Como já discutido em posts anteriores, pelo fato de os serviços ainda serem, em sua maioria, não comercializáveis entre fronteiras, estes dependem da demanda doméstica. Portanto, o desempenho do setor tende a ser pró-cíclico. Como não poderia ser diferente, o setor de serviços tem sido fortemente impactado pela desaceleração econômica dos últimos anos.
Como é possível ver no gráfico 1, o setor de serviços tem registrado contração desde o início de 2014, por 10 trimestres consecutivos. Esta é a primeira vez na série histórica (iniciada em 1996) que isso acontece.
Com relação ao primeiro trimestre de 2015, o valor adicionado do setor de serviços diminuiu 5,8%. Como é possível ver no gráfico 2, a piora do setor é generalizada. Desde o início de 2015, todos os subsetores de serviços cobertos pelo IBGE acumularam perda, variando de 0,1% (atividades imobiliárias) a 14,5% (comércio).
Tal resultado tem consequências importantes. Desde janeiro de 2015, o setor apresenta saldo negativo de emprego de mais de 1,5 milhão de vagas, consideravelmente pior que o do setor industrial, com saldo negativo de 711 mil vagas, e que a agropecuária e indústrias extrativas, que, juntas, apresentaram saldo positivo de cerca de 50 mil vagas (dados do Boletim de Serviços). Note que até 2014, o setor de serviços era a principal âncora do emprego.
Ainda não há sinais claros de que o setor já tenha chegado ao “fundo do poço”, porém, desde o fim do primeiro trimestre de 2016, os Índices de Confiança de Serviços (ver Gráfico 3) e do Consumidor, da FGV têm registrado altas consecutivas. Apesar de ainda seguirem consideravelmente abaixo de suas médias históricas, esses podem ser os primeiros indícios de que uma recuperação pode estar a caminho.
Por suas características pró-cíclicas, é provável que o setor volte a crescer com a recuperação da economia como um todo, o que será positivo, mas não suficiente para as necessidades do país. Para que a economia brasileira saia desta crise mais competitiva e resiliente, será preciso que os graves problemas do setor de serviços, tais como a sua baixa produtividade, o seu alto custo e a sua baixa inserção em cadeias globais de valor, façam parte da agenda das políticas de crescimento econômico.
Gráfico 3 – Índice de Confiança dos Serviços (dessazonalizado).
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