Como tem sido discutido neste blog, o setor de serviços é bastante heterogêneo. Por isso, sempre que possível, apresentamos os dados do setor utilizando classificações de atividades econômicas, de modo a trabalhar com categorias mais homogêneas. Em geral, analisamos dados de emprego, PIB, inflação, etc. É interessante, também, saber em que atividades se concentram as empresas do setor.
Segundo o DataSebrae, 80% das empresas brasileiras são de serviços (incluindo comércio). Desses 7,6 milhões de empreendimentos, a maioria se concentra em atividades tradicionais (84%), predominantemente voltadas para o consumidor final (74%). Apenas 6% dessas empresas estão em atividades classificadas como de agregação de valor (ver gráfico 1).
Gráfico 1 – Distribuição das empresas de serviços (inclusive comércio), por categorias – 2014
Fonte: Elaboração própria a partir de DataSebrae (2016), a partir de classificações utilizadas no Boletim de Serviços.
Quando analisamos as 10 atividades econômicas mais frequentes entre as empresas de serviços (Tabela 1), fica clara a concentração dos negócios em segmentos de menor valor agregado. As três atividades mais frequentes — (i) Comércio varejista de artigos do vestuário; (ii) Cabeleireiros, mercearias e armazéns; (iii) Minimercados, mercearias e armazéns — concentram, sozinhas, quase 20% das empresas do setor e têm como características comuns a baixa produtividade e a mão-de-obra geralmente pouco qualificada.
Tamanha concentração em atividades mais tradicionais não é surpresa, levando-se em conta o fenômeno do Microempreendedor Individual (MEI), que facilitou (e barateou) consideravelmente a abertura e a formalização de firmas de baixo faturamento; o fato de 84% da população brasileira viver em regiões urbanas (IBGE, 2012); o fenômeno da transformação estrutural, fato estilizado na economia; e o aumento da demanda por serviços pessoais, puxada pela ascensão social ocorrida até recentemente.
Embora não seja surpreendente, esta configuração do setor de serviços, que responde por mais de 70% do PIB, demonstra parte do enorme desafio do aumento da produtividade na economia brasileira.
A promoção de um ambiente de negócios mais amigável e um maior foco no aumento da eficiência dessas empresas em atividades tradicionais (principalmente por meio da qualificação de empresários e empregados) podem não ser medidas suficientes para o país dar um salto na sua produtividade, mas são indispensáveis para isso.
Tabela 1 – Distribuição de empresas nas 10 atividades econômicas mais frequentes no setor de serviços (inclusive comércio) — 2014
Atividade econômica (CNAE 7 dígitos) | Número de Empresas | Participação no total de empresas de serviços |
Comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios | 740.605 | 9,8% |
Cabeleireiros, manicure e pedicure | 374.174 | 4,9% |
Minimercados, mercearias e armazéns | 314.691 | 4,2% |
Lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares | 254.391 | 3,4% |
Restaurantes e similares | 174.151 | 2,3% |
Bares e outros estabelecimentos especializados em servir bebidas | 141.395 | 1,9% |
Transporte rodoviário de carga intermunicipal, interestadual e internacional | 134.931 | 1,8% |
Comércio a varejo de peças e acessórios novos para veículos automotores | 131.458 | 1,7% |
Atividades de estética e outros serviços de cuidados com a beleza | 127.943 | 1,7% |
Comércio varejista de cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal | 123.311 | 1,6% |
Fonte: DataSebrae (2016). Alguns nomes de atividades econômicas foram simplificados.
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