Economia de Serviços

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As identidades digitais e suas implicações para o Brasil

A Economist Inteligent Unity conduziu uma pesquisa com executivos de TI norte-americanos com o objetivo de avaliar o papel da identidade digital nas empresas. Até 2020, mais de sete bilhões de pessoas e 35 bilhões de dispositivos estarão conectados à internet, diz a pesquisa. As diversas – e dispersas – informações fornecidas a todo segundo pelo acesso a sites e aplicativos ou enviadas remotamente por vários dispositivos formam a identidade virtual de cada um desses usuários.

As empresas que não conseguirem tirar proveito desse fluxo de informações perderão a oportunidade de ampliar seu conhecimento sobre o mercado, fornecer produtos e serviços mais customizados e expandir seus negócios para atender à constante mudança nas preferências dos consumidores. Dos executivos entrevistados, 64% apontaram que os canais digitais são de grande importância para o faturamento das empresas.

grafico-EIU-2     Fonte: EIU, 2015

A construção das identidades digitais exigirá, todavia, a superação de uma série de obstáculos, como a segurança das informações compartilhadas virtualmente. Para 72% dos executivos entrevistados, esse é o principal desafio no uso das identidades digitais, sendo que apenas 19% deles disseram estar bem preparados para atender requerimentos de segurança.

Ainda, embora os consumidores estejam dispostos a responder questões básicas sobre seu perfil, há maior resistência em informar preferências, localização, relações interpessoais e dados financeiros, o que reduz as possibilidades de uso comercial dessas informações. Mostrar como estes dados estão sendo protegidos e de que forma eles poderão ser utilizados estão entre as estratégias mais empregadas pelas empresas pesquisadas. Outra forma é condicionar determinado serviço ao provimento de algumas informações – vários jornais, por exemplo, permitem a leitura gratuita de certa quantidade de artigos, mas sujeita ao registro prévio no site.

A pesquisa da EIU apontou, portanto, que há maior chance de se conseguir informações mais restritas quando há vantagens claras para o usuário. Observa-se, com isso, que o consumidor está cada vez mais consciente sobre o valor de sua identidade virtual e sobre a real possibilidade de que seus dados estejam sendo “monetizados” e de fato utilizados para explorar novos serviços.

As implicações dessa discussão para o Brasil são claras: como as empresas brasileiras estão se preparando para disputarem mercado em um ambiente digital que demanda a capacidade de absorver dados de milhares de usuários e unificá-los numa identidade virtual que possibilite extrair informações valiosas sobre seus perfis?

Também é preciso entender até que ponto haverá infraestrutura de rede e de comunicação necessária ao crescimento do volume de informações compartilhadas pelos diversos dispositivos que vão além dos tradicionais computadores e smartphones, e que alimentarão a identidade virtual de cada um desses usuários com informações sobre saúde, hábitos de lazer, trabalho e comportamento.

Como colocado pela pesquisa, a identidade digital é o passaporte para o mundo online de bens e serviços. Resta saber se as empresas brasileiras conseguirão navegar de forma satisfatória nesse universo ainda pouco desenvolvido no País, mas que mostra sinais claros de expansão global, com papel primordial para o desempenho e a liderança no mercado.

Vanessa SantosVanessa Santos é mestre em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) e Analista de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Modernização dos Serviços e Marcos Regulatórios

Este blog tem insistido no argumento de que a baixa competitividade do setor de serviços compromete a competitividade de toda a economia brasileira.

Indicadores sugerem que, de fato, os nossos serviços têm preços relativamente altos e qualidade relativamente baixa. Não surpreende saber que estamos na penúltima colocação no ranking de competitividade internacional de serviços.

O Global Competitiveness Report 2015/2016 identifica que o Brasil está particularmente mal colocado em áreas críticas para o desenvolvimento dos negócios, como serviços financeiros, de telecomunicações, legais, de logística, de energia, de pesquisa e desenvolvimento e educacionais. A piora das condições de alguns desses serviços ajuda a explicar a significativa queda do Brasil no ranking do Global Competitiveness Report — passamos da 57ª para a 75ª posição do relatório anterior para o atual.

Mas de onde vem tão baixa competitividade? Claro, as causas são muitas, mas uma que se destaca é o marco regulatório. Os serviços em geral são excessivamente regulados para padrões internacionais, muitas vezes com provisões anacrônicas e de difícil justificação. Não por acaso, indicadores internacionais mostram  que a restrição à competição e a reserva de mercado são elevadas quando comparadas a outros países.

A consequência mais visível desse sistema regulatório, que parece ter sido erigido para atender a interesses específicos, é a elevada ineficiência e a baixa competitividade sistêmica.

Considere serviços como os financeiros, legais e de telecomunicações.  Como mostra o gráfico abaixo, os indicadores de restrititividade desses segmentos são superiores aos observados no resto do mundo. No caso dos serviços financeiros, destacam-se reservas de mercado de certos produtos para instituições de capital nacional, barreiras de entrada maiores para capital estrangeiro e outras medidas discriminatórias e elevadíssimos custos iniciais de entrada. No caso dos serviços legais, destacam-se as restrições ao movimento internacional de profissionais e ao exercício da profissão por estrangeiros licenciados em outros países. No caso das telecomunicações, destacam-se inúmeras barreiras que elevam sobremaneira os custos de entrada e restrições ao capital estrangeiro. O problema é que esses  serviços são importantes itens da cesta de insumos das empresas, sendo que os serviços financeiros são, de longe, o serviço com maior peso, com participação de 26% no total de serviços consumidos pela indústria.

A melhoria da competitividade da economia brasileira requer ampla revisão dos marcos regulatórios dos serviços em consonância com as melhores práticas internacionais de forma a que se estimule a modernização e os investimentos no setor e se encoraje a entrada de novos concorrentes.

STRI

 

O que a indústria tem a ver com a competitividade dos serviços?

Em post anterior, foi discutida a importância da sofisticação e incorporação dos serviços em produtos como fonte de competitividade na indústria. Em linha com essa argumentação, é possível inverter a análise e discutir a importância da indústria para o desenvolvimento de um setor de serviços maiscompetitivo.

O gráfico abaixo apresenta a participação dos serviços profissionais no consumo intermediário da indústria de transformação e o volume de exportações de serviços. Em termos absolutos, é possível notar que países com maior consumo intermediário de serviços por parte da indústria têm, em geral, maior participação nas exportações de serviços. O caso da indústria americana é especialmente contundente: além de apresentar o maior consumo intermediário de serviços profissionais na indústria de transformação (em valores absolutos), os Estados Unidos apresentam o maior volume de exportações.

gráfico

Fonte: WIOD e OECD. Elaboração própria.

O consumo de serviços pela indústria tem consequências importantes para o tipo de estrutura econômica que se desenvolve, já que a demanda por serviços mais modernos e com maior teor tecnológicoimpulsiona o crescimento dessas atividades.

Um exemplo disso é o desenvolvimento da indústria 4.0, caracterizada pela internet das coisas, que demandará uma nova gama de serviços na área de tecnologia da informação.

O debate incita ainda uma questão crucial: seria possível desenvolver um setor de serviços competitivo sem passar pelo desenvolvimento da própria indústria? Esse tipo de questionamento é ainda mais relevante em economias que passaram por processo de desindustrialização precoce. Vários autores discutem, por um lado, os entraves para o crescimento decorrentes desse processo e, por outro, as potencialidades do crescimento liderado pelos serviços (Rodrik, 2015; Dadush, 2015).

No entanto, o ponto mais significativo nessa discussão parece ser o apontado pela Comissão Europeia, que defende que o setor de serviços terá um papel importante na reindustrialização da Europa ao possibilitar a fabricação de novos produtos industriais resultantes da incorporação de serviços mais produtivos e inovativos. Nesse sentido, a demanda industrial teria um papel chave no desenvolvimento de um setor de serviços mais competitivo.

Essa discussão tem implicações cruciais para as políticas econômicas de longo prazo. Fica cada vez mais claro que será necessária maior coordenação entre as estratégias competitivas da indústria e do setor de serviços.

Serviços, capacidades produtivas e competitividade internacional

Com uma metodologia inovadora, Hausmann, Hidalgo et al. (2013) demonstram que países desenvolvidos têm vantagem comparativa em uma gama maior de bens e que, quanto mais bens sofisticados um país produzir, maior será a chance de ele produzir outros produtos sofisticados e, assim, gerar valor e renda.

A partir de dados de comércio internacional, os autores desenvolveram um método que busca identificar produtos que têm como requisitos capacidades produtivas similares. Na definição dos autores, capacidades produtivas são um conjunto amplo de características de um país que não são facilmente transferidas para outros, como conhecimento produtivo tácito espalhado em redes de pessoas e empresas, direitos de propriedade, regulação, infraestrutura e instituições em geral.

Segundo os autores, para se desenvolver, um país deve ampliar suas capacidades produtivas. Uma forma de fazer isso seria expandindo a produção de bens menos para bens mais sofisticados que exijam capacidades produtivas parecidas. Os pares de produtos que exigem capacidades produtivas similares aparecem coligados e agrupados a outros pares em comunidades em uma rede, no chamado “Espaço Produto” (ver o Gráfico abaixo para o caso do Brasil).[1]

Um país que já possui vantagem comparativa na produção de, digamos, camisas terá mais facilidade para produzir calças do que turbinas de avião. Nesse sentido, não adiantaria estimular a instalação de uma fábrica de foguetes em uma região onde só se produz frutas. Essa região não terá a infraestrutura, o conhecimento tácito, o capital humano e todos os bens e serviços necessários para que o empreendimento tenha sucesso.

Berlingieri (2013) demonstra que quanto mais serviços “embarcados” um produto exportado tem, mais competitivo ele será no mercado internacional. Portanto, a presença de serviços sofisticados conectados com a indústria parece ser um tipo de capacidade produtiva importante para um país.

Como já visto aqui neste blog, o Brasil é muito pouco competitivo no setor de serviços. Assim sendo, aumentar a eficiência e a sofisticação dos nossos serviços é requisito fundamental para realizarmos nosso anseio de ser mais competitivo em produtos de mais alto valor agregado e participar pela “porta da frente” das cadeias globais de valor.

Gráfico – Espaço Produto do Brasil, 2012.

  Fonte: The Observatory of Economic Complexity (Hausmann, Hidalgo, et al., 2013).

 

[1] Os autores criaram uma ferramenta interativa, na qual é possível ver os detalhes para cada país, que pode ser acessada em https://atlas.media.mit.edu/pt. Usando a mesma metodologia, o DataViva faz um estudo de municípios, regiões e estados do Brasil em http://pt.dataviva.info/

Serviços, Produtividade e Crescimento

Produtividade é, cada vez mais, motor do crescimento econômico. Para ser produtiva, uma economia requer conhecimento, infraestrutura, conectividade, interação com outras economias e ambiente e instituições favoráveis para que os recursos sejam realocados dos setores menos para os mais produtivos.

Mas, nos dias de hoje, em que complementariedade e sinergia entre setores são cada vez mais determinantes para a criação de valor, é especialmente importante que os segmentos envolvidos numa cadeia de valor também sejam produtivos. Essa relação será tão mais relevante quanto mais a economia for integrada à economia global.

O que acontece no Brasil? Considere o setor de serviços. A produtividade do setor de serviços é muito baixa para padrões domésticos e internacionais. De fato, a figura abaixo mostra o índice de competitividade do setor de serviços de 42 países avançados e emergentes. O setor de serviços do Brasil só é mais competitivo que o do Chile. (*)

O problema é que, primeiro, os serviços são o maior setor da economia, já perfazendo 70% do PIB, e a sua participação no produto segue aumentando. Segundo, o setor já contribui com a maior parte do valor adicionado de outros setores – no caso da indústria, essa contribuição já passa dos 64%.

Como consequência, os serviços são os principais determinantes da baixa produtividade agregada e “intoxicam” outros setores que os consomem como insumos.

Por que os serviços são tão pouco competitivos? E por que eles são tão grandes e influentes? Claro, são muitas as causas; destacamos aqui apenas alguns dos aspectos que consideramos mais relevantes.

O setor de serviços é pouco competitivo porque ele é muito protegido por regulações que inibem a competição. Reservas de mercado, regras e variados obstáculos desencorajam a entrada de novos competidores e mesmo a saída do mercado de empresas pouco eficientes. Em vários segmentos, a importação de serviços pode ser um desafio quase intransponível.

O setor é anormalmente grande para padrões internacionais porque a indústria, depois de ter atingido um pico de participação no PIB de 35% em meados da década de 1980, começou a contrair prematura e rapidamente. O setor de serviços, especialmente o de consumo final, que é o menos produtivo, foi o seu principal herdeiro no PIB e no emprego.

Já a elevada participação dos serviços no valor adicionado de outros setores se deve a tecnologias de organização da produção e a mudanças de preços relativos em favor dos serviços.

A volta do crescimento econômico no Brasil passa pelo setor de serviços. Será preciso introduzir reformas ambiciosas que aumentem a competitividade e a produtividade do setor, quebrar cartórios e monopólios e flexibilizar mercados, ao tempo em que se leva adiante políticas de acesso a tecnologias modernas, capital humano, conhecimento e crédito e políticas de atração de parcerias e de capital estrangeiro para o setor.

 

Competitividade dos serviços - indicador internacional

(*) O índice de competitividade internacional resulta da relação entre preços relativos e produtividade do trabalho. Elaboração e desenvolvimento próprios.

Indústrias intensivas em serviços

Em posts anteriores, ressaltamos a crescente importância de serviços nas cadeias de valor de outros setores. Esse fenômeno é observado nos dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA), do IBGE.

Em 2012, na indústria, a razão consumo intermediário de serviços/valor bruto da produção (CIS/VBP) estava em 20%. Isso significa que, para produzir R$ 100, a indústria brasileira consome R$ 20 de serviços no seu processo produtivo. Análise complementar mostra que a relação consumo intermediário de serviços/valor adicionado (CIS/VA) na indústria é de 69%.[1]

Esses números sugerem que indústria e serviços estão fortemente associados. Por conta de fenômenos como a descentralização da produção, especialização de empresas em nichos e terceirização, é provável que essa relação se torne ainda mais forte no futuro.

O gráfico abaixo mostra que, apesar de presente em todos os segmentos, o consumo intermediário de serviços é mais forte em algumas atividades. Olhando tanto o CIS/VBP (barras azuis no gráfico) quanto o CIS/VA (barras verdes), percebe-se que os três segmentos mais intensivos em serviços são indústria extrativa ou diretamente ligados a ela: extração de petróleo e gás natural; fabricação de coque, produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis; e extração de gás mineral.

Em artigo no prelo, Arbache e Moreira apresentam evidências de que o maior consumo de serviços, principalmente os chamados “serviços de valor”, está associado a maiores níveis de produtividade na indústria. Esse achado sugere que um aumento da eficiência e da sofisticação dos serviços voltados para a indústria manufatureira pode ter efeitos significativos no incremento de sua produtividade e competitividade.

Consumo intermediário de serviços como proporção do valor bruto da produção (azul) e do valor adicionado (verde), por segmento da indústria – 2012.

Fonte: elaboração própria a partir de PIA/IBGE (2014).

[1] Esse indicador pode ser maior que 100%, já que o valor adicionado é a diferença entre o valor bruto da produção e o consumo intermediário.

Serviços e Bem-Estar das Famílias

Os serviços são componentes importantes do consumo das famílias. Serviços de saúde, educação, financeiros, alugueis, comunicação, restaurantes, transportes e comércio estão dentre os serviços mais consumidos por elas.

Tamanho da família, residência em região urbana ou rural, situação demográfica dos membros da família, preferências e renda são fatores que influenciam o padrão de consumo familiar de serviços.

A figura abaixo mostra a participação dos serviços na cesta de consumo das famílias de países emergentes selecionados. Por que as famílias brasileiras gastam proporcionalmente mais com serviços? São várias as causas, mas uma delas está associada a preços relativos. De fato, na última década os preços médios dos serviços subiram muito mais do que os de bens industrializados e agrícolas.

Indicador de preços do Conference Board mostra que, em 2011, os preços médios dos serviços no Brasil correspondiam a 59,3% dos preços médios dos serviços nos Estados Unidos. Na Índia, esse indicador era de 23,7%.

Dois itens da cesta de consumo da família brasileira se destacam. Um deles são despesas com serviços financeiros e o outro são despesas com serviços profissionais. Enquanto os serviços financeiros abocanhavam 7% das despesas das famílias brasileiras, na China eles respondiam por 4%, na Rússia por 2% e na Indonésia por 3%. Algo similar acontece com serviços técnico profissionais.

Dentre as explicações para essas discrepâncias entre o Brasil e outros países estão as elevadíssimas taxas de juros e as condições insatisfatórias de competição bancária e de serviços profissionais, que permitem a elevação exagerada de preços penalizando, desta forma, o bem-estar das famílias.

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A queda de atividade no setor de serviços

Na semana passada, o IBGE divulgou os dados do produto interno bruto (PIB) do segundo trimestre de 2015. Como esperado e amplamente noticiado, os resultados foram consideravelmente negativos e colocaram o país em recessão técnica, por ter registrado dois trimestres consecutivos de retração. Com relação ao mesmo trimestre de 2014, a economia teve contração de 2,6% (ver gráfico 1 abaixo, com a variação dos grandes setores).

Um dado talvez um pouco menos notado, porém, foi a queda do setor de serviços. Como é possível ver no gráfico 2 abaixo, as quedas mais significativas se deram no comércio e no segmento de transporte, armazenagem e correio, com o setor de serviços como um todo registrando queda de 1,3% no 2º tri./2015 frente ao mesmo trimestre de 2014. Pela primeira vez desde o início da série histórica, em 1996, o setor registrou dois trimestres consecutivos de contração. Analistas de mercado já projetam uma queda de 1,5% ao final do ano.

Os motivos para a acentuada queda aparentemente mesclam questões conjunturais e estruturais. No componente conjuntural, a acentuada queda do crédito, o aumento do desemprego, a queda da renda real e a retração da indústria contribuem para o fenômeno. Como parte considerável do setor é voltada para o consumidor final do mercado interno, e outra parcela importante serve de insumo para outros segmentos, serviços são um setor normalmente pró-cíclico.

Na parcela estrutural, a baixa produtividade do setor, a limitada qualificação de sua mão de obra e a sua concentração em segmentos tipicamente menos complexos parecem tornar os serviços mais sujeitos a bruscas flutuações. Esses fatores fazem também com que o setor não tenha competitividade internacional e seja quase inteiramente voltado para o mercado interno. Como apontado neste blog, em 2014, o Brasil apresentou déficit na conta de serviços no valor de U$ 49 bilhões.

Portanto, enquanto as dificuldades estruturais não forem superadas, dificilmente o setor conseguirá “puxar” a economia de forma sustentada.

O Setor de Serviços é Protegido?

Este blog tem destacado que o setor de serviços do Brasil é pouco produtivo, caro e tecnologicamente defasado. Por detrás desse perfil está, dentre outros, a modesta competição em muitos de seus segmentos, que inibe a modernização, a inovação e o aumento da produtividade.

De fato, como mostram indicadores internacionais, segmentos tão variados como telecomunicações, aviação civil, bancos comerciais, construção civil, serviços legais, dentre outros segmentos e atividades profissionais, são altamente regulados e protegidos. Essa proteção não é neutra e, como consequência, mesmo provedores de serviços pouco eficientes seguem no mercado provocando impactos negativos nos consumidores finais, empresas e na competitividade sistêmica.

Curiosamente, porém, as estatísticas de comércio exterior não corroboram a visão de que o mercado de serviços seja fechado. Afinal, o Brasil é um dos maiores importadores de serviços do mundo quando examinamos indicadores como, por exemplo, importação/PIB. Não por acaso, os serviços são a principal fonte de constrangimento às contas externas – em 2014, o déficit da conta de serviços foi de nada menos que US$ 49 bilhões!

Há que se considerar, porém, que, como indica o gráfico abaixo com o saldo do comércio de serviços, os serviços importados são muito concentrados em aluguel de máquinas e equipamentos e em viagens internacionais, que respondem por 84% daquele déficit.

Como o setor de serviços é, e será ainda mais determinante para a geração de riquezas e de bons empregos, participação em cadeias globais de valor e para a competitividade das nações, ter um setor de serviços doméstico moderno e competitivo está se tornando requisito fundamental para a promoção do crescimento econômico e para redução do hiato de renda que separa países emergentes e avançados.

Desta forma, o desafio das políticas públicas vai muito além de simplesmente abrir o mercado. O grande desafio é, isto sim, encontrar o equilíbrio entre redução da proteção, promoção da competição e atração de investimentos em serviços, em especial naqueles segmentos mais críticos para o crescimento econômico sustentado.

Políticas de estímulo ao aumento da competição nos segmentos mais relevantes para as cadeias de produção de terceiros setores, como são os casos dos serviços de intermediação financeira, tecnologias de informação e comunicação e serviços comerciais, combinada com políticas de atração de empresas estrangeiras de serviços é exemplo de uma dobradinha que pode ajudar a virar o jogo.

 

post 1 de setembro

Serviços e a produtividade no Brasil

Ao analisarmos a produtividade – seja ela do trabalho, do capital ou a produtividade total dos fatores – do Brasil, três fatores se destacam:

  1.  o nível de produtividade é relativamente baixo, ficando atrás de vários países emergentes;
  2.  esse nível pouco tem mudado nas últimas décadas, o que tem feito que, ao longo dos anos, fiquemos ainda mais atrás de outros países;
  3.  a produtividade brasileira é bastante desigual entre setores.

Os dois primeiros pontos podem ser observados no gráfico abaixo, no qual comparamos a produtividade do trabalho brasileira com a de outros países. Nele, vê-se claramente que a produtividade brasileira é mais baixa do que a de países como Argentina, México e Chile, e provavelmente será ultrapassada em breve por Peru e China.

Outro fato preocupante é ver que Coreia do Sul e Chile tinham praticamente a mesma produtividade que o Brasil em 1985 e hoje têm entre 2 e 2,5 vezes o nível brasileiro. No período de 30 anos, nossa produtividade cresceu cerca de 0,7% ao ano, muito pouco para um país de renda média.

Produtividade do trabalho em US$ de 2014 PPP por trabalhador em países selecionados – 1985-2015

Fonte: Elaboração própria a partir da Total Economy Database (OCDE, 2015).

Fonte: Elaboração própria a partir da Total Economy Database (The Conference Board, 2015).

Os motivos para essa baixa e estanque produtividade são vários, desde limitações sistêmicas – infraestrutura falha, alto custo da mão de obra, burocracia, etc. – e limitações internas às empresas (o chamado “chão de fábrica”) – empregados pouco qualificados, métodos de gestão atrasados, pouco investimento em P&D, alta rotatividade do trabalho, etc.

Porém, um fator que não pode ser ignorado é o terceiro ponto do início do texto. Como é possível observar na tabela abaixo, a produtividade brasileira é bastante heterogênea entre setores, e serviços têm produtividade menor que a de outros setores como a indústria manufatureira.

O problema é que os serviços respondem por quase 60% da mão de obra pelas Contas Nacionais e são insumo fundamental dos demais setores (mais da metade do consumo intermediário da indústria). Logo, não será possível aumentar a produtividade agregada da economia sem tornar nossos serviços mais produtivos e competitivos.

Produtividade do trabalho e participação na mão de obra por setor – 2011

Setor* Produtividade do trabalho (VAB/PO) Participação na mão de obra
Agropecuária 13,254 17.0%
Indústria extrativa 565,153 0.3%
Indústria manufatureira 45,183 13.3%
Energia elétrica, gás natural, água e outras utilidades 136,708 0.9%
Construção civil 28,768 9.6%
Serviços 36,777 58.9%

*Não inclui o setor público.      Fonte: Elaboração própria a partir do Sistema de Contas Nacionais (IBGE, 2015).

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