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O Setor de TIC no Brasil e o Networked Readiness Index (NRI) do Fórum Econômico Mundial

O Fórum Econômico Mundial, em parceria com pesquisadores das universidades de Cornell e INSEAD, publica anualmente, desde 2001, uma série chamada Global Information Technology Report (GITR). O relatório apresenta um panorama global anual do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). São avaliados, sob o ponto de vista das tecnologias da informação, cento e cinquenta e dois países. O processo de avaliação é efetuado por meio de um índice desenvolvido para medir o nível de preparo tecnológico das economias avaliadas. Este índice é denominado Networked Readiness Index (NRI) e seu principal objetivo é avaliar o grau de propensão dos países analisados no relatório para explorar as oportunidades oferecidas pelo setor de TIC, possibilitando, com isso, identificar áreas de prioridade para alavancar o desenvolvimento.

Nesse sentido, o GITR é tido como a mais compreensiva avaliação de como as TICs impactam a competitividade e o bem-estar das nações e suas populações. O NRI, medido em uma escala que varia de 1 a 7, é composto por quatro categorias principais, dez pilares e cinquenta e três indicadores. Ele avalia não só o grau de desenvolvimento da infraestrutura dos países, mas também o cenário ambiental para o desenvolvimento de novas tecnologias, bem como o quanto elas estão integradas à vida e ao cotidiano da sociedade. As quatro categorias principais do NRI são:

  1. Categoria Ambiental: avalia as condições do ambiente de mercado e a estrutura regulatória dos países. Indicadores: efetividade do corpo legislativo, número de dias para se abrir um negócio;
  2. Categoria do Preparo: avalia a infraestrutura e se ela favorece a captação e o desenvolvimento do setor de TIC. Indicadores: cobertura da rede móvel celular, tarifas do setor de TIC (telefonia, banda larga);
  3. Categoria do Uso: avalia a adoção das TICs pelos principais stakeholders que compõem a sociedade. Indicadores: número de assinaturas de banda larga residenciais, índice de serviços de governo online;
  4. Categoria do Impacto: avalia a efetividade e o impacto econômico e social derivados do setor de TIC. Indicadores: Impacto das TICs no acesso a serviços básicos, acesso à internet nas escolas.

O Brasil ocupa atualmente a 84ª posição no ranking do NRI. A posição é bastante baixa, tendo-se em vista que o país está entre as dez maiores economias do globo. Comparando-o com seus similares, o Brasil aparece à frente apenas da Índia, quando comparado entre os BRICS. A Rússia, país com dimensões similares e com desafios de infraestrutura também parecidos, aparece consideravelmente à frente do Brasil, na 41ª posição do ranking.

Avaliando-se o NRI do Brasil aberto, percebemos que os maiores ofensores estão nos indicadores da categoria ambiental: a efetividade do corpo legislativo é avaliada como ruim, com 2,54 pontos de um total de 7. A Rússia possui 3,58 pontos neste quesito, enquanto a África do Sul possui 4,12. O indicador de número de dias para se abrir um negócio também é muito impactante para o Brasil: 83 dias, enquanto Rússia (11,2) e África do Sul (19) apresentam números abaixo de 20 dias. A alta carga tributária brasileira também desponta como um dos principais ofensores: por aqui, ela alcança 69% dos lucros das empresas; na África do Sul, 28,8%.

O Brasil também apresenta resultados ruins na categoria do impacto. Analisando-se os impactos econômicos, temos um número de patentes PCT (Patent Cooperation Treaty) no setor de TIC extremamente baixo, consequência direta do baixo incentivo à pesquisa e o baixo investimento em P&D no país. O percentual de empregos intensivos em conhecimento também é baixo no Brasil: 21% do total. A Rússia possui 43%. Esse resultado é consequência direta da queda da participação da indústria no PIB brasileiro, bem como da dominância do setor de serviços, formado basicamente por serviços de custo, pouco desenvolvidos. Hoje, o setor é responsável por mais de 70% do PIB e por 80% da mão de obra no Brasil.

Analisando-se os impactos sociais, temos um número baixo de escolas públicas conectadas à internet no Brasil. Além disso, a qualidade da conexão das escolas já conectadas pode ser considerada ruim. Outro indicador de impacto social, o do uso das TICs para eficiência governamental, também deixa a desejar. Prova disso é o recente caso do site e-social, criado para simplificar a emissão de guias tributárias do simples doméstico para o cidadão, e que ganhou destaque na imprensa pelos problemas apresentados e pela ineficiência em prestar o serviço a que foi proposto.

Assim, por tudo que foi aqui exposto, podemos afirmar que o desenvolvimento do setor de TIC vai muito além da melhoria da infraestrutura como a expansão da banda larga e da cobertura móvel celular, por exemplo. Hoje, os principais ofensores brasileiros estão nas categorias ambiental e de impacto, o que demonstra claramente um problema de coordenação. O país precisa de reformas: política, para tentar reverter o quadro de inefetividade de seu corpo legislativo; administrativa, para rever a burocracia que hoje sufoca o empreendedorismo; tributária, para diminuir a alta carga de impostos que sufoca indústria, comércio e contribuintes; dentre outras.

De nada vai adiantar alcançar 100% do território nacional com fibras ópticas e cobertura celular se esta infraestrutura não for aproveitada pela sociedade como um vetor para o desenvolvimento e para a transformação social. O setor de TIC só pode ser considerado efetivamente desenvolvido se, além de alcançar a maior parte dos usuários, também for utilizado para melhorar o acesso da população aos serviços básicos, melhorar a disseminação da informação na sociedade e criar novas oportunidades de emprego, funcionando como um catalisador de inovação e retroalimentando o sistema em busca de novas tecnologias e novos serviços, formando assim um círculo virtuoso.

PAÍS RANKING 2015 NRI 2015
Cingapura 1 6,02
Finlândia 2 6,00
Suécia 3 5,84
Holanda 4 5,80
Noruega 5 5,76
Suíça 6 5,68
Estados Unidos 7 5,64
Reino Unido 8 5,62
Luxemburgo 9 5,62
Japão 10 5,60
Rússia 41 4,53
China 62 4,16
África do Sul 75 3,99
Brasil 84 3,85
Índia 89 3,73

 

Tiago XavierTiago Xavier é engenheiro eletricista graduado pela Universidade de Brasília em 2003. Com sua formação voltada para a área de telecomunicações, trabalha há mais de dez anos com Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), com atuação em diversas empresas privadas e públicas.

 

Whatsapp e telefonia: serviços substitutos ou complementares?

Nos últimos meses, empresas de telefonia têm constantemente reclamado de suposta “concorrência desleal” de alguns aplicativos como Whatsapp, iMessenger e Facebook Messenger. O argumento das operadoras é que, por prover serviços de mensagem e de chamadas de voz, esses aplicativos estariam usando a infraestrutura das empresas de telefonia para atuar como operadoras. Logo, esses aplicativos seriam ilegais e deveriam ser proibidos ou regulamentados e taxados.

Reclamação similar já foi feita por operadoras de TV por assinatura (que costumam ofertar, também, internet) com relação ao Netflix. Em resposta às reclamações, o Governo já se manifestou favorável a regulamentar esses serviços “over the top“, de modo a diminuir, nas palavras do Ministro das Comunicações, “assimetrias regulatórias e tributárias”.

De fato, empresas de telecomunicações no Brasil são obrigadas a fazerem investimentos em infraestrutura que nem sempre são os mais interessantes economicamente — as operadoras de telefonia têm que instalar e manter os quase obsoletos orelhões, por exemplo. Por outro lado, o WhatsApp e o Netflix não têm acesso garantido a mercados que são quase oligopólios, como as operadoras.

Na microeconomia, há dois conceitos que ajudam nesta discussão: o de bens substitutos e o de bens complementares. Bens substitutos são aqueles que concorrem diretamente, como margarina e manteiga. Se o preço da margarina subir, ceteris paribus, espera-se que a demanda por manteiga cresça. Já bens complementares são aqueles que, quando o preço de um diminui, a demanda pelo outro aumenta. Carro e gasolina são um exemplo disso: se o preço de automóveis cai, a demanda por gasolina deverá aumentar.

Pelo menos no discurso, as operadoras de TV e telefonia tratam aqueles aplicativos como bens substitutos. Ou seja, concorrentes diretos de seus serviços. Em alguns pontos, elas parecem ter razão: já há registro de queda no uso de chamadas convencionais e os serviços de SMS têm se tornado cada vez mais obsoletos (ver Gráficos 1 e 2 abaixo).

Entretanto, esses serviços “over the top” são, também, complementares aos serviços de TV e telefonia. Hipoteticamente, se uma operadora bloqueasse o acesso ao WhatsApp, é provável que boa parte de seus clientes migrassem para operadoras concorrentes. Indicativo disso é que quase todas as operadoras oferecem acesso gratuito a esses serviços (o que, inclusive, parece constituir uma violação à neutralidade de rede, mas esse é um assunto para outro post). Nos dias de hoje, boa parte da experiência do consumidor com telefonia envolve justamente o uso desses aplicativos.

Logo, o que transparece em toda essa discussão é que, assim como no caso do Uber, a regulação vigente e os modelos de negócio se mostram ultrapassados. A maior revolução que os serviços “over the top” parecem estar promovendo é a mudança no modelo de negócios já estabelecidos pelas operadoras. Se antes elas lucravam principalmente com os serviços de voz e de mensagem de texto, atualmente é a internet móvel que parece ser mais relevante (e as operadoras têm quase que um oligopólio nisso!).

Nesse novo modelo, há espaço para ganhos das operadoras sem necessariamente punir o consumidor. Focar mais no provimento de uma rede de internet móvel mais confiável e rápida e oferecer planos mais atraentes pode ser um caminho.

Fazer mais do mesmo ou limitar o acesso a aplicativos não resolverá a questão nem para operadoras e nem para os reguladores. Para não perderem o bonde do Século XXI, ambos terão que  ser mais flexíveis e ágeis para não punirem nem ideias inovadoras nem os consumidores.

Gráfico 1 – Minutos de Uso mensal por Celular

Gráfico 2 – Receita de SMS da Operadora Vivo

 

PS: O assunto deste post me foi sugerido pelo amigo e também economista João Vítor Rego Costa, a quem agradeço.

Admirável Mundo Novo

A era da informação, da comunicação e das novas tecnologias veio para ficar. E para transformar. Mudanças abundam em todos os cantos, desde no entretenimento em nossas casas, passando pela escola e até pela forma como iniciam e funcionam as empresas. E, ao que parece, é ali que as mudanças talvez venham a ser mais profundas.

De fato, as empresas estão se valendo de recursos tecnológicos que podem alterar, num futuro não distante, o espectro empresarial e até o funcionamento dos mercados.  Empreendedores têm, hoje, acesso a vastos recursos que reduzem a necessidade de capital inicial, de pessoal e até de certas expertises, já que se pode fazer uso de recursos administrativos/produtivos/operacionais on-demand. Se precisar de escritório, contrata-se um já pronto para o período que necessitar. Se precisar de serviços de TI, contratam-se serviços na nuvem. De softwares específicos ou de design, contratam-se profissionais numa das plataformas especializadas na internet. De manufaturar um produto, contrata-se uma empresa terceirizada de produção no Alibaba. De sistemas de pagamento, contrata-se uma das plataformas de pagamento on-line. De entregar produtos, pode-se recorrer aos serviços expressos. Até se precisar de capital, pode-se valer de crowdsourcing. Segundo a The Economist, essas transformações estão ajudando a alterar o conceito daquilo que entendemos como empresa.

Os  serviços hoje disponíveis estão facilitando enormemente a vida das empresas, em especial das startups, que já nascem com essa perspectiva no DNA e se aproveitam como nenhuma empresa madura das plataformas existentes para desenvolverem ideias e modelos de negócios inovadores. É nesse contexto que surgem os Uber, Airbnb e Netflix da vida. E é nesse contexto que empresas com um pequeno punhado de funcionários já nascem mirando o mercado global, algo impensável para a empresa convencional.

Aqueles recursos, juntamente com a mudança de foco e de cultura, liberam os empreendedores de terem que fazer escolhas difíceis acerca da alocação de recursos escassos da empresa – a internet na nuvem, por exemplo, reduz drasticamente a necessidade de pagamento de licenças, aquisição de equipamentos e contratação de pessoal de TI. Liberam, também, o tempo dos empreendedores e gestores para que se concentrem no seu core-business — pense nos casos do aplicativo WhatsApp, que tinha apenas 60 empregados quando foi adquirido pelo Facebook, na empresa de aspirador de pó, a britânica Dyson, que apenas coordena o desenvolvimento de seus produtos, e na Vizio, marca de TV mais vendida nos Estados Unidos em 2010 e que tinha apenas 200 funcionários naquela altura.

É claro que estamos apenas no início de uma longa jornada. Há muito ainda a acontecer. E é claro que esse modelo de organização da produção funciona para alguns, mas não para todos os setores. Mas a rápida mudança do padrão de consumo em favor dos serviços, o encurtamento do ciclo de vida dos produtos e as novas tecnologias de produção e de organização da produção – com robôs, internet das coisas e impressoras 3D – todos concorrem em favor da evolução e do desenvolvimento da “nova empresa”.

Enquanto isso, empresas grandes, com custos elevados e com modelos de negócios maduros tendem a ser menos flexíveis e se beneficiam menos desse admirável mundo novo. Por isto, devem enfrentar desafios pela frente. Os casos da IBM e do Walmart são representativos e os executivos de ambos já enfrentam dores de cabeça. No caso da IBM, por causa da concorrência dos serviços na nuvem, que estão suprimindo a necessidade de softwares corporativos e outros serviços on-site; no caso do Walmart, por causa da concorrência de supermercados que funcionam apenas on-line e de plataformas de venda direta, que eliminam intermediários.

Para empreendedores de países em desenvolvimento como o Brasil, as novas tecnologias e modelos de negócios são uma grande oportunidade e um atalho para se crescer e virar gente grande em tempo relativamente curto.

Glauber Rocha dizia que fazer cinema requeria “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. No século XXI, empreender vai requerer uma ideia na cabeça e uma batuta de maestro na mão para se orquestrar geração de valor.

Admiravel mundo novo

O Potencial dos Serviços em Nuvem

Em post anterior, foi discutida a rápida expansão recente da Cloud Computing, possibilitando o armazenamento e compartilhamento de informações e softwares via rede. Tal movimento é uma clara resposta à demanda cada vez maior por serviços mais eficientes e de menor custo de tecnologia da informação (TI).

Em pesquisa recente promovida pela KPMG, 49% dos empresários entrevistados reportaram que a nuvem contribui para a transformação do ambiente empresarial por meio de ganhos de eficiência.   Cerca de 70% dos entrevistados apontaram que a migração de parte dos negócios para a nuvem tem contribuído para melhorar a performance das empresas, automatizar serviços, reduzir custos e acessar novas soluções.

Sem título

Fonte: 2014 Cloud Survey Report/KPMG.

A ideia por trás do aumento da produtividade das empresas via adoção de serviços em nuvem é bem simples: enquanto no modelo tradicional de TI é necessário um alto investimento em infraestrutura tecnológica, softwares e contratação de pessoal – em que parte dos recursos se torna rapidamente obsoleta ou subutilizada -, a cloud permite o acesso instantâneo aos mesmos serviços de forma compartilhada e com menor custo. A manutenção, a segurança dos dados e a modernização dos recursos ficam a cargo do prestador do serviço (o “dono” da nuvem), tornando a terceirização das atividades de TI muito mais atraentes. Assim, a migração de parte dos processos dos negócios para a nuvem libera recursos humanos e financeiros para as atividades principais das empresas, tornando-as mais produtivas.

Por outro lado, companhias como Amazon.com, Google e Microsoft têm encontrado nichos de mercado promissores, obtendo receitas significativas com a oferta de soluções tecnológicas no modelo de Cloud Computing. Conforme apontado em artigo da Bloomberg, somente a divisão Amazon Web Services, responsável pelos serviços em nuvem da Amazon, obteve uma receita de US$2,09 bilhões no terceiro trimestre de 2015, o que representa um aumento de 78% em um ano.  Em contrapartida, companhias como IBM, HP, EMC, Oracle, dentre outras vêm apresentando desempenho negativo. A justificativa para tal fato é que produtos e serviços tipicamente comprados dessas companhias por grandes empresas estão sendo substituídos por soluções de menor custo disponíveis na nuvem.

Tal cenário indica a tendência de as empresas aderirem cada vez mais soluções na nuvem como meio para potencializar a sua produtividade, enquanto os grandes provedores desse tipo de serviço ganham força no mercado de tecnologia da informação. Ao mesmo tempo, sobram questionamentos sobre o sigilo dos dados armazenados na nuvem, o que representa uma das principais preocupações para as empresas e um grande desafio para as autoridades quanto à regulação de um modelo de negócios operado via rede e de amplitude internacional.

 

As identidades digitais e suas implicações para o Brasil

A Economist Inteligent Unity conduziu uma pesquisa com executivos de TI norte-americanos com o objetivo de avaliar o papel da identidade digital nas empresas. Até 2020, mais de sete bilhões de pessoas e 35 bilhões de dispositivos estarão conectados à internet, diz a pesquisa. As diversas – e dispersas – informações fornecidas a todo segundo pelo acesso a sites e aplicativos ou enviadas remotamente por vários dispositivos formam a identidade virtual de cada um desses usuários.

As empresas que não conseguirem tirar proveito desse fluxo de informações perderão a oportunidade de ampliar seu conhecimento sobre o mercado, fornecer produtos e serviços mais customizados e expandir seus negócios para atender à constante mudança nas preferências dos consumidores. Dos executivos entrevistados, 64% apontaram que os canais digitais são de grande importância para o faturamento das empresas.

grafico-EIU-2     Fonte: EIU, 2015

A construção das identidades digitais exigirá, todavia, a superação de uma série de obstáculos, como a segurança das informações compartilhadas virtualmente. Para 72% dos executivos entrevistados, esse é o principal desafio no uso das identidades digitais, sendo que apenas 19% deles disseram estar bem preparados para atender requerimentos de segurança.

Ainda, embora os consumidores estejam dispostos a responder questões básicas sobre seu perfil, há maior resistência em informar preferências, localização, relações interpessoais e dados financeiros, o que reduz as possibilidades de uso comercial dessas informações. Mostrar como estes dados estão sendo protegidos e de que forma eles poderão ser utilizados estão entre as estratégias mais empregadas pelas empresas pesquisadas. Outra forma é condicionar determinado serviço ao provimento de algumas informações – vários jornais, por exemplo, permitem a leitura gratuita de certa quantidade de artigos, mas sujeita ao registro prévio no site.

A pesquisa da EIU apontou, portanto, que há maior chance de se conseguir informações mais restritas quando há vantagens claras para o usuário. Observa-se, com isso, que o consumidor está cada vez mais consciente sobre o valor de sua identidade virtual e sobre a real possibilidade de que seus dados estejam sendo “monetizados” e de fato utilizados para explorar novos serviços.

As implicações dessa discussão para o Brasil são claras: como as empresas brasileiras estão se preparando para disputarem mercado em um ambiente digital que demanda a capacidade de absorver dados de milhares de usuários e unificá-los numa identidade virtual que possibilite extrair informações valiosas sobre seus perfis?

Também é preciso entender até que ponto haverá infraestrutura de rede e de comunicação necessária ao crescimento do volume de informações compartilhadas pelos diversos dispositivos que vão além dos tradicionais computadores e smartphones, e que alimentarão a identidade virtual de cada um desses usuários com informações sobre saúde, hábitos de lazer, trabalho e comportamento.

Como colocado pela pesquisa, a identidade digital é o passaporte para o mundo online de bens e serviços. Resta saber se as empresas brasileiras conseguirão navegar de forma satisfatória nesse universo ainda pouco desenvolvido no País, mas que mostra sinais claros de expansão global, com papel primordial para o desempenho e a liderança no mercado.

Vanessa SantosVanessa Santos é mestre em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) e Analista de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Cloud Computing: a nova face dos serviços de TI

A necessidade de armazenar e compartilhar rapidamente um grande volume de informações e softwares contribuiu para a explosão da computação em nuvem (ou cloud computing, na expressão em inglês).

Conforme o National Institute of Standards and Technology (NIST), a cloud computing pode ser definida como um modelo de acesso a rede que permite o compartilhamento de recursos computacionais. Dentre as características centrais desse modelo estão o rápido e fácil acesso ao conteúdo armazenado na nuvem a partir de qualquer lugar e de qualquer dispositivo com acesso à internet.

É nesse ambiente que a comercialização de serviços em nuvem ganha força. Basicamente, torna-se possível utilizar softwares e infraestrutura de rede para executar programas, armazenar informações, dentre outras funcionalidades, sem a necessidade de aquisição de licenças individuais, hardwares, servidores, etc. Em outras palavras, é como se o usuário alugasse o uso do recurso via rede.

Um ponto fundamental nessa temática é o ganho econômico com o uso de serviços em nuvem. Um estudo conduzido pela International Data Corporation (IDC) sobre a adoção desses serviços por empresas europeias mostrou que o uso da nuvem contribui para redução de custos com TI, maior produtividade, flexibilidade do trabalho e possibilidade de expansão para novas localidades. Não obstante, a Comissão Europeia levantou a bandeira em prol do desenvolvimento da cloud computing e sua adoção nos diversos setores da economia como estratégia para o aumento da produtividade.

As potencialidades desse modelo se refletem na rápida expansão da “nuvem”. Estimativas da IDC indicam que só em 2015 o gasto com infraestrutura de TI em nuvem crescerá 26,5%, alcançando 33,4 bilhões de dólares. Como resultado, espera-se que 76% do tráfego de data center seja realizado na nuvem até 2018 – em 2013, esse percentual era de 54%, de acordo com The Cisco Global Cloud Index (GCI). No Brasil, estima-se que dois terços das empresas investirão em cloud services em 2015, segundo pesquisa realizada pela consultoria Frost & Sullivan.

Ainda sobra espaço para muitas discussões em torno da cloud computing ao redor do mundo. Desafios como a segurança da informação e aspectos regulatórios que transcendem as fronteiras de um país são cruciais para que o modelo funcione e se dissemine ainda mais nos diversos setores produtivos.

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