Economia de Serviços

um espaço para debate

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O que o TiSA significa para o Brasil?

Conforme exposto em posts anteriores, o Acordo de Comércio de Serviços (TiSA, sigla em inglês), refere-se ao abrangente acordo plurilateral atualmente em negociação entre 23 membros da Organização Mundial do Comércio (totalizando 50 países). No comunicado da Comissão Europeia em 2013, são colocadas as motivações-chave do acordo, entre elas, a frustração com o impasse no avanço das negociações na Rodada Doha e a necessidade de um acordo que consiga refletir o atual cenário do comércio mundial de serviços.

A negociação já conta com mais de dezessete grupos de trabalho temáticos e dezoito rodadas de negociação, com uma lista abrangente de capítulos, conforme o quadro abaixo. Apesar de o acordo contemplar diversos setores tradicionais, ele também avança na discussão de temas ainda recentes, como a economia digital e a questão da restrição aos fluxos de dados entre fronteiras, que tem papel relevante para a oferta de serviços pela internet.

Temas em negociação no âmbito do TiSA

Comércio eletrônico Compras públicas
Empresas estatais Movimento de pessoas naturais
Regulação doméstica Serviços ambientais
Serviços de entrega competitivos Serviços financeiros
Serviços profissionais Serviços relacionados à energia
Telecomunicações Transparência
Transporte aéreo Transporte Marítimo
Transporte rodoviário e serviços de logística relacionados

Elaboração própria. Fonte: Wikileaks

Por englobar países que, conjuntamente, respondem por 70% do comércio de serviços e dois terços do PIB mundial, o acordo terá impactos significativos para participantes e não participantes. Tendo em vista a relevância dos serviços para a dinâmica de competitividade dos demais setores da economia, como indústria, agricultura e mineração, as implicações do TiSA claramente irão além do setor de serviços. Entre as possíveis implicações do Acordo estão mudanças em padrões regulatórios, nos fluxos de investimento direto (IED), na dinâmica e no posicionamento em cadeias globais de valor, bem como desvios de comércio entre não-participantes para participantes.

Em relação à estrutura do acordo, ele está sendo elaborado para ser compatível ao Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços (GATS) da OMC, e incorpora alguns artigos centrais deste, como definições, escopo, acesso a mercados e tratamento nacional. Isso demonstra o desejo de expansão do acordo para demais membros, i.e., uma posterior “multilateralização” do acordo. Em função disso, o TiSA acaba por ser considerado com uma atualização do Acordo GATS.

O acordo também caminha próximo ao grandes acordos megarregionais, como o Acordo Transpacífico (TPP) e Parceria Transatlântica (TTIP). O TiSA tende, todavia, a ser o maior dentre eles por focar inteiramente no setor de serviços, cujo comércio tem crescido muito mais do que o comércio de bens. Quando se observa o crescimento no fluxo de dados entre fronteiras, todavia, é que se tem a real noção do que um acordo como o TiSA representa para o futuro do comércio.

Implicações para o Brasil

Recentemente o Ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços anunciou que o Brasil buscará entrada nas negociações do TiSA. Apesar de a União Europeia afirmar que aceitaria a participação de qualquer país membro da OMC nas negociações a qualquer momento, como as discussões já estão bastante avançadas, isso pode ser difícil, já que os EUA já mostraram interesse em concluir a “fase um” da negociação até novembro, ainda durante o Governo Obama. Nesse contexto, a abertura para entrada do Brasil poderia gerar a demanda de entrada por outros países, com possíveis atrasos no andamento das negociações.

A entrada brasileira no Acordo é bem vista pelo mercado e pelo setor privado (ou parte dele, pelo menos). Há, todavia, um longo caminho a se percorrer até que a entrada no TiSA ocorra. Como já se sabe, o Brasil mantém um déficit significativo na balança de serviços – o qual chegou a US$ 36,9 bilhões em 2015, de acordo com dados do Banco Central. Informações computadas pelo Sistema Integrado de Comércio Exterior de Serviços – Siscoserv mostram um resultado similar. Pelos dados do Siscoserv observa-se que as exportações de serviços brasileiros estão muito concentradas em poucos parceiros comerciais. Seus cinco principais destinos – Estados Unidos, Holanda, Alemanha, Reino Unido e Suíça – são todos participantes do TiSA.

A entrada no acordo tem como potenciais benefícios a diversificação da pauta e dos destinos de exportações, bem como a melhoria da competitividade da indústria, que utiliza extensamente diversos serviços no processo produtivo. Além disso, as mudanças regulatórias a serem realizadas para entrada no Acordo poderiam contribuir não apenas para dinamizar serviços exportados, como também para fomentar o próprio mercado interno de serviços, já que parte das restrições ao comércio de serviços também são restrições no mercado interno (OCDE, 2013). Esse é o caso, por exemplo, dos setores de telecomunicações, bancário, transporte (em particular aéreo e marítimo) e logística, que possuem índice de restrição ao comércio (SRTI, sigla em inglês) superiores à média dos demais países (OCDE, 2015) e que são também intensamente demandados pela indústria.

Existem poucos estudos quantitativos acerca dos impactos do TiSA sobre a economia brasileira. Estudo de Ferraz (2016) baseia-se nos cálculos de equivalente-tarifário de barreiras regulatórias estimadas pelo Peterson Institute (2010) para estimar o impacto da redução de 50% no valor dessas barreiras entre os países membros do TiSA para a economia brasileira. Por essas estimativas, a adesão brasileira geraria impacto de 0,6% sobre o PIB, 2,8% sobre as exportações de manufaturas, 3,4% sobre exportações totais e 8% em exportação de serviços. Em relação aos setores da economia, a indústria teria a maior expansão relativa no PIB.

É importante que a discussão técnica que o Brasil travará não se limite apenas à adesão ou não do Brasil ao TiSA e que leve em conta, principalmente, os termos dessa adesão. Muito se argumenta que a entrada de futuros participantes será no esquema ‘take-it or leave-it’, apesar de muitos pesquisadores e governos advogarem em prol de uma agenda mais amigável para a entrada de países em desenvolvimento. Também é importante destacar, tal como já foi apontado diversas vezes neste blog, que a melhoria em setores como infraestrutura, logística e telecomunicações, apesar de terem papel relevante para a melhoria da competitividade do País, ajudarão a colocar o Brasil no jogo do comércio, mas isso não será suficiente para ganhar esse jogo. A análise dos textos dos mega-acordos regionais, bem como o atual cenário de altos fluxos de dados e da revolução digital por qual passa a economia mostram fortes indícios de que, para ganhar esse jogo, a agenda da economia digital é, de fato, a agenda que importa.

Boletim de Serviços – Julho de 2016

O Boletim de Serviços de julho de 2016 está no ar, clique aqui para acessá-lo. Alguns dos destaques:

  • A receita nominal do setor de serviços registrou aumento de 0,48% em abril, enquanto o volume de atividades contraiu 4,53%
  • A inflação acumulada em 12 meses passou de 8,53% em abril para 8,68% em maio
  • Em maio, mais de 92 mil vagas foram encerradas no setor de serviços
  • A balança de serviços segue registrando queda no déficit
  • O IDE em serviços contabilizou contração de 62% na comparação anual

Para acessar a metodologia e as séries históricas em excel, acesse: https://economiadeservicos.com/boletim.

Sem título

Fonte: PMS/IBGE. Elaboração própria.

O avanço da Tecnologia da Informação como serviço

Tecnologia da informação (TI) pode ser definida como as capacidades oferecidas a organizações por computadores, sistemas, aplicações e telecomunicações para entregar dados, informação e conhecimento a indivíduos e processos (Attaran, 2003).

O Banco Mundial considera que o progresso tecnológico é uma força para o crescimento econômico, inclusive a partir da criação de empregos. Nesse contexto, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) estão transformando as economias mundiais, governos e sociedades.

O tema é tão importante que, em julho de 2015, 54 membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) expandiram a eliminação de tarifas para uma lista de 201 produtos, como semicondutores, lentes ópticas, equipamentos GPS, softwares e outros produtos relacionados a TIC. O comércio mundial destes produtos é estimado em 1,3 trilhão de dólares por ano.

No Brasil, o IBGE classifica os serviços de TI em cinco grupos:

  • Desenvolvimento de programas de computador sob encomenda;
  • Desenvolvimento e licenciamento de programas de computador customizáveis;
  • Desenvolvimento e licenciamento de programas de computador não customizáveis;
  • Consultoria em tecnologia da informação; e
  • Suporte técnico, manutenção e outros serviços em tecnologia da informação.

A partir da análise dos dados da Pesquisa Anual de Serviços (PAS) sobre os serviços de TI, percebe-se que tem havido um crescimento persistente do setor nos últimos anos. O número de empresas teve crescimento de 34% entre 2007 e 2013, avançando de 44.145 para 59.550 empresas. Os dados sobre a receita destas empresas indicam que o crescimento ocorre de forma sustentada, tendo alcançado R$ 82 bilhões em 2013. Estes valores são expressivos quando comparados aos da receita do setor de telecomunicações, que alcançou R$ 162 bilhões em 2013. Enquanto a receita do setor de TI representava 35% da receita do setor de telecomunicações em 2007, este valor chegou a 51% em 2013.

Além disso, os dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA) mostram que em 2014 a receita líquida de vendas das empresas que fabricam equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos foi de R$ 92 bilhões, o que representa 3,3% da receita das empresas industriais no mesmo ano. No caso dos serviços de TI, a proporção é de 6,6% da receita dos serviços empresariais não financeiros.

Os gráficos a seguir permitem uma comparação destes dois grandes grupos:

receitaTI_ind_x_servicos

transf_ind_TI_valor bruto prod_servicos

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA (Tabelas 1842 e 2623).

* Para a indústria estão incluídas as empresas fabricantes de equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos;

** Existem dados para o ano de 2014 apenas para o setor industrial.

Apesar de a receita da indústria ser superior à dos serviços, há uma tendência de avanço do setor de serviços sobre a indústria, conforme previsto pela literatura e evidências empíricas. Esta tendência é reforçada quando comparamos o valor da transformação industrial com o valor bruto da produção para o setor de serviços.

Além disso, conforme dados do Tribunal de Contas da União, o orçamento de TI apenas do Governo Federal totalizou R$ 16,3 bilhões em 2014, considerando também as empresas estatais. Nesse contexto, o Setor Público tem importância significativa neste mercado, e as medidas adotadas pelo Governo Federal podem ser determinantes para que a sociedade venha a se beneficiar desta mudança estrutural da indústria para os serviços.

Neste ponto, a utilização de tecnologias e modelos de negócio recentes, como a computação em nuvem e o software como serviço, poderá aumentar a efetividade da Tecnologia da Informação como área-meio para viabilizar entregas aos cidadãos. Com a economia em equipamentos proporcionada pelo avanço de tecnologias como a computação em nuvem, os órgãos poderão aumentar a oferta e disponibilidade de seus sistemas, se aproximando mais, dessa forma, dos cidadãos.

FullSizeRenderWandemberg dos Santos é Mestrando em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (MP).

O fim dos Bancos?

Em post anterior, exploramos o surgimento das fintechs e mostramos como essas empresas exploram avanços digitais para ganhar espaço no tradicional, caro e burocrático sistema bancário. Mas até que ponto essas startups conseguirão progredir nesse mercado tão consolidado?

As fintechs já se mostraram capazes tanto de realizar operações tradicionalmente feitas por bancos e agentes financeiros como de responder à demanda dos clientes por um atendimento mais rápido, barato e de melhor qualidade. O cliente ganha pela ampliação na oferta (já que não fica preso à prestação de serviços apenas pelo banco do qual é correntista) e pela prestação de serviços mais personalizados – as fintechs são campeãs no uso de big data, o que as possibilita entender e antever as reais necessidades de seus clientes.

Vejamos a Transfewise, por exemplo, fundada pelos estonianos Taavet Hinrikus e Kristo Käärmann. O serviço é descrito como um peer to peer lending, ou empréstimo ponto a ponto. Suponha que Antônio queira transferir recursos do Brasil para a Inglaterra, enquanto James deseja transferir recursos da Inglaterra para o Brasil. O aplicativo realiza duas transações nacionais ao invés de realizar duas transações internacionais da seguinte forma: ele retira o dinheiro da conta de Antônio no Brasil e transfere para a conta que James quer acessar no Brasil. Ao mesmo tempo, o app retira dinheiro da conta de James, na Inglaterra, e transfere para a conta que Antônio que acessar, naquele mesmo país. O serviço chega a ser 90% mais barato que o cobrado por bancos. Tal como no mercado de transferências internacionais, muitos custos de operações financeiras, antes vistos como impossíveis de serem superados, conseguem ser reduzidos por meio de soluções inovadoras.

O mais interessante é que as instituições financeiras, que possuem décadas de conhecimento sobre o mercado, poderiam ter atravessado essa fronteira tecnológica há muitos anos. Apesar de o sistema bancário ter evoluído bastante no sentido de atender à demanda por maior agilidade nas transações (como é o caso do internet banking), os bancos não se mostraram tão ativos na melhoria da interação digital com o cliente ou no oferecimento de alternativas e serviços mais baratos para transações usuais. E pouquíssimos deles são, de fato, bancos digitais. Ao invés de se mostrarem capazes de inovar na prestação dos serviços pelo avanço das ferramentas digitais, seguiram pelas formas tradicionais – e caras – de prover serviços financeiros. O resultado? Estão enfrentando a concorrência avassaladora de startups num mercado antes visto como oligopolizado e com grandes barreiras à entrada.

O mercado para as fintechs é, de fato, enorme, quando se pensa na infinidade de serviços financeiros existentes e nas taxas pagas por cada tipo de transação que se realiza em bancos – empréstimos, seguros, compra de câmbio, transferências internacionais etc. Hoje, as pessoas relutam muito menos em confiar seu dinheiro e seus dados a grandes plataformas de tecnologia. Se há cinco anos apenas 1% das pessoas confiava nessas empresas, essa taxa hoje chega a 20%, o que é um crescimento significante, de acordo com o Relatório The Future of Finance. O mesmo relatório aponta que um grupo relevante da população pesquisada espera fazer todas as suas atividades financeiras por meio de uma fintech no futuro.

Houve, nos últimos anos, crescimento significativo no volume de transações feitas por empresas de tecnologia, como é o caso da startup Sofi, que hoje atua não só em financiamentos estudantis como imobiliários nos Estados Unidos. Todavia, as fintechs ainda movimentam um volume pequeno em relação ao total  de recursos existentes no sistema financeiro. Além disso, ainda que essas empresas ampliem participação em transações habituais, esse dinheiro ainda é movimentado pela entrada e saída de recursos armazenados em bancos. Ou seja, por mais que tenhamos muitos players novos no mercado, isso não necessariamente significa uma desbancarização, ou eliminação dos bancos.

Apesar da crescente confiança em aplicativos para realizações de operações pontuais ou diárias de baixo porte, ainda é difícil imaginar clientes depositando milhares de reais em startups. A questão que fica é: os bancos conseguirão se manter como bastiões dos recursos, ou apenas como uma infraestrutura sobre a qual as fintechs atuarão? Também é possível que as fintechs acompanhem a tendência do setor de tecnologia, com a emergência de uma plataforma que domine o mercado financeiro digital (como é o caso da Google, Facebook, Amazon e Uber nos demais setores) e que passe a oferecer uma cartela de serviços, num modelo quase-banco (ou de banco digital). O difícil é prever se isso decorrerá do surgimento de um novo player no mercado ou de algum movimento de consolidação entre as empresas já existentes.

Créditos da imagem: banknxt.com

Desafios do setor de mídia e entretenimento na era tecnológica

Até o século XX, a importância econômica do setor de mídia e entretenimento estava associada ao desenvolvimento de tecnologias como impressão, rádio e TV que permitissem a proliferação de informação. No século XXI, a digitalização traz uma nova dinâmica nesse mercado em que a Internet, as redes sociais e o serviços over-the-top (OTT) passam a substituir o modelo tradicional.

Com o advento de novas tecnologias e a expansão da digitalização, a indústria de mídia e entretenimento global vem sendo desafiada a encontrar soluções eficientes para sustentar seu crescimento. Segundo a PwC, esse setor – avaliado em cerca de US$ 1,7 trilhões atualmente – crescerá a taxas cada vez menores, ficando abaixo da taxa de crescimento do PIB global nos próximos anos (ver gráfico abaixo).

Gráfico 1 – Taxas de crescimento do setor de mídia e entretenimento e do PIB no mundo

Crescimento

Fonte: PwC

Por setores, é possível notar que há uma mudança na composição. Por grupos, o gasto global indica uma transição de gastos com vídeos de publicidade para gastos em negócios associados à Internet (gráfico à esquerda abaixo). Ao mesmo tempo, o gasto do consumidor continuará forte, enquanto o gasto com propaganda concorrerá com o gasto com Internet (gráfico à direita). Isso tudo significa que o setor de mídia e entretenimento deverá incorporar cada vez mais estratégias de negócios da economia digital, enquanto o modelo tradicional perderá força.

Gráficos 2 e 3 – Composição da indústria de mídia e entretenimento e crescimento por setor e por modelo de negócios

composição

Fonte: PwC

Alguns fatores-chave que impulsionarão essa nova tendência da indústria digital envolvem a expansão e a redução do custo da Internet banda-larga e a consolidação de dispositivos móveis como plataforma digital – de acordo com publicação da McKinsey sobre o tema. Nessa nova conjuntura, mídias tradicionais como jornais e revistas impressos, a televisão e o rádio são gradativamente substituídos por versões digitais e serviços on-line.

Isto significa que a Internet concretiza um canal de interação mais direta entre os produtores de mídia e entretenimento e o consumidor. Por outro lado, essa nova dinâmica demanda tecnologias mais sofisticadas que englobem melhorias nos serviços de acesso a rede e dispositivos físicos que comportem os novos recursos midiáticos e de entretenimento. Entender tal processo é um passo fundamental para a sobrevivência de empresas no setor.

Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos chegaram: como aproveitar as oportunidades?

Pela primeira vez, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos serão realizados em um país da América do Sul. E o Brasil foi escolhido para ser palco desse que é o maior evento esportivo do planeta. Ao todo, são esperados 10.500 atletas de cerca de 200 países, competindo em 42 modalidades esportivas, com 306 provas valendo medalhas. Já a expectativa de turistas no período varia entre 350 e 500 mil, de acordo com o Ministério do Turismo.

A realização de competições esportivas dessa magnitude movimenta todo o setor de serviços, principalmente o turismo. Estima-se que a preparação e a realização dos Jogos envolvem:

  • 2.500 fornecedores;
  • 10.000 contratos;
  • 30 milhões de itens comprados;
  • 35.000 profissionais terceirizados;
  • 15.000 entregas;
  • 100.000 m² de armazenagem; e
  • 1 milhão de peças de equipamentos esportivos.

Porém, para alguns autores, os grandes eventos esportivos não teriam um efeito tão positivo assim, ou até mesmo um efeito negativo, por seu alto custo e efeito posterior incerto. Se os Jogos são caros para o país-sede, esses números citados ao menos mostram sua importância no que tange a investimentos e em expectativa de retorno.

De toda forma, é inegável a exposição mundial que um país-sede é submetido. E para o turismo essa grande vitrine pode se configurar como um diferencial competitivo e elemento transformador de realidades. O exemplo de Barcelona, que sediou os jogos de 1992, é clássico. A cidade catalã passou por uma verdadeira revolução urbanística, tendo sua zona portuária como ícone máximo. Sua imagem migrou de um local degradado e sem dinamismo para um dos principais destinos turísticos do mundo.

Londres, sede dos Jogos Olímpicos de 2012, utilizou-se do megaevento como pano de fundo para a elaboração de um Plano de Sustentabilidade. O objetivo era promover a mudança de pensamento e dos hábitos dos moradores sobre as questões ambientais. Na edição de 2012, pela primeira vez, a pegada ecológica do evento foi calculada.

E o Brasil, saberá aproveitar esse momento? Faltam quase 40 dias para o início dos Jogos, ainda é possível realizar pequenos ajustes para bem receber os turistas que aqui virão. É hora de focar em mudanças atitudinais.

Os turistas estão cada vez mais exigentes, bem informados e em busca de experiências únicas. Estar atento aos hábitos deles e enxergar os serviços pela óptica do cliente são os primeiros passos para se destacar em um mercado altamente competitivo como o de turismo, um dos principais setores beneficiados pelos Jogos.

Sem título

Outro aspecto fundamental para a competitividade, principalmente dos pequenos negócios, é o estabelecimento de parcerias entre empresas que envolvam compras coletivas de itens comuns, divulgação da produção associada ao turismo em hotéis e restaurantes, operação de atividades nos diversos atrativos, traslados, etc. O turismo é mais forte quando os diversos atores atuam em rede. Entretanto, é imprescindível escolher bem os parceiros. Um importante indício de parcerias bem sucedidas é a não diferenciação, por parte dos turistas, de que os serviços estão sendo prestados por empreendimentos diferentes. Isso significa que a qualidade está sendo mantida por todos.

O passo seguinte é a interatividade. As relações entre clientes e empreendimentos precisam acontecer de uma forma mais dinâmica, ágil e interativa. Não basta ter presença on-line. É preciso nutrir relacionamentos e usar, com assertividade, as ferramentas disponíveis: redes sociais, sites de avaliação, sites do próprio empreendimento e tecnologias de realidade virtual.

Uma das principais preocupações da Embratur antes da realização da Copa do Mundo de 2014 foi com relação ao aumento dos preços das diárias de hotéis. Em 2013, um ano antes da Copa, foi registrado um aumento entre 200% a 300% nas tarifas cobradas pelas redes hoteleiras. É natural que, com o aumento da demanda, os valores sejam ajustados. Porém, a prática de preços que sejam considerados abusivos espanta os clientes e cria uma imagem negativa sobre o destino turístico. É preciso saber precificar o produto e, na medida do possível, não cobrar um preço que possa assustar demais o turista.

E, por último, os empreendimentos precisam entregar valor aos clientes. O turismo é uma fábrica de sonhos. Quando alguém compra uma viagem, está levando para casa um produto intangível, que apenas se materializará com as experiências que ele viverá tempos depois, no destino. E a qualidade dessas experiências está intimamente ligada à qualidade dos serviços prestados.

Entregar valor significa surpreender o cliente, oferecer algo a mais. O que não significa, necessariamente, que a surpresa resida apenas em ações grandiosas. É possível surpreender com pequenas atitudes e mimos, típicos da hospitalidade.

Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos estão próximos e, com algumas pequenas mudanças comportamentais, os negócios de turismo podem aumentar suas chances de saírem vitoriosos.

Serviços de conectividade em automóveis

Fabricantes de automóveis já são capazes, há muitos anos, de produzir carros capazes de se conectarem a celulares. A diferença que se observa hoje, todavia, é que a conectividade nos carros já deixa de ser um artigo complementar, e passa a ser uma opção demandada como básica até em veículos mais populares. De acordo com a Capgemini, 80% dos consumidores desejam possuir carros com maior conectividade, capazes de fornecer a mesma experiência que possuem em casa ou no trabalho, por meio do celular.

O que os motoristas buscam, portanto, é a chamado experiência contínua (seamless experience) no uso dos celulares em automóveis. Alguns estudos já apontam diversas possibilidades de interação, que vão além de se ter um motorista capaz de fazer ligações pelo painel do carro de forma segura. De acordo com pesquisa da Mckinsey, em 2014, o número de clientes que disseram estar dispostos a mudar para fabricantes que oferecessem melhor conectividade quase dobrou, chegando a 37%.

O termo “carro conectado” significa estar também equipado com uma tecnologia de comunicação que permita o fluxo de dados a partir do carro, sem a necessidade de celular. A comunicação entre o carro e a nuvem de dados seria capaz de fornecer, por exemplo, serviços como a atualização constante da rota com base no tráfego, clima e condições do trajeto e a capacidade de mapear estacionamentos próximos. A conectividade também poderá ocorrer entre veículos para evitar colisões e ajustar a velocidade a acordo com o fluxo da via.

As oportunidades de negócios que se originam desse mercado são imensas. Mais de 30% dos clientes ouvidos pela Capgemigi estão dispostos a pagar uma taxa para ter serviços de conectividade – essa parcela era de 21% no ano anterior. Dados da Mckinsey apontam que os US$ 5,2 trilhões em vendas estimadas de veículos em 2030 têm potencial para geral US$ 1,5 trilhão em receitas vindas de serviços ligados a conectividade.

connectivity servicesFonte: Mckinsey

Consumidores que demandam mais conectividade poderão ser beneficiados por uma gama de serviços desenhados a partir de sensores capazes de monitorar o comportamento do motorista e o desempenho dos veículos – como medição da temperatura do óleo, pressão dos pneus etc– que resultam no oferecimento de serviços de pós-venda cada vez mais personalizados. Ao invés de deixar a cargo do motorista a supervisão sobre o momento correto para revisão, uma mensagem pop-up lançada no painel do carro poderia lembrar o momento certo para realização dos serviços, apresentar a rede de fornecedores capazes de prover esse serviço e até orçamentos online. A Bosch, por exemplo, planeja lançar um sistema de monitoramento para manutenção preventiva, baseada nas informações recebidas do automóvel.

Imagine as possibilidades para uma seguradora de veículos se ela pudesse analisar o perfil do motorista em tempo real, e, a partir dos dados recebidos, fornecer seguros mais adequados a cada perfil de motorista? Empresas americanas como Progressive e State Farm já fornecem esse serviço, com descontos para os que conseguem o selo de “bons motoristas”.

A contrapartida para os fornecedores seria a fidelização na provisão dos serviços, e os benefícios para o cliente vão desde a comodidade na provisão dos serviços ao melhor desempenho do veículo, bem como a manutenção do valor do automóvel (já que revisões e monitoramentos contribuem para uma maior durabilidade do automóvel).

Novas funcionalidades e serviços oferecem oportunidades enormes de negócios para fabricantes de automóveis. Tudo depende da velocidade com que os grandes players de um mercado tão consolidado como o automotivo conseguirão atender às demandas desse consumidor que deseja estar conectado não apenas em casa, ou no trabalho, mas também em seus diversos trajetos.

Chamada de Trabalhos para a 5a. Conferência da Rede Latinoamericana de Pesquisa sobre Serviços – REDLAS

Chamada de trabalhos para a 5ª Conferência da Rede Latinoamericana de Pesquisa sobre Serviços (REDLAS), que ocorrerá em 4 e 5 de outubro de 2016 em São Paulo-SP.

O tema da Conferência será “Serviços, tecnologia e comércio internacional: tendências, desafios e oportunidades para a América Latina. Resumos devem ser enviados até 30 de junho de 2016 no link http://mackenzie.br/redlasconference2016.html . Na página, é possível encontrar mais informações sobre o evento.

Aviso Redlas

Novas tecnologias e o baixo crescimento da produtividade nos países ricos

Nos últimos anos, tem havido um debate sobre a capacidade das novas tecnologias promoverem um crescimento de longo prazo e a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Afinal, o avanço da Internet e de serviços sofisticados é capaz de promover aumento de produtividade no longo prazo?

Nos países desenvolvidos, e nos Estados Unidos em especial, há uma discussão a respeito do baixo crescimento da produtividade na última década. Como é possível ver no gráfico abaixo, entre 2007 e 2015, a produtividade do trabalho nos EUA cresceu, em média, 1,2% ao ano, consideravelmente abaixo do longo período pós-guerra, entre 1947 e 1973 (2,8%), ou do boom do começo da Internet, entre 1990 e 2000 (2,2%).

Gráfico 1 – Crescimento anual médio da produtividade do trabalho do setor privado não-agrícola nos Estados Unidos em períodos selecionados

produtividadeEUAHá várias hipóteses para essa desaceleração da produtividade. Para alguns autores, esse fato se deve principalmente à dificuldade de se mensurar, pelos meios tradicionais, os ganhos financeiros e não financeiros dos avanços tecnológicos dos últimos anos, como a popularização do smartphone, da banda larga, das redes sociais e de serviços disruptivos da “economia colaborativa”, que visam diminuir ineficiências e ociosidade, como o Uber, o AirBnB, o Waze, etc.

Para outros acadêmicos, já não haveria mais grandes invenções a serem feitas, e os avanços recentes simplesmente não seriam suficientes para aumentar o nível de produtividade da economia de maneira substancial. Na visão desses autores, a introdução de um serviço como o Skype ou Uber não se compara, em termos econômicos, com as revoluções promovidas pelas grandes inovações dos séculos XIX e XX, como o telefone, a eletricidade, o avião comercial e os eletrodomésticos. Em uma frase já famosa de Peter Thiel, cocriador do PayPal e um dos primeiros investidores do Facebook, “queríamos carros voadores, mas nos deram 140 caracteres”.

Em trabalho recente, Chad Syverson mostra que, entre os países desenvolvidos, não parece haver relação entre o uso de tecnologia da informação e o crescimento da produtividade do trabalho nos últimos anos (ver Gráfico 2 abaixo). Por meio de testes contrafactuais, Syverson conclui que a queda recente do crescimento da produtividade nesses países não poderia ser explicada apenas por um erro de mensuração. Segundo ele, o mais provável é que tenho havido, de fato, uma queda no ritmo de crescimento de produtividade nesses países.

Essa discussão é extremamente importante para o Brasil, país que apresenta um baixo nível e crescimento da produtividade nas últimas décadas. Melhorar nossa educação e nossa infraestrutura e promover uma maior inclusão digital serão passos importantes para a melhora da qualidade de vida e para o aumento da produtividade no país. Porém, provavelmente será preciso fazer mais do que isso para darmos um salto de patamar.

Gráfico 2 – Mudança no crescimento de produtividade (%) entre os períodos de 1995-2004 e 2005-2014 e percentual de famílias com acesso à Internet de banda larga em 25 países da OCDE

produtividade e banda larga

Fonte: Syverson, 2016.

Boletim de Serviços – Junho de 2016

O Boletim de Serviços de maio de 2016 está no ar, clique aqui para acessá-lo. Alguns dos destaques:

  • A variação negativa da receita nominal do setor de serviços indica dificuldade do setor em compensar a perda de dinamismo por meio do ajuste de preços
  • A inflação acumulada em 12 meses passou de 9,4% em março para 8,5% em abril
  • Entre janeiro e abril, o setor de serviços registrou a redução de mais de 300 mil postos de trabalho
  • A balança de serviços segue registrando um déficit inferior ao dos anos anteriores, liderado pela contração das importações para consumo pessoal
  • O IDE em serviços contabilizou contração de 10,5% na comparação anual

Para acessar a metodologia e as séries históricas em excel, acesse: https://economiadeservicos.com/boletim.

grafico

Fonte: CAGED/MTE. Elaboração própria.

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