Nas palavras do famoso cientista da computação Mark Weiser, “as tecnologias mais importantes são aquelas que desaparecem; elas se integram à vida do dia a dia, ao nosso cotidiano, até serem indistinguíveis dele”. É nesse contexto que a Internet das Coisas (IoT) encontra solo fértil. A proposta é conectar tudo à Internet de forma a facilitar a vida dos usuários e promover constantes interações. Seria a terceira fase da internet, que já passou de uma rede de computadores (1ª fase) para uma rede de pessoas e comunidades (2ª fase).
As cifras da IoT apresentam crescente exponencial. Estima-se que em 2015 a Internet das Coisas gerou US$ 779,9 bi. de entradas, crescimento de 18,9% em um ano. Apesar desse montante, essa área ainda parece pouco explorada. Segundo estimativa de Amil Menon, executivo da Cisco, menos de 2% das coisas estão efetivamente conectadas.
Por mais que a realidade da Internet das Coisas pareça distante do Brasil, já existem exemplos de cidades latino-americanas que estão utilizando a tecnologia para resolver problemas do cotidiano. Desde 2008, Buenos Aires tem passado por um processo de modernização da administração pública por meio da IoT, que resultou na automatização e integração de diversos aspectos da cidade.
O melhor exemplo disso foi a implantação do programa “cidades futuras”, após grandes inundações que acometeram a cidade em 2013. O programa coleta dados, por meio de sensores que medem a direção, a velocidade e o nível da água nas ruas. As informações são disponibilizadas para a prefeitura de Buenos Aires em tempo real, o que torna a tomada de decisão muito mais ágil.
Mas o que cidades inteligentes e a Internet das Coisas têm a ver com o turismo? Imagine chegar a um hotel no qual você nunca esteve e não precisar preencher aquela enfadonha ficha de hospedagem? Mais do que isso, chegar ao quarto e encontrar uma decoração baseada nas suas preferências. Um colchão que regula a temperatura de acordo com a sua sensação térmica e inclina a cabeça de seu companheiro roncador. Nas refeições, um cardápio desenvolvido especialmente para você, que quer perder alguns quilinhos. No final do dia, uma pré-reserva, com desconto, para aquela festa que você pesquisou quando estava planejando a viagem. E, no dia seguinte, um city tour exclusivo pelos cantinhos mais remotos e interessantes do destino. Tudo isso feito pelo hotel sem nada te perguntar, apenas com base nas informações colhidas na internet e ajustadas para sua hospedagem.
A IoT também pode ser a solução para o controle da capacidade de carga de pontos turísticos naturais, como parques e grutas. Pode, ainda, auxiliar na mensuração do fluxo turístico das fronteiras, por exemplo. Tudo isso com base em um simples dispositivo acoplado a carros que é lido por câmeras de vigilância.
Naturalmente, tamanha omnisciência tem seu custo. Ao acessar sites e aplicativos, mesmo sem perceber, deixamos vários dados pessoais disponíveis. Estamos dispostos a abrir mão de nossa privacidade para estarmos cada vez mais conectados?
Além disso, para funcionar bem, a Internet das Coisas exige um acesso rápido e confiável. Como se sabe, o Brasil ainda tem grandes deficiências nesse quesito, o que pode ser agravado caso as provedoras de internet passem a impor limitações no tráfego de dados. Essas questões podem ser especialmente limitadoras em destinações turísticas fora dos grandes centros.
Não obstante esses desafios, a Internet das Coisas tem potencial para ser um importante aliado do mercado de turismo, ajudando a proporcionar experiências únicas, que ficam marcadas na memória do cliente. Se o pensamento de Weiser se concretizar, em breve a IoT deixará de ser um diferencial e será pré-requisito do mercado de turismo.
O mundo dos Jetsons está chegando e o turista tem muito a ganhar. Resta saber se teremos infraestrutura suficiente para isso e se os empreendedores de turismo enxergam a Internet das Coisas como oportunidade ou como só mais um gasto.
Graziele Vilela é mestranda em Turismo pela Universidade de Brasília (UnB) e Coordenadora Nacional dos segmentos de turismo de sol e praia e turismo cultural do Sebrae. |
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