Falácia da composição é um dos mais importantes princípios da teoria econômica. Porém, é, também, um dos menos conhecidos. Embora o princípio não seja próprio da economia, ele foi empregado por muitos dos grandes economistas, com destaque para Paul Samuelson, para análises de problemas econômicos fundamentais.
De forma simples, o princípio diz que o que é válido para a parte pode não necessariamente ser válido para o todo. Trata-se de um problema de não neutralidade da agregação. Por exemplo, é provável que um torcedor acompanhe melhor as jogadas do seu time se ele estiver de pé no seu assento no estádio; porém, é improvável que o mesmo seja válido para cada torcedor se todos os demais torcedores também estiverem de pé.
O princípio da falácia da composição é útil para jogar luz em muitas situações de áreas tradicionais da microeconomia, como a organização industrial, economia do trabalho, economia do consumidor, finanças públicas, comércio internacional, dentre outras.
Mas a falácia da composição também parece ser útil em áreas novas, como a economia digital. De fato, quando combinado com a comoditização digital, conceito tanto explorado por este blog, o princípio da falácia da composição nos ajuda a entender fenômenos críticos da economia digital.
A falácia da composição surge em ao menos duas situações. Empresas que empregam, logo no início, tecnologias sujeitas aos modelos de negócios da comoditização digital tendem a se beneficiar mais do que as que as empregam mais tardiamente, quando as tecnologias já se tornaram “commodities”. Àquela altura, o emprego da commodity digital passa a ser uma espécie de condição de operação e não mais um diferencial competitivo.
Uma outra situação surge em decorrência do efeito-rede e do efeito-plataforma, duas das características mais fundamentais da economia digital, e que ajudam a explicar a crescente concentração dos mercados digitais, as dificuldades para se contestar o poder das big-techs e a ascensão e queda dos unicórnios. Trata-se do princípio do “winner takes all”, ou da economia das superestrelas.
Em ambas as situações, “chegar primeiro” pode fazer toda a diferença para as chances de sucesso. Mas chegar primeiro não é algo restrito às decisões da empresa, mas, também, condicional às suas circunstâncias, incluindo as políticas públicas do país e o ambiente para investir e fazer negócios.
O emprego da falácia da composição para a análise econômica em economia digital é, porém, altamente sensível à escolha adequada do ponto temporal de partida do fenômeno que se examina. Aqui, a maldição do t-0 é especialmente relevante.
Por fim, a comoditização digital e a falácia da composição ajudam a explicar o paradoxo da desaceleração da taxa de crescimento da produtividade em pleno ambiente de popularização das tecnologias da informação e de queda nos preços relativos dos bens de capitais. Esta pode ser uma das chaves para se compreender a estagnação secular.
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