Economia de Serviços

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Tag: Classificação dos serviços

O avanço da Tecnologia da Informação como serviço

Tecnologia da informação (TI) pode ser definida como as capacidades oferecidas a organizações por computadores, sistemas, aplicações e telecomunicações para entregar dados, informação e conhecimento a indivíduos e processos (Attaran, 2003).

O Banco Mundial considera que o progresso tecnológico é uma força para o crescimento econômico, inclusive a partir da criação de empregos. Nesse contexto, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) estão transformando as economias mundiais, governos e sociedades.

O tema é tão importante que, em julho de 2015, 54 membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) expandiram a eliminação de tarifas para uma lista de 201 produtos, como semicondutores, lentes ópticas, equipamentos GPS, softwares e outros produtos relacionados a TIC. O comércio mundial destes produtos é estimado em 1,3 trilhão de dólares por ano.

No Brasil, o IBGE classifica os serviços de TI em cinco grupos:

  • Desenvolvimento de programas de computador sob encomenda;
  • Desenvolvimento e licenciamento de programas de computador customizáveis;
  • Desenvolvimento e licenciamento de programas de computador não customizáveis;
  • Consultoria em tecnologia da informação; e
  • Suporte técnico, manutenção e outros serviços em tecnologia da informação.

A partir da análise dos dados da Pesquisa Anual de Serviços (PAS) sobre os serviços de TI, percebe-se que tem havido um crescimento persistente do setor nos últimos anos. O número de empresas teve crescimento de 34% entre 2007 e 2013, avançando de 44.145 para 59.550 empresas. Os dados sobre a receita destas empresas indicam que o crescimento ocorre de forma sustentada, tendo alcançado R$ 82 bilhões em 2013. Estes valores são expressivos quando comparados aos da receita do setor de telecomunicações, que alcançou R$ 162 bilhões em 2013. Enquanto a receita do setor de TI representava 35% da receita do setor de telecomunicações em 2007, este valor chegou a 51% em 2013.

Além disso, os dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA) mostram que em 2014 a receita líquida de vendas das empresas que fabricam equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos foi de R$ 92 bilhões, o que representa 3,3% da receita das empresas industriais no mesmo ano. No caso dos serviços de TI, a proporção é de 6,6% da receita dos serviços empresariais não financeiros.

Os gráficos a seguir permitem uma comparação destes dois grandes grupos:

receitaTI_ind_x_servicos

transf_ind_TI_valor bruto prod_servicos

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA (Tabelas 1842 e 2623).

* Para a indústria estão incluídas as empresas fabricantes de equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos;

** Existem dados para o ano de 2014 apenas para o setor industrial.

Apesar de a receita da indústria ser superior à dos serviços, há uma tendência de avanço do setor de serviços sobre a indústria, conforme previsto pela literatura e evidências empíricas. Esta tendência é reforçada quando comparamos o valor da transformação industrial com o valor bruto da produção para o setor de serviços.

Além disso, conforme dados do Tribunal de Contas da União, o orçamento de TI apenas do Governo Federal totalizou R$ 16,3 bilhões em 2014, considerando também as empresas estatais. Nesse contexto, o Setor Público tem importância significativa neste mercado, e as medidas adotadas pelo Governo Federal podem ser determinantes para que a sociedade venha a se beneficiar desta mudança estrutural da indústria para os serviços.

Neste ponto, a utilização de tecnologias e modelos de negócio recentes, como a computação em nuvem e o software como serviço, poderá aumentar a efetividade da Tecnologia da Informação como área-meio para viabilizar entregas aos cidadãos. Com a economia em equipamentos proporcionada pelo avanço de tecnologias como a computação em nuvem, os órgãos poderão aumentar a oferta e disponibilidade de seus sistemas, se aproximando mais, dessa forma, dos cidadãos.

FullSizeRenderWandemberg dos Santos é Mestrando em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (MP).

Por que a participação dos serviços no PIB de Alagoas é próxima à de São Paulo?

Como já comentado em posts anteriores, via de regra, os países atualmente desenvolvidos passaram por um processo de transformação estrutural de sua economia. Nesse processo, inicialmente a economia se concentra em atividades agropecuárias e, posteriormente, passa a se industrializar, principalmente com manufatura de baixa complexidade.

Na sequência, a sociedade passa a ser majoritariamente urbana e demandar serviços básicos. Neste momento, costuma haver um forte crescimento na participação do setor terciário no PIB e uma redução na participação do setor primário. Numa próxima etapa, a sociedade, mais urbana e escolarizada, passa a demandar produtos e serviços mais sofisticados. Nesse momento, o setor terciário passa a interagir mais fortemente com a indústria, gerando bens mais complexos e com serviços intensivos em conhecimento “abarcados”. Por conta desse processo, à medida que um país vai se desenvolvendo, em geral, a participação de serviços na economia também cresce.

Espera-se, portanto, que regiões de diferentes níveis de desenvolvimento tenham níveis distintos de participação de serviços no PIB. Se isso é verdade, por quê, então, São Paulo (estado com o segundo maior PIB per capita do país) e Alagoas (terceiro menor PIB per capita) têm níveis similares de participação do setor de serviços em suas economias?  Como é possível ver no mapa 1 abaixo, o setor terciário responde por 75% e 72% das economias de SP e AL, respectivamente.

Esse aparente paradigma tem diversos motivos, mas o principal deles parece ser a natureza heterogênea do setor de serviços. Por conter atividades tão díspares quanto bancos e salões de beleza, a participação do setor de serviços no PIB, por si só, diz pouco sobre o grau de desenvolvimento de um país, região ou estado.

Seguindo nos exemplos já citados, enquanto em Alagoas 39% dos serviços são de atividades essencialmente providas pelo setor público (administração, educação, saúde, pesquisa e desenvolvimento públicas, defesa, seguridade social), esse percentual é de apenas 13% em São Paulo (ver gráfico abaixo). Ademais, em SP, percebe-se uma participação muito mais elevada de serviços voltados para empresas, muitos deles de alta complexidade, como atividades profissionais, científicas e técnicas, administrativas e serviços complementares (14%, vs. 6% em AL) e serviços de informação e comunicação (7%, vs. 2% em AL).

Exemplo tão anacrônico como o citado ressalta a importância de se buscar classificar as atividades de serviços em grupos mais homogêneos. Alguns exemplos disso são as classificações da OCDE (serviços comerciais profissionais x tradicionais), por destino (para o consumo final x para empresas), padrão tecnológico (modernos x tradicionais) ou funcionalidade (serviços de custo x serviços de agregação de valor)[1].

Tais classificações são úteis para melhor compreender o setor de serviços e desenhar políticas mais corretamente direcionadas para o segmento. Portanto, mais importante que pensar no tamanho do setor de serviços parece ser refletir sobre sua composição e suas distintas funções na economia.

Mapa 1 – Dados de 2013

Gráfico 1 – Participação das atividades de serviços no PIB do setor, em Alagoas e São Paulo (2013).Servicos por atividadeFonte: IBGE (2016).

[1] Essas classificações são utilizadas no Boletim de Serviços. Para conhecer melhor essas categorizações, ver Nota Técnica do Boletim.

Investimento Estrangeiro Direto em Serviços

A crescente importância do setor de serviços também pode ser notada a partir de dados do Banco Central sobre o investimento estrangeiro direto (IED), apresentados no gráfico seguinte. A série histórica sugere que, a partir de 2010, o setor de serviços desponta como o mais atrativo para os ingressos de investimento no país, alcançado participação de 43,8% no IED total.

Investimento Estrangeiro Direto por Setor (em U$S milhões)

Ggráfico 1Fonte: Banco Central. Elaboração própria.

Os gráficos abaixo permitem analisar a distribuição do IED em serviços, a partir da organização dos dados por tipo de atividades, conforme classificações* descrita ao final do post. Com isso, é possível notar que os recursos são destinados, em geral, a serviços prestados a empresas (de acordo com a classificação por destino), com destaque para o aumento do investimento nos chamados Professional Business Services (conforme classificação proposta pela OCDE). Tal resultado reflete o aumento da demanda das empresas por serviços, tornando atividades profissionais utilizadas como insumo para a produção mais atrativas para o investimento estrangeiro.

Por outro lado, chama atenção o fato de que o investimento em serviços de valor (conforme classificação por função) e serviços modernos (pela classificação por padrão tecnológico) tiveram o maior crescimento no período de 2010 a 2014, dentre as possíveis categorizações. Assim, embora o IED seja alocado, em média, em maior volume em atividades tradicionais e de custo, há indícios de que os serviços que geram maior valor agregado e com maior grau tecnológico estejam despontando como setores de grande potencial no futuro.

Considerando os dados do IED para o período de janeiro a julho de 2015, apura-se uma queda substancial do montante investido em serviços em relação ao mesmo período do ano anterior (variação negativa de 23%). Dada a relevância do setor para a economia, a queda no investimento pode criar barreiras ainda maiores para a retomada do crescimento.

Distribuição do IED em Serviços (em U$S milhões)

Gráfico 2Fonte: Banco Central. Elaboração própria.

* As classificações dos serviços são descritas na tabela a seguir:

Classificação Descrição
Por destino (classificação usual)   i.   Serviços de consumo final: incluem serviços consumidos pelas famílias

ii.   Serviços para as empresas: abrange serviços utilizados no processo produtivo

Por padrão tecnológico (Eichengreen e Gupta, 2013) iii.   Serviços modernos: intermediação financeira e seguros; serviços de informação; serviços prestados às empresas; serviços imobiliários e aluguel

iv.   Serviços tradicionais: comércio; transporte, armazenagem e correio; administração pública, saúde e educação pública; outros serviços

Por função (Arbache, 2014)  v.   Serviços de custo: infraestrutura, logística, transportes, armazenagem, reparos e manutenção, serviços de terceirização, viagens, acomodação distribuição, etc

vi.   Serviços de agregação de valor: P&D, design, projetos de engenharia, serviços técnicos especializados, serviços sofisticados de TI, softwares customizados, branding, marketing, etc

Pela OCDE vii.   Professional Business Services: correios e telecomunicações, intermediação financeira, atividades imobiliárias comerciais, aluguel de máquinas e equipamentos, TI e atividades correlatas, P&D e outras atividades comerciais

viii.   Traditional Services: demais atividades de serviços