Economia de Serviços

um espaço para debate

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Investimento Estrangeiro Direto em Serviços

A crescente importância do setor de serviços também pode ser notada a partir de dados do Banco Central sobre o investimento estrangeiro direto (IED), apresentados no gráfico seguinte. A série histórica sugere que, a partir de 2010, o setor de serviços desponta como o mais atrativo para os ingressos de investimento no país, alcançado participação de 43,8% no IED total.

Investimento Estrangeiro Direto por Setor (em U$S milhões)

Ggráfico 1Fonte: Banco Central. Elaboração própria.

Os gráficos abaixo permitem analisar a distribuição do IED em serviços, a partir da organização dos dados por tipo de atividades, conforme classificações* descrita ao final do post. Com isso, é possível notar que os recursos são destinados, em geral, a serviços prestados a empresas (de acordo com a classificação por destino), com destaque para o aumento do investimento nos chamados Professional Business Services (conforme classificação proposta pela OCDE). Tal resultado reflete o aumento da demanda das empresas por serviços, tornando atividades profissionais utilizadas como insumo para a produção mais atrativas para o investimento estrangeiro.

Por outro lado, chama atenção o fato de que o investimento em serviços de valor (conforme classificação por função) e serviços modernos (pela classificação por padrão tecnológico) tiveram o maior crescimento no período de 2010 a 2014, dentre as possíveis categorizações. Assim, embora o IED seja alocado, em média, em maior volume em atividades tradicionais e de custo, há indícios de que os serviços que geram maior valor agregado e com maior grau tecnológico estejam despontando como setores de grande potencial no futuro.

Considerando os dados do IED para o período de janeiro a julho de 2015, apura-se uma queda substancial do montante investido em serviços em relação ao mesmo período do ano anterior (variação negativa de 23%). Dada a relevância do setor para a economia, a queda no investimento pode criar barreiras ainda maiores para a retomada do crescimento.

Distribuição do IED em Serviços (em U$S milhões)

Gráfico 2Fonte: Banco Central. Elaboração própria.

* As classificações dos serviços são descritas na tabela a seguir:

Classificação Descrição
Por destino (classificação usual)   i.   Serviços de consumo final: incluem serviços consumidos pelas famílias

ii.   Serviços para as empresas: abrange serviços utilizados no processo produtivo

Por padrão tecnológico (Eichengreen e Gupta, 2013) iii.   Serviços modernos: intermediação financeira e seguros; serviços de informação; serviços prestados às empresas; serviços imobiliários e aluguel

iv.   Serviços tradicionais: comércio; transporte, armazenagem e correio; administração pública, saúde e educação pública; outros serviços

Por função (Arbache, 2014)  v.   Serviços de custo: infraestrutura, logística, transportes, armazenagem, reparos e manutenção, serviços de terceirização, viagens, acomodação distribuição, etc

vi.   Serviços de agregação de valor: P&D, design, projetos de engenharia, serviços técnicos especializados, serviços sofisticados de TI, softwares customizados, branding, marketing, etc

Pela OCDE vii.   Professional Business Services: correios e telecomunicações, intermediação financeira, atividades imobiliárias comerciais, aluguel de máquinas e equipamentos, TI e atividades correlatas, P&D e outras atividades comerciais

viii.   Traditional Services: demais atividades de serviços

A queda de atividade no setor de serviços

Na semana passada, o IBGE divulgou os dados do produto interno bruto (PIB) do segundo trimestre de 2015. Como esperado e amplamente noticiado, os resultados foram consideravelmente negativos e colocaram o país em recessão técnica, por ter registrado dois trimestres consecutivos de retração. Com relação ao mesmo trimestre de 2014, a economia teve contração de 2,6% (ver gráfico 1 abaixo, com a variação dos grandes setores).

Um dado talvez um pouco menos notado, porém, foi a queda do setor de serviços. Como é possível ver no gráfico 2 abaixo, as quedas mais significativas se deram no comércio e no segmento de transporte, armazenagem e correio, com o setor de serviços como um todo registrando queda de 1,3% no 2º tri./2015 frente ao mesmo trimestre de 2014. Pela primeira vez desde o início da série histórica, em 1996, o setor registrou dois trimestres consecutivos de contração. Analistas de mercado já projetam uma queda de 1,5% ao final do ano.

Os motivos para a acentuada queda aparentemente mesclam questões conjunturais e estruturais. No componente conjuntural, a acentuada queda do crédito, o aumento do desemprego, a queda da renda real e a retração da indústria contribuem para o fenômeno. Como parte considerável do setor é voltada para o consumidor final do mercado interno, e outra parcela importante serve de insumo para outros segmentos, serviços são um setor normalmente pró-cíclico.

Na parcela estrutural, a baixa produtividade do setor, a limitada qualificação de sua mão de obra e a sua concentração em segmentos tipicamente menos complexos parecem tornar os serviços mais sujeitos a bruscas flutuações. Esses fatores fazem também com que o setor não tenha competitividade internacional e seja quase inteiramente voltado para o mercado interno. Como apontado neste blog, em 2014, o Brasil apresentou déficit na conta de serviços no valor de U$ 49 bilhões.

Portanto, enquanto as dificuldades estruturais não forem superadas, dificilmente o setor conseguirá “puxar” a economia de forma sustentada.

O Setor de Serviços é Protegido?

Este blog tem destacado que o setor de serviços do Brasil é pouco produtivo, caro e tecnologicamente defasado. Por detrás desse perfil está, dentre outros, a modesta competição em muitos de seus segmentos, que inibe a modernização, a inovação e o aumento da produtividade.

De fato, como mostram indicadores internacionais, segmentos tão variados como telecomunicações, aviação civil, bancos comerciais, construção civil, serviços legais, dentre outros segmentos e atividades profissionais, são altamente regulados e protegidos. Essa proteção não é neutra e, como consequência, mesmo provedores de serviços pouco eficientes seguem no mercado provocando impactos negativos nos consumidores finais, empresas e na competitividade sistêmica.

Curiosamente, porém, as estatísticas de comércio exterior não corroboram a visão de que o mercado de serviços seja fechado. Afinal, o Brasil é um dos maiores importadores de serviços do mundo quando examinamos indicadores como, por exemplo, importação/PIB. Não por acaso, os serviços são a principal fonte de constrangimento às contas externas – em 2014, o déficit da conta de serviços foi de nada menos que US$ 49 bilhões!

Há que se considerar, porém, que, como indica o gráfico abaixo com o saldo do comércio de serviços, os serviços importados são muito concentrados em aluguel de máquinas e equipamentos e em viagens internacionais, que respondem por 84% daquele déficit.

Como o setor de serviços é, e será ainda mais determinante para a geração de riquezas e de bons empregos, participação em cadeias globais de valor e para a competitividade das nações, ter um setor de serviços doméstico moderno e competitivo está se tornando requisito fundamental para a promoção do crescimento econômico e para redução do hiato de renda que separa países emergentes e avançados.

Desta forma, o desafio das políticas públicas vai muito além de simplesmente abrir o mercado. O grande desafio é, isto sim, encontrar o equilíbrio entre redução da proteção, promoção da competição e atração de investimentos em serviços, em especial naqueles segmentos mais críticos para o crescimento econômico sustentado.

Políticas de estímulo ao aumento da competição nos segmentos mais relevantes para as cadeias de produção de terceiros setores, como são os casos dos serviços de intermediação financeira, tecnologias de informação e comunicação e serviços comerciais, combinada com políticas de atração de empresas estrangeiras de serviços é exemplo de uma dobradinha que pode ajudar a virar o jogo.

 

post 1 de setembro

Serviços de alta e de baixa produtividade

Como já destacado, o setor de serviços é bastante heterogêneo em quase todos os aspectos, incluindo a produtividade. Parte da baixa produtividade média do setor pode ser explicada pela concentração de recursos em atividades de baixa complexidade e tecnologia.

Seguindo o estudo dos dados do Sistema de Contas Nacionais de 2011, destrinchamos, na tabela abaixo, a produtividade do trabalho de 64 atividades econômicas de todos os setores. Observando os dados, percebe-se que 42 dessas atividades têm produtividade do trabalho acima da média da economia (R$ 35.247 por trabalhador). Dessas, 16 (38%) são do setor de serviços, incluindo aqueles de utilidade pública.

Essas atividades são, em geral, predominantemente prestadas de empresas para empresas e envolvem profissionais de qualificação mais alta que a média. Entre as 22 atividades abaixo da média, 12 (55%) são de serviços.

Atividades imobiliárias, o segmento de serviços mais produtivo, tem um nível de produtividade 136 vezes maior do que serviços domésticos. O problema é que este responde por 345 mil ocupações (0,4% do total), enquanto aquele responde por quase 7 milhões (7,7%).

No total, os serviços com produtividade acima da média empregam 7,3% da mão de obra brasileira, enquanto que aqueles com produtividade abaixo da média, 53,0%.

Sem dúvidas, o aumento de produtividade do setor de serviços como um todo, inclusive das atividades menos complexas, teria um impacto significativo na produtividade agregada brasileira. Mas os números abaixo mostram que a concentração em segmentos pouco produtivos é um dos principais problemas para a baixa competitividade do setor de serviços no país.

Por que a produtividade do setor de serviços é tão baixa no Brasil?

Há várias explicações para esta pergunta,  incluindo tamanho, nível tecnológico e acesso a crédito das firmas e o tamanho e a estrutura do setor de serviços.

De um lado, a produtividade do setor de serviços em geral é baixa em razão da natureza não escalável e não padronizável de muitos serviços, da forma fragmentada como eles são produzidos e fornecidos e da intensidade de uso de mão de obra.

De outro lado, os custos do setor são elevados, dentre outros, em razão da doença de custos de Baumol (Baumol 1967) associada aos efeitos nos salários do setor decorrentes da formação de salários em setores com produtividade mais elevada.

Desta forma, quanto maior for a participação dos serviços de baixo valor agregado e de baixa produtividade dentro do próprio setor de serviços e na economia, mais baixa será a produtividade agregada e mais alto será o padrão de custos da economia (Arbache 2014).

O painel A da figura abaixo mostra a participação do setor de serviços no PIB no Brasil e em países avançados e emergentes para o ano de 2011. A participação no Brasil é elevada e comparável à de países avançados. Embora a elevadíssima participação dos serviços no Brasil seja uma anomalia , ainda assim ela não é per se um problema, já que os serviços poderiam ser majoritariamente de alta produtividade.

O problema é que, conforme mostram os painéis B e C, os serviços não comerciais (*), cuja produtividade média é bem mais baixa que a dos serviços comerciais (Arbache 2015) (**), são predominantes e têm participação desproporcionalmente grande na economia para padrões internacionais.

O aumento da produtividade agregada no Brasil requer, portanto, aumento da produtividade do setor de serviços não comerciais e expansão relativa dos serviços comerciais.

Políticas regulatórias, de crédito, tecnológicas, industriais, comerciais, de formação de capital humano e de investimentos devem se coordenar para que o objetivo acima seja alcançado e para que o setor de serviços se torne um aliado, e não um inimigo da transformação estrutural e do crescimento econômico.

painel

Fonte: cálculo do autor a partir da WIOD.

 

(*) Serviços comerciais (I64, J e K do ISIC, Rev. 3) são correios e telecomunicações, intermediação financeira, atividades imobiliárias comerciais, aluguel de máquinas e equipamentos, TI e atividades correlatas, P&D e outras atividades comerciais.

Outros serviços são as letras E, F, G, H, I60 a I63, L, M, N e O do ISIC, Rev. 3.

Classificação da OCDE.

(**) Produtividade no setor de serviços, in F. De Negri e R. Cavalcanti (orgs), Produtividade no Brasil – desempenho e determinantes, Brasília: IPEA, no prelo, 2015.

 

Um mês de blog

Hoje, o blog completa um mês de lançamento. Neste período, o site teve mais de 5000 visualizações. Muito obrigado a todos que leem e compartilham nossos textos.

Para aqueles que desejam receber as publicações do site, basta incluir o seu endereço de email no campo à direita. Também é possível acompanhar nossas atualizações pelo Facebook e Twitter.

Mais uma vez, agradecemos pelas visitas e convidamos a todos a participar do debate, seja comentando, seja escrevendo um post como convidado (caso tenha interesse, escreva-nos).
Abaixo, fazemos uma espécie de retrospectiva dos posts publicados até aqui, caso tenham perdido algum texto:

Cloud Computing: a nova face dos serviços de TI

A necessidade de armazenar e compartilhar rapidamente um grande volume de informações e softwares contribuiu para a explosão da computação em nuvem (ou cloud computing, na expressão em inglês).

Conforme o National Institute of Standards and Technology (NIST), a cloud computing pode ser definida como um modelo de acesso a rede que permite o compartilhamento de recursos computacionais. Dentre as características centrais desse modelo estão o rápido e fácil acesso ao conteúdo armazenado na nuvem a partir de qualquer lugar e de qualquer dispositivo com acesso à internet.

É nesse ambiente que a comercialização de serviços em nuvem ganha força. Basicamente, torna-se possível utilizar softwares e infraestrutura de rede para executar programas, armazenar informações, dentre outras funcionalidades, sem a necessidade de aquisição de licenças individuais, hardwares, servidores, etc. Em outras palavras, é como se o usuário alugasse o uso do recurso via rede.

Um ponto fundamental nessa temática é o ganho econômico com o uso de serviços em nuvem. Um estudo conduzido pela International Data Corporation (IDC) sobre a adoção desses serviços por empresas europeias mostrou que o uso da nuvem contribui para redução de custos com TI, maior produtividade, flexibilidade do trabalho e possibilidade de expansão para novas localidades. Não obstante, a Comissão Europeia levantou a bandeira em prol do desenvolvimento da cloud computing e sua adoção nos diversos setores da economia como estratégia para o aumento da produtividade.

As potencialidades desse modelo se refletem na rápida expansão da “nuvem”. Estimativas da IDC indicam que só em 2015 o gasto com infraestrutura de TI em nuvem crescerá 26,5%, alcançando 33,4 bilhões de dólares. Como resultado, espera-se que 76% do tráfego de data center seja realizado na nuvem até 2018 – em 2013, esse percentual era de 54%, de acordo com The Cisco Global Cloud Index (GCI). No Brasil, estima-se que dois terços das empresas investirão em cloud services em 2015, segundo pesquisa realizada pela consultoria Frost & Sullivan.

Ainda sobra espaço para muitas discussões em torno da cloud computing ao redor do mundo. Desafios como a segurança da informação e aspectos regulatórios que transcendem as fronteiras de um país são cruciais para que o modelo funcione e se dissemine ainda mais nos diversos setores produtivos.

O Setor de Serviços Paga Bem?

A resposta é: não e sim. Não, porque o salário médio do setor é baixo. De acordo com a Pesquisa Anual de Serviços do IBGE, em 2011, o salário médio do setor era de R$ 861 em valores de 2013. Sim, porque, como o setor de serviços é muito grande (70% do PIB e 73% da força de trabalho) e muito heterogêneo, então encontraremos ali desde pessoas bem remuneradas a pessoas mal remuneradas. Logo, os rendimentos podem depender bastante do segmento de serviços em que a pessoa se encontra.

A figura abaixo mostra o impacto da filiação industrial no salário esperado por setor. Ou seja, descontamos os efeitos de gênero, etnia, escolaridade, idade, tempo de experiência no emprego, função desempenhada, localização geográfica, dentre outras variáveis importantes na formação de salários para isolar o efeito de se estar filiado ao setor “X” ou “Y”.

Encontramos que, de forma geral, trabalhar no setor de serviços implica receber um prêmio salarial negativo. Isto ocorre não apenas porque os segmentos de serviços estão concentrados do lado esquerdo da distribuição, mas, também, porque é naqueles segmentos que estão grande parcela dos trabalhadores do setor.

Ou seja, se duas irmãs gêmeas com mesma escolaridade, no mesmo posto de trabalho, na mesma unidade da federação dentre outras características trabalhassem, digamos, uma no setor de limpeza urbana e esgoto (extremo esquerdo da distribuição) e outra no setor de extração de petróleo (extremo direito da distribuição), então os salários delas seriam substancialmente diferentes.

São muitas as explicações para isto, mas, dentre as principais estão estrutura de mercado e de competição, regulação de mercados, relação capital-trabalho por setor e, claro, a produtividade.

Como o setor de serviços em geral concentra empresas pequenas e em segmentos pouco produtivos e sofisticados como, por exemplo, alimentação, limpeza, comércio e alojamento, então não surpreende encontrar que o prêmio salarial no setor tende a ser negativo. Mas, como mostra a figura, há segmentos de serviços que pagam relativamente bem, como transporte aéreo e intermediação financeira.

Diferencial de salários interindustriais

Serviços e a produtividade no Brasil

Ao analisarmos a produtividade – seja ela do trabalho, do capital ou a produtividade total dos fatores – do Brasil, três fatores se destacam:

  1.  o nível de produtividade é relativamente baixo, ficando atrás de vários países emergentes;
  2.  esse nível pouco tem mudado nas últimas décadas, o que tem feito que, ao longo dos anos, fiquemos ainda mais atrás de outros países;
  3.  a produtividade brasileira é bastante desigual entre setores.

Os dois primeiros pontos podem ser observados no gráfico abaixo, no qual comparamos a produtividade do trabalho brasileira com a de outros países. Nele, vê-se claramente que a produtividade brasileira é mais baixa do que a de países como Argentina, México e Chile, e provavelmente será ultrapassada em breve por Peru e China.

Outro fato preocupante é ver que Coreia do Sul e Chile tinham praticamente a mesma produtividade que o Brasil em 1985 e hoje têm entre 2 e 2,5 vezes o nível brasileiro. No período de 30 anos, nossa produtividade cresceu cerca de 0,7% ao ano, muito pouco para um país de renda média.

Produtividade do trabalho em US$ de 2014 PPP por trabalhador em países selecionados – 1985-2015

Fonte: Elaboração própria a partir da Total Economy Database (OCDE, 2015).

Fonte: Elaboração própria a partir da Total Economy Database (The Conference Board, 2015).

Os motivos para essa baixa e estanque produtividade são vários, desde limitações sistêmicas – infraestrutura falha, alto custo da mão de obra, burocracia, etc. – e limitações internas às empresas (o chamado “chão de fábrica”) – empregados pouco qualificados, métodos de gestão atrasados, pouco investimento em P&D, alta rotatividade do trabalho, etc.

Porém, um fator que não pode ser ignorado é o terceiro ponto do início do texto. Como é possível observar na tabela abaixo, a produtividade brasileira é bastante heterogênea entre setores, e serviços têm produtividade menor que a de outros setores como a indústria manufatureira.

O problema é que os serviços respondem por quase 60% da mão de obra pelas Contas Nacionais e são insumo fundamental dos demais setores (mais da metade do consumo intermediário da indústria). Logo, não será possível aumentar a produtividade agregada da economia sem tornar nossos serviços mais produtivos e competitivos.

Produtividade do trabalho e participação na mão de obra por setor – 2011

Setor* Produtividade do trabalho (VAB/PO) Participação na mão de obra
Agropecuária 13,254 17.0%
Indústria extrativa 565,153 0.3%
Indústria manufatureira 45,183 13.3%
Energia elétrica, gás natural, água e outras utilidades 136,708 0.9%
Construção civil 28,768 9.6%
Serviços 36,777 58.9%

*Não inclui o setor público.      Fonte: Elaboração própria a partir do Sistema de Contas Nacionais (IBGE, 2015).

Qual é a Grande Novidade Trazida pelo UBER?

A polêmica, aqui e além-mar, associada ao UBER é própria de mudanças de paradigmas tecnológicos de gestão e de produção – lembre-se dos Luddites durante a revolução industrial inglesa, que destruíram teares por medo de perderem seus empregos.

UBER, Amazon, Hotel.com, Decolar.com, Netflix e muitos outros serviços disponíveis na internet seriam parte daquilo que vem sendo chamado por autores como Paul Mason de “infocapitalismo”, qual seja, negócios que se beneficiam das novas tecnologias de comunicação e da superconectividade para explorar falhas de mercado (pense nos serviços de taxi de qualidade duvidosa), mercados latentes associados à ociosidade de recursos produtivos e de ativos (pense no Airbnb) e mudanças nas necessidades e nas preferências das pessoas e empresas (pense no e-commerce).

Qual seria, então, a grande novidade trazida pelo UBER? O UBER não é propriamente uma novidade do ponto de vista tecnológico, já que há outras plataformas similares no mesmo setor e em outras áreas de negócios. O UBER também não é uma novidade do ponto de vista de proposta de compartilhamento e de modelo de negócios, já que o que ele busca é desafiar um modelo de monopólio no transporte público individual que beneficia somente os donos de licenças de taxis para, se deixar, instalar o seu próprio monopólio.

A novidade associada ao UBER é, isto sim, a profunda mudança na natureza da prestação de serviços. Serviços que até então eram tidos como convencionais e fornecidos localmente “face-to-face” pelo Seu João do ponto de táxi da esquina estão se transformando em commodities fornecidas internacionalmente. Afinal, o cliente interage e paga a um prestador de serviços que está na Califórnia.

De outra forma, até mesmo serviços que eram classificados pelos economistas de “não comercializáveis” (protegidos da concorrência internacional) estão passando à categoria de “comercializáveis” (expostos à concorrência internacional). Isto era algo impensável até muito recentemente e é revolucionário do ponto de vista conceitual e indica que a globalização está definitivamente atingindo a todos os mercados.

Os UBER da vida sinalizam as mudanças profundas que ainda estão por vir. As repercussões no funcionamento dos mercados, na competição, nas finanças públicas (pense na carga tributária), nas contas externas (pense na transferência de milhões de dólares entre países), no mercado de trabalho e nas relações entre consumidores e prestadores de serviços são grandes e requerem reflexão.

Independentemente do que vier a acontecer com o UBER, as mudanças que ele trouxe provavelmente vieram para ficar e teremos que nos preparar para elas. Ao Estado, caberá desenvolver e adaptar a sua capacidade regulatória aos novos desafios, ao tempo em que fomenta a competição e encoraja start-ups e novos modelos de negócios. Ao consumidor, caberá defender a competição e a qualidade dos serviços, sem perder de vista que o que está em jogo não é somente uma corrida de táxi até o shopping do bairro.

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