Economia de Serviços

um espaço para debate

Author: Anaely Machado (page 3 of 4)

Inovação via serviços

Durante o período pós-guerra, a indústria emergiu por sua capacidade de promover o crescimento e impulsionar o progresso tecnológico. Por esta razão, durante bastante tempo as discussões acerca da inovação se concentraram nesse setor da economia.

No entanto, o processo de mudança estrutural e a “servicização” abriram espaço para o debate sobre o potencial ganho de competitividade da economia por meio da adoção de serviços de maior teor tecnológico e intensivos em conhecimento (Arbache e Aragão, 2014; OECD, 2014).

Nesse tópico, começam a emergir questões sobre a inovação impulsionada pela adoção de serviços ao longo do processo produtivo nos diversos setores da economia. Não por acaso, percebe-se que, de um lado, a inovação na indústria está cada vez mais associada ao aumento da demanda por serviços e, de outro, que constitui uma resposta ao avanço tecnológico nas atividades desse setor (Cáceres e Guzmán, 2015). Isto é, a inovação passa a ser vista como resultado da interação entre os setores da economia, em que o consumo intermediário de serviços avançados tem um papel de destaque.

O diagrama da OECD (2003) ilustra a interação entre serviços e manufatura no sistema nacional de inovação, em que serviços intensivos em conhecimento (ou KIS – Knowledge Intensive Services – na sigla em inglês) ganham importância por sua capacidade de difundir o conhecimento e dar suporte a inovação nos demais setores, aumentando o valor adicionado dos produtos.

Figura: interação entre serviços e indústria no sistema nacional de inovação

interação kis-ind

Fonte: OECD (2003)

Nesse contexto, serviços empresariais (telecomunicações, P&D, serviços de TI, dentre outros) estimulariam a capacidade inovativa de seus clientes-firmas, dando suporte à introdução de novos processos tecnológicos e aumentando a capacidade de design, desenvolvimento, introdução e alocação eficiente no mercado ou melhoria de produtos (Evangelista, 2013).

Evidências empíricas do impacto de serviços sobre a inovação na economia são encontradas em trabalhos como o de Hipps et all (2015):  com base em dados para a economia europeia, os autores encontram uma relação positiva entre o emprego em serviços intensivos em conhecimento e o nível de inovação no país (Gráfico) — o índice de correlação entre as variáveis chega a 0,827.

Assim, a inovação em serviços deixa de ser vista como um fim em si mesma e passa a ganhar dimensão no sistema nacional de inovação. Desse modo, promover a interação entre os setores e o avanço tecnológico nas atividades de serviços passa  ser um passo estratégico para recuperar a competitividade da economia e, especialmente, da indústria.

Gráfico – Relação entre serviços intensivos em conhecimento e o nível de inovação

kisXinovação

Fonte: Hipp et all (2015)

 

Referências

ARBACHE, J. e ARAGÃO, C. (2014): Infraestrutura e competitividade da indústria brasileira, Confederação Nacional da Indústria – Brasília: Confederação Nacional da Indústria.

CÁCERES, R. e GUZMÁN, J. (2015): Seeking an innovation structure common to both manufacturing and services. Services Bbusiness, 9: 361-379.

EVANGELISTA, R., LUCHESE, M e MELICIANI, V. (2013). Business services, innovation and sectoral growth, Structural Change and Economics Dynamics, 35: 119-132.

HIPP, C., GALLEGO, J. e RUBALCABA, L. (2015): Shaping innovation in European knowledge-intensive business services. Service Business 9: 41-55.

OECD (2003), Report: Knowledge intensive service activities (KISA’s) in Korea’s innovation system, Strategic Research Partnership of KDI, Korea: OECD.

OECD (2014), OECD Perspectives on Global Development 2014: Boosting Productivity to Avoid the Middle Income Trap, Paris: OECD.

Boletim de Serviços – Março de 2016

O Boletim de Serviços de março de 2016 está no ar, clique aqui para acessá-lo. Alguns dos destaques:

  • O índice de receita nominal do setor de serviços teve redução de 0,36% na comparação anual. Já o índice de volume teve variação negativa superior a 5% na comparação anual
  • A tendência de eliminação de vagas no setor de serviços continua em 2016: em janeiro mais de 88,6 mil postos foram encerrados
  • A inflação anual de serviços ficou abaixo dos 13% em janeiro
  • A balança comercial de serviços registrou um déficit 50% menor do que o registrado no mesmo mês do ano anterior.

Volume

Para maiores detalhes, acesse o último número do Boletim de Serviços e consulte as séries históricas no endereço https://economiadeservicos.com/boletim/.

Boletim de Serviços – Fevereiro de 2016

Destaques do mês:

  • O índice de receita nominal do setor de serviços teve redução de 2,1% na comparação mensal e de 0,8% na anual. Já o índice de volume teve variação negativa superior a 6% na comparação anual
  • A eliminação de vagas no setor de serviços ultrapassou a um milhão em 2015
  • A inflação anual de serviços ficou acima dos 13% em 2015
  • O aumento das exportações de serviços e a redução das importações levaram à redução do déficit da balança comercial do setor em dezembro
  • O investimento direto estrangeiro nos serviços aumentou 50% na comparação anual

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(Des)Conectados

Os anos 2000 marcaram o avanço do uso da Internet. O lançamento dos smartphones prenunciou uma nova fase em que se manter conectado se tornaria um fator estratégico para empresas e uma exigência cada vez maior da sociedade. Desde BlackBerrys a iPhones, o novo sistema de comunicação passou a incorporar uma infinidade de serviços em que o diferencial seria a capacidade de acessar a Internet a partir de qualquer lugar no planeta.

Ao mesmo tempo, os negócios passaram a incorporar tais funcionalidades e o acesso quase imediato à informação passou a ser fator crucial de competividade. É nesse contexto que surgem oportunidades para o desenvolvimento de soluções inteligentes que demandam o acesso à Internet.

Porém, a oferta e a qualidade dos serviços de Internet são pré-requisitos para que seja possível usufruir das potencialidades da rede.

O mapa abaixo ilustra a discrepância entre regiões e países quanto ao uso da rede. Destacam-se os países desenvolvidos como os grandes usuários da Internet. O gráfico seguinte aponta que, além do baixo acesso, países de menor grau de desenvolvimento apresentam serviços de Internet mais caros. Esses dados revelam a ineficiência do serviço naqueles países e, principalmente, o atraso em relação aos países desenvolvidos.

Mapa – Dispositivos conectados à Internet

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Fonte: Internet Census 2012.

Gráfico: subscrições e preço da Internet, por nível de desenvolvimento dos países

Sem títuloNota: LDCs = least developed countries.

Fonte: International Telecommunication Union.

Olhando para o Brasil no mapa, chama atenção a diferença regional quanto ao acesso à Internet. Segundo dados da PNAD/IBGE referentes ao ano de 2013, mais de 50% da população ainda não têm acesso à rede. Os dados são ainda mais preocupantes ao se considerar a velocidade da conexão. Conforme ranking mundial de velocidade da Internet da Akamai, o Brasil ocupa a 94ª posição, com uma velocidade média de conexão de 3,6 Mb/s, enquanto a média global é de 5,1 Mb/s.  Em países desenvolvidos, a velocidade ultrapassa 10 Mb/s – chegando a 20,5 Mb/s na Coréia do Sul, que ocupa o primeiro lugar no ranking.

A baixa qualidade do serviço de Internet representa um entrave para que países em desenvolvimento possam incorporar soluções para impulsionar o crescimento e a competitividade. A migração para sistemas de produção inteligentes que envolvem, por exemplo, o uso de serviços em nuvem e produtos associados à Internet das Coisas demandam o desenvolvimento de uma estrutura de rede ampla e moderna.

Superar o gargalo da infraestrutura de acesso à Internet talvez seja o grande desafio para países que, como o Brasil, precisam encontrar atalhos para a inserção competitiva nas cadeias globais de valor.

Boletim de Serviços – Janeiro de 2016

Em novembro de 2015, o setor de serviços intensifica os resultados negativos registrados ao longo do ano. Por padrão tecnológico, nota-se que os serviços tradicionais possuem desempenho ainda mais preocupante: a retração do volume de atividade alcançou 7,5% (na comparação anual), acompanhada de uma redução acumulada de cerca de 550 mil postos de trabalho no período de janeiro a novembro de 2015.

Evolução dos indicadores de serviços, por padrão tecnológico

Serviços por padrão tecnológico

Fonte: PMS/IBGE, CAGED/MTE e Bacen. Elaboração própria.

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Em que apostar para 2016?

O ano de 2015 está sendo marcado pelo baixo crescimento, aumento do desemprego e inflação acima de patamares históricos recentes. Diante de uma previsão de contração do PIB de 3,7% em 2015 e de 2,8% em 2016, tempos como estes trazem à tona questionamentos sobre como impulsionar a economia nos próximos anos.

Um bom passo é olhar para os setores mais promissores. Atividades associadas à saúde, serviços tecnológicos e finanças estarão entre as mais rentáveis, conforme publicação da Forbes. De acordo com o gráfico abaixo, os serviços destacam-se dentre as atividades mais prósperas, especialmente aqueles associados à tecnologias de informação e serviços que são insumos para outros setores da economia.



Relatório
da Deloitte em parceria com a Exame mostra que, dentre as 200 pequenas e médias empresas (PMEs) que mais crescem em termos de receita líquida, 27% encontram-se em Serviços de Tecnologia da Informação e 15% em Serviços para Empresas.

Gráfico  – Distribuição das PMEs que mais crescem no Brasil, por setor de atuação

Deloitte

Fonte: Deloitte.

A conclusão é que as atividades mais rentáveis para os próximos anos compõem o grupo de serviços tecnológicos e intermediários na produção de outros setores. Por isto, incentivar o desenvolvimento de tais atividades parece ser uma boa aposta para a recuperação e modernização da economia brasileira. Na verdade, não é uma aposta só para 2016. É uma aposta para a recuperação do crescimento sobre uma base voltada para o futuro.

Boletim de Serviços – Dezembro de 2015

Em outubro, o setor de serviços seguiu impulsionando o desemprego no país, com uma redução de 105 mil postos de trabalho. A análise por tipo de atividade revela que a eliminação de vagas se concentrou nos serviços tradicionais e nos serviços para empresas. A forte contração das atividades empresariais é importante explicação da contração do setor de serviços, e consequente redução da oferta de emprego.

Para maiores detalhes, acesse o último número do Boletim de Serviços e consulte as séries históricas no endereço https://economiadeservicos.com/boletim/.

emprego

Empresas de alto crescimento no setor de serviços?

Em pesquisa recente divulgada pelo IBGE, o setor de serviços mais uma vez se destacou como sendo o setor com maior capacidade de expansão na economia. Os dados da pesquisa são baseados no Cadastro Geral de Empresas e abrangem as firmas de alto crescimento, as quais são definidas como aquelas que apresentam crescimento médio do pessoal ocupado assalariado de pelo menos 20% ao ano por um período de três anos consecutivos ou mais. Os dados por setores indicam que os serviços representam 77% das empresas de alto crescimento, tanto em número absoluto de empresas, quanto em pessoal ocupado (ver tabela abaixo).

 Empresas de alto crescimento por setor

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Fonte: IBGE. Elaboração própria.

Conclusões menos óbvias podem ser obtidas com a análise dos dados desagregados por grupos de atividades de serviços conforme a metodologia de classificação das atividades. O gráfico abaixo mostra a participação dos serviços por tipo no grupo de empresas abrangido pela pesquisa. Os resultados indicam entraves ao estabelecimento de empresas de alto crescimento entre as atividades associadas à agregação de valor, as quais são essencialmente utilizadas como insumo na produção industrial. Em combinação com o gráfico de produtividade do trabalho (Valor Adicionado/Pessoal Ocupado), constata-se que as empresas de serviços de valor (que representam apenas 3% da pesquisa em questão) têm nível de produtividade do trabalho quase duas vezes maior que as dos demais serviços.

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Fonte: Estatísticas de Empreendedorismo 2013/IBGE. Elaboração própria.

Em conjunto, isso significa que as empresas que mais cresceram recentemente se concentraram em atividades com baixa capacidade de agregação de valor. O gráfico de teia abaixo detalha ainda mais esse resultado: as atividades que geram maior valor adicionado por pessoal ocupado encontram-se à esquerda e abrangem serviços para empresas e de valor (como Serviços de TI e Atividades Profissionais). No entanto, são as atividades localizadas no lado direito e, portanto, com baixíssimos indicadores de valor adicionado, que têm maior representatividade no grupo das empresas de alto crescimento.

Respondendo a pergunta do título: os números mostram que o setor de serviços, de fato, cresce em número de pessoal empregado. Mas, se concentra em atividades pouco produtivas e, portanto, com menor capacidade de contribuir para a competitividade econômica no longo prazo. Uma das possíveis razões para isso pode ser a interação ainda  incipiente entre os serviços de valor e os demais setores produtivos. Promover tal interação é um passo importante para gerar demanda por serviços mais produtivos e, ainda, contribuir para a dinamização das cadeias produtivas.

VA

Nota: os valores foram normalizados, considerando-se a média da razão VA/PO das empresas da pesquisa igual a 100.

Fonte: Estatísticas de Empreendedorismo 2013/IBGE. Elaboração própria.

Boletim de Serviços – Novembro de 2015

Em novembro,   as séries foram revisadas com o intuito de incorporar mudanças recentes nos dados utilizados como fonte para o cálculo dos indicadores. Apesar das alterações, as séries apresentam valores próximos aos calculados anteriormente. Além disso, o Boletim de Serviços de Novembro apresenta novos indicadores calculados com base no Índice de Volume, divulgado recentemente pela Pesquisa Mensal de Serviços (PMS/IBGE).

Volume

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Índices de serviços e a necessidade de novos dados para o setor

Em divulgação recente, o IBGE passou a publicar índices de volume de produção de serviços. Até então, apenas a série de receita nominal era divulgada mensalmente. Esse novo índice é obtido deflacionando-se as séries de índice de receita nominal. Conforme apontado pela nota metodológica do Instituto, para cada grupo de atividade e para cada estado, foram utilizados índices de preços específicos construídos a partir do IPCA. A nota metodológica esclarece, ainda, que para as atividades não abrangidas pelo índice, utilizou-se o IPCA serviços.

Com base nessa metodologia, cabe uma advertência sobre o uso do IPCA para deflacionamento de dados de serviços: o índice em si não captura adequadamente a inflação observada para os serviços consumidos pelas empresas, uma vez que é fundamentalmente construído para avaliar o nível de preços para o consumidor final. Assim, é provável que os preços dos serviços utilizados como intermediários na produção tenham um comportamento distinto daqueles de consumo final, seja pela existência de contratos, capacidade de negociação das empresas ou por outras particularidades dos serviços empresariais.

Desse modo, o IPCA não seria o melhor índice para deflacionamento de categorias que abrangem em grande medida serviços consumidos pelas empresas como, por exemplo, serviços técnicos-profissionais. É claro que nesse ponto cabe destacar que, no momento, inexistem índices de preços que captem a evolução dos preços dos serviços usados como insumo na produção, o que justifica o uso do IPCA.

Não obstante as fragilidades, o novo indicador é fonte de informações relevante para se entender a trajetória do setor, uma vez que a aceleração do nível de preços dos serviços pode afetar as conclusões sobre o seu desempenho econômico. Desse modo, os índices de volume contribuiriam para descrever o comportamento real do setor nos últimos anos.

Nesse sentido, os gráficos abaixo mostram que a inflação, de fato, superestima o desempenho do setor de serviços, uma vez que o índice de receita nominal se distancia do de volume devido à aceleração do IPCA. Complementarmente, é natural que se observe que a receita do setor apresente variações positivas (ainda que cada vez menores), enquanto em termos reais o setor contrai (o que é indicado pela variação negativa do índice de volume acumulada em 12 meses).

Por fim, é importante notar que a melhoria dos dados sobre o setor de serviços tem o potencial de enriquecer o debate. Tal como exposto, é conveniente que se avalie a inflação pertinente aos serviços-insumos, uma vez que esta afeta diretamente a competitividade e a capacidade produtiva da economia. Sob essa ótica, um índice de preços de serviços intermediários traria melhorias importantes para o tratamento de estatísticas sobre o setor.

indice volume

Fonte: PMS/IBGE. Elaboração própria.

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