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Tag: Globalização

Padrões globais de auditoria interna

Quando pensamos em globalização, imediatamente somos remetidos ao comércio de bens entre os países, a diminuição das fronteiras, firmas transnacionais, cadeias globais de valor etc. Nos últimos 60 anos, o crescimento da participação dos serviços no PIB evidenciou um novo marco no processo de globalização. O processo de digitalização remodelou o que entendemos sobre globalização e sobre os fluxos transacionais entre as diversas economias.

Estudo recente do McKinsey Global Institute detalha os principais aspectos dessa nova globalização. Com um mundo cada vez mais interconectado por meio de plataformas digitais, temos acesso facilitado ao conhecimento.

Economias interconectadas pelo conhecimento estão progressivamente se alinhando em indicadores de desempenho, padrões de qualidade, sustentabilidade, responsabilidade sócio-ambiental, compliance e sistema de controle interno. Um dos principais benefícios desse processo é a comparabilidade baseada em parâmetros uniformes.

As auditorias internas das organizações, sejam elas públicas ou privadas, têm importante papel na definição de padrões de controles internos em escala global. Os referenciais teóricos para a prática de auditoria interna dão o respaldo necessário à convergência.

Dentre os referenciais teóricos para a prática de auditoria interna mais difundidos, destacam-se o referencial do COSO, o COBIT e a ISO 31000, que dispõe sobre gerenciamento de riscos. No aspecto de conduta e prática profissional, o padrão mais conhecido — e reconhecido — é o do Instituto dos Auditores Internos (IIA).

Dentre os principais referenciais teóricos difundidos pelo IIA e que viraram padrões para as auditorias internas, destacamos:

  • Definição de auditoria interna;
  • Princípios fundamentais para a prática profissional de auditoria interna;
  • Código de Ética; e
  • Normas internacionais para a prática profissional de auditoria interna.

Para o IIA, a auditoria interna é uma atividade independente e objetiva de garantia e consultoria destinada a agregar valor e melhorar as operações de uma organização. Isso ajuda uma organização a atingir seus objetivos, trazendo uma abordagem sistemática e disciplinada para avaliar e melhorar a eficácia dos processos de gerenciamento, controle e governança de risco.

Os “Princípios Fundamentais” articulam a eficácia da auditoria interna. Para que uma função de auditoria interna seja considerada efetiva, todos os princípios devem estar presentes e operando efetivamente. A realização dos “Princípios Fundamentais” pode ser bastante diferente de organização para organização, mas a falta de cumprimento de qualquer dos princípios implicaria em uma atividade de auditoria interna não tão eficaz quanto poderia ser, segundo a Missão da Auditoria Interna.

O Código de Ética estabelece os princípios e expectativas que regem o comportamento de indivíduos e organizações na condução da auditoria interna. Ele descreve os requisitos mínimos de conduta e expectativas comportamentais ao invés de atividades específicas.

Finalmente, as Normas internacionais para a prática profissional de auditoria interna (Normas), têm como propósito orientar a aderência com os elementos obrigatórios da Estrutura Internacional de Práticas Profissionais (IPPF), fornecer uma estrutura para a execução e a promoção de um amplo espectro de serviços de auditoria interna de valor agregado, estabelecer as bases para a avaliação de desempenho da auditoria interna, e promover a melhoria dos processos e operações organizacionais.

SISTEMA DE CONTROLE INTERNO DO PODER EXECUTIVO FEDERAL BRASILEIRO

As diretrizes para o exercício do controle no âmbito do Poder Executivo Federal remontam à edição do Decreto-Lei nº 200,  de 1967. De lá para cá, outros dispositivos, como a Lei nº 10.180 e o Decreto nº 3.591 trataram de organizar o Sistema de Controle Interno do Executivo.

O Ministério da Transparência e Controladoria Geral da União (CGU) tornou-se o Órgão Central do Sistema de Controle Interno, incumbido da orientação normativa e da supervisão técnica dos órgãos que compõem o Sistema.

Para dar efetividade às suas competêcias, o CGU criou uma série de Instruções Normativas (IN). Dentre as mais recentes e em vigor, destacamos a IN Conjunta MP/CGU nº 1/2016, que dispõe sobre controles internos, gestão de riscos e governança no âmbito do Poder Executivo Federal, e, finalmente, a IN nº 3/2017, que aprova o referencial técnico da atividade de auditoria interna governamental do Poder Executivo Federal.

A seção introdutória da IN nº 3 deixa clara a utilização do referencial teórico internacional para a normatização do Sistema de Controle Interno no âmbito do Poder Executivo Federal:

“Nesse contexto, o presente Referencial Técnico posiciona-se como um instrumento de convergência das práticas de auditoria interna governamental exercidas no âmbito do Poder Executivo Federal com normas, modelos e boas práticas internacionais e com a Instrução Normativa Conjunta MP/CGU nº 1, de 10 de maio de 2016, que determinou a sistematização de práticas relacionadas a governança, gestão de riscos e controles internos no Poder Executivo Federal.”

A definição dos princípios fundamentais para a prática da atividade de auditoria interna governamental da IN nº 3 é muito semelhante aos princípios fundamentais definidos pelo IIA, assim como os componentes para avaliação do sistema de controle interno são os mesmos estabelecidos pelo COSO: ambiente de controle, avaliação de riscos, atividades de controle, informação e comunicação e atividades de monitoramento.

A adoção de padrões globais de auditoria, portanto, faz muito sentido. As normas e os padrões de conduta definidos pelo IIA, por exemplo, são universais, principalmente quando se trata das questões éticas. Muito do que se apregoa tem origem no mais puro bom senso e são apenas desdobramentos da definição de auditoria interna. Quando se define que a auditoria interna é uma atividade independente e objetiva de garantia e consultoria destinada a agregar valor e melhorar as operações de uma organização, ajudando-a a atingir seus objetivos, os “Princípios Fundamentais” se mostram indiscutíveis.

A convergência do referencial aceito internacionalmente e do referencial nacional não é por acaso ou por comodismo. Ao contrário, a convergência demonstra o quão alinhado o país deseja estar dos seus pares na esfera pública no tocante à governança, gestão de riscos e controles internos. Os ganhos da convergência são inúmeros em um cenário de globalização, no qual as relações internacionais, sobretudo as comerciais e financeiras, são respaldadas por uma avaliação da credibilidade de um país. Quão mais similares os parâmetros de avaliação, mais facilitada a análise dos pares e mais fácil a tomada de decisão.

 Rodrigo Madeira é administrador e trabalha em auditoria interna há 6 anos.

Os Mercadores das Novas Grandes Navegações

As Grandes Navegações portuguesas inauguraram o que, segundo Thomas Friedman, teria sido a primeira onda da globalização. O termo refere-se à interação e à conectividade desde então experimentadas pelas vias do comércio, do movimento de pessoas, da relação entre culturas e das trocas de ideias. Para Cesar Hidalgo, redes interativas como essas permitem a criação e incorporação de conhecimento e know-how, aumentando a capacidade de processamento de informação, o que, em última análise, leva ao desenvolvimento econômico.

Boa parte dos benefícios da primeira onda de globalização foi difusa. Mas quem, sem dúvida, mais se beneficiou das Grandes Navegações foram os mercadores, intermediários que conectaram vendedores e compradores para disponibilizar especiarias e outros produtos numa escala até então sem precedentes.

Os ganhos da intermediação se traduziriam na alavancagem política dos mercadores o que, para Acemoglu e outros, viria a se constituir num dos pilares dos modernos direitos de propriedade. Juntamente com o boom populacional, aquele desenvolvimento institucional viria a ser decisivo para a Revolução Industrial.

Não estamos mais no século XV, nem Colombo está prestes a descobrir a América. Entretanto, a era das Grandes Navegações está de volta. Assim como naquela altura, inovações tecnológicas também estão desencadeando a era das “Grandes Navegações Digitais”. Mas, ao invés de bússolas, astrolábios, quadrantes e caravelas, é a internet e os dispositivos digitais que estão nos conduzindo pelos oceanos virtuais. E busca-se, agora, intermediar outro tipo de especiaria, esta, muito, mas muito mais valiosa: a informação.

A popularização da Internet tem levado à emergência de martkeplaces, mercados digitais operados por plataformas de gigantesco alcance público. Amazon, Alibaba, WeChat, Facebook, Google, Apple, Microsoft, Linkedin, Uber, dentre outros, se tornaram os intermediários das Grandes Navegações Digitais. Ao desempenhar as funções de mercadores da informação, essas plataformas têm proporcionando ganhos difusos para a sociedade ao reduzirem assimetrias de informação e custos de transação, além de integrar compradores e vendedores que antes pouco ou nada tinham acesso aos mercados.

A distância entre compradores e vendedores diminuiu e eliminaram-se intermediários. Ficou substancialmente mais fácil achar um amigo, um emprego, um quarto de hotel, chamar um táxi, comprar uma geladeira ou até mesmo contratar um serviço empresarial.

O nivelamento das oportunidades para se competir em igualdade de condições no oceano digital ajudou a levar Thomas Friedman a considerar que “o mundo seria plano”.

Cesar Hidalgo fez argumento similar, mas a partir da lógica de redes: quanto mais conectados estiverem os agentes, mais meritocrático será o sistema econômico. Em outras palavras, quanto menor for o número de intermediários necessários para se chegar ao comprador, maior será o valor apropriado pelo produtor do bem comercializado. Com isto, recompensa-se mais quem originalmente mais gera valor. Já em redes pouco conectadas, o intermediário é o maior beneficiário, o que leva a uma topocracia.

Estaria o mundo moderno se tornando mais meritocrático? Infelizmente, não. A eliminação de intermediários veio acompanhada de elevada e crescente concentração das transações em poucas plataformas. Apesar de haver maior competição horizontal entre produtores de bens e serviços, há elevada e crescente codependência deles para com as plataformas para intermediar transações.

De fato, os efeitos-rede e plataforma tornaram quase impossível contestar os modernos mercadores. Até mesmo os unicórnios, startups tecnológicas que chegaram a valer US$ 1 bilhão ou mais, pouco ou nada conseguem competir com as grandes plataformas.

O que estamos vendo, na verdade, são os grandes mercadores se apropriarem tanto dos excedentes do consumidor, como, também, da firma, uma característica topocrática que eleva o poder daquele grupo à uma condição sem precedentes na história econômica.

Difícil negar que as grandes plataformas digitais estão revolucionando os mercados. Mas, ironicamente, se, de um lado, essas inovações digitais estão nos proporcionando uma verdadeira revolução tecnológica de acesso à informação, por outro lado, a crescente concentração da informação em poucas mãos está comprometendo a horizontalidade e a difusão dos benefícios daquela revolução.

Essa hierarquização da rede econômica está trazendo consigo características topocráticas agudas. O mundo é plano, mas não para todos.

Como disse Jeff Bezos, CEO da Amazon, ainda estamos no “day one” da era digital. É difícil prever quais serão as consequências dessa crescente concentração da informação. Mas, do pouco que já pudemos ver, pode-se dizer que, quanto mais plano for o mundo, melhor será para todos.

Goodbye, globalização 1.0. Hello, globalização 2.0

Um dos assuntos mais populares e polêmicos em âmbito internacional é a globalização e seus efeitos – veja, por exemplo, a regularidade do assunto nas pautas do Fórum Econômico Mundial, The Economist, Project Syndicate e Foreign Affairs e em acaloradas discussões políticas e acadêmicas mundo afora.

Este post trata de um aspecto menos trivial do tema: a transformação por que passa a globalização em sua perspectiva da produção e suas implicações.

As características mais distintivas da produção na primeira geração da globalização, que chamaremos de globalização 1.0, são a escala e a padronização da produção e a frenética busca por redução de custos, que levou ao outsourcing e à formação de cadeias globais de valor. Essas características se confundem com a transnacionalização da produção e das marcas, com a massificação do consumo e com a forte consolidação dos mercados em torno de um número cada vez menor de produtores dos bens e serviços que consumimos no dia-a-dia.

Mas a globalização 1.0 está ficando para trás. As novas tecnologias de produção e de gestão da produção, como nuvem, internet das coisas, big data, inteligência artificial, robotização, machine-learning, impressoras 3D e nanotecnologia, estão alterando profundamente a forma como se produz e o próprio padrão de consumo. Essas tecnologias dependerão cada vez mais de plataformas tecnológicas para a otimização de seus resultados e de toda uma parafernália de algoritmos, sistemas, softwares, rotinas, protocolos, parâmetros e regras na nuvem necessários para a manufatura avançada. É como se fosse um Amazon Web Services voltado para o “chão-de-fábrica”.

Essas tecnologias farão com que duas das características mais importantes da globalização sejam relaxadas: a escala e a padronização da produção. De fato, até bens manufaturados simples, como calçados esportivos e têxteis, antes produzidos em países em desenvolvimento em razão da força de trabalho barata, já estão sendo produzidos em países avançados.

As novas tecnologias já permitem, e permitirão ainda mais, a customização com pequeno ou nenhum aumento marginal do custo de produção. Nessas tecnologias, a produção depende cada vez menos do custo da mão de obra e de outros fatores competitivos convencionais e cada vez mais do entorno da produção, como condições de oferta de serviços sofisticados, instituições e centros de P&D com capacidade de inovar e de adaptar os produtos às características dos mercados locais e regionais.

Com isto, se esvai outra característica básica da globalização 1.0: a busca por locais que oferecem custos baixos de produção e, por conseguinte, a noção convencional das cadeias globais de valor.

A característica mais importante da produção na globalização 2.0 é a commoditização digital. Entra em cena a globalização das plataformas tecnológicas de produção e saem de cena a produção propriamente dita, bem como a priorização dos custos, padronização e escala da produção. O que se globaliza é a onipresença das plataformas que regem a produção, não a produção em si, cujo valor adicionado diminui em razão do aumento das plataformas tecnológicas na composição dos custos.  A gestão do desenvolvimento tecnológico é característica definidora da globalização 2.0, não a produção e a massificação do consumo. Trata-se de mudança paradigmática.

As implicações dessa mudança serão profundas, em especial para países que estão distantes da fronteira tecnológica e do desenvolvimento, distribuição e gestão das plataformas tecnológicas de produção. Como na globalização 1.0, a preocupação geral com emprego e desigualdade deverá perdurar, mas de forma bastante diferente. Isto porque, primeiro, a criação de empregos deverá se concentrar em países que desenvolvem, distribuem e gerem as plataformas e, segundo, a desigualdade de renda possivelmente aumentará tanto ou mais entre países usuários e desenvolvedores de plataformas tecnológicas do que entre os cidadãos de um mesmo país.

Estamos, ainda, no início da jornada da globalização 2.0 e, por isto, ela é ainda pouco visível a olho nu. Mas ela já está aí. Vê-la, é só questão de tempo.

Globalização Financeira e Überfremdung – O que a história pode nos contar?

Situada entre meados do século XIX e a Primeira Guerra Mundial, a primeira era da globalização financeira foi marcada por um crescimento sem precedente dos fluxos internacionais de capital. À época, os escassos controles sobre a entrada de capital estrangeiro eram exercidos com a finalidade de limitar a influência estrangeira sobre empresas e setores relevantes da economia de maneira a evitar submissão aos países exportadores de capital. Por exemplo, em 1909, a Alemanha estabeleceu limites ao controle das minas de carvão por estrangeiros.

O reestabelecimento dos fluxos de capital após a Primeira Guerra Mundial levou o mesmo país a cunhar o termo überfremdung, que significa “superestrangeirização”, para traduzir as preocupações sobre uma entrada excessiva de capital estrangeiro na década de 1920. Essas preocupações se solidificariam com a crise alemã do início dos anos 1930 e o seu alastramento ao continente europeu, relegando os fluxos de capital ao papel de desestabilizadores econômicos. O que sucedeu, nos países avançados, foi uma escalada de controles de capital (e protecionismo comercial) que só começaria a ser substancialmente revertida na década de 1970.

O abandono do padrão dólar-ouro, a crescente internacionalização da atividade comercial, o desejo europeu de integração regional e o advento de teorias econômicas liberais contribuíram para que os controles de capital nas economias avançadas fossem retirados gradualmente. No começo da década de 2000, tornaram-se basicamente inexistentes, assim como na primeira era da globalização financeira. Da mesma maneira, os membros da OCDE retiraram a maioria das restrições ao investimento estrangeiro direto (IED), uma forma específica de controle de capital. A überfremdung se perderia do domínio da linguagem econômica para adquirir significado em outras temáticas, como imigração e xenofobia. Entretanto, desdobramentos recentes apontam que a expressão alemã poderá renascer no contexto da globalização financeira.

Lançado em 2015, o plano decenal Made in China 2025 procura subir um degrau e colocar o país na vanguarda da Indústria 4.0. Em 2016, as aquisições de empresas estrangeiras, um dos instrumentos para atingir o objetivo chinês, somaram aproximadamente US$56 bilhões na União Europeia e nos Estados Unidos e estão sofrendo crescente resistência política nessas economias. Um caso emblemático é a compra da produtora de chips alemã Aixtron pela chinesa Fujian, que recebeu o veto presidencial americano no mês passado – o terceiro na história do país –, alegadamente por questões de segurança nacional.

Historicamente, restrições ao IED se concentraram em setores ligados à segurança nacional e geralmente oligopolizados, como transporte e energia. Entretanto, assegurar a integridade nacional pode, aparentemente, se tornar indissociável de impedir a estrangeirização de ativos em setores estratégicos da economia. A transferência de nacionalidade do ativo é ainda mais dificultada se a natureza da cooperação econômica externa do país investidor estiver em cheque. Sendo o carvão insumo essencial para o desenvolvimento da indústria alemã no começo do século XX, entende-se, assim, a imposição pelo país de limites ao controle de suas minas por estrangeiros. Ademais, a medida visava conter a influência da então rival política e econômica, a França.

O carvão não possui hoje o mesmo papel na geração de riqueza que tinha um século atrás: o combustível de uma economia avançada passou a ser a combinação virtuosa entre indústria e serviços, fornecendo produtos especializados, de alto valor agregado. O desafio para a transição econômica chinesa não reside, portanto, apenas em balancear a economia a favor do consumo, mas, também, em alterar a estrutura econômica para elevar a densidade industrial e fortalecer a geração de serviços de valor. Se, por um lado, a aquisição de empresas estrangeiras de alta tecnologia é considerada fundamental à transição chinesa, por outro, pode afetar a estrutura econômica e arriscar a competitividade de alguns países avançados, suscitando questionamentos quanto à conveniência da operação.

A alegada concorrência desleal chinesa, haja vista o forte envolvimento estatal na política industrial e a assimetria na abertura ao IED, fortalece ainda mais a argumentação a favor de restrições às aquisições estrangeiras, que vem ganhando ímpeto no alto escalão político das economias avançadas. O ministro da economia alemão, Sigmar Gabriel, e a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, se declararam favoráveis à reintrodução de controles de capital ao se defrontarem com um arcabouço regulatório que, após décadas de liberalização financeira, dificulta exercer escrutínio sobre a aquisição de empresas por estrangeiros. Entretanto, os recentes desdobramentos permitem apenas conjecturar se o veto de Barack Obama marcará o ressurgimento dos controles ao investimento estrangeiro.

A intensificação da integração internacional econômica nas últimas cinco décadas, que tem como um dos pilares a liberalização das transações financeiras, é apontada como uma das razões para o recente fortalecimento do próprio sentimento antiglobalização. O apoio popular ao protecionismo nos países avançados já foi internalizado nas campanhas políticas e poderá ser institucionalizado futuramente. Ainda que cautelosamente, é inevitável comparar o atual momento à Grande Depressão, cujo desfecho impediu a manutenção da ordem financeira internacional liberal precedente. Somando-se ao contexto atual o inerente embate entre as economias avançadas e a China, fica a interrogação: estaria a überfremdung lentamente retornando à linguagem econômica?

Renan Abrantes de Sousa é mestrando em Economia na UnB e analista no Banco Central do Brasil.