Economia de Serviços

um espaço para debate

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Patentes e dinamismo econômico

A World Intellectual Property Organization (WIPO) disponibiliza dados internacionais sobre direitos intelectuais, sendo importante fonte de informações sobre as patentes emitidas pelos países-membros desta organização. Os dados disponibilizados por esta fonte podem ser utilizados para se realizar uma comparação entre o número de patentes registradas pelo setor industrial e pelo setor de serviços no período entre 1980 e 2015.

Para isto, as patentes foram classificadas em três categorias, Serviços, Indústria e Outros.  Posteriormente, realizou-se a comparação entre o número de patentes geradas pelos setores no período citado. Esta comparação revela que ocorreu aumento considerável no número de patentes relacionadas ao setor de serviços, em detrimento das patentes industriais. Em 1980, 72% das patentes eram em tecnologias industriais e apenas 28% em serviços. Em 2015, a proporção de patentes relacionadas a tecnologias industriais recuou para 59%, de modo que 41% das patentes geradas eram em tecnologias relacionadas a serviços. Isto é, observou-se crescimento de 47% na proporção de patentes geradas em tecnologias relacionadas ao setor de serviços.

Separando os serviços em finais e intermediários, observa-se o crescimento na proporção de patentes relacionadas a serviços intermediários. Em 1980, apenas 29% das patentes de serviços eram em serviços intermediários e em 2015 esta proporção avança para 79%. Isto é, o setor que apresenta maior crescimento no número de patentes é serviços e, dentro deste setor, se observa avanço das patentes em serviços intermediários.

Estes dados mostram que a dinâmica de inovação mundial está se modificando. As novas tecnologias de comunicação criaram ambiente favorável ao desenvolvimento de inovações organizacionais no setor de serviços. Este setor está sendo profundamente transformado pela emergência destas tecnologias e está se convertendo em uma das principais fontes de inovação. Esta evidência mostra que o crescimento econômico não está associado à presença de um setor específico, mas ao conhecimento e à capacidade de gerar inovações que contribuem para o crescimento econômico.

A análise do número de patentes geradas entre 2000 e 2015 para as tecnologias que mais cresceram no período revela grande concentração nos Estados Unidos e na Ásia. Das patentes registradas em Métodos de TI para gerenciamento, 47% foram registradas nos Estados Unidos, 35% na Ásia; e apenas 10% na Europa. A América Latina e a África geraram quantidade muito baixa de patentes nesta tecnologia, não superior a 1%, como este padrão se repete para as demais tecnologias, estas regiões não serão analisadas.

Gráfico 1 – Proporção de patentes geradas nas tecnologias de serviços que se encontram entre as dez tecnologias com maior crescimento no número de patentes entre 2000 e 2015

Fonte: World Intellectual Property Orgamization

Em Comunicação digital, 50% das patentes foram registradas nos Estados Unidos, 26% na Ásia, e apenas 16% na Europa. Em Tecnologia computacional, 44% das patentes foram geradas nos Estados Unidos, 38% na Ásia e 11% na Europa. Já em tecnologia médica, 35% das patentes registradas foram nos Estados Unidos, 30% na Ásia e 23% na Europa. Assim, existe uma grande concentração nas patentes geradas em serviços nos Estados Unidos e na Ásia, e, em menor escala, na Europa.

A análise do número de patentes geradas revela que a dinâmica de inovação está migrando para o setor de serviços. O setor industrial ainda é o principal responsável por introduzir inovações que provocam modificações na estrutura produtiva e geram crescimento econômico. Porém, cada vez mais, o centro dinâmico gerador de inovações, introdutor de novas atividades econômicas, mudanças na estrutura produtiva e responsável por promover o crescimento econômico é o setor de serviços. Com grande destaque para o surgimento de novas atividades de serviços intermediários, intimamente relacionadas ao surgimento de novas tecnologias de comunicação, que provocam  inovações organizacionais nos processos produtivos e administrativos. Caso esta tendência permaneça, dentro de poucas décadas a transformação de atividades tradicionais de serviços em atividades modernas se transformará no principal vetor de inovações e no principal gerador de novas atividades econômicas, sendo responsável por explicar as mudanças estruturais observadas pelos países.

Os dados de patentes corroboram a argumentação de que o crescimento do setor de serviços nos países desenvolvidos não ocorre através da migração dos trabalhadores para atividades de serviços finais, que possuem baixa produtividade e que resultam em estagnação econômica. Na realidade, o crescimento deste setor está relacionado ao surgimento de atividades inteiramente novas, inovadoras, altamente dinâmicas e introdutoras de progresso técnico. Estas novas tecnologias estão introduzindo mudanças organizacionais que, provavelmente, resultam em crescimento elevado da produtividade do setor de serviços, contribuindo para que a produtividade da indústria e da economia como um todo se eleve significativamente.

Serviços, leis de Kaldor e eficiência schumpeteriana

A literatura econômica kaldoriana considera a indústria o setor mais dinâmico, responsável pela disseminação do progresso técnico e pela capacidade de geração de crescimento endógeno e autossustentado. Para essa literatura o setor de serviços não apresenta ganhos de produtividade e não é capaz de gerar crescimento econômico persistente (KALDOR, 1966).

No período recente cresceu internacionalmente a literatura que defende a existência de uma relação de interdependência entre o setor de serviços intermediários e a indústria. As evidências encontradas por esta literatura mostram que o crescimento da produção industrial depende do crescimento do setor de serviços intermediários, sendo a expansão deste setor que viabiliza o surgimento de inovações, o crescimento e o aumento da produtividade da indústria. A ideia principal é a de que no processo de mudança estrutural, atividades mais nobres dos setores industriais e de serviços, intensivas em tecnologia e conhecimento, co-evoluem. Na trajetória de desenvolvimento das nações, a partir de determinado momento histórico, faz-se necessária a existência de uma elevada simbiose entre indústria e serviços, na medida em que atividades manufatureiras passam a demandar mais serviços especializados.

No artigo “Contribution of services to economic growth: Kaldor’s fifth law?” Adilson Giovanini e Marcelo Arend (autores deste post) questionam a existência de uma nova lei de Kaldor. Esta lei evidenciaria que à medida que os países se industrializam e passam a fabricar produtos cada vez mais sofisticados, se elevaria a demanda por maior volume de conhecimento. O desenvolvimento de um setor de serviços intermediários, especializado no fornecimento de soluções tecnológicas e gestão deste conhecimento, viabilizaria a fabricação de manufaturas avançadas e complexas.

Esta hipótese foi testada através da estimação de modelos VAR em painel para oito países desenvolvidos (Japão, Estados Unidos, Dinamarca, Espanha, França, Reino Unido, Itália e Holanda) no período 1980-2009. Os resultados estimados corroboraram a hipótese levantada. O crescimento do setor de serviços intermediários contribui para o crescimento da produtividade industrial; do valor adicionado industrial per capita e da complexidade econômica dos países em análise. Com isto, dadas as devidas ressalvas, os resultados apresentam elementos iniciais favoráveis para a defesa de que os serviços avançados também atuam como um “motor do crescimento econômico”.

A partir dessas conclusões é possível explorar em mais detalhes o “espaço-indústria”, desenvolvido por Arbache (2012), com “pitadas teóricas” da literatura schumpeteriana e estruturalista. O espaço-indústria é constituído por quatro quadrantes que mostram diferentes processos de mudanças estruturais. No quadrante R1 a população é predominantemente rural e a agropecuária é o setor dominante. Neste quadrante o país se encontra preso na armadilha da renda baixa (RODRIK, 2014). Em perspectiva schumpeteriana, tal como Dosi, Pavitt e Soete (1993), podemos derivar que países nesse estágio de seu desenvolvimento possuem exclusivamente eficiência ricardiana, pois a alocação de fatores se realiza em perfeita concordância com o princípio das vantagens comparativas estáticas.

Figura 1 – Espaço-Indústria

Fonte: Adaptado de Arbache (2012)

 

 

 

 

 

 

 

O quadrante R2 é caracterizado pela crescente demanda por produtos industriais básicos e pelo desenvolvimento de uma indústria de baixo valor adicionado e serviços gerais. Nessa trilha, muitos países superam a armadilha da pobreza, com crescimento acelerado proporcionado por um processo de industrialização. As clássicas leis de Kaldor explicam perfeitamente o caminho percorrido até o quadrante R2. Também, poderíamos considerar que nesse processo a eficiência keynesiana funcionaria como um “motor” do crescimento da renda per capita. A condição de eficiência keynesiana implica que a estrutura produtiva abarque cada vez mais ramos que tenham elevada elasticidade-renda da demanda. Isso quer dizer que o país está internalizando setores nos quais a demanda e os mercados crescem rapidamente, abrindo, consequentemente, oportunidades de vendas e de lucros maiores (DOSI; PAVITT; SOETE, 1993). Aliada ao processo de industrialização, a diversificação produtiva amplia-se, conforme demonstrado por Imbs e Wacziarg (2003).

A passagem para o quadrante R3 e deste para o R4 é um caminho que poucos países conseguiram fazer. Muitos países entram em relativa estagnação de seu nível de renda per capita nesse estágio (armadilha da renda média), inclusive apresentando regressão de sua estrutura produtiva, fenômeno associado ao processo de desindustrialização prematura.

Ademais, a região R4 representa o estágio mais avançado do desenvolvimento industrial. Neste quadrante, o processo de expansão da densidade industrial continua e é acompanhado pela existência de demanda mais do que proporcional por serviços intensivos em conhecimento, ao passo que a participação da indústria “tradicional” declina (ARBACHE, 2012). No quadrante R4, se encontram os países industrializados, que possuem renda elevada. Seguindo a linha argumentativa de Imbs e Wacziarg (2003), este quadrante também é caracterizado por relativo retorno à especialização produtiva. A demanda por serviços avançados cresce, de modo que estes países se caracterizam pela fabricação de serviços conectados a manufaturas de elevada complexidade econômica. Pode-se defender, a partir das conclusões de Rodrik (2014), que os países que migram para os quadrantes R3 e R4 são aqueles que conseguiram desenvolver as capacitações necessárias para o desenvolvimento do setor de serviços intermediários e produtos complexos. O “segredo” da prosperidade de alguns países em detrimento dos demais se encontraria em capacidades organizacionais, de distribuição do conhecimento entre os trabalhadores e de utilização coletivamente de volumes maiores de conhecimento.

É nesse momento que consideramos que eleva-se a necessidade de maior simbiose entre a indústria e o setor de serviços, conforme exposto no inicio desse artigo. A saída do quadrante R2, em direção ao R3 e R4, pressupõe a conquista da eficiência schumpeteriana. A eficiência schumpeteriana supõe que existam, na estrutura produtiva, setores nos quais o progresso técnico e os ganhos de produtividade são especialmente elevados. A definição de eficiência schumpeteriana prescreve um padrão de especialização baseado na exportação de produtos para os quais se identifique um elevado grau de oportunidade, apropriabilidade e cumulatividade tecnológica (DOSI; PAVITT; SOETE, 1993). Stojkoski et al. (2016) mostram que os países que apresentam maior exportação de serviços apresentam índices mais elevados de complexidade. Ademais, seus resultados mostram que as economias cuja pauta de exportação é baseada em serviços têm estrutura produtiva mais complexa e maior potencial de crescimento no longo prazo.

Sociedades complexas, com estruturas produtivas complexas, possuem eficiência schumpeteriana. São países que enfrentaram seus processos de desindustrialização, porém sem estagnação de seus níveis de renda. Tais processos deram-se com elevação da densidade industrial e crescimento do setor de serviços intermediários. Portanto, as leis de Kaldor também são válidas para economias com elevada participação do setor de serviços no produto e no emprego, desde que possuam estruturas produtivas complexas e com eficiência schumpeteriana.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARBACHE, J. Industrial-Space and Industrial Development [Mimeo]. Departamento de Economia, Universidade de Brasília, 2012.

DOSI, G.; PAVITT, K.; SOETE, L. La economía del cambio técnico y el comercio internacional. México: Consejo Nacional de Ciencia y Tecnología, 1993.

GIOVANINI, AdilsonAREND, Marcelo. CONTRIBUTION OF SERVICES TO ECONOMIC GROWTH: KALDOR’S FIFTH LAW?. RAM, Rev. Adm. Mackenzie [online]. 2017, vol.18, n.4, pp.190-213. ISSN 1678-6971.  http://dx.doi.org/10.1590/1678-69712017/administracao.v18n4p190-213.

IMBS, J. e WACZIARG, R. Stages of diversification. American Economic Review, v. 93; n. 1, p. 63-86, 2003.

KALDOR, Nicholas. Causes of the slow rate of economic growth of the United Kingdom: an inaugural lecture. Cambridge University Press, 1966.

RODRIK, Dani. The past, present, and future of economic growth. Challenge, v. 57, n. 3, p. 5-39, 2014.

STOJKOSKI, Viktor; UTKOVSKI, Zoran; KOCAREV, Ljupco. The Impact of Services on Economic Complexity: Service Sophistication as Route for Economic Growth. PloS one, v. 11, n. 8, 2016.

Por uma política nacional voltada para o desenvolvimento de capacidades

Por Adilson Giovanini, Janaína Führ e Marcelo Arend

Schumpeter (1939) mostra que o surgimento de novas combinações resulta na obtenção de lucros extraordinários. Elas retiram a economia do fluxo circular, fazendo-a crescer. Em adição, Perez e Soete (1988, p. 498) argumentam que o modo como as tecnologias evoluem e se difundem pode explicar grande montante das diferenças estruturais observadas entre os países. De forma mais rigorosa, pode-se afirmar que a capacidade de crescimento destes está diretamente ligada à sua capacidade de inovação. Novas combinações, por sua vez, dependem do conjunto de conhecimentos abarcados e sobre os quais os trabalhadores de cada país possuem domínio.

Para a literatura de inovação é clara a relação íntima existente entre o desenvolvimento de inovações e a ocorrência de mudanças estruturais nos países. A ocorrência de mudanças estruturais se deve, em grande monta, ao desenvolvimento de novas tecnologias que emergem na forma de paradigmas tecnológicos (DOSI, 1982). Ademais, a forma como cada paradigma tecnológico surge e se propaga para as demais economias explica a capacidade de realização de catching up dos países e a forma como estes se desenvolvem (PEREZ; SOETE, 1988, p. 498).

Conforme demostrado pela literatura de inovação, o desenvolvimento de novas tecnologias exige o surgimento de novas competências produtivas. Estas são particularmente relacionadas ao surgimento de funções inovadoras. O avanço tecnológico tende a ser cumulativo, favorecendo habilidades específicas.

Neste contexto, o crescimento das tecnologias digitais observado nas últimas décadas exigiu e continuará exigindo o desenvolvimento de novas capacidades entre os trabalhadores. Estas tecnologias provocaram perturbações no mercado de trabalho, que resultaram na necessidade de reestruturação profunda do sistema econômico. Como resultado, surgiu demanda crescente por profissionais com competências até então não demandadas (OCDE, 2012).

Atualmente, o setor de tecnologias da informação e comunicação (TIC) se encontra no meio de uma fase de crescimento e inovação. Este inclui a adoção de diversas tecnologias emergentes, entre as quais se destacam a computação em nuvem; o uso de dispositivos móveis; a análise de “Big Data”; a segurança em TI; a micro e a nano eletrônica; e a adoção de tecnologias sociais em ambientes pessoais e empresariais.

A difusão das tecnologias para novas áreas como software para impressão em protótipos 3D; sistemas “inteligentes” de energia, infraestrutura e transporte, fabricação de novos semicondutores energeticamente eficientes; gerenciamento de dados e serviços de cloud computing deve impulsionar a demanda por novas capacidades entre os trabalhadores.

Nos próximos anos a continuidade do processo de difusão das novas tecnologias de comunicação propiciará a disseminação de todo um novo conjunto de inovações. Conforme enfatizado por estudo da Deloitte (2014), diversas tecnologias estão transformando consideravelmente a indústria e o modo como esta se relaciona com o setor de serviços. Entre estas se destacam robôs inteligentes; drones autônomos; sensores, nanotecnologias e impressoras 3D. A adoção destas novas tecnologias resultará em modificações profundas na indústria.

O termo “indústria 4.0” é utilizado para definir este novo estágio do desenvolvimento industrial, que não se restringe apenas à indústria, englobando a gestão e organização de toda a cadeia de valor. Outros termos utilizados para definir este novo estágio são “internet das coisas” (internet of things), “internet de tudo” (internet of everything) e internet industrial (industrial internet). Eles são utilizados para mostrar que a fabricação industrial está passando por uma transformação digital.

Como resultado da emergência destas tecnologias, os setores que requerem maior quantidade de profissionais com conhecimento em TIC são setores de serviços: TIC, finanças/seguros e serviços profissionais. Ademais, gestores, técnicos e trabalhadores de apoio de escritório necessitam de montante mais elevado de conhecimentos em TIC do que outros grupos ocupacionais.

A demanda por profissionais ocorre, principalmente, nas áreas de programação de software; engenharia e integração; e operações de negócios. A demanda por cientistas de dados que podem extrair informações úteis de grandes conjuntos de dados também é crescente, assim como a demanda por profissionais capazes de desenvolver aplicativos móveis. Esta atividade se encontra entre as que apresentam taxas mais elevadas de crescimento e onde se escondem mais oportunidades. Ela surgiu em 2008 e, e se expande rapidamente (OCDE, 2013).

Paralelo a isto, a Application Developers Alliance mostra quais são as habilidades mais demandadas entre os profissionais que atuam em atividades relacionadas a estas novas tecnologias. Ou seja, quais as habilidades que os países precisam disseminar entre os seus trabalhadores para conseguirem ser competitivos na era digital.

Via de regra, os países desenvolvidos estão adotando políticas para tentar internalizar estas atividades. Em seu artigo Computer programming and coding in schools – an emerging trend, o School Education Gateway mostra que, em 2014, matérias de programação  e codificação já faziam parte do currículo escolar de 12 países europeus (Bulgária, Chipre, República Checa, Dinamarca, Estônia, Grécia, Irlanda, Itália, Lituânia, Polônia, Portugal e Reino Unido). Ademais, outros sete países deste continente também pretendiam integrar o tema em seus currículos no futuro.

Apesar de estar sendo amplamente explorada pelos países desenvolvidos, a janela de oportunidades introduzida pela emergência destas novas tecnologias ainda se encontra aberta. Existem amplos espaços para inserção dos países em desenvolvimento. A adoção de políticas de desenvolvimento das capacidades demandadas por estas novas tecnologias se coloca como condição sine qua non para que estes países consigam ingressar no atual paradigma tecnológico e aumentar a sua participação no comércio global de bens e principalmente de serviços relacionados a estas novas tecnologias.

Kearney (2011) e Stephenson (2012) mostram que a emergência das novas tecnologias de comunicação está resultando em comércio crescente de serviços e gerando novas oportunidades em países que apresentam menor nível de renda. Segundo os autores, nove países latino-americanos são competitivos internacionalmente na produção de serviços offshore: México, Chile, Brasil, Costa Rica, Argentina, Jamaica, Panamá, Uruguai e Colômbia.

Uma das grandes limitações enfrentadas por estes países se refere à ausência das capacidades necessárias entre os trabalhadores. Contudo, a melhoria nos sistemas de comunicação e os menores custos (salários mais baixos) indicam que a adoção de políticas de desenvolvimento das capacidades demandadas, se corretamente adotada, pode resultar em crescimento significativo da participação destes países no comércio internacional de serviços.

Dada esta contextualização, surge a seguinte pergunta: quais são as medidas que o Brasil está efetivamente adotando para ingressar neste novo cenário marcado pela crescente digitalização das economias? Ele está adotando postura proativa e incentivando a aquisição das capacidades demandadas ou está perdendo esta oportunidade?

Infelizmente quando comparado a outros países poucas são as iniciativas, adotadas em território nacional, voltadas para o desenvolvimento das capacidades necessárias entre os trabalhadores. Tome-se como exemplo o Plano Ceibal (Conectividade Educativa de Informática Básica para o Aprendizado Online), iniciativa adotada pelo Uruguai que garante um notebook para cada aluno e que fornece aulas de programação, robótica e edição de vídeos.

Argumenta-se que, em parte, a crise atual enfrentada pelo país deriva da falta de iniciativas voltadas para a disseminação das técnicas produtivas associadas a estas novas tecnologias, o que explica os baixos níveis de integração digital do Brasil e a sua dificuldade em manter a sua indústria competitiva.

Apesar destas limitações, observadas na política econômica implementada em nível nacional, o objetivo deste post é deixar uma mensagem positiva. A crise na qual o país se encontra não é marcada pela falta de alternativas. O incentivo à formação de profissionais com as capacidades demandadas pelo atual paradigma em emergência se coloca como caminho a ser trilhado para o desenvolvimento tecnológico e econômico do país. Esta política, se corretamente conduzida, pode fazer com que o país volte a observar o crescimento da sua produtividade, retirando-nos da grave crise na qual nos encontramos atualmente.

 

REFERÊNCIAS

DELLOITE Making an impact that matters: 2014 Global Report.

Developer Insights Report: A Global Survey of Today’s Developers.

DOSI, Giovanni. Technological paradigms and technological trajectories. Research Policy, v. 11, p. 147–162, 1982.

KEARNEY, A. T. The A.T. Kearney Global Services Location IndexTM.  Offshoring Opportunities Amid Economic Turbulence. 2011.

OCDE. OECD Economic Outlook, Vol. 2013/1. OECD Publishing. 2013.

OCDE. OECD Skills, Better Jobs, Better Lives A Strategic Approach to Skills Policies. 2012.

PÉREZ, C. and L. Soete (1988): Catching up in technology: Entry barriers and windows of opportunity, in G. Dosi and others (ed.),  Technical Change and Economic Theory , London, Pinter Publishers.

STEPHENSON, SHERRY. Emergence of services, global value chains (GVC) and resulting implications for Latin America. II Inter-American Dialogue Of High-Level MSMEs Authorities Public Policies to Enhance the Competitiveness, Innovation and Internationalization of MSMEs New Orleans, September 10-11, 2012.

SCHUMPETER, Joseph Alois. Business cycles. New York: McGraw-Hill, 1939.

A contribuição do setor de serviços para o aumento da competitividade industrial

Por Adilson Giovanini e Marcelo Arend

Seguindo Adam Smith (1983), Kaldor (1966) mostra que o aumento na demanda por produtos industriais resulta em maior divisão do trabalho. Esta, por sua vez, permite a maior especialização dos trabalhadores e a obtenção de ganhos de produtividade. Assim, o crescimento do setor industrial resulta no aumento da produtividade deste setor e em crescimento econômico. Com base nestas evidências, Kaldor defende a realização de políticas de aumento da demanda industrial como instrumento capaz de promover o crescimento econômico.

A partir da década de 1980, com a emergência das novas tecnologias ancoradas no novo paradigma tecno-econômico, a importância da indústria como proporção do PIB diminuiu na geração de emprego e renda, sobretudo nas economias avançadas. Mudanças tecnológicas, institucionais e geográficas transformaram o setor de serviços para níveis de complexidade econômica crescentes, tornando sua relação com o setor industrial moderno muito mais dinâmica do que no antigo padrão fordista de produção.

Este post explora esta contradição. Um modelo VAR em painel é estimado para verificar se o aumento da participação do setor de serviços no PIB resulta em aumento na produtividade do setor industrial. Os dados de produtividade industrial e participação do setor de serviços no PIB foram obtidos no Groningen Growth and Development Centre (GGDC) e o estoque de capital é extraído do Penn World Table. A amostra é composta por dados de oito países (Japão, Estados Unidos, Dinamarca, Espanha, França, Reino Unido, Itália e Holanda) para o período de 1980-2009.

O setor de serviços intermediários é definido como a agregação de dois dos cinco setores de serviços discriminados pelo GGDC: 1) Transportes, Armazenagem e Comunicação e 2) Intermediação financeira, arrendamento e serviços empresariais.

O valor encontrado para os coeficientes estimados corrobora a hipótese defendida. O valor adicionado do setor de serviços (gs,it) causa (“causa-Granger”) a produtividade industrial (em,it). Mais especificamente, a variação em 1% no valor adicionado do setor de serviços resulta em variação de 0,090% na produtividade industrial. Ademais, a variação em 1% na produção industrial (gm,it) resulta em variação de 0,294% na produtividade deste setor (em,it) e a variação de 1% na sua produtividade defasada resulta em variação de 0,424% nesta mesma série.

Tabela – Valor encontrado para o modelo VAR em painel estimado**

reg-serv

Fonte: Elaboração própria, todos os testes estatísticos recomendados pela literatura foram realizados.

**Todas as variáveis foram defasadas uma vez.

Estes resultados mostram que o setor de serviços contribui para o crescimento econômico através do aumento da produtividade industrial. Este resultado reconcilia as leis propostas por Kaldor com as evidências empíricas que apontam para o setor de serviços como principal responsável pelo crescimento econômico. Argumenta-se que o crescimento da indústria continua sendo responsável pelo desenvolvimento econômico. Contudo, a competitividade da indústria depende do grau de desenvolvimento do setor de serviços. O setor de serviços contribui para o crescimento econômico por meio do efeito positivo que ele exerce sobre o setor industrial.

Como conclusão, ressaltamos a necessidade de maior atenção ao setor de serviços por parte de pesquisadores, sobretudo aos dedicados a problemas contemporâneos de países em desenvolvimento como a “armadilha da renda média” e a “desindustrialização prematura”, ambos presentes na economia brasileira.

Referências bibliográficas:

SMITH, Adam. A riqueza das nações. Martins Fontes, 2003.

KALDOR, Nicholas. Causes of the slow rate of economic growth of the United Kingdom: an inaugural lecture. Cambridge University Press, 1966.

A contribuição das práticas de gestão para o desenvolvimento do setor de serviços

Por Adilson Giovanini e Marcelo Arend

No livro “The atlas of economic complexity: Mapping paths to prosperity”, Hausmann et al. (2014) argumentam que o grau de desenvolvimento dos países depende da quantidade de conhecimento produtivo possuído por eles. A forma encontrada pela sociedade para fabricar bens sofisticados é a divisão do conhecimento necessário em “pedaços”.

Deste modo, a capacidade produtiva de cada sociedade pode ser mensurada pela sua capacidade de reter, criar, modificar, organizar, distribuir e utilizar os conhecimentos possuídos pelos trabalhadores. As sociedades mais desenvolvidas conseguem gerir de modo mais eficaz os conhecimentos que possuem a sua disposição. De forma análoga, os países menos desenvolvidos não conseguem acumular, distribuir, gerir e reunir conjunto elevado de conhecimentos. Eles possuem menor quantidade de conhecimento produtivo, o que limita a sua capacidade produtiva fazendo com que eles não consigam fabricar produtos com elevada sofisticação tecnológica.

Diante deste contexto, surgem os seguintes questionamentos: será que as práticas de gestão internas adotadas pelas firmas influenciam no tamanho do seu setor e no seu grau de desenvolvimento? O comportamento das firmas é capaz de explicar a baixa sofisticação da estrutura produtiva brasileira?

Desde 2004 o World Management Survey aplica um questionário que mensura as práticas de gestão adotadas pelas firmas de 34 países. Entre outros aspectos, a pesquisa avalia a capacidade de formação, retenção e reconhecimento de talentos das firmas localizadas nestes países. Isto é, identifica se elas possuem cultura interna voltada para o desenvolvimento, expansão e adequada reunião dos conhecimentos detidos pelos seus funcionários.

O indicador global desenvolvido pelo World Management Survey apresenta correlação de 86% com o Índice de Complexidade Econômica (Gráfico 1). Isto pode ser um indicativo que as práticas de gestão interna contribuem para o aumento no nível de sofisticação da estrutura produtiva dos países.

Gráfico 1 – Correlação existente entre o índice do complexidade econômica e as práticas de gestão adotadas pelas firmas

gestao_interna_e_complexidade                          Fonte: Adaptado de The Observatory of Economic Complexity e World Management Survey

O indicador disponibilizado pelo World Management Survey também possui correlação de 81% com a participação do setor de serviços no valor adicionado (Gráfico 2). Este resultado pode ser um indicativo que as práticas de gestão interna contribuem para a participação do setor de serviços no PIB. A adoção de práticas de gestão interna que estimulam a expansão da base de conhecimentos possuída pelas firmas parece contribui para o aumento na demanda por serviços intermediários.

Gráfico 2: Relação existente entre as práticas de gestão interna e a participação do setor de serviços

gestao_interna_e_servicos                Fonte: Adaptado de The Observatory of Economic Complexity e World Management Survey

Conforme mostrado no Gráfico 3, o Brasil se encontra mal posicionado no indicador global de gestão interna desenvolvido pelo World Management Survey para o período 2004-2015. Ele está na 20ª posição entre os 34 países analisados, com escore global de 2,66. Ademais, a análise desagregada dos dados mostra que os quesitos nos quais o Brasil se encontra pior posicionado são: construção de uma cultura de alta performance (32ª posição), proposta de valor ao empregado (27ª), desenvolvimento de talentos (26ª) e retenção de talentos (24ª).

Gráfico 3- Comparação internacional das práticas de gestão interna adotadas pelas firmas no período 2004-2015

gestao_interna                   Fonte: adaptado de World Management Survey

Estes dados podem indicar que, em geral, as firmas brasileiras possuem políticas inadequadas ao desenvolvimento de talentos. Além, disso, a maior parte delas também não adotam medidas que buscam reter seus melhores talentos e não possuem cultura voltada para a valorização dos funcionários mais talentosos e com maior produtividade. A presença de práticas de gestão interna desfavoráveis à expansão da base de conhecimentos pode dificultar a migração da estrutura produtiva do país para produtos mais sofisticados em termos tecnológicos e talvez explique o baixo desenvolvimento do setor de serviços intermediários.

Como corolário se defende a adoção de políticas que incentivem as firmas nacionais a adotarem melhores práticas de gestão. Isto pode contribuir para o aumento do tamanho relativo do setor de serviços e para o aumento da sofisticação da estrutura produtiva nacional. Isto é, para o desenvolvimento econômico do Brasil.

Dinâmica comparada: A evolução da produtividade setorial no período 1950-2011

Por Marcelo Arend, Guilherme Singh, Julimar da Silva Bicharra e Adilson Giovanini

Segundo Rodrik e MacMillan (2011), a teoria das vantagens comparativas defende que uma maior abertura comercial leva os países a especializarem as suas estruturas produtivas, ou seja, aprofundar as vantagens comparativas. Os autores frisam que os países periféricos têm vantagem comparativa em bens primários, predominantemente agrícolas. Logo, um impulso em direção a uma economia mais aberta e globalizada, sem contrapartes, diminuiria o incentivo para mudanças estruturais. Nesse caso, os países incorreriam em aprofundamento da especialização agroexportadora, não gerando significativo transbordamento tecnológico para outras atividades.

Esse tipo de especialização está normalmente associado a um padrão em que fração pequena do pessoal ocupado da economia ganha salários acima da produtividade. Apesar disto, o aumento da renda tende a fomentar postos de trabalho no setor de serviços, mas de perfil tradicionalmente improdutivo. Esta mecânica e canais de transmissão reforçariam uma trajetória de baixo crescimento da produtividade e, por conseguinte, do produto de longo prazo da economia.

Dada esta problemática, este post verifica o modo como evoluiu a produtividade setorial brasileira no período 1950-2011. Isto é, examina se a produtividade do setor de serviços se reduziu frente ao processo de globalização observado nas últimas décadas.

O Gráfico 1 apresenta a evolução da produtividade do trabalho dos setores agropecuário e de serviços em relação ao industrial, que é usado como referência (1950=100). Ele mostra que a produtividade do trabalho do setor agropecuário está convergindo lentamente para o nível de produtividade do setor industrial. Todavia, a distância entre os setores segue elevada no transcurso do tempo.

Gráfico 1 – Evolução da produtividade do trabalho em relação ao setor industrial no período 1950-2011.

g1Obs: produtividade industrial, 1950 = 100.

Fonte: GGDC. Elaboração própria.

Importa observar que a produtividade média do trabalho do setor de serviços tem diminuído em relação à produtividade do setor industrial. Em 1980, a produtividade média do setor de serviços era equivalente à produtividade do setor industrial. Entretanto, a partir daquele ano, iniciou-se um movimento acentuado de queda relativa.

Em 2010, a produtividade do trabalho no setor de serviços era somente 58% da produtividade do setor industrial, situação inversa à do período de industrialização, quando a produtividade do setor de serviços era superior à do setor industrial. Esta situação revela que, até a década de 1980, os trabalhadores que abandonavam o setor agropecuário e encontravam emprego nos demais setores produziam mais, em média, que os trabalhadores que ficavam no campo. Os trabalhadores que migravam do setor industrial para o setor de serviços também produziam mais, contribuindo para a elevação da produtividade agregada da economia. Assim, o processo de mudança estrutural percebido pela transferência de trabalhadores para os setores industrial e de serviços, até o final da década de 1970, sempre implicou em aumento da produtividade. Porém, a partir da década de 1980, a transferência de trabalhadores da indústria para os serviços esteve associada à queda da produtividade total da economia.

Ao que parece, o processo de desindustrialização brasileiro e, ao mesmo tempo, de crescimento da participação do setor de serviços na geração de emprego e renda, levou a um processo de mudança estrutural redutora de produtividade. O Brasil retirou recursos da indústria, seu setor relativamente mais produtivo, e transferiu para o setor de serviços, com tendência de queda acentuada de produtividade relativa nas últimas décadas.

Esse processo de mudança estrutural sugere que o Brasil depende cada vez mais do desempenho do setor de serviços para elevar a sua produtividade agregada, já que o setor de serviços tem maior peso na produtividade total da economia. A importância do setor de serviços reside notadamente no seu tamanho. Já o crescimento da produtividade do setor agropecuário, apesar de relevante, produz efeitos reduzidos na produtividade agregada, pois seu tamanho é bem menor.

A situação é mais problemática ao se comparar o nível de produtividade do trabalho do setor de serviços brasileiro com o seu congênere norte-americano. Conforme mostra o Gráfico 2, durante a década de 1970 constata-se um processo de convergência da produtividade do setor de serviços brasileiro com o norte-americano. Entretanto, a partir da década de 1980, a produtividade do trabalho no setor de serviços brasileiro cada vez distancia-se mais da produtividade média dos serviços dos EUA. Este fato revela que o setor de serviços brasileiro, além de comprometer a produtividade agregada nacional nas últimas décadas, também exerceu efeito importante para o fenômeno do falling behind brasileiro em nível internacional, já que, em termos comparativos, o seu setor com maior peso na estrutura produtiva é cada vez menos produtivo em relação à fronteira produtiva internacional.

Gráfico 2 – Nível de produtividade do trabalho relativa do setor de serviços brasileiro ao dos Estados Unidos da América.

g2Fonte: Unctadstat. Elaboração própria.

Estas evidências dão suporte à hipótese do post. O aumento da produtividade do setor agropecuário não estaria contribuindo suficientemente para o aumento da produtividade agregada. Ademais, a mudança estrutural no caminho da desindustrialização e elevação do setor de serviços na ajudaria a explicar o processo de estagnação relativa do nível de renda e de produtividade nas últimas três décadas.

Dado o elevado peso dos setores industrial e de serviços, seria premente a adoção de políticas de mudança estrutural centradas naqueles setores como forma de garantir o crescimento da produtividade agregada e do nível de renda nacional.

 

MCMILLAN, Margaret S.; RODRIK, Dani. Globalization, structural change and productivity growth. National Bureau of Economic Research, 2011.

O que a comparação internacional revela sobre o comportamento recente do setor de serviços intermediários do Brasil?

A literatura de serviços e de complexidade econômica mostra que o desenvolvimento do setor de serviços contribui para o aumento da competitividade industrial. Em especial, a emergência das novas tecnologias de comunicação, a partir da década de 1980, resultou no aumento da contribuição deste setor para a competitividade industrial. Paralelo a isto, a literatura que estuda o setor industrial brasileiro mostra que este setor está passando por um intenso processo de desindustrialização. Deste modo, surge o seguinte questionamento: será que o comportamento do setor de serviços explica a ocorrência da desindustrialização?

Respondemos a pergunta a partir da análise do comportamento e evolução do setor de serviços intermediários no período 1980-2009. Para mensurar a trajetória do setor de serviços no Brasil no longo prazo e relativizar seu desempenho com o de outras economias, adaptamos o indicador de Desindustrialização Relativa Internacional (DRI), apresentado por Arend (2014), para criar o indicador de Deservicilização Relativa Internacional (DRS).

Se o DRS for maior (menor) que 1, o crescimento do setor de serviços no país é superior (inferior) ao observado na amostra usada na análise. Isto é, em termos relativos, o país está se servicilizando (deservicilizando).

O Gráfico 1 foi construído a partir de dados disponibilizados pelo Groningen Growth and Development Centre para o período 1980-2009. Ele apresenta a evolução do DRS calculado para o Brasil em relação a seis regiões selecionadas mais os Estados Unidos. Os dados revelam o crescimento inferior do setor de serviços intermediários no Brasil quando comparado às regiões selecionadas. Até mesmo a África subsaariana e a América Latina apresentam maior crescimento relativo deste setor.

A região contra a qual o Brasil se encontra relativamente melhor posicionado é a Ásia. Contudo, no período analisado, o setor de serviços intermediários do Brasil cresceu apenas 76% do crescimento observado por aquela região. Por outro lado, a região contra a qual o Brasil apresenta pior posicionamento é a Europa. No período 1980-2009, o setor de serviços intermediários brasileiro apresentou apenas 47% do crescimento observado naquela região.

Estes dados revelam tendências preocupantes. Dado que o desenvolvimento do setor de serviços intermediários resulta em aumento da competitividade industrial, a diminuição da sua participação relativa pode explicar o processo de desindustrialização observado no Brasil. O não desenvolvimento deste setor pode dificultar a entrada do Brasil nas novas tecnologias de informação que emergiram a partir da década de 1980 o que, por sua vez, pode resultar em menor competitividade industrial e em desindustrialização.

Gráfico 1 – Evolução da Deservicilização Relativa Internacional (DSR)

DRS

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados disponibilizados pelo Groningen Growth and Development Centre.

 

Autores:

20160812_094831-2-3Adilson Giovanni é Economista, com graduação pela Universidade Federal de Santa Maria. Tem mestrado e atualmente é doutorando pelo Programa de Pós-graduação em Economia da UFSC.
fotomarceloMarcelo Arend é Pós-doc (Universidad Autónoma de Madrid, 2015-2016), Doutor em Economia (UFRGS, 2009), Mestre em Economia (UFSC, 2004) e Bacharel em Ciências Econômicas (UFSM, 2002). Professor Adjunto da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no Departamento de Economia e Relações Internacionais.

Referência bibliográfica

AREND, M. A industrialização do Brasil ante a nova divisão internacional do trabalho. In: IPEA. Presente e Futuro: desafios ao desenvolvimentismo brasileiro. IPEA, 2014.