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A transformação digital impulsiona o futuro sustentável da agricultura

A conjunção de condições do solo, clima, relevo, ciência, tecnologia, políticas públicas e competência dos agricultores tornou o Brasil um dos líderes mundiais na produção e exportação agrícola. Esse setor representa, aproximadamente, 25% do Produto Interno Bruto (PIB) e 50% das exportações. Significa que a cada R$ 4 que circulam no país, R$ 1 é agrícola. E, de cada US$ 2 que alimentam a nossa economia pela exportação, US$ 1 tem origem em chácaras, sítios, fazendas e estâncias brasileiras. Projeções recentes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)[1] indicam que a produção de grãos poderá passar do atual patamar de 230 milhões de toneladas podendo chegar a entre 300 e 350 milhões de toneladas na safra de 2027/2028. Quanto à produção de carnes (frango, suína e bovina), projeções indicam que passaremos dos atuais 27 milhões para 34 milhões de toneladas até o final da próxima década. Há, também, crescente demanda por frutas, que ocupam cada vez mais uma posição de destaque no mercado nacional e internacional.

A modernização da agricultura brasileira e sua eficiência produtiva formam o suporte para esse desempenho. As safras recordes registradas germinaram nas instituições de pesquisa e ensino e foram plantadas no solo brasileiro na forma de inovações e tecnologias a cada ano-safra. Só nas duas últimas décadas, aumentamos a produção de grãos em aproximadamente 250% com apenas 50% na expansão da área plantada. Desse modo, produzimos mais alimentos, fibras e bioenergia com menos recursos naturais, fazendo do Brasil também uma potência ambiental com 60% de sua área ainda preservada, e menos de 30% do território do país destinado à agropecuária. Em análise desenvolvida pela Embrapa, tecnologia foi identificada como o fator mais importante para esse crescimento. Ela contribuiu com aproximadamente 60% do valor bruto da produção agropecuária e o somatório dos demais fatores — terra, mão de obra, e recursos financeiros — respondeu por 40%.

Por sua vez, o aumento da população mundial, a contínua urbanização, a maior expectativa de vida e o poder econômico elevarão ainda mais o consumo de alimentos, fibras e energia nos próximos anos e o Brasil deverá assumir um papel de ainda maior protagonismo na produção agrícola e na responsabilidade ambiental. As tecnologias digitais elevam as possibilidades de ampliar o conhecimento e a interação entre todos os elos das cadeias produtivas. Podem ajudar a resolver uma equação complexa e com inúmeras variáveis econômicas, sociais e ambientais em que é preciso produzir mais alimentos, com qualidade e com menor uso de recursos naturais.

Essa “digitalização da agricultura” pode ser entendida como interdisciplinar e transversal, não limitada a culturas agrícolas, regiões ou classe de produtores. Em um mundo cada vez mais dinâmico, a agricultura tem a possibilidade de utilizar avanços como as tecnologias de informação e comunicação (TICs), internet das coisas agrícolas (IoTA), inteligência artificial, agricultura de precisão, automação, robótica e big data e small data. Estimativas apontam que o mercado mundial da agricultura digital em 2021 será de 15 bilhões de dólares e que 80% das empresas esperam ter vantagens competitivas nesse setor[2].

O Brasil já possui papel inovador no agro focado em uma Agricultura 4.0. Novas abordagens são aplicadas no planejamento da produção, manejo, colheita, acesso a mercados, comercialização e transporte de grãos, frutas, hortaliças, carnes, leite, ovos, fibras e madeira. Os produtores já podem contar com apoio público, cooperativas, associações, sindicatos ou com serviços privados baseados em imagens de satélites, veículos aéreos não tripulados (VANTs) e sensores terrestres, sistemas de posicionamento global por satélite (GPS) e sistemas de informações geográficas (SIG).

Esses instrumentais são determinantes para o planejamento rural, redução de custos e aumento da produtividade e renda dos produtores. Já fazem parte de atividades como o cadastro ambiental rural (CAR) o zoneamentos e a aptidão agrícola. Também intensificam a aplicação da certificação ambiental de propriedades e processos, ajudam na gestão do bem-estar animal e na georrastreabilidade, elevando a qualidade e segurança dos alimentos.

A agricultura digital mostra desempenho amplificado na análise integrada de uso de insumos com a variabilidade do solo e água de sítios, fazendas e estâncias pela agricultura, pecuária e floresta de precisão. Máquinas e equipamentos conectados têm atividades gerenciadas por meio de sistemas de telemetria otimizando seu uso. Imagens de satélite e de VANTs, GPS, georreferenciamento e mapas de produtividade são termos cada vez mais frequentes no vocabulário dos produtores rurais. Esses instrumentos apoiam o planejamento do uso e ocupação da terra por práticas agrícolas mais resilientes, a exemplo da integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e do plantio direto.

Novos satélites geoestacionários e de constelações de nanossatélites do setor privado de comunicação, monitoramento de recursos naturais e agricultura já orbitam a Terra. Monitoramentos geoespaciais asseguram a conservação, recuperação e uso sustentável de ecossistemas terrestres e aquáticos. Dão sustentação à implementação da gestão sustentável de florestas plantadas e restauração de florestas e pastagens degradadas. Sistemas de telemetria e GPS colaboram em medidas preventivas e corretivas envolvendo o tráfico de espécies da flora e fauna protegidas, mantendo a biodiversidade e elevando as oportunidades locais de subsistência sustentável de comunidades tradicionais. Bancos de dados armazenam informações de recursos genéticos vegetais e animais (nativos e exóticos), cadastramento de conhecimentos tradicionais, produtos locais e um catálogo de atrações que promovem o turismo rural.

Novos aplicativos, disponíveis para tablets e smartphones, são um suporte na tomada de decisão sobre inúmeras práticas envolvendo a produção animal e vegetal. Ajudam a compreender as condições meteorológicas, como secas e inundações, colaborando preventivamente na manutenção da qualidade do solo, água e ar. Permitem identificar, monitorar e reduzir a incidência de pragas e doenças. São imprescindíveis no gerenciamento de sofisticados sistemas de irrigação, minimizando desperdícios. Minimizam perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento, incluindo as perdas pós-colheita. Auxiliam o gerenciamento técnico-financeiro de propriedades e se tornam fundamentais para a sustentabilidade do negócio rural.

Na vanguarda da inovação digital e com grande potencial para a agricultura, entram em campo as startups, com soluções disruptivas a problemas antes cristalizados. A “uberização” de máquinas e serviços já é uma realidade no meio rural, diminuindo custos de produção e aumentando postos de trabalho. Conceitos da economia digital, como fintech (finance & techonology), blockchain e criptomoedas servem de soluções para as áreas financeiras envolvendo o comércio internacional, importações e exportações de insumos e produtos agropecuários.

Os desafios estão em conferir maior dinamismo e integração entre a pesquisa, ensino, indústria, comércio, assistência técnica e extensão rural brasileira. Aproveitar o mundo rural mais conectado e fortalecer o processo de educação a distância (EAD) no campo. Atrair mais jovens, capacitar produtores rurais e profissionais para gerarem soluções cada vez mais interdisciplinares no dia a dia nas propriedades rurais elevando a produtividade e com menor pressão nos recursos naturais. Um perfil inovador, empreendedor e multiplicador é imprescindível a todos que buscam a digitalização da agricultura.

Esse ambiente digital molda agendas de desenvolvimento em várias escalas. Internacionalmente, pode ser associado à Agenda 2030 que envolve 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Nesse contexto, a transformação digital na agricultura pode contribuir significativamente para o alcance desses objetivos, por meio de um maior compartilhamento de informações, aumento da produtividade, irrigação de precisão, ampliação do poder de informação, monitoramento do desperdício da produção, maior integração entre o campo e as cidades, aperfeiçoamento das cadeias produtivas, da melhoria na produção aquícola, na gestão do território e uso eficiente da terra (Figura 1).

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Exemplos de aplicações da agricultura digital aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

Fonte: United Nations Global Compact. Digital Agriculture. 2017.

http://breakthrough.unglobalcompact.org/disruptive-technologies/digital-agriculture

Essa transformação possui uma velocidade exponencial, com maior amplitude na economia, governo e pessoas, tendo impactos cada vez mais sistêmicos nos indivíduos e na sociedade. A integração entre o conhecimento rural tradicional e o tecnológico inovador é fundamental para fortalecer ainda mais o desenvolvimento da agricultura. Estudo recente da Embrapa[3] destaca que, nesse paradigma, os negócios convencionais se desenvolverão sob a ótica do mercado digital, no qual o relacionamento entre consumidores e clientes será fortalecido por meio dos ecossistemas empresariais, do uso intensivo da automação e da convergência das TICs na agricultura.

Diminuir a pobreza, promover a prosperidade e o bem-estar para todos, proteger o meio ambiente e enfrentar as mudanças climáticas devem integrar agendas públicas e privadas nas próximas décadas.

Essas condições têm impulsionado a demanda por atividades cada vez mais complexas na agricultura. O uso da tecnologia digital no dia a dia das propriedades rurais não é questão de opção, mas um caminho obrigatório para tornar a agricultura mais competitiva e com maior agregação de valor. Com a transformação digital na agricultura, o mundo rural é repleto de novas oportunidades para trabalhar, produzir e viver com qualidade. É necessário fortalecer ainda mais a geração de conhecimentos, tecnologias e inovações a serviço do desenvolvimento sustentável da agricultura brasileira.

 Édson Bolfe é Pequisador da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Suas áreas de pesquisa são geotecnologias, modelagem agroambiental, planejamento territorial e cenários de desenvolvimento da agricultura.  

Descubra mais em: www.embrapa.br/agropensa

Referências

  1. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Projeções do Agronegócio 2017/2018 – 2027/2028. http://www.agricultura.gov.br/assuntos/politica-agricola
  2. Parte superior do formulárioUnited Nations Global Compact. Digital Agriculture. 2017. http://breakthrough.unglobalcompact.org/disruptive-technologies/digital-agriculture
  3. Embrapa. Agropensa. Visão 2030: o futuro da agricultura brasileira. Brasília, DF: Embrapa, 2018. https://www.embrapa.br/visao/o-futuro-da-agricultura-brasileira

Serviços em agricultura – A revolução verde de nossa época

[1]Ver nota do autor

O Brasil enfrenta o chamado “imperativo da produtividade”, situação em que o crescimento, geração e distribuição de renda de um país não pode mais ser baseado em variáveis exógenas — como aumento da demanda externa, preços de commodities ou ganhos demográficos –, e passa a depender basicamente do aumento sustentado de sua produtividade média. Como temos visto no blog, um dos grandes entraves para o aumento da produtividade brasileira é o setor de serviços. De fato, a rápida desindustrialização da economia brasileira tem revelado que o padrão de rápido crescimento da produtividade puxado pela atividade manufatureira vivido pelo Brasil até a década de 80 dificilmente se repetirá. O país busca então novas formas de se valer do setor de serviços para crescer a passos mais rápidos e sem a grande volatilidade de outrora (retratada por Arbache e J.B Sarquis em “Growth Volatility and Economic Growth in Brazil“).

O setor agrícola é constantemente citado como exceção à estagnação brasileira, ensejando esperança em tal busca. De fato, a produtividade total dos fatores neste setor teve crescimento alto e estável desde a década de 1970 (em torno de 3.5% ao ano), na contramão da tendência de estagnação ou leve crescimento de grande parte dos demais setores da economia brasileira. A abertura de novas fronteiras agrícolas impulsionada pelo avanço genético e técnico liderado por instituições como a Embrapa — como o caso do cerrado –, a mecanização e profissionalização do campo (particularmente em grandes e médias propriedades), e a adoção em larga escala dos pacotes bioquímicos e defensivos explicam o “milagre” agrícola brasileiro. Em suma, a fazenda Brasil se expandiu e adotou novas máquinas e técnicas para converter mais eficientemente seus abundantes recursos naturais em produtos agropecuários, colhendo os frutos da chamada Revolução Verde.

A inovação agrícola no mundo, no entanto, tem se deslocado atualmente do modelo mecânico-químico do século XX para um novo paradigma de produção baseado na incorporação de serviços de alto valor agregado nos produtos agrícolas. Ao invés de novas expansões da fazenda e de seu maquinário, o foco agora é conectá-la aos novos conhecimentos tecnológicos do século XXI — especialmente tecnologias digitais, biotecnologia, tecnologia da informação e ciência de dados — para aumentar a produtividade agrícola na mesma medida em que se reduz a intensidade de uso de recursos naturais e insumos químicos em sua produção.

Conhecida no mundo como as inovações “agtech”, muitos entendem que esta onda transformadora de avanço tecnológico corresponda à nova Revolução Verde do século XXI. Uma de suas principais tendências é o impulso para digitalizar a agricultura. Aplicações digitais como drones e satélites para monitoramento de solo e de plantações de forma remota; sensores para o controle do crescimento e nutrição das plantas; e chips eletrônicos para monitoramento e detecção localizada de doenças em animais conectam o agricultor a dados valiosos que guiam sua tomada de decisão nas principais dimensões de seu negócio, tornando seu sistema de gestão de informação uma ferramenta tão importante quanto seu maquinário.

Diversas startups “agtech” que oferecem aplicações digitais têm aflorado no Brasil, como a Agrosmart, que oferece soluções de detecção antecipada de doenças em soja e milho e poupa até 60% da necessidade de água para irrigação com a colocação de sensores nas plantações (em sistema de Internet das Coisas); a empresa InCeres, que oferece softwares para análise de dados climáticos e do solo viabilizando agricultura de precisão com algoritmos geoestatísticos para aumento da fertilidade da terra; e a empresa TerrasApp, que desenvolve ferramentas de monitoramento satélite e aplicações digitais que permitem o diagnóstico precoce de doenças bem como o monitoramento da conservação ambiental e do solo; entre tantas outras.

Outra tendência “agtech” é o uso de novos conhecimentos de biotecnologia para reduzir a intensidade do uso de defensivos químicos com a utilização aplicações naturais, como anticorpos que previnem pragas e novos macrobióticos que melhoram seu desempenho nutricional. A startup BR3, por exemplo, desenvolve microrganismos naturais que substituem a necessidade de defensivos químicos em certos tipos de pragas. Outro exemplo é a startup ChipInside, que desenvolveu uma coleira biológica que monitora a ruminação, saúde e cio em bovinos leiteiros, permitindo aumento da produção e prevenção de doenças no rebanho.

A onda “agtech” representa uma oportunidade concreta e plenamente atingível de liderança global para o Brasil, e pode ensejar o início de um novo ciclo de crescimento de produtividade no campo brasileiro, potencialmente mais sustentável ambientalmente. No entanto, para que o Brasil se torne não apenas um usuário, mas um desenvolvedor e gerenciador global de soluções “agtech”, terá de enfrentar diversos entraves regulatórios e tecnológicos, como integração efetiva da pesquisa acadêmica com a indústria e o agronegócio; acesso a financiamento e capital de fundos de capital empreendedor (venture capital); redução de entraves regulatórios no setor agrícola (principalmente para permitir a adoção exponencial das novas soluções pelos agricultores); novas formas de propriedade intelectual; e formação de profissionais da área. Esta seria uma área interessante para a implementação de uma nova geração de políticas de desenvolvimento produtivo que solucionem as falhas de coordenação entre setor público e privado que surgirão no caminho.

Ainda assim, há ao menos duas razões estruturais que deveriam nos motivar a perseguir a ponta na corrida “agtech”.

Em primeiro lugar, evidência empírica de diversos autores (como Giuseppe Berlingieri, 2014) mostra que os serviços de alta produtividade (especialmente aqueles conhecidos como professional business services) não surgem de forma autônoma, e sim por demanda dos setores finalísticos, como indústria e agricultura. Países com setores finalísticos mais desenvolvidos tem maiores condições de desenvolver serviços de alto valor agregado. Se por um lado a desindustrialização torna cada vez difícil para o Brasil desenvolver serviços complexos para a indústria, por outro, o país tem um mercado agrícola interno capaz de demandar e impulsionar o desenvolvimento de um rico ecossistema de soluções “agtech”.

Em segundo lugar, diferente de outros ramos de economia digital (como e-commerce, sistemas computacionais e entretenimento) onde os efeitos de rede e plataforma já consolidaram grandes plataformas globais (como Amazon, Google, Facebook), o ramo “agtech” segue campo relativamente aberto a ser conquistado. Ainda que a recente aquisição da empresa Climate Corporation pela Monsanto por quase US$ 1 bilhão seja um exemplo simbólico da possível formação de plataformas globais de agricultura digital, que podem por exemplo oferecer soluções de big data para agricultores em diversos biomas e culturas, o ecossistema “agtech” ainda está em fase de crescimento fragmentado, o que permite ao Brasil colocar-se na fronteira da criação de conhecimento nesta área sendo potencialmente um dos líderes de sua futura consolidação global.

Com quase duas décadas findas, o Brasil já olha pelo retrovisor para diversas ondas tecnológicas do século XXI. A onda “agtech”, no entanto, ainda está aberta a quem souber surfá-la.

 

[1]As opiniões ou visões contidas no texto não necessariamente representam aquelas das instituições com as quais o autor mantém vínculos empregatícios ou acadêmicos.

Tomás é formado em economia pela Universidade de São Paulo e possui mestrado em desenvolvimento econômico pela Universidade de Harvard. Ele é especializado em desenvolvimento produtivo e inovação, e atuou no setor público, privado e em organismos multilaterais – como economista das Nações Unidas (ONU) em Genebra e do Banco Mundial. Atualmente lidera operações de inovação via setor privado no Banco Interamericano de Desenvolvimento na América do Sul.

A economia digital e o agronegócio brasileiro

A economia digital, que há algum tempo vem transformando setores como serviços, indústria e comércio exterior, está gerando também uma revolução no agronegócio. As agtechs, empresas que desenvolvem tecnologias para o campo, promovem o uso de inovações com o objetivo de otimizar a produção de forma customizada e adaptada as necessidades de cada produtor. De acordo com a Boston Consulting Group (BCG), a rápida adoção dos diferentes serviços propostos por essas startups decorre das fortes evidências de custo-efetividade para os produtores.

Em relação ao desempenho do mercado, houve crescimento mundial no volume de investimentos em agtechs de 2010 a 2015 – nesse último ano os volumes chegaram a US$ 4,6 bilhões, segundo a AgFunder. Apesar disso, projeta-se pequena redução em 2016 em função do baixo desempenho do mercado de venture capital.

As tecnologias propostas incluem áreas como big data & analytics, segurança alimentar, rastreabilidade, biociência (como biopesticidas e bioestimulantes) robotização, automação, logística & distribuição e novos modelos de negócios, como mostra a pesquisa da BCG. O acesso e o uso de dados mais precisos, o processamento de imagens e o monitoramento das plantações, capazes de gerar insights valiosos sobre o desempenho da produção, estão entre as áreas mais promissoras para novos investimentos.

Áreas mais promissoras para investimentos em Agtechs, segundo a BCGagtech-rev-bcg

O Brasil já conta com uma leva consistente de agtechs, as quais têm conseguido atrair volumes crescentes de aportes nos últimos anos, como mostrado pela Istoé Dinheiro. É o caso da Agrosmart, startup que fornece monitoramento em tempo real, a partir de sensores no campo e por satélite, de diversas variáveis ambientais, possibilitando uma melhor tomada de decisão por parte dos agricultores.

Porque o fenômeno das agtechs é importante para o Brasil?

A revolução digital está chegando com força em diversos setores, e tenderá a gerar uma nova onda de investimentos em empresas e grandes benefícios em termos de uso ou geração de valor para seus distintos públicos-alvo, sejam eles consumidores ou empresas. Para uma economia como a brasileira, que possui a agricultura como um setor de grande dinamismo e responsável pela maior parcela da pauta de exportações, as agtechs podem contribuir sobremaneira para a geração de novas tecnologias, novos serviços e novas fontes de valor para o País.

Diversos posts anteriores já discutiram a importância do aumento da produtividade do setor de serviços, em função de seus efeitos positivos para a economia como um todo e para os demais setores da economia, que utilizam vários serviços nas etapas de produção, como é o caso da indústria. A formulação de políticas públicas para o setor de serviços perpasssa, portanto, duas questões essenciais: quais setores são elementos-chave para a elevação da produtividade e competitividade e quais possuem ligação com as vantagens comparativas dinâmicas e estáticas do País.

A melhoria dos serviços de custos forma uma importante agenda para resolução de entraves existentes há décadas pelo Brasil, como infraestrutura e logística. Todavia, conforme apontado por Arbache e Moreira (2015), são os serviços de agregação de valor os que mais contribuem para a elevação da produtividade na indústria, os quais também serão os protagonistas do desenvolvimento e crescimento econômico no futuro, a partir da demanda de uma indústria capaz de produzir bens de alto valor agregado. Raciocínio semelhante pode ser explorado para o setor de agricultura.

Conforme exposto em Arbache (2014) e também pelo blog, a industrialização das vantagens comparativas estáticas e dinâmicas apresenta-se como caminho já utilizado por outras economias, a qual destaca o papel do estímulo ao desenvolvimento de serviços ligados a setores em que o Brasil já possui vantagem comparativa, por meio de políticas que promovam a geração de conhecimento e de desenvolvimento tecnológico. Em relação à agricultura, destaca-se o papel dos serviços ligados à produção agropecuária, biodiversidade e florestas. Tais serviços poderiam contribuir para a ampliação da competitividade em indústrias intensivas em recursos naturais. É nesse contexto que o desenvolvimento das tecnologias pelas agtechs ganha relevância no debate sobre a elevação da produtividade da economia brasileira. A promoção de um ambiente capaz de estimular esse tipo de inovação contribuirá para a geração de serviços que consigam endereçar os problemas enfrentados pela indústria e pela agricultura, ao passo em que promovem serviços de agregação de valor no País, tão importantes para a geração de riqueza nas próximas décadas.