Por Adilson Giovanini e Marcelo Arend
No livro “The atlas of economic complexity: Mapping paths to prosperity”, Hausmann et al. (2014) argumentam que o grau de desenvolvimento dos países depende da quantidade de conhecimento produtivo possuído por eles. A forma encontrada pela sociedade para fabricar bens sofisticados é a divisão do conhecimento necessário em “pedaços”.
Deste modo, a capacidade produtiva de cada sociedade pode ser mensurada pela sua capacidade de reter, criar, modificar, organizar, distribuir e utilizar os conhecimentos possuídos pelos trabalhadores. As sociedades mais desenvolvidas conseguem gerir de modo mais eficaz os conhecimentos que possuem a sua disposição. De forma análoga, os países menos desenvolvidos não conseguem acumular, distribuir, gerir e reunir conjunto elevado de conhecimentos. Eles possuem menor quantidade de conhecimento produtivo, o que limita a sua capacidade produtiva fazendo com que eles não consigam fabricar produtos com elevada sofisticação tecnológica.
Diante deste contexto, surgem os seguintes questionamentos: será que as práticas de gestão internas adotadas pelas firmas influenciam no tamanho do seu setor e no seu grau de desenvolvimento? O comportamento das firmas é capaz de explicar a baixa sofisticação da estrutura produtiva brasileira?
Desde 2004 o World Management Survey aplica um questionário que mensura as práticas de gestão adotadas pelas firmas de 34 países. Entre outros aspectos, a pesquisa avalia a capacidade de formação, retenção e reconhecimento de talentos das firmas localizadas nestes países. Isto é, identifica se elas possuem cultura interna voltada para o desenvolvimento, expansão e adequada reunião dos conhecimentos detidos pelos seus funcionários.
O indicador global desenvolvido pelo World Management Survey apresenta correlação de 86% com o Índice de Complexidade Econômica (Gráfico 1). Isto pode ser um indicativo que as práticas de gestão interna contribuem para o aumento no nível de sofisticação da estrutura produtiva dos países.
Gráfico 1 – Correlação existente entre o índice do complexidade econômica e as práticas de gestão adotadas pelas firmas
Fonte: Adaptado de The Observatory of Economic Complexity e World Management Survey
O indicador disponibilizado pelo World Management Survey também possui correlação de 81% com a participação do setor de serviços no valor adicionado (Gráfico 2). Este resultado pode ser um indicativo que as práticas de gestão interna contribuem para a participação do setor de serviços no PIB. A adoção de práticas de gestão interna que estimulam a expansão da base de conhecimentos possuída pelas firmas parece contribui para o aumento na demanda por serviços intermediários.
Gráfico 2: Relação existente entre as práticas de gestão interna e a participação do setor de serviços
Fonte: Adaptado de The Observatory of Economic Complexity e World Management Survey
Conforme mostrado no Gráfico 3, o Brasil se encontra mal posicionado no indicador global de gestão interna desenvolvido pelo World Management Survey para o período 2004-2015. Ele está na 20ª posição entre os 34 países analisados, com escore global de 2,66. Ademais, a análise desagregada dos dados mostra que os quesitos nos quais o Brasil se encontra pior posicionado são: construção de uma cultura de alta performance (32ª posição), proposta de valor ao empregado (27ª), desenvolvimento de talentos (26ª) e retenção de talentos (24ª).
Gráfico 3- Comparação internacional das práticas de gestão interna adotadas pelas firmas no período 2004-2015
Fonte: adaptado de World Management Survey
Estes dados podem indicar que, em geral, as firmas brasileiras possuem políticas inadequadas ao desenvolvimento de talentos. Além, disso, a maior parte delas também não adotam medidas que buscam reter seus melhores talentos e não possuem cultura voltada para a valorização dos funcionários mais talentosos e com maior produtividade. A presença de práticas de gestão interna desfavoráveis à expansão da base de conhecimentos pode dificultar a migração da estrutura produtiva do país para produtos mais sofisticados em termos tecnológicos e talvez explique o baixo desenvolvimento do setor de serviços intermediários.
Como corolário se defende a adoção de políticas que incentivem as firmas nacionais a adotarem melhores práticas de gestão. Isto pode contribuir para o aumento do tamanho relativo do setor de serviços e para o aumento da sofisticação da estrutura produtiva nacional. Isto é, para o desenvolvimento econômico do Brasil.
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