Independentemente do tipo de serviço que estejamos falando, não há dúvida de que o aporte de conhecimento é a chave para o processo de inovação e agregação de valor. E quando falamos em conhecimentos, logo vem à mente o tema qualificação.
As estatísticas nacionais disponíveis apresentam a escolaridade como praticamente a única proxy de qualificação. O problema é que ela tem grandes vieses, seja devido à expansão da cobertura da educação básica (efeito escolarização), seja devido à sua baixa qualidade.
Diante disso, utilizando as informações constantes na Classificação Brasileira de Ocupações, pode-se lançar outro olhar sobre como anda a qualificação do setor de serviços no Brasil e, a partir daí, discutir a causalidade (quem causa o que?) entre qualificação e competitividade.
Observando-se o mercado de trabalho formal, notamos que 57% dos vínculos são considerados de baixa qualificação. No caso dos serviços, como esperado, esta proporção é de 47% (RAIS/MTE) (ver gráfico abaixo).
Em outros países esta realidade é bem diferente. Na Coréia do Sul, aquela proporção está abaixo de 30%, na Alemanha, abaixo dos 20% e, no caso dos EUA, está na casa dos 25%.
Os dados da RAIS (2003-2013) do setor de serviços mostram situação de “equilíbrio de baixa qualificação”, uma vez que a estrutura de qualificação se mostrou estável da última década. Projeções da estrutura de qualificações até 2018 sugerem que não deverá haver grandes mudanças no médio prazo.
Esse quadro reflete a baixa produtividade e competitividade da economia brasileira nos últimos anos e coloca em discussão o caminho a ser trilhado para se viabilizar o desafio da geração de riquezas com o crucial e inevitável apoio dos serviços, sejam eles de custo e/ou de agregação de valor.
É preciso repensar a estrutura de qualificação do país e, principalmente, a dos serviços, tanto pelo lado da oferta, quanto da demanda. Caso contrário, o sonho do aumento da competitividade ficará tão clichê quanto a frase “O Brasil é o país do futuro”.
Estrutura de qualificação dos serviços no Brasil – 2003 a 2018
Márcio Guerra Amorim é Mestre em Economia pela Universidade Católica de Brasília e Gerente de Estudos e Prospectiva da Confederação Nacional da Indústria (CNI). |
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