Economia de Serviços

um espaço para debate

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O Retorno da ‘Mudança Estrutural’ à Agenda de Pesquisa de Crescimento Econômico

A visão de que as mudanças estruturais desempenham um papel fundamental no processo de desenvolvimento econômico não é nova na Economia. A possibilidade de que economias concentradas em setores tradicionais e produtores de bens com baixa elasticidade renda da demanda apresentassem entraves graves ao processo de desenvolvimento econômico já era levantada por estudiosos do desenvolvimento econômico desde a década de 50[1]. De acordo com essa visão estruturalista, por exemplo, [ver e.g. Prebisch (1950, 1959)], a posição de cada país na hierarquia mundial, baseada na sua estrutura produtiva desempenharia um papel fundamental no padrão de desenvolvimento econômico a ser seguido.

Nesse sentido, o desafio do desenvolvimento econômico não consistiria em apenas se alcançar elevadas taxas de crescimento, mas sim em ter sucesso na realização de transformações estruturais necessárias para permitir o país superar restrições em termos de uma estrutura produtiva arcaica. Nesse contexto, a existência de mudanças na estrutura de uma economia como pré-requisito para o desenvolvimento econômico já está presente na literatura há algum tempo. Tais padrões já haviam sido documentados do ponto de vista empírico por Kuznets (1966). Apesar disso, a mudança estrutural ainda continua ser uma área pouca estudada dentro do campo de crescimento econômico.

Pasinetti (1993) foi um dos primeiros autores que procurou desenvolver, do ponto de vista teórico, um arcabouço matemático que levasse em conta padrões específicos de mudança estrutural. O ponto de partida para isso foi a abordagem da dinâmica de mudança estrutural, proposta por Pasinetti para o estudo da interação entre o progresso tecnológico e as preferências não homotéticas dos consumidores, capturadas através da Lei de Engel. Por um lado, o progresso tecnológico traz aumentos de renda per capita, em função do aumento da produtividade, que se traduzem em aumentos desiguais na demanda por bens e serviços. Por outro, ela gera o desemprego setorial em função de sua natureza poupadora de trabalho. Assim, a estrutura produtiva da economia reflete no longo prazo os padrões dinâmicos de evolução da demanda e das necessidades básicas dos consumidores. Por sua vez, a estrutura resultante desse processo determina em larga medida o perfil tecnológico a ser adotado. Ou seja, a mudança estrutural é afetada e acaba afetando a absorção e difusão de novas tecnologias.

Além disso, a partir dessa abordagem é possível identificar padrões de desenvolvimento relativamente estáveis para diferentes países com níveis de renda per capita semelhantes. Isso porque, para níveis de renda per capita mais baixos, há o predomínio do setor primário, uma vez que as necessidades básicas têm de ser satisfeitas.  Na medida em que ocorrem aumentos permanentes do nível de renda per capita, devido a processos como acumulação de capital e progresso tecnológico, há a tendência de diminuição de participação do setor primário. Essa diminuição de participação do setor primário é acompanhada pelo aumento de participação do setor secundário, fato esse que é em geral explicado pelos ganhos mais expressivos de produtividade, uma vez que tal setor é caracterizado por retornos crescentes de escala. Tal fenômeno pode dar origem a aumentos mais expressivos de renda per capita que vão permitir a continuidade da evolução nos padrões de consumo, fazendo, assim, que o setor de serviços passe a ter primazia na participação setorial em economias desenvolvidas. Não é sem motivo que atualmente esse setor desempenha um importante papel na dinâmica de mudança estrutural. Economias que têm sido capazes de reconhecer a relevância do setor de serviços no sentido de gerar encadeamentos produtivos com o setor industrial têm sido mais bem-sucedidas em levar adiante mudanças estruturais adequadas.

Quando se trata de se estabelecer um marco em termos do renovado interesse em se estudar a mudança estrutural, é necessário levar em consideração o estudo de Alwyn Young (1995) sobre a experiência de crescimento dos chamados ‘tigres asiáticos’. Esse autor mostrou que a experiência bem sucedida de Hong Kong, Singapura, Coreia do Sul e Taiwan não poderia ser explicada apenas pelo aumento da produtividade total dos fatores (PTF), mas principalmente pela acumulação de capital e realocação de trabalho e outros fatores de produção de setores com baixa produtividade para setores com produtividade mais elevadas. Esse autor foi o primeiro a desafiar a visão de que a experiência de crescimento dos tigres havia sido ‘milagrosa’ no sentido de não haver uma explicação econômica plausível pra elas em termos de aumento da PTF.

Mais recentemente McMillan e Rodrik (2011) confirmaram que, na verdade, a fonte de crescimento dos países asiáticos foi a destacada mudança estrutural ocorrida no período. Ou seja, a mão-de-obra se deslocando de setores com baixa produtividade para outros com mais alta produtividade levou a um aumento na produtividade média da economia como um todo. Eles observaram também que na América Latina o contrário ocorreu, sendo a mudança estrutural growth-reducing, ou seja, de setores mais dinâmicos para especialização na produção e exportação de produtos primários. Como resultado, os países asiáticos analisados tiveram um crescimento da produtividade do trabalho de cerca de 2,5% ao ano acima do que os países da América Latina entre 1990 e 2005. Assim, uma explicação a la Arthur Lewis se adequa melhor do que uma explicação a la Solow à experiência de crescimento tanto de países asiáticos quanto latino-americanos. Diante dessas evidências, atualmente é reconhecido que o desafio do crescimento econômico é na verdade o desafio de se fazer as mudanças estruturais adequadas [Ocampo (2005)], fazendo com que esse tópico volte a estar presente na agenda de pesquisa da teoria do crescimento econômico [ver e.g. Acemoglu e Guerrieri, (2008) e Ngai e Pissarides (2007)].

 

servletrecuperafotoRicardo Azevedo Araújo é Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade de Brasília, Brasil, desde 2008. Ele também é bolsista de produtividade  do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CNPq) e líder do grupo de pesquisa ‘Crescimento e Distribuição’ da UnB/CNPq. Atualmente é coordenador da programa de pós-graduação em Economia da UnB e editor associado da revista EconomiA.

Referências

Acemoglu, D. e Guerrieri, V. (2008), Capital Deepening and Nonbalanced Economic Growth.  Journal of Political Economy 116(3), 467 – 498.

McMillan, M. and Rodrik, D. (2011). Globalization, Structural Change and Productivity Growth. NBER Working Paper No. 17143.

Ngai, R. and Pissarides, C. (2007). Structural Change in a Multisector Model of Growth, American Economic Review, 97(1), 429 – 443.

Ocampo, J. (2005) The Quest for Dynamic Efficiency: Structural Dynamics and Economic Growth in Developing Countries. In: J. Ocampo. Beyond Reforms: Structural Dynamics and Macroeconomic Vulnerability. Stanford University Press and The World Bank.

Pasinetti, L. (1993). Structural Economic Dynamics – A Theory of the Economic Consequences of Human Learning. Cambridge University Press. Cambridge, UK.

Prebisch, R. (1950). The Economic Development of Latin America and its Principal Problems, New York: ECLA.

Prebisch, R. (1959). Commercial Policy in Underdeveloped Countries, American Economic Review, Paper and Proceedings 49(2), 251 – 273

Young, A. (1995). The Tyranny of Numbers:  Confronting the Statistical Realities of the East Asian Growth Experience. Quarterly Journal of Economics 110, 641 – 680.

[1] Esse tipo de mudança estrutural já havia sido considerado por Arthur Lewis (1952) em seu modelo dual, que assume a existência de um setor tradicional com baixa produtividade e outro, moderno, com elevada produtividade. Nesse caso, a variável chave é a capacidade de transição de mão-de-obra do setor tradicional para o setor moderno.

Indústria 4.0: O que esperar?

Considerada a 4ª Revolução Industrial, a indústria manufatureira passa por uma intensa transformação digital, acelerada pelo desenvolvimento de diversas novas tecnologias – “Internet das Coisas” (Internet of Things), big data, impressoras 3D, robôs inteligentes, drones e modernos sensores. Corroborando com esse processo, a adoção em maior escala de tecnologias de informação e comunicação (TIC) também representa um dos principais motores para as inovações que vêm ocorrendo na produção e em toda a cadeia logística do setor, características essas, conjuntamente, incorporadas ao conceito de Indústria 4.0.

Como consequência dessa modernização, são esperadas mudanças em múltiplas áreas, em especial no emprego e no modus operandi das empresas. Assim como em períodos passados, há forte crença na “destruição criativa” de ocupações na indústria e setores correlacionados, porém projeta-se a criação de diversas outras oportunidades, demandando novas habilidades e conhecimentos dos trabalhadores. Vale ressaltar que a sinergia entre diferentes setores da economia, em especial Indústria e Serviços, deverá ser ainda mais intensa, contribuindo para a ampliação das transformações ligadas à Indústria 4.0.

Em um estudo elaborado pela consultoria The Boston Consulting Group (BCG) e publicado em 2015, desenvolveu-se um modelo quantitativo de evolução do mercado de trabalho até o ano de 2025, a partir do qual foi possível inferir alguns resultados importantes.

indústria 4.0

Fonte: Man and Machine in Industry 4.0: How will technology transform the Industrial Workforce through 2025? (CCG, 2015).

Utilizando o caso da Alemanha, os autores se propuseram a analisar os efeitos na evolução de 40 empregos em 23 ramos industriais, examinando diferentes cenários para duas principais variáveis: o crescimento de receita adicional das empresas gerado pelos avanços tecnológicos da Indústria 4.0 e a respectiva taxa de adoção dessas inovações pelo setor. A partir do cenário base – crescimento adicional de 1% das receitas anuais e taxa de adoção de 50%–, estima-se um crescimento líquido no emprego de aproximadamente 350.000 vagas. Embora o estudo preveja uma redução superior a 600.000 postos de trabalho ligados a atividades padronizadas, projeta-se uma criação de mais de 950.000 vagas nas mais diversas áreas, em especial nas de TIC, P&D e ciência da informação.

No âmbito das empresas, estas terão que adotar novos modelos de organização e trabalho, envolvendo constante treinamento de seus empregados, aplicando diferentes métodos de recrutamento e um maior envolvimento no planejamento estratégico da força de trabalho. Além de uma estrutura de tomada de decisão mais horizontal, dado o dinamismo crescente da atividade, prevê-se uma maior pressão para flexibilização das jornadas de trabalho a depender das funções desenvolvidas em cada cargo. Uma característica também importante desse processo será o treinamento em habilidades multidisciplinares, tendo em vista a mudança das competências exigidas pela Indústria 4.0.

Por fim, vale citar o alerta feito pelo Profº Dr. Leonardo Trevisan em artigo publicado no jornal Estadão: “Em bem pouco tempo, a evolução de qualquer negócio, a projeção de carreira ou toda gestão de pessoas irá topar não só com estas palavras (Indústria 4.0), mas com os efeitos dela. E quem acha que está longe disso, porque trabalha em “outro setor”, está apenas mal informado”.

Processed with VSCO Fernando Esteves é mestrando em Economia na Universidade de Brasília (UnB) e bolsista do CNPQ.

Qual o impacto da tributação na importação de serviços destinados à produção industrial no Brasil? Parte 2

Em post anterior, afirmamos que a pergunta título permanecia aberta à apresentação de números que revelassem se a tributação de serviços impacta o custo da indústria brasileira de modo a afetar sua competitividade no mercado global. A seguir, apresentamos e discutimos  alguns dados levantados com este fim na Pesquisa Industrial Anual (PIA), nas Contas Nacionais (IBGE) e na arrecadação da Receita Federal do Brasil (RFB), para o período de 2009 a 2013.

Para dimensionar os serviços utilizados como insumos na produção industrial brasileira, usamos o Consumo Intermediário de Serviços (CIS) calculado por metodologia semelhante à utilizada por Arbache (2014). Assim, o CIS abrange, entre outros serviços, aluguéis, arrendamentos, arrendamento mercantil, propaganda, fretes, prêmios de seguros, royalties e assistência técnica.  No período considerado, houve um aumento de 37% do CIS, o que confirma a importância crescente dos serviços para a produção industrial brasileira apontada pela Confederação Nacional da Indústria (2013).

Em relação aos tributos que incidem sobre a importação dos serviços, o estudo da CNI identificou seis que tanto podem incidir seletivamente sobre alguns serviços, como pode ocorrer a aplicação de alíquotas distintas a depender do serviço ou da situação específica. Por exemplo, no IRRF, há diversas hipóteses de redução a 0% da alíquota aplicável. Utilizamos a arrecadação pela Receita Federal do Brasil do IRRF[1], da Cide, do PIS/PASEP-importação e da Cofins-importação[2].

Gráfico I

A evolução da carga tributária[3] na importação de serviços pelo setor industrial, apresentada no Gráfico I, mostra que a carga tributária na importação de serviços pela indústria não superou 0,7% do PIB industrial.  O percentual baixo pode ter as seguintes explicações: o CIS industrial é composto por parcela ínfima de serviços importados ou são aplicáveis isenções e alíquotas reduzidas aos serviços importados pela indústria. A investigação desses aspectos passa por conhecer a cesta de serviços importados que compõem o CIS de cada indústria e a tributação exata aplicável a tais serviços.

Observa-se que a evolução da carga tributária na indústria brasileira como um todo seguiu, no período, a tendência de crescimento da carga tributária das indústrias de transformação, enquanto nas indústrias extrativistas há aparente tendência de queda.  Assim, vale o estudo da tributação dos serviços que compõem a demanda das indústrias de transformação.

Gráfico IIa Gráfico IIb

A participação dos tributos sobre importação de serviços no CIS industrial, de 2009 a 2013, apresentada no Gráfico II-a e Gráfico II-b, mostra que a arrecadação representou menos de 5% do CIS na maioria das indústrias extrativistas e menos de 1,5% na maioria das indústrias de transformação. A indústria de extração de petróleo e gás natural se destaca, contudo, pois os tributos incidentes na sua importação de serviços tiveram uma queda de 40% do CIS para menos de 5%, no período.  Não encontramos uma explicação óbvia para esse comportamento, o que justificaria um estudo futuro.

Ainda em relação à indústria extrativista, 5% dos custos de serviços destinados à produção industrial não é um percentual desprezível, mas tampouco é elevado. Naturalmente, é possível que a competitividade de uma indústria particular ou de um produto seja impactada por uma tributação de 5% do CIS, mas, em geral, este não parece ser o caso.

Já uma participação da arrecadação de menos de 1,5% do CIS na indústria de transformação nos revela ser improvável que a tributação dos serviços importados de fato afete a competitividade do produto industrial.

Surpreende a inexistência de tendência clara de crescimento na participação da tributação na importação de serviços no CIS industrial.  Como o CIS cresceu em todas as indústrias, esperava-se um aumento da participação da arrecadação.  Entretanto, a situação seria explicada se o crescimento do CIS tiver sido com serviços nacionais ou com serviços importados isentos, o que também explicaria a baixa representatividade da arrecadação no CIS.  São pontos a serem pesquisados.

Portanto, apesar das evidências de que o consumo intermediário de serviços (CIS) na produção industrial venha crescendo, os números levantados não revelaram um impacto relevante da tributação sobre importação de serviços, seja sob a óptica do impacto no CIS na produção industrial, seja sob a óptica da carga tributária suportada pelo setor industrial.  Neste contexto, revelou-se a importância de conhecer profundamente a cesta de serviços demandada por cada indústria frente à legislação tributária aplicável aos serviços que compõem essa cesta para conhecer os reais impactos da tributação na importação de serviços na produção industrial brasileira.

 

[1] Incluímos a arrecadação do IRRF sobre os rendimentos de residentes no exterior pagos pela indústria no Brasil a título de royalties, assistência técnica, juros e comissões em geral, fretes internacionais, remuneração de direitos, aluguel e arrendamento e rendimento do trabalho.

[2] O ISS não foi incluído pela dificuldade de levantar a arrecadação desse imposto sobre a importação de serviços. Igualmente, para o IOF-Seguros, não há como diferenciar o tributo sobre o seguro contratado no Brasil daquele no exterior.  Já o IOF-Crédito foi excluído porque no CIS não incluímos os serviços financeiros.  Por fim, o IOF-Câmbio foi excluído pela inexpressividade de sua arrecadação pelo setor industrial.

[3] Entende-se carga tributária como a arrecadação pelas indústrias dos tributos incidentes na importação de serviços dividida pelo PIB Industrial.

Boletim de Serviços – Agosto de 2016

O Boletim de Serviços de agosto de 2016 está no ar, clique aqui para acessá-lo. Alguns dos destaques:

  • A receita nominal do setor de serviços registrou contração de 0,71% em maio, enquanto o volume de atividades contraiu 6%, na comparação anual
  • A inflação acumulada em 12 meses passou de 8,68% em abril para 8,13% em maio
  • O primeiro semestre de 2016 registrou o encerramento de 450 mil vagas no setor de serviços
  • O déficit da balança de serviços foi de US$ 3,5 bilhões em junho
  • O IDE em serviços contabilizou contração de 8% na comparação anual

Para acessar a metodologia e as séries históricas em excel, acesse: https://economiadeservicos.com/boletim.

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Por que o novo cabo submarino Brasil-Europa é importante

Desde 2006, links de satélite internacionais são responsáveis por apenas 1% do tráfego internacional de telecomunicações. Todo o restante é transportado por cabos submarinos. Por ter uma confiabilidade alta e capacidade total de transporte chegando aos terabits por segundo (mil vezes mais rápido que o satélite), os cabos têm sido, até agora, a melhor solução técnica encontrada para atender à demanda cada vez maior de comunicação de dados em alta velocidade.

Os cabos submarinos são importantes pois o acesso pleno à internet depende da interconexão de todas as redes mundiais: de operadoras e provedores de acesso (com seus respectivos usuários) aos provedores de conteúdo. Como os agentes estão espalhados pelo mundo todo, as redes se encontram em grandes pontos de troca de tráfego internacional. Assim, os cabos submarinos são utilizados para conectar esses pontos de troca de tráfego, conhecidos como Internet Exchanges (IX).

Segundo um levantamento feito pela TeleGeography, empresa de consultoria do ramo de telecomunicações, existem, atualmente, 278 cabos submarinos em operação no mundo. Destes, seis estão em operação no Brasil. Além deles, mais quatro cabos em construção passam por aqui. De todos esses cabos citados, 7 interligam (ou interligarão) Brasil e EUA.

Ter um novo cabo submarino interligando Brasil e Europa já estava nos planos do Brasil desde 2012. O único cabo que faz este percurso atualmente, o Atlantis-2, já está com sua capacidade praticamente esgotada e é usado majoritariamente para comunicações de telefonia. Com pouca atenção desde sua idealização, o projeto ganhou novo significado em 2013, quando foram divulgados uma série de documentos que apontavam a espionagem das comunicações eletrônicas de empresas e autoridades brasileiras pelo governo dos EUA.

O cabo eulaLink está planejado para interligar Brasil e Portugal, com paradas dentro da rota em Cabo Verde, Madeira e Ilhas Canárias.  O custo estimado do projeto é de US$ 250 milhões. O consórcio responsável pela construção e lançamento do cabo é formado pela Telebras, com 35% de participação, e pela Islalink, uma operadora espanhola de telecomunicações, com 45% de participação. Um terceiro sócio, também brasileiro e ainda a ser definido, entrará no negócio com os 20% restantes de participação. A previsão atual é que o cabo entre em operação em 2018.

Atualmente, praticamente toda a comunicação sul-americana com os continentes europeu e asiático passam, necessariamente, pelos Estados Unidos. O projeto do cabo eulaLink nasce com o objetivo de evitar, ou pelo menos diminuir essa dependência. Na lista dos maiores pontos de interconexão de internet do mundo, os três maiores estão na Europa: DE-CIX (Frankfurt), AMS-IX (Amsterdã) e LINX (Londres). Dentre eles, o AMS-IX só possui pontos de presença na Holanda, podendo ser considerado um ponto de interconexão genuinamente europeu. Alcançá-lo significa ter acesso direto a provedores regionais, que só operam na Europa, e não podem ser alcançados diretamente nos EUA.

Além de beneficiar instituições acadêmicas e cientificas ao ampliar a troca de informações relevantes para o desenvolvimento da ciência e tecnologia, o novo cabo desperta grande interesse das instituições europeias por atender a uma grande demanda de banda com baixa latência para os observatórios e telescópios astronômicos instalados no Chile. Existem iniciativas da UNASUL para viabilizar um grande anel óptico interligando os países do continente sul-americano, um complemento ao projeto do cabo submarino, que possibilitará o escoamento dos dados vindos da Europa a toda a região (mais detalhes aqui e aqui).

A justificativa para a construção do novo cabo eulaLink pode ter nascido de uma reação exagerada do governo brasileiro às acusações de espionagem denunciadas por Edward Snowden em 2013. Afinal de contas, é pouco factível imaginar que a NSA e demais agências americanas fiquem interceptando todo o tráfego que chega a Miami e Nova York pelos cabos submarinos em busca de informações confidenciais sobre o Brasil ou outros países. Além disso, é difícil imaginar que a relação diplomática entre Brasil e EUA possa azedar ao ponto de os americanos interromperem as comunicações com o Brasil, isolando o país do resto do mundo.

Porém, não se pode negar que o novo cabo trará grandes benefícios para o Brasil: não pela blindagem das comunicações perante aos EUA, mas muito mais pela possibilidade de interconexão entre os dois continentes com menor latência e menor custo, o que tem grande impacto não só em aplicações de uso acadêmico para troca de informações relevantes ao desenvolvimento da ciência e tecnologia, mas também em aplicações corporativas, como computação em nuvem e no acesso ao mercado financeiro. Resta saber se, na situação política e macroeconômica atual, essa importância será reconhecida pelo governo central na hora de liberar recursos de investimento para a Telebras, empresa estatal que é parte fundamental do consórcio responsável pelo cabo.

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Qual o impacto da tributação na importação de serviços destinados à produção industrial no Brasil? Parte 1

Há uma crença generalizada de que a carga tributária no Brasil é elevada. Mas pouco se sabe acerca de quanto a tributação sobre a importação de serviços destinados à produção industrial impacta o custo dos produtos industriais no País.

Por que a pergunta é importante? A questão se insere no cenário de desindustrialização prematura em processo no Brasil, e em outros países em desenvolvimento, como identificado por Rodrik (2015). A desindustrialização prematura pode comprometer o emprego e o desenvolvimento de modo a demandar políticas econômicas que estimulem o aumento do valor agregado pela indústria do País.

Em países que também assistiram a desindustrialização de suas economias, o processo foi seguido da expansão do setor de serviços voltados para a indústria. De fato, serviços complexos usados como insumos na produção industrial podem tornar os produtos industriais não apenas mais competitivos em nível global, mas também capazes de gerar maior valor adicionado. Assim, a importação de serviços e intangíveis pode ser crucial para o aumento da competitividade e do valor adicionado dos produtos industriais brasileiros.

Portanto, é relevante conhecer o nível de tributação sobre serviços importados destinados à produção industrial. Se a tributação estiver num patamar elevado, o custo da produção industrial será impactado de modo a dificultar a competitividade do produto industrial brasileiro no mercado mundial.

Infelizmente, a discussão sobre tributação no Brasil é muito centrada em aspectos jurídicos, carecendo de uma visão econômica. No que tange à tributação sobre importação de serviços no Brasil, o tema ainda é pouco estudado. Um dos poucos trabalhos que tratam da temática é o elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (2013).

A CNI (2013), antes de abordar a tributação, aponta que há uma crescente  importância dos serviços para a produção industrial brasileira pelo seguinte motivos: a aquisição de serviços representa parcela significativa dos custos de produção e o comércio de serviços do Brasil com o mundo está ganhando importância.  O estudo aponta que a tributação de serviços afeta de maneira significativa os custos da indústria brasileira, em especial naqueles segmentos mais intensivos em conhecimento e tecnologia.

Contudo, a análise da tributação realizada pela CNI (2013) se deteve a aspectos jurídicos da tributação de serviços, com exceção de simulação da aplicação das alíquotas gerais dos seis tributos[1] que identificou incidirem em serviços. Muito embora tal simulação revele aspectos gerais da incidência tributária na importação de serviços, desconsiderou-se que, para cada um dos seis tributos destacados, há diversas hipóteses de isenção, redução de alíquota e mesmo não incidência que não foram abordadas. Além disso, vale mencionar que a incidência tributária não se confunde com a carga tributária que é medida por todo tributo efetivamente recolhido sobre todo valor produzido pela economia.

Portanto, a pergunta título deste post de importante relevância para o desenvolvimento do País permanece aberta à apresentação de números que possam revelar se tal tributação impacta significativamente o custo do produto industrial brasileiro de modo a afetar sua competitividade no mercado mundial. Em um próximo post, pretendemos contribuir com mais números para esse importante debate.

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Andrea Costa Chaves é mestre em Economia do Setor Público pela Universidade de Brasília (UnB) e Auditora-Fiscal da Receita Federal do Brasil (RFB) desde 2001

[1] Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF);  Contribuição Intervenção de Domínio Econômico destinada a financiar o Programa de Estímulo à Interação Universidade-Empresa para o Apoio à Inovação (Cide-Remessa); Contribuição para Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público incidente na Importação de Serviços (PIS/PASEP-importação); Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social incidente na Importação de Serviços (Cofins-importação); Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro (IOF – Crédito, IOF – Câmbio e IOF – Seguro) ;e  Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS).

Tendências de consumo global para as próximas décadas

A análise das tendências de crescimento populacional pode fornecer informações  importantes para o o posicionamento de qualquer empresa em relação a quais grupos da população terão gastos mais robustos, sua localização geográfica e quais produtos e serviços serão de sua preferência. Relatório da Mckinsey aponta que, até o ano 2000, mais da metade do consumo mundial vinha da expansão no número de consumidores no mundo. Até 2030, o que se verá, todavia, é que o crescimento populacional deverá gerar apenas 25% do crescimento de consumo global. O restante virá do aumento no consumo per capita, conforme quadro abaixo:

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Fonte: Mckinsey, 2016

Aponta-se ainda que nove grupos urbanos gerarão três quartos do consumo global até 2030 – dentre esses nove, três serão responsáveis por metade do crescimento projetado: a população aposentada e idosa em regiões desenvolvidas e a população economicamente ativa na China e nos EUA. As tendências no padrão de consumo da população chinesa revelam que o aumento no número de consumidores aliado ao aumento na renda no país tem o potencial de impactar o consumo global tanto quanto o impacto gerado pela geração baby-boomer, tida como a geração mais rica da história.

Entre os setores com forte crescimento no consumo está o educacional. Entre 2015 e 2030, espera-se que os chineses gastem 12,5% do crescimento total do consumo em educação – valor bastante próximo ao esperado na Suécia (12,6%). Esse valor é superior ao estimado para todos os demais países da amostra analisada pela Mckinsey, e bastante acima do valor estimado para o Brasil, de 2%. Diferentemente do que se via em gerações passadas, os jovens chineses têm opções de consumos bastante diversas de seus pais, pois alocam parcela maior de recursos em consumo imediato, têm desejo de compras mais próximos ao visto no Ocidente (como opção por marcas mais renomadas) e estão muito mais engajados no consumo digital.

Como esperado, ainda que a demanda pelo consumo de bens ainda esteja crescendo em diversas economias, o relatório também mostra uma mudança importante no padrão de consumo na direção de serviços tradicionais com o aumento da renda per capita. Isso é reflexo de duas tendências: a primeira delas refere-se ao aumento na demanda por serviços de saúde nos países desenvolvidos, em particular entre a população acima de 60 anos. Como exemplo, observa-se que o consumo per capita de serviços de saúde tende a aumentar de cerca de US$ 8.200 aos 60 anos para US$ 35.000 quando se chega próximo aos 90 anos, em regiões desenvolvidas. Uma segunda tendência importante refere-se ao aumento no consumo de serviços como comunicação, transporte, bancário, alimentação e educação em economias emergentes, gerado pela elevação de renda. Também como esperado, o consumo nas regiões urbanas será responsável por parcela considerável (81%) do consumo global.

As implicações dessas estimativas para as empresas são bastante relevantes para seu desempenho no futuro: como três quartos do consumo global até 2030 dependerá do aumento do gasto individual, é preciso entender melhor quais são os consumidores mais propensos a ingressar nessa trajetória e quais os próximos bens e serviços que estes desejam adicionar ao seu orçamento. Além disso, as firmas terão de se mostrar dispostas a se adaptarem às novas demandas dos diferentes grupos com poder aquisitivo em crescimento. Como já indicado antes neste blog, é preciso que as empresas evoluam para fornecer produtos e serviços mais customizados, para satisfazer demandas cada vez mais sofisticadas, num ambiente de alta competição no mercado. Por fim, também como já exposto aqui, como o setor de serviços responde não apenas pelo aumento direto no consumo, como também pelo aumento indireto, via seu uso em bens, é inegável que a estratégia das empresas deve perpassar uma visão mais estratégica e uma compreensão maior sobre as dinâmicas entre os setores de manufatura e serviços.

O que o Pokémon Go pode nos ensinar sobre realidade virtual e realidade aumentada?

Desde o início de julho, o lançamento do Pokémon Go pela Nintendo tem movimentado notícias sobre o sucesso do aplicativo.  O jogo, que está disponível para smartphones em 38 países, consiste em um universo em que o usuário deve capturar criaturas virtuais – os pokémons. A localização de tais criaturas é o grande diferencial: elas estão no mundo real e podem ser vistas através da tela do celular. Basta que o usuário ative o GPS do aparelho para que seja possível identificar pokémons próximos à sua localização.

O sucesso do Pokémon Go refletiu no rápido crescimento do valor de mercado da Nintendo Co. logo após o lançamento do app. Mesmo com a declaração de que os lucros com o aplicativo seriam limitados – o que levou a queda das ações da companhia na segunda-feira –, estima-se que as ações da Nintendo Co. estão 60% acima do valor registrado no período anterior ao lançamento do jogo, o que representa um acréscimo de quase US$ 12 bilhões ao valor de mercado da companhia.

Além disso, o aplicativo registrou recordes em downloads. Somente entre os celulares iPhones, o aplicativo contabilizou mais downloads em uma semana do que qualquer outro aplicativo na história.

Um ponto crucial para entender o sucesso do aplicativo reside na diferenciação entre os conceitos de realidade virtual (RV) e realidade aumentada (RA): enquanto a RV trata de um mundo completamente novo, a RA apresenta o mundo real com “melhorias”. Nesse sentido, ao permitir que os jogadores vivenciem o jogo no mundo real, o Pokémon Go extrapola o conceito de RV e incorpora o de RA: isto é, o jogo combina elementos virtuais com o ambiente real de forma interativa e com atualizações quase instantâneas, utilizando uma tecnologia de mapeamento que possibilita a inserção de criaturas virtuais em ambientes reais.

Na verdade, o aplicativo é só mais um exemplo de como a RV e a RA  podem ser incorporadas ao cotidiano das pessoas e trazer ganhos em diversos setores. Na saúde, é possível citar tecnologias de mapeamento cerebral, que permitem a visualização precisa do órgão pelo médico durante uma cirurgia. Por outro lado, em setores como a manufatura, a RV e a RA são utilizadas para o desenvolvimento e o design de produtos, aprimoramentos do processo produtivo, acompanhamento e manutenção de equipamentos, colaboração remota, dentre outras funcionalidades.  E essas são apenas algumas potenciais aplicações da realidade virtual e da realidade aumentada.

Segundo a Statista,  o emprego de softwares associados a esse tipo de tecnologia no dia-a-dia do consumidor e em atividades empresariais e do setor público poderá trazer retornos bilionários no futuro (ver infográfico abaixo).

Imagem – Previsão do tamanho do mercado de realidade virtual (RV) e realidade aumentada (RA) em diferentes setores em 2025

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Fonte: Statista.

Por outro lado, esse tipo de tecnologia demanda uma série de outras tecnologias, como smartphones com maior capacidade de armazenamento, baterias com maior durabilidade, acesso à Internet de qualidade, conectividade entre equipamentos, etc. Em outras palavras, os avanços na área têm o potencial de revolucionar os setores associados à tecnologia digital, como a computação e as indústrias de rede.

O Pokémon Go é apenas um exemplo da virtualização do mundo real. O maior desafio será incorporar tecnologias similares para aumentar o bem-estar da população e tornar economias mais competitivas.

Um ano de Blog

Neste mês de julho, completamos um ano do lançamento do Blog. Nosso intuito, desde o início, foi de dar mais atenção ao setor de serviços, que, apesar de representar mais de dois terços da economia, ainda é relativamente pouco debatido. Desde o lançamento, publicamos 117 posts de 15 colaboradores e recebemos mais de 30 mil visitas. Por esses números, acreditamos que estamos, aos poucos, conseguindo alcançar nosso objetivo inicial.

Gostaríamos de agradecer aos nossos leitores, assinantes e colaboradores e aproveitar o momento para dar destaque a alguns dos posts mais lidos e outros que acreditamos tratar de temas extremamente importantes para entender as temáticas debatidas aqui no blog. (Re)leia-os clicando nos links abaixo:

A saída da crise passa pelos serviços

A crise pela qual passa o Brasil atualmente é extremamente grave. Apesar de ainda não ser possível ver o fim da turbulência, já é seguro afirmar que esta é uma das quedas mais rápidas e profundas da nossa história econômica. No gráfico abaixo, é possível ver o crescimento econômico no Brasil do período de 1901 a 2018, utilizando o Boletim Focus como referência para as projeções de 2016 a 2018.

A perda acumulada estimada para o período de 2015 e 2016, de 7,1%, deve ser superior à do período pós-segundo choque do petróleo, entre 1981 e 1983 (-6,3% acumulados), e até à do período de 1930-31 (-5,3%), pós-Crise de 29. Levando-se em conta a variação do PIB per capita, o brasileiro deverá ficar, ao fim do período de 2014 a 2016, 10% mais pobre — ou cerca de 30%, se calculado em dólares.

Gráfico 1

PIB1901-2018

As causas para quadro tão dramático são diversas e estão sendo amplamente discutidas, tanto na imprensa, quanto na academia, e envolvem tanto questões conjunturais (desequilíbrio fiscal, crise política, distorções de preços causadas por subsídios, cenário internacional mais desfavorável, etc) quanto estruturais (baixa produtividade, desindustrialização precoce, infraestrutura deficiente, “custo Brasil”, entre outras).

Sem dúvida, para sair da crise, será preciso atacar questões de ambos os tipos, de maneira coordenada, simultânea e rápida. Entretanto, surpreende como, nesses debates, o setor de serviços é raramente lembrado.

Como é possível ver no Gráfico 2 abaixo, pelo menos desde 1947, o setor é o de maior participação no PIB, e, de 1986 a 2015, aumentou seu percentual de maneira significativa, tendo chegado a mais de 70%. Para além de sua contribuição mais direta, os serviços são importantes insumos para outros setores, em especial a indústria, conforme já exposto aqui no blog.

Gráfico 2

SetoresPIB

Fonte: IBGE.

O problema é que o setor de serviços, no Brasil, se concentra principalmente em atividades de baixa complexidade e, mesmo nas atividades de maior valor agregado, o país não costuma ser competitivo, como pode ser percebido pelos constantes déficits desses serviços na balança comercial e pela baixa produtividade, para níveis internacionais, dessas atividades. Esse quadro fica ainda mais claro ao olhar a evolução da produtividade do setor como um todo (Gráfico 3): de 1980 a 2011, o setor apresentou queda de quase 50% (!!!), pior resultado dos grandes setores.

Gráfico 3

Fonte: Moreira (2015) com base em Timmer, de Vries e de Vries (2014).

Fonte: Moreira (2015) com base em Timmer, de Vries e de Vries (2014).

Por conta do processo de mudança estrutural e das mudanças em curso na economia — descentralização da produção, maior interação entre bens e serviços, indústria 4.0, etc. — a tendência é que os serviços sigam sendo, com alguma distância, o maior setor da economia brasileira. Logo, não há outro caminho: o Brasil não conseguirá crescer sustentavelmente e ser competitivo no século XXI sem colocar os serviços no centro de suas políticas. O setor de serviços pode não ter sido a principal causa da crise atual, mas torná-lo mais eficiente e produtivo será indispensável para um crescimento mais sustentado.

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