O comportamento on-line das empresas vem se tornando, cada vez mais, um diferencial competitivo. Com as tecnologias de informação e comunicação (TICs)se disseminando e ficando mais acessíveis, saber usar tecnologias para melhoria de processos e rotinas é uma competência essencial. Um dos exemplos mais esclarecedores das novas possibilidades que se abrem para as empresas é o comércio eletrônico: segundo a UNCTAD (2017), o comércio eletrônico gerou mundialmente, em 2015, U$ 22, 4 trilhões, sendo que 88% deste montante foram de comércio B2B e 12% de transações B2C. Portanto, há um mercado em expansão, tendo o ambiente digital como importante palco do comércio mundial. Estar on-line é uma obrigação e não mais uma opção.

E como se dá o contexto do comércio eletrônico no Brasil?

Segundo a pesquisa TIC Domicílios 2016, o Brasil possui cerca de 107 milhões de usuários de Internet. Destes, cerca de 41 milhões (38%) compraram ou encomendaram pela Internet.

Gráfico 1- Proporção de usuários de Internet que realizaram atividades de comércio eletrônico nos últimos 12 meses – 2012 a 2016 – Percentual sobre o total de usuários de Internet

Fonte: TIC Domicílios, 2016, Percentual sobre o total de usuários de Internet

No caso das transações B2C, há desafios a serem superados: como podemos ver abaixo, na maioria dos casos a Internet é usada como suporte da tomada de decisão, mas para a efetivação da compra.

Gráfico 2- Motivos para não comprar pela Internet nos últimos 12 meses (2016) – Percentual sobre o total de usuários de Internet que não adquiriram produtos e serviços pela Internet nos últimos 12 meses

Fonte: TIC Domicílios, 2016

Segundo os dados da pesquisa TIC Empresas 2017, 22% das empresas brasileiras afirmaram que venderam pela Internet, enquanto 66% disseram que compraram pela Internet. Ainda que o indicador de venda pela Internet aumente ao longo dos anos, é razoável supor que se trata de uma proporção baixa, havendo espaço para crescimento.

Gráfico 3 – Proporção de empresas que compraram e venderam pela Internet – Percentual sobre o total de empresas com acesso à Internet (%)

Fonte: TIC Empresas, 2017

Podemos relacionar essa baixa proporção justamente com a presença online: 55% das empresas brasileiras afirmaram possuir um website, sendo que esta proporção se concentra em empresas de grande porte e mercados de atuação específicos.

Gráfico 4 – Empresas que possuem website, 2017 – Percentual sobre o total de empresas com acesso à Internet (%)

Fonte: TIC Empresas, 2017

Quando perguntamos sobre as funcionalidades dos websites das empresas brasileiras, temos a seguinte constatação: os websites possuem informações, mas poucos canais de relação. Em sua maioria, as empresas possuem páginas estáticas, que oferecem informações institucionais, mas poucos canais de venda e de comunicação com os clientes.

Gráfico – 5 Empresas que possuem website por recursos oferecidos nos últimos 12 meses – 2015 e 2017 – Percentual sobre o total de empresas que possuem website (%)

 Fonte: TIC Empresas, 2017

Websites que ofereçam informações claras e bem estruturadas, aliado a canais de relacionamento rápido com o cliente são importantes para atrair o consumidor, estabelecendo uma relação de confiança na transação. Portanto, não é suficiente somente garantir a presença on-line da empresa, saber estar on-line é essencial para as empresas que buscam um diferencial competitivo no ambiente digital.

Os dados da pesquisa TIC Empresas, conduzida pelo Cetic.br, mostram que grande parte das empresas brasileiras não levam em consideração em suas estratégias a atuação no ambiente digital, bem como ainda é incipiente o cenário de comércio eletrônico no Brasil. Se problemas de infraestrutura e conexão são menores entre as empresas, cabe agora enfrentar os problemas de capacitações, isto é, tornar as empresas capazes de operar de forma qualificada com as TIC. Não se trata aqui de desenvolver uma receita para a digitalização das empresas, mas chamar a atenção para o fato que a maioria das empresas brasileiras falha em usos básicos de tecnologias que são essenciais para se inserir em um cenário que toma o ambiente digital como parte estruturante da competição.

 Leonardo Melo é Analista de Informação do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), onde é responsável por conduzir pesquisas sobre o uso das TIC nas empresas brasileiras. Foi pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) e do Observatório da Inovação e Competitividade do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (OIC/IEA/USP). Doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Possui experiência em pesquisas quantitativas e qualitativas. Atua em pesquisas com foco em políticas de ciência, tecnologia e inovação, mudança e aprendizado organizacional.

Referências:

Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.br (2017a). Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros: TIC Domicílios 2016. São Paulo: CGI.br Disponível em: http://cetic.br/publicacao/pesquisa-sobre-o-uso-das-tecnologias-de-informacao-e-comunicacao-nos-domicilios-brasileiros-tic-domicilios-2016/

Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.br (2018). Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nas empresas brasileiras: TIC Empresas 2017. São Paulo: CGI.br. Disponível em: http://cetic.br/publicacao/pesquisa-sobre-o-uso-das-tecnologias-de-informacao-e-comunicacao-nas-empresas-brasileiras-tic-empresas-2017/

Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento – Unctad (2017). Information Economy Report: Digitalization, trade and development. Genebra: Nações Unidas. Disponível em: http://unctad.org/en/pages/PublicationWebflyer.aspx?publicationid=1872