Desde 2006, links de satélite internacionais são responsáveis por apenas 1% do tráfego internacional de telecomunicações. Todo o restante é transportado por cabos submarinos. Por ter uma confiabilidade alta e capacidade total de transporte chegando aos terabits por segundo (mil vezes mais rápido que o satélite), os cabos têm sido, até agora, a melhor solução técnica encontrada para atender à demanda cada vez maior de comunicação de dados em alta velocidade.

Os cabos submarinos são importantes pois o acesso pleno à internet depende da interconexão de todas as redes mundiais: de operadoras e provedores de acesso (com seus respectivos usuários) aos provedores de conteúdo. Como os agentes estão espalhados pelo mundo todo, as redes se encontram em grandes pontos de troca de tráfego internacional. Assim, os cabos submarinos são utilizados para conectar esses pontos de troca de tráfego, conhecidos como Internet Exchanges (IX).

Segundo um levantamento feito pela TeleGeography, empresa de consultoria do ramo de telecomunicações, existem, atualmente, 278 cabos submarinos em operação no mundo. Destes, seis estão em operação no Brasil. Além deles, mais quatro cabos em construção passam por aqui. De todos esses cabos citados, 7 interligam (ou interligarão) Brasil e EUA.

Ter um novo cabo submarino interligando Brasil e Europa já estava nos planos do Brasil desde 2012. O único cabo que faz este percurso atualmente, o Atlantis-2, já está com sua capacidade praticamente esgotada e é usado majoritariamente para comunicações de telefonia. Com pouca atenção desde sua idealização, o projeto ganhou novo significado em 2013, quando foram divulgados uma série de documentos que apontavam a espionagem das comunicações eletrônicas de empresas e autoridades brasileiras pelo governo dos EUA.

O cabo eulaLink está planejado para interligar Brasil e Portugal, com paradas dentro da rota em Cabo Verde, Madeira e Ilhas Canárias.  O custo estimado do projeto é de US$ 250 milhões. O consórcio responsável pela construção e lançamento do cabo é formado pela Telebras, com 35% de participação, e pela Islalink, uma operadora espanhola de telecomunicações, com 45% de participação. Um terceiro sócio, também brasileiro e ainda a ser definido, entrará no negócio com os 20% restantes de participação. A previsão atual é que o cabo entre em operação em 2018.

Atualmente, praticamente toda a comunicação sul-americana com os continentes europeu e asiático passam, necessariamente, pelos Estados Unidos. O projeto do cabo eulaLink nasce com o objetivo de evitar, ou pelo menos diminuir essa dependência. Na lista dos maiores pontos de interconexão de internet do mundo, os três maiores estão na Europa: DE-CIX (Frankfurt), AMS-IX (Amsterdã) e LINX (Londres). Dentre eles, o AMS-IX só possui pontos de presença na Holanda, podendo ser considerado um ponto de interconexão genuinamente europeu. Alcançá-lo significa ter acesso direto a provedores regionais, que só operam na Europa, e não podem ser alcançados diretamente nos EUA.

Além de beneficiar instituições acadêmicas e cientificas ao ampliar a troca de informações relevantes para o desenvolvimento da ciência e tecnologia, o novo cabo desperta grande interesse das instituições europeias por atender a uma grande demanda de banda com baixa latência para os observatórios e telescópios astronômicos instalados no Chile. Existem iniciativas da UNASUL para viabilizar um grande anel óptico interligando os países do continente sul-americano, um complemento ao projeto do cabo submarino, que possibilitará o escoamento dos dados vindos da Europa a toda a região (mais detalhes aqui e aqui).

A justificativa para a construção do novo cabo eulaLink pode ter nascido de uma reação exagerada do governo brasileiro às acusações de espionagem denunciadas por Edward Snowden em 2013. Afinal de contas, é pouco factível imaginar que a NSA e demais agências americanas fiquem interceptando todo o tráfego que chega a Miami e Nova York pelos cabos submarinos em busca de informações confidenciais sobre o Brasil ou outros países. Além disso, é difícil imaginar que a relação diplomática entre Brasil e EUA possa azedar ao ponto de os americanos interromperem as comunicações com o Brasil, isolando o país do resto do mundo.

Porém, não se pode negar que o novo cabo trará grandes benefícios para o Brasil: não pela blindagem das comunicações perante aos EUA, mas muito mais pela possibilidade de interconexão entre os dois continentes com menor latência e menor custo, o que tem grande impacto não só em aplicações de uso acadêmico para troca de informações relevantes ao desenvolvimento da ciência e tecnologia, mas também em aplicações corporativas, como computação em nuvem e no acesso ao mercado financeiro. Resta saber se, na situação política e macroeconômica atual, essa importância será reconhecida pelo governo central na hora de liberar recursos de investimento para a Telebras, empresa estatal que é parte fundamental do consórcio responsável pelo cabo.

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