Economia de Serviços

um espaço para debate

Author: Jorge Arbache (page 5 of 7)

O Problema da Inflação de Serviços

Um dos maiores desafios atuais do Brasil é a inflação. Após anos em que ficou relativamente contida para os nossos próprios padrões, a inflação ganhou força no último ano e o IPCA fechou com nada menos que 10,67%, o maior patamar em 13 anos. A aceleração recente da inflação está associada a fatores diversos, incluindo a alta da taxa de câmbio e a recomposição de preços administrados.

Mas um olhar mais cuidadoso para os índices de preços dá motivos para mais preocupação. Isto porque a inflação de serviços tem aumentado sistematicamente mais que a inflação geral nos últimos 13 anos, como mostra a figura abaixo. Em 2015, a inflação dos componentes de serviços no IPCA subiu 30% a mais que o IPCA geral.

O problema é que os serviços respondem por 64% da cesta de consumo das famílias e são insumos fundamentais de produção, com 17% do valor bruto da produção da indústria e por nada menos que 62% do valor adicionado do setor. Logo, a inflação de serviços tem efeitos sistêmicos e contamina toda a economia.

Por que a inflação de serviços é tão elevada? Indexação e situações pontuais, como o expressivo aumento das tarifas de energia em 2015, ajudam a explicar. Mas o que explica mesmo a tendência recorrente de taxa de inflação de serviços mais elevada são a baixíssima produtividade e a baixa competição em muitos dos seus segmentos.

Como temos discutido neste blog, a produtividade do trabalho do setor de serviços é muito baixa e está estagnada. De fato, a produtividade corresponde a 66% da produtividade da manufatura e a apenas 11% da produtividade da mineração. Comparação internacional mostra que um trabalhador brasileiro de serviços produz apenas 19% do que o seu correspondente norte-americano produz. A Baumol cost disease ajuda a explicar o fenômeno.

Já a elevada concentração inibe a competição, a inovação e a eficiência. Parte importante da concentração no país é explicada por marcos regulatórios que dificultam a entrada de novos competidores e até mesmo a competição interna. Serviços financeiros, serviços de telecomunicações, transporte aéreo de passageiros, transporte de cargas e encomendas expressas, que são insumos para a produção e para os negócios, estão dentre os segmentos mais concentrados e regulados.

Sem que a produtividade e a competição aumentem, dificilmente teremos taxas mais modestas de inflação de serviços no longo prazo, o que seguirá tendo impactos diretos e indiretos negativos no bem-estar das famílias, no ambiente de negócios e na competitividade da economia brasileira.

O desenvolvimento de uma política para os serviços que remova os estraves à produtividade e à competição e que incentive o investimento e a modernização do setor seria uma importante luz no fim do túnel.

Figura: Taxa de inflação – número índice 2000=100

Inflacao de serviços

Fonte: IBGE.

Os serviços e a recuperação da indústria brasileira

A indústria brasileira passa por grave crise. Queda da competitividade, da participação no PIB, no emprego e por aí vai. Mas análises detalhadas mostram que tem algo de positivo fora do radar acontecendo no setor.

A figura abaixo mostra a decomposição dos serviços demandados pela indústria em 1996 e em 2012. Embora partindo de base pequena, cresceu significativamente a participação dos royalties e assistência técnica no total, o que sugere que a indústria estaria buscando agregar mais valor.

Serviços não industriais providos por terceiros, serviços industriais providos por terceiros e transporte e logística também tiveram crescimento expressivo. Tal crescimento sugere reestruturação do setor em favor da terceirização da produção.

Outro ponto que chama atenção é a queda da participação das despesas financeiras, o que, além do relativo avanço de outros serviços, pode estar associado aos juros reais mais elevados em 1996 com relação ao ano de 2012.

Políticas que facilitem o acesso à aquisição de royalties e assistência técnica, que modernizem os transportes e que facilitem a adoção de novas formas de produção terão, muito provavelmente, impactos positivos na competitividade das empresas e, portanto, na geração de valor e de empregos.

Este debate está associado às legislações na área da terceirização e outras que podem contribuir para colocar a nossa indústria em linha com o que já acontece na economia mundial.

Decomposição dos serviços demandados pela indústria – 1996 e 2012 –

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Fonte: cálculos do autor com dados da PIA-IBGE

Fonte: cálculos do autor com dados da PIA-IBGE

 

Obrigado

Prezado(a)s leitore(a)s do Blog Economia de Serviços,

Chegamos ao final de 2015 com a grata satisfação de dever cumprido em nosso objetivo de contribuir para a discussão sobre o setor de serviços. Mas, para isto, você, leitor(a), foi fundamental. O número crescente de visitantes e um estoque de visitas bastante respeitável para um Blog novo sugerem que estamos no caminho certo.

Nesses seis meses de vida, publicamos, com a ajuda de valiosos colaboradores, 60 posts, e lançamos o Boletim de Serviços, com dados estatísticos inéditos, e que passou a ser divulgado também pelo Broadcast do Jornal Estado de São Paulo.

O nosso fôlego continua grande e esperamos seguir agregando valor à discussão. Planejamos, para 2016, novos produtos e serviços e esperamos ter uma relação cada vez mais estreita com os nossos leitores.

Obrigado, abraço e um exitoso 2016,

Equipe do Blog Economia de Serviços

Os Serviços são o Âmago da TPP

map of the world

A Parceria Transpacífico (TPP) é o mais amplo e ambicioso acordo de comércio e investimentos jamais feito. A gama de temas cobertos é tão ampla que o acordo mais parece um menu de políticas – trata desde questões fitossanitárias e regras de origem, passando por empresas estatais, uso de tecnologias digitais, investimentos, trabalho, meio ambiente, agricultura, propriedade intelectual, movimento de pessoas, dentre outros.

Uma análise mais cuidadosa tendo como pano de fundo acordos já em vigor, incluindo os que estão por debaixo do guarda-chuva da OMC, e acordos bilaterais, mostra que os passos mais largos e que mais diferenciam a TPP estão na integração e coordenação de capítulos em torno de um núcleo comum, que é o da harmonização e convergência regulatória, remoção de barreiras não tarifárias, acesso a mercados e competição.

Seja em razão de compromissos já firmados na área de bens em acordos já vigentes, seja em razão da crescente relevância dos serviços na economia mundial, pode-se afirmar que o setor de serviços será a atividade mais afetada pela TPP.

O acordo tem capítulos e disposições específicas em áreas de grande potencial de crescimento econômico, como serviços financeiros, telecomunicações, comércio eletrônico, logística, licenciamento, softwares e propriedade intelectual, tudo isto permeado por um capítulo crítico na área de comércio de serviços e outro na área de barreiras técnicas.

Provisões como vedação da discriminação contra empresas estrangeiras, praticamente livre acesso a mercados, extensão dos benefícios da nação mais favorecida às empresas dos países da TPP, não obrigatoriedade de presença comercial como condição para se operar num determinado mercado, lista negativa para proteção de mercado, liberdade de transferências de pagamentos entre fronteiras, reconhecimento da autenticação e da assinatura eletrônicas para e-commerce e liberdade de acesso à internet formam um arcabouço sobre o qual empresas de serviços de um país-membro poderão acessar quase que sem restrições os mercados dos demais países-membros.

Considerando-se que os serviços já são a atividade predominante da economia global, mas que cuja participação seguirá crescendo ao longo dos próximos anos, não nos parece exagero dizer que a TPP, se ratificada, terá impactos substanciais na criação de empregos e na geração de valor para os países que mais e melhor conseguirem se beneficiar das oportunidades do mercado de serviços.

Por isto, também não nos parece exagero dizer que a TPP deverá inaugurar uma nova etapa da globalização.

O Setor de Serviços é Crítico para a Retomada do Crescimento Econômico

A figura 1 mostra estimativas do PIB per capita e de sua taxa de crescimento até 2023. Se as nossas estimativas de taxa de crescimento do PIB per capita para 2016 se realizarem, ou mesmo que algo um pouco mais brando se verifique, ainda assim teremos configurado um quadro técnico de depressão. Infelizmente, as estimativas sugerem que  recuperaremos o PIB per capita de 2014 somente por volta de 2022. Esta perspectiva dramática requer estratégias de política econômica incisivas para se evitar que a economia permaneça estagnada por tanto tempo. E, para isto, teremos que pensar “fora da caixa”.

PIBpc

Diferentemente de setores como a indústria, a agricultura e a mineração, o setor de serviços tem recebido historicamente pouca atenção das políticas de crescimento econômico. Embora o setor esteja atraindo um pouco mais atenção recentemente, ele ainda é visto como parte de uma agenda econômica secundária ou, se muito, complementar. De fato, nunca houve no país uma política para o setor de serviços ou algo que se assemelhe a isto.

Parte da explicação desta desatenção pode ser creditada à grande heterogeneidade do setor de serviços. Mas, ainda assim, o argumento pouco se sustenta à luz da experiência internacional – a União Europeia, por exemplo, reconhecendo a relevância da atividade, divulgou recentemente uma ampla estratégia para a modernização do setor visando competir globalmente. Estados Unidos, Nova Zelândia e outros países avançados também têm as suas estratégias. A China, por sua vez, reconhecendo a baixa competitividade dos seus serviços e a sua vital relevância para as suas aspirações de seguir crescendo velozmente, elegeu os serviços como uma das suas prioridades. E os resultados já começaram a surgir, seja no front da participação do setor no PIB, seja na capacidade de desenvolver tecnologias e agregar valor à indústria a partir de serviços.

No Brasil, a participação dos serviços no PIB e no emprego atinge padrões de países avançados – 72% e 74%, respectivamente. Para além desses números, o setor tem elevada participação nos custos das empresas industriais e de commodities e é parcela majoritária do consumo das famílias, com 64% da cesta de consumo. Logo, o setor é determinante para a competitividade setorial e agregada e é crucial para o bem-estar e para o combate à pobreza. Parece-nos, por isto, mais que razoável concluir que os serviços deveriam ser parte do “core” de qualquer estratégia de saída da crise.

Mas o que fazer? Por certo, há muito a se fazer nos âmbitos regulatório, de integração com outros setores para se fomentar uma relação sinergética e simbiótica, de desenvolvimento de capital humano e de gestão e de atração de investimentos, tal como já vem sendo discutido por este blog. Mas, dentre as chagas do setor que precisam ser atacadas com determinação, destaca-se a sua baixa competitividade.

A figura 2 mostra indicador de competitividade do setor de serviços construído a partir da razão entre preços relativos e produtividade do trabalho (ambos em relação aos EUA). O Brasil está na penúltima posição. Em razão da baixa eficiência e produtividade do setor, políticas inteligentes, bem desenhadas e focadas podem ter retornos elevados e podem ser determinantes para que o país possa abreviar a depressão em que está metido e retomar mais rapidamente o crescimento.

Pensar fora da caixa é atacar um setor esquecido, embora crítico para a economia.

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Um Mercado Global de Serviços?

Temos discutido neste espaço que o setor de serviços já é, de longe, a atividade predominante na economia mundial, tal como atestam indicadores de participação no PIB, no emprego, no comércio internacional, quando medido em valor adicionado, e no investimento direto estrangeiro.

Mas uma nova etapa já está se descortinando, a qual dará ao setor participação ainda maior e mais preponderante. E causas para isso não faltam.

Diferentemente do passado recente, os serviços estão se tornando cada vez mais comercializáveis como se fossem bens manufaturados. Pense nos serviços de compras de varejo, como o e-commerce, nos de entretenimento, como o Netflix e o Spotfy, nos de transporte local, como o Uber, nos de hospedagem e passagens, como o Airbnb e Decolar.com, nas atividades internas e externas de TI das organizações, como o AWS, nos de telefonia, de localização geográfica, de compartilhamento de dados, de educação, de saúde, de seguros e de tantos outros que fazem cada vez mais parte do nosso dia-a-dia.

De fato, os mercados de serviços estão se expandindo tão rapidamente que o impensável já começa a acontecer: empresas start-ups com poucos ativos e  receitas relativamente modestas já valem mais que as suas concorrentes há muito estabelecidas e até que lideram seus respectivos mercados – o Airbnb, por exemplo, vale mais que a Accor, maior operadora de hotéis do mundo!

Dentre as razões para a explosão dos serviços incluem-se a mudança do padrão de consumo das pessoas em favor do consumo de funcionalidades digitais e de novas soluções e a mudança dos modelos de negócios das empresas em favor da terceirização e da servicificação da produção – a GE, por exemplo, já não mais vende as suas turbinas de aviões, mas as disponibiliza como parte de um pacote de serviços.

Mas o grande salto ainda está por vir, que é a constituição do mercado global de serviços.

A semente para o mesmo já foi semeada e é provável que em breve já se colham seus frutos. A semente são os acordos plurilaterais ora em discussão, como o Trans-Pacific Partnership (TPP), o Trans-Atlantic Trade and Investment Partnership (TTIP) e o Trade and Investment Agreement (TISA), que transformarão a economia mundial para sempre.

Uma vez em vigor, os acordos deixarão a Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) e o General Agreement on Trade in Services (GATS) para trás e novos padrões serão estabelecidos pelas vias da harmonização dos marcos regulatórios e técnicos e da remoção de muitos dos demais obstáculos que ainda restam para a formação de um amplo mercado de global de serviços.

Nesta etapa, que deverá decorrer algo em torno de cinco a dez anos, o comércio e os investimentos em serviços crescerão rapidamente e criarão milhões de empregos e trilhões de dólares em valor. Os países mais competitivos e os mais inovadores em serviços serão aqueles que mais se beneficiarão desse mercado.

Testemunharemos, desta forma, aquela que será uma das mais importantes transformações da história da economia mundial recente, com impactos sem precedentes e muito mais contundentes que a da globalização, tal como a conhecemos hoje.

 

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Admirável Mundo Novo

A era da informação, da comunicação e das novas tecnologias veio para ficar. E para transformar. Mudanças abundam em todos os cantos, desde no entretenimento em nossas casas, passando pela escola e até pela forma como iniciam e funcionam as empresas. E, ao que parece, é ali que as mudanças talvez venham a ser mais profundas.

De fato, as empresas estão se valendo de recursos tecnológicos que podem alterar, num futuro não distante, o espectro empresarial e até o funcionamento dos mercados.  Empreendedores têm, hoje, acesso a vastos recursos que reduzem a necessidade de capital inicial, de pessoal e até de certas expertises, já que se pode fazer uso de recursos administrativos/produtivos/operacionais on-demand. Se precisar de escritório, contrata-se um já pronto para o período que necessitar. Se precisar de serviços de TI, contratam-se serviços na nuvem. De softwares específicos ou de design, contratam-se profissionais numa das plataformas especializadas na internet. De manufaturar um produto, contrata-se uma empresa terceirizada de produção no Alibaba. De sistemas de pagamento, contrata-se uma das plataformas de pagamento on-line. De entregar produtos, pode-se recorrer aos serviços expressos. Até se precisar de capital, pode-se valer de crowdsourcing. Segundo a The Economist, essas transformações estão ajudando a alterar o conceito daquilo que entendemos como empresa.

Os  serviços hoje disponíveis estão facilitando enormemente a vida das empresas, em especial das startups, que já nascem com essa perspectiva no DNA e se aproveitam como nenhuma empresa madura das plataformas existentes para desenvolverem ideias e modelos de negócios inovadores. É nesse contexto que surgem os Uber, Airbnb e Netflix da vida. E é nesse contexto que empresas com um pequeno punhado de funcionários já nascem mirando o mercado global, algo impensável para a empresa convencional.

Aqueles recursos, juntamente com a mudança de foco e de cultura, liberam os empreendedores de terem que fazer escolhas difíceis acerca da alocação de recursos escassos da empresa – a internet na nuvem, por exemplo, reduz drasticamente a necessidade de pagamento de licenças, aquisição de equipamentos e contratação de pessoal de TI. Liberam, também, o tempo dos empreendedores e gestores para que se concentrem no seu core-business — pense nos casos do aplicativo WhatsApp, que tinha apenas 60 empregados quando foi adquirido pelo Facebook, na empresa de aspirador de pó, a britânica Dyson, que apenas coordena o desenvolvimento de seus produtos, e na Vizio, marca de TV mais vendida nos Estados Unidos em 2010 e que tinha apenas 200 funcionários naquela altura.

É claro que estamos apenas no início de uma longa jornada. Há muito ainda a acontecer. E é claro que esse modelo de organização da produção funciona para alguns, mas não para todos os setores. Mas a rápida mudança do padrão de consumo em favor dos serviços, o encurtamento do ciclo de vida dos produtos e as novas tecnologias de produção e de organização da produção – com robôs, internet das coisas e impressoras 3D – todos concorrem em favor da evolução e do desenvolvimento da “nova empresa”.

Enquanto isso, empresas grandes, com custos elevados e com modelos de negócios maduros tendem a ser menos flexíveis e se beneficiam menos desse admirável mundo novo. Por isto, devem enfrentar desafios pela frente. Os casos da IBM e do Walmart são representativos e os executivos de ambos já enfrentam dores de cabeça. No caso da IBM, por causa da concorrência dos serviços na nuvem, que estão suprimindo a necessidade de softwares corporativos e outros serviços on-site; no caso do Walmart, por causa da concorrência de supermercados que funcionam apenas on-line e de plataformas de venda direta, que eliminam intermediários.

Para empreendedores de países em desenvolvimento como o Brasil, as novas tecnologias e modelos de negócios são uma grande oportunidade e um atalho para se crescer e virar gente grande em tempo relativamente curto.

Glauber Rocha dizia que fazer cinema requeria “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. No século XXI, empreender vai requerer uma ideia na cabeça e uma batuta de maestro na mão para se orquestrar geração de valor.

Admiravel mundo novo

Os Serviços nas Contas Externas de 2015

O déficit da balança serviços se tornou a principal causa do déficit em transações correntes. Em 2014, o déficit de serviços foi de US$ 48 bilhões, valor correspondente a nada menos que 46,5% do déficit total das contas externas.

No período de janeiro a agosto de 2015, o déficit de serviços foi de US$ 26,4 bilhões, bem menor que os US$ 30,7 bilhões acumulados em igual período do ano passado. No entanto, o déficit de 2015 corresponde a 57,2% do déficit em transações correntes ante 47,1% no mesmo período de 2015 (ver figura abaixo).

Logo, apesar de menor em valor absoluto, a contribuição relativa do déficit dos serviços para o déficit total em transações correntes aumentou significativamente neste ano.

A explicação para tanto é que o ajuste nas contas de serviços tem se mostrado relativamente mais insensível à crise do que o ajuste nas contas de comércio de bens.

De fato, alguns dos principais itens que compõem o déficit de serviços mudaram relativamente pouco ou nada até o momento. As despesas com alugueis de equipamentos (basicamente sondas, plataformas e outros equipamentos para o setor de óleo e gás), principal item do déficit do setor, se mantiveram quase imutáveis. Uma possível explicação disso seria a natureza dos contratos de aluguel, que provavelmente são de médio/longo prazo.

Despesas com viagens, outro item importante para o déficit, também caíram, sobretudo o item de viagens de negócios – as despesas com viagens pessoais caíram menos do que se poderia esperar em razão da crise econômica. Por outro lado, despesas com transportes e seguros caíram significativamente, o que, provavelmente, está associado à queda do movimento do comércio internacional.

O Boletim de Serviços de outubro mostra que, até agora, os maiores ajustes nas contas externas do setor se deram nos serviços de custo e nos serviços tradicionais para empresas. Serviços de agregação de valor, como pagamentos de royalties, e serviços modernos estão se ajustando mais lentamente.

Projeções sugerem que o déficit de serviços de 2015 será entre US$ 39,9 e US$ 41,8 bilhões. Em 2016, o ajuste no setor deverá se acentuar em razão da queda acumulada da renda per capita. É provável, por isto, que o setor de serviços venha a contribuir mais decisivamente para o ajuste nas contas externas.

Serviços nas contas externas

Déficit de serviços nas transacoes correntes

Fonte: Banco Central

Obs.: Déficit de serviços em 2015 – projeção nossa

Modernização dos Serviços e Marcos Regulatórios

Este blog tem insistido no argumento de que a baixa competitividade do setor de serviços compromete a competitividade de toda a economia brasileira.

Indicadores sugerem que, de fato, os nossos serviços têm preços relativamente altos e qualidade relativamente baixa. Não surpreende saber que estamos na penúltima colocação no ranking de competitividade internacional de serviços.

O Global Competitiveness Report 2015/2016 identifica que o Brasil está particularmente mal colocado em áreas críticas para o desenvolvimento dos negócios, como serviços financeiros, de telecomunicações, legais, de logística, de energia, de pesquisa e desenvolvimento e educacionais. A piora das condições de alguns desses serviços ajuda a explicar a significativa queda do Brasil no ranking do Global Competitiveness Report — passamos da 57ª para a 75ª posição do relatório anterior para o atual.

Mas de onde vem tão baixa competitividade? Claro, as causas são muitas, mas uma que se destaca é o marco regulatório. Os serviços em geral são excessivamente regulados para padrões internacionais, muitas vezes com provisões anacrônicas e de difícil justificação. Não por acaso, indicadores internacionais mostram  que a restrição à competição e a reserva de mercado são elevadas quando comparadas a outros países.

A consequência mais visível desse sistema regulatório, que parece ter sido erigido para atender a interesses específicos, é a elevada ineficiência e a baixa competitividade sistêmica.

Considere serviços como os financeiros, legais e de telecomunicações.  Como mostra o gráfico abaixo, os indicadores de restrititividade desses segmentos são superiores aos observados no resto do mundo. No caso dos serviços financeiros, destacam-se reservas de mercado de certos produtos para instituições de capital nacional, barreiras de entrada maiores para capital estrangeiro e outras medidas discriminatórias e elevadíssimos custos iniciais de entrada. No caso dos serviços legais, destacam-se as restrições ao movimento internacional de profissionais e ao exercício da profissão por estrangeiros licenciados em outros países. No caso das telecomunicações, destacam-se inúmeras barreiras que elevam sobremaneira os custos de entrada e restrições ao capital estrangeiro. O problema é que esses  serviços são importantes itens da cesta de insumos das empresas, sendo que os serviços financeiros são, de longe, o serviço com maior peso, com participação de 26% no total de serviços consumidos pela indústria.

A melhoria da competitividade da economia brasileira requer ampla revisão dos marcos regulatórios dos serviços em consonância com as melhores práticas internacionais de forma a que se estimule a modernização e os investimentos no setor e se encoraje a entrada de novos concorrentes.

STRI

 

Serviços, Produtividade e Crescimento

Produtividade é, cada vez mais, motor do crescimento econômico. Para ser produtiva, uma economia requer conhecimento, infraestrutura, conectividade, interação com outras economias e ambiente e instituições favoráveis para que os recursos sejam realocados dos setores menos para os mais produtivos.

Mas, nos dias de hoje, em que complementariedade e sinergia entre setores são cada vez mais determinantes para a criação de valor, é especialmente importante que os segmentos envolvidos numa cadeia de valor também sejam produtivos. Essa relação será tão mais relevante quanto mais a economia for integrada à economia global.

O que acontece no Brasil? Considere o setor de serviços. A produtividade do setor de serviços é muito baixa para padrões domésticos e internacionais. De fato, a figura abaixo mostra o índice de competitividade do setor de serviços de 42 países avançados e emergentes. O setor de serviços do Brasil só é mais competitivo que o do Chile. (*)

O problema é que, primeiro, os serviços são o maior setor da economia, já perfazendo 70% do PIB, e a sua participação no produto segue aumentando. Segundo, o setor já contribui com a maior parte do valor adicionado de outros setores – no caso da indústria, essa contribuição já passa dos 64%.

Como consequência, os serviços são os principais determinantes da baixa produtividade agregada e “intoxicam” outros setores que os consomem como insumos.

Por que os serviços são tão pouco competitivos? E por que eles são tão grandes e influentes? Claro, são muitas as causas; destacamos aqui apenas alguns dos aspectos que consideramos mais relevantes.

O setor de serviços é pouco competitivo porque ele é muito protegido por regulações que inibem a competição. Reservas de mercado, regras e variados obstáculos desencorajam a entrada de novos competidores e mesmo a saída do mercado de empresas pouco eficientes. Em vários segmentos, a importação de serviços pode ser um desafio quase intransponível.

O setor é anormalmente grande para padrões internacionais porque a indústria, depois de ter atingido um pico de participação no PIB de 35% em meados da década de 1980, começou a contrair prematura e rapidamente. O setor de serviços, especialmente o de consumo final, que é o menos produtivo, foi o seu principal herdeiro no PIB e no emprego.

Já a elevada participação dos serviços no valor adicionado de outros setores se deve a tecnologias de organização da produção e a mudanças de preços relativos em favor dos serviços.

A volta do crescimento econômico no Brasil passa pelo setor de serviços. Será preciso introduzir reformas ambiciosas que aumentem a competitividade e a produtividade do setor, quebrar cartórios e monopólios e flexibilizar mercados, ao tempo em que se leva adiante políticas de acesso a tecnologias modernas, capital humano, conhecimento e crédito e políticas de atração de parcerias e de capital estrangeiro para o setor.

 

Competitividade dos serviços - indicador internacional

(*) O índice de competitividade internacional resulta da relação entre preços relativos e produtividade do trabalho. Elaboração e desenvolvimento próprios.

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