais das empresas, tornando-as mais produtivas.

Por outro lado, companhias como Amazon.com, Google e Microsoft têm encontrado nichos de mercado promissores, obtendo receitas significativas com a oferta de soluções tecnológicas no modelo de Cloud Computing. Conforme apontado em artigo da Bloomberg, somente a divisão Amazon Web Services, responsável pelos serviços em nuvem da Amazon, obteve uma receita de US$2,09 bilhões no terceiro trimestre de 2015, o que representa um aumento de 78% em um ano.  Em contrapartida, companhias como IBM, HP, EMC, Oracle, dentre outras vêm apresentando desempenho negativo. A justificativa para tal fato é que produtos e serviços tipicamente comprados dessas companhias por grandes empresas estão sendo substituídos por soluções de menor custo disponíveis na nuvem.

Tal cenário indica a tendência de as empresas aderirem cada vez mais soluções na nuvem como meio para potencializar a sua produtividade, enquanto os grandes provedores desse tipo de serviço ganham força no mercado de tecnologia da informação. Ao mesmo tempo, sobram questionamentos sobre o sigilo dos dados armazenados na nuvem, o que representa uma das principais preocupações para as empresas e um grande desafio para as autoridades quanto à regulação de um modelo de negócios operado via rede e de amplitude internacional.

 

Modernização dos Serviços e Marcos Regulatórios

Este blog tem insistido no argumento de que a baixa competitividade do setor de serviços compromete a competitividade de toda a economia brasileira.

Indicadores sugerem que, de fato, os nossos serviços têm preços relativamente altos e qualidade relativamente baixa. Não surpreende saber que estamos na penúltima colocação no ranking de competitividade internacional de serviços.

O Global Competitiveness Report 2015/2016 identifica que o Brasil está particularmente mal colocado em áreas críticas para o desenvolvimento dos negócios, como serviços financeiros, de telecomunicações, legais, de logística, de energia, de pesquisa e desenvolvimento e educacionais. A piora das condições de alguns desses serviços ajuda a explicar a significativa queda do Brasil no ranking do Global Competitiveness Report — passamos da 57ª para a 75ª posição do relatório anterior para o atual.

Mas de onde vem tão baixa competitividade? Claro, as causas são muitas, mas uma que se destaca é o marco regulatório. Os serviços em geral são excessivamente regulados para padrões internacionais, muitas vezes com provisões anacrônicas e de difícil justificação. Não por acaso, indicadores internacionais mostram  que a restrição à competição e a reserva de mercado são elevadas quando comparadas a outros países.

A consequência mais visível desse sistema regulatório, que parece ter sido erigido para atender a interesses específicos, é a elevada ineficiência e a baixa competitividade sistêmica.

Considere serviços como os financeiros, legais e de telecomunicações.  Como mostra o gráfico abaixo, os indicadores de restrititividade desses segmentos são superiores aos observados no resto do mundo. No caso dos serviços financeiros, destacam-se reservas de mercado de certos produtos para instituições de capital nacional, barreiras de entrada maiores para capital estrangeiro e outras medidas discriminatórias e elevadíssimos custos iniciais de entrada. No caso dos serviços legais, destacam-se as restrições ao movimento internacional de profissionais e ao exercício da profissão por estrangeiros licenciados em outros países. No caso das telecomunicações, destacam-se inúmeras barreiras que elevam sobremaneira os custos de entrada e restrições ao capital estrangeiro. O problema é que esses  serviços são importantes itens da cesta de insumos das empresas, sendo que os serviços financeiros são, de longe, o serviço com maior peso, com participação de 26% no total de serviços consumidos pela indústria.

A melhoria da competitividade da economia brasileira requer ampla revisão dos marcos regulatórios dos serviços em consonância com as melhores práticas internacionais de forma a que se estimule a modernização e os investimentos no setor e se encoraje a entrada de novos concorrentes.

STRI

 

Serviços, Produtividade e Crescimento

Produtividade é, cada vez mais, motor do crescimento econômico. Para ser produtiva, uma economia requer conhecimento, infraestrutura, conectividade, interação com outras economias e ambiente e instituições favoráveis para que os recursos sejam realocados dos setores menos para os mais produtivos.

Mas, nos dias de hoje, em que complementariedade e sinergia entre setores são cada vez mais determinantes para a criação de valor, é especialmente importante que os segmentos envolvidos numa cadeia de valor também sejam produtivos. Essa relação será tão mais relevante quanto mais a economia for integrada à economia global.

O que acontece no Brasil? Considere o setor de serviços. A produtividade do setor de serviços é muito baixa para padrões domésticos e internacionais. De fato, a figura abaixo mostra o índice de competitividade do setor de serviços de 42 países avançados e emergentes. O setor de serviços do Brasil só é mais competitivo que o do Chile. (*)

O problema é que, primeiro, os serviços são o maior setor da economia, já perfazendo 70% do PIB, e a sua participação no produto segue aumentando. Segundo, o setor já contribui com a maior parte do valor adicionado de outros setores – no caso da indústria, essa contribuição já passa dos 64%.

Como consequência, os serviços são os principais determinantes da baixa produtividade agregada e “intoxicam” outros setores que os consomem como insumos.

Por que os serviços são tão pouco competitivos? E por que eles são tão grandes e influentes? Claro, são muitas as causas; destacamos aqui apenas alguns dos aspectos que consideramos mais relevantes.

O setor de serviços é pouco competitivo porque ele é muito protegido por regulações que inibem a competição. Reservas de mercado, regras e variados obstáculos desencorajam a entrada de novos competidores e mesmo a saída do mercado de empresas pouco eficientes. Em vários segmentos, a importação de serviços pode ser um desafio quase intransponível.

O setor é anormalmente grande para padrões internacionais porque a indústria, depois de ter atingido um pico de participação no PIB de 35% em meados da década de 1980, começou a contrair prematura e rapidamente. O setor de serviços, especialmente o de consumo final, que é o menos produtivo, foi o seu principal herdeiro no PIB e no emprego.

Já a elevada participação dos serviços no valor adicionado de outros setores se deve a tecnologias de organização da produção e a mudanças de preços relativos em favor dos serviços.

A volta do crescimento econômico no Brasil passa pelo setor de serviços. Será preciso introduzir reformas ambiciosas que aumentem a competitividade e a produtividade do setor, quebrar cartórios e monopólios e flexibilizar mercados, ao tempo em que se leva adiante políticas de acesso a tecnologias modernas, capital humano, conhecimento e crédito e políticas de atração de parcerias e de capital estrangeiro para o setor.

 

Competitividade dos serviços - indicador internacional

(*) O índice de competitividade internacional resulta da relação entre preços relativos e produtividade do trabalho. Elaboração e desenvolvimento próprios.

Indústrias intensivas em serviços

Em posts anteriores, ressaltamos a crescente importância de serviços nas cadeias de valor de outros setores. Esse fenômeno é observado nos dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA), do IBGE.

Em 2012, na indústria, a razão consumo intermediário de serviços/valor bruto da produção (CIS/VBP) estava em 20%. Isso significa que, para produzir R$ 100, a indústria brasileira consome R$ 20 de serviços no seu processo produtivo. Análise complementar mostra que a relação consumo intermediário de serviços/valor adicionado (CIS/VA) na indústria é de 69%.[1]

Esses números sugerem que indústria e serviços estão fortemente associados. Por conta de fenômenos como a descentralização da produção, especialização de empresas em nichos e terceirização, é provável que essa relação se torne ainda mais forte no futuro.

O gráfico abaixo mostra que, apesar de presente em todos os segmentos, o consumo intermediário de serviços é mais forte em algumas atividades. Olhando tanto o CIS/VBP (barras azuis no gráfico) quanto o CIS/VA (barras verdes), percebe-se que os três segmentos mais intensivos em serviços são indústria extrativa ou diretamente ligados a ela: extração de petróleo e gás natural; fabricação de coque, produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis; e extração de gás mineral.

Em artigo no prelo, Arbache e Moreira apresentam evidências de que o maior consumo de serviços, principalmente os chamados “serviços de valor”, está associado a maiores níveis de produtividade na indústria. Esse achado sugere que um aumento da eficiência e da sofisticação dos serviços voltados para a indústria manufatureira pode ter efeitos significativos no incremento de sua produtividade e competitividade.

Consumo intermediário de serviços como proporção do valor bruto da produção (azul) e do valor adicionado (verde), por segmento da indústria – 2012.

Fonte: elaboração própria a partir de PIA/IBGE (2014).

[1] Esse indicador pode ser maior que 100%, já que o valor adicionado é a diferença entre o valor bruto da produção e o consumo intermediário.

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