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2025: o ano do ensino massivo, online e aberto

[Este post faz parte da série “10 Tendências que afetarão o ensino superior até 2025]

Sebastian Thrun estava certo, apesar dos escorregadas de previsão acumuladas pelo caminho. Em 2015, o co-fundador da Udacity disse que, em 2025, a formação baseada em Cursos Massivos Abertos e Online (MOOCs, em inglês) estaria não apenas consolidada, seria um padrão global, capaz de deixar para trás, finalmente, a atual estrutura, criada nos séculos passados.

A Udacity é fruto de um experimento na Universidade de Stanford, onde os fundadores Sebastian Thrun e Peter Norvig lecionavam e queriam fazer um curso aberto para o mundo. Inicialmente, eles criaram a plataforma para oferecer um curso aberto e gratuito de “Introdução à Inteligência Artificial”. Após o estrondoso sucesso, com mais de 160 mil alunos inscritos em 190 países, a  plataforma começou a operar comercialmente em 2011. Atualmente, conta com centenas de cursos criados em parceria com empresas como Amazon e Facebook.

Em 2025, de uma forma geral, os cursos de formação profissional, inclusive os universitários tradicionais, deverão ter perdido espaço e sentido com o amadurecimento das tecnologias e com a transformação dos modelos de ensino. O ensino será mais online porque a internet terá altíssima velocidade. Ele deverá ser também mais aberto, como consequência das mudanças e eliminação dos entraves vinculados às atuais normas e regras de ensino. Os MOOCs deverão ser, também, fenômenos de massa, pois as tecnologias possibilitarão a formação de turmas globais.

Entre erros e acertos

O criador do Udacity foi ousado. Além de dizer que os seus “diplomas” seriam um padrão, ele também previu que, por volta de 2065, haveria apenas uma dezena de instituições educacionais no mundo fornecendo educação superior, e que a Udacity seria uma delas. Porém, até aqui, o caminho para essa dominação não parece tão simples como de início, quando o mercado era dominado por Udacity, Coursera e edX, as três pioneiras no segmento MOOC.

Em 2012, talvez empolgado pelo crescimento acelerado do segmento, o New York Times chegou a declarar 2012 como o ano do MOOC. Foi o ano em que as três empresas pioneiras criaram uma onda e prometeram um tsunami positivo.

Dois anos depois, em 2014, o próprio Sebastian Thrun voltou atrás em suas convicções absolutas. Ele disse, então, que “o MOOC básico é ótimo para os 5% melhores estudantes, mas não é ideal para os 95% restantes “. Como resultado, o  Udacity mudou suas prioridades de curto prazo e implantou estratégias para se tornar uma das 10 maiores instituições do mundo com foco em treinamento corporativo e profissional.

A concorrência também cometeu erros de avaliação. Também em 2012, Anant Agrawal, CEO da edX, previu que, em menos de um ano, uma das universidades parceiras da edX ofereceria um diploma puramente online. Os anos se passaram desde então e ainda não há sinal de diploma puramente online de nenhuma das instituições parceiras. Em 2015, a Coursera, fundada por dois professores de Stanford, é, de longe, a maior em termos de número de cursos oferecidos e estudantes matriculados.

Em 2025, os atestados de sucesso

O tempo passou, o tempo voou nos braços da revolução digital e os MOOCs passaram pelo processo de amadurecimento, como qualquer outro negócio. Em 2025, aos 58 anos, cada vez mais remoçado, Sebastian Thrun reconhecerá que a transformação da educação superior ocorreu por razões diferentes daquelas inicialmente imaginadas.

Inclusive, Thurn terá se equivocado com relação à expectativa de uma enorme quantidade de estudantes recorrendo às instituições de ensino de ensino massivo. O desenvolvimento dos MOOCs terá se adaptado, então, a mudanças sociais. Ok, até lá, a tecnologia terá consolidado o avanço exponencial previsto. As aulas serão em realidade mista, com a incorporação de benefícios dos avanços da holografia. E, com a tradução instantânea, será possível integrar turmas em todos os idiomas.

Todas as condições para a existência de cursos superiores integralmente online via MOOCs estarão disponíveis no cenário. O problema deverá ser, ironicamente, o excesso de tecnologia. Cada cidadão global deverá ter 9,5 dispositivos tecnológicos vinculados a ele. Portanto, é possível prever, também, uma onda anti-MOOCs, como um desejo global de resgatar a humanização do ensino. Com isso, é provável que o segmento siga evoluindo.

Virtualização da Educação

[Este post faz parte da série “10 Tendências que afetarão o ensino superior até 2025]

[1]Nota dos autores

O cenário será marcado pela utilização massiva de tecnologias e metodologias de ensino a distância (EAD), e-learning, ensino híbrido — on e off line — blended learning, mobile learning entre outras.

Um estudante universitário de 2017 que acorde em uma universidade do ano de 2025 terá um susto ao perceber a diferença do ensino a distância atual em relação ao do futuro. Mesmo em prazo tão curto, os saltos exponenciais da evolução tecnológica asseguram que cursos virtuais terão poucas semelhanças com o que se pratica na atualidade.

Na verdade, os conteúdos e a forma oferecidos atualmente pelas escolas, mesmo no exterior, podem ser avaliados como partes da pré-história do ensino intermediado pela tecnologia. Não haverá o smartphone, o desktop, a internet lenta e o excesso de textos. O vídeo será o padrão. Não em telas, mas em qualquer suporte, seja em uma mesa, uma parede, espelho ou no chão.

A força da digitalização de tudo

Para compreender a diferença profunda entre duas realidades é necessário identificar as principais forças das transformações tecnológicas vigentes por volta de 2025. O funcionamento do mundo estará moldado pela capacidade de processamento, velocidade de tráfego de informações e poder de armazenamento da computação.

Será a internet ultra veloz, no planeta que estará mais próximo da computação quântica, propiciando força adicional à inteligência artificial. Entenda que os computadores serão praticamente invisíveis, como a eletricidade. Basta um botão — virtual — para acessar a rede em qualquer lugar, por qualquer plataforma.

Sistemas inteligentes adotados em processos de e-learning serão capazes de entender que a frase “vou chutar o balde” tem um significado diferente de “vou dar um chute em um recipiente de transportar água”. Ou seja, vai entender a linguagem natural através da qual os seres humanos se comunicam.

Máquinas que aprendem, que processam a fala, a ponto de “enganar” os interlocutores, e que reconhecem imagens já são tecnologias quase prontas. Agora, pense no seguinte: em pouco mais de sete anos, será possível acompanhar a aula de um professor em japonês ou mandarim. E trocar ideias com os seus colegas japoneses, chineses, sul-africanos em conversas animadas. Com tradução simultânea. E por voz.

Agora, a pergunta que não pode ser calada: será possível convencer o nosso estudante a sair de casa, enfrentar distâncias mesmo que em um carro confortável e totalmente automático para ter uma aula diante de um professor, no modelo atual? A resposta mais provável é que não. Parece mera questão de lógica. Estudantes vão querer experiências imersivas, mesmo em uma aula sobre filosofia de Platão, sobre literatura gótica ou matemática integral e derivadas.

É natural que se espere, para 2025, que os recursos de tecnologia educacional oferecidos aos alunos, mesmo em sala de aula, estejam todos adaptados para atender aos diferentes interesses e necessidades da comunidade de aprendizado. Adicione, então, à capacidade de processamento e à internet em todos os lugares a oferta dos sistemas de virtualização de imagens — realidades virtual (RV), aumentada (RA) e mista (RM) — e a receita para o fortalecimento do ensino a distância estará completamente definida.

Corrida pela adoção

A carência das melhores tecnologias não impede que já se tenha iniciado o movimento pela adoção das estratégias associadas ao ensino superior a distância. Nos Estados Unidos, por exemplo, universidades renomadas já aderem à modalidade de educação virtual. Em maio, a Universidade de Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) firmaram parceria para oferecer versões online de seus cursos presenciais.

As estatísticas revelam que, atualmente, 12% dos alunos de ensino superior estão na modalidade de ensino a distância. Já em 2022, estima-se que o segmento será responsável por 16% do total de matriculados. Deverão ser 1,2 milhão de pessoas, com crescimento médio anual de 3,8% até lá.

O potencial de crescimento se dá por causa da conveniência e custo mais baixo comparados aos cursos tradicionais. O avanço de tecnologias como realidade virtual, que possibilitam chats ao vivo, produção audiovisual intensa e softwares para provas e exames, por exemplo, também colabora para a disseminação desses cursos e para maior aceitação deles.

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[1] Este post é o primeiro da série que detalhará as dez tendências que afetarão o Ensino Superior até 2025. Os posts são baseados no estudo “10 tendências que moldarão o ensino superior no Brasil até 2025”, produzido pela empresa de consultoria Nous SenseMaking, de qual os autores fazem parte.

Brenner Lopes é Mestre em Administração com ênfase em Inteligência Competitiva e é sócio na Consultoria Nous SenseMaking.
 Carlos Teixeira é jornalista e futurista, consultor associado da Nous SenseMaking. Especialista em Comunicação Integrada, Gestão da Informação e Inteligência Estratégica. É editor do site Radar do Futuro

 

O Ensino a Distância pode melhorar o desempenho educacional do país?

Em um post anterior, Tiago Xavier abordou a relação entre o setor de tecnologia da informação e comunicação e o desenvolvimento econômico. E quanto à educação? É possível utilizar tecnologias de informação para melhorar o desempenho educacional do país? A resposta parece ser positiva, e um dos caminhos para obter essa melhoria é a modalidade de educação a distância (EaD).

Para as empresas que adotam a EaD, para os estudantes e também para os educadores, essa modalidade apresenta diversos benefícios, como, por exemplo, a flexibilidade nos horários das aulas, a autonomia para os estudos, e a redução dos custos com deslocamento. O Canadá foi o pioneiro na educação a distância e hoje é membro global do Conselho Internacional de Educação Aberta e a Distância. Das 56 universidades canadenses existentes, 53 oferecem cursos a distância.

No Brasil, a EaD permitiu a ampliação no número de alunos que podem obter o nível superior sem que estes necessariamente precisem abrir mão de outras atividades que os impedem de comparecer às aulas presenciais, dada a possibilidade de adaptar as aulas aos seus horários disponíveis. Além disso, essa modalidade permite que estudantes tenham aulas com professores qualificados, em qualquer lugar do mundo, sem a necessidade de deslocamento. As empresas que adotam a EaD também economizam, visto que não há a necessidade de um espaço físico com estrutura para aulas presenciais.

Apesar dos benefícios, o ensino a distância traz alguns desafios. De acordo com o Censo realizado pela Associação Brasileira de Ensino a Distância, a evasão é o maior obstáculo enfrentado por instituições que oferecem cursos remotos, seguida da resistência dos educadores quanto à modalidade de EaD. Portanto, por parte das instituições de ensino, presar pela motivação dos alunos e contratar professores qualificados e atenciosos é condição essencial para o sucesso de cursos desse tipo.

Assim, os investimentos em EaD devem ser realizados com cuidado. É necessário que haja um contínuo monitoramento das atividades. Universidades como Harvard e MIT estão estudando como o big-data pode melhorar a atuação de seus professores em cursos online.

Presente em diversas áreas do conhecimento (ver Gráfico 1), o ensino a distância ainda recebe relativamente pouco investimento público. A maior parte dos investimentos realizados nessa área são privados e isso parece gerar disparidades regionais (ver Censo EaD 2014). No Brasil, 41% das instituições que oferecem cursos EaD estão no Sudeste; 25%, na Região Sul; 15%, no Nordeste; e 10%, no Distrito Federal. A menor quantidade de instituições encontra-se nas regiões Norte e Centro-Oeste (excluindo-se o DF), que, juntas, somam 9% do total.

O caso da EaD é apenas um exemplo de como uma economia globalizada e com trocas de informações e serviços pode melhorar e promover o crescimento de alguns setores. Economias que possuem excesso de mão de obra qualificada, ou aquelas que conseguem desenvolver melhores pesquisas em determinadas áreas, podem auxiliar os países menos desenvolvidos nessas áreas. Nesse contexto, a profusão de cursos online abertos do tipo MOOCS (Massive open online course), bem como a iniciativa MIT OpenCourseWare (que disponibiliza online o conteúdo dos cursos do MIT), são interessantes exemplos.

Gráfico 1. Percentual de cursos regulamentados e totalmente a distância: ofertados em 2014, por área do conhecimento

Senza titolo

Fonte: Censo da Associação Brasileira de Ensino a Distância (2014/2015)