Economia de Serviços

um espaço para debate

Author: Anaely Machado (page 1 of 4)

Serviços, automação e polarização no mercado de trabalho

Em post anterior, falamos sobre as mudanças impostas pelas transformações tecnológicas ao mercado de trabalho, impulsionando a demanda por trabalhadores mais qualificados e a redução do emprego em funções que podem ser automatizadas. Por outro lado, naquele momento não abordamos as possíveis consequência para os trabalhadores menos qualificados.

Em um primeiro momento, muitos diriam que a automação levaria a uma substituição quase imediata de trabalhadores que exercem funções de baixa complexidade. No entanto, a experiência recente tem mostrado que as transformações no emprego diante do uso de tecnologias são ainda mais complexas do que isso. Se, por um lado, o avanço tecnológico tem contribuído para o aumento da ocupação em funções que exigem trabalhadores cada vez mais habilidosos, por outro, observa-se que, simultaneamente, tem aumentado a participação do emprego em atividades que exigem baixa habilidade (que geralmente envolvem habilidades manuais e não podem ser executadas por máquinas). Esse fenômeno tem sido chamado de polarização do mercado de trabalho.

Estudos para economias mais desenvolvidas como Estados Unidos[1] e Reino Unido[2] verificaram um aumento do emprego em profissões que compreendem tarefas de menor habilidade (associadas à execução de tarefas menos complexas) desde os anos 1980.  Em outras palavras, esses países apresentam um fenômeno de polarização do emprego em que tanto as atividades de baixa complexidade quanto as de alta complexidade cresceram em participação no emprego total nos últimos anos.

O gráfico abaixo ilustra o fenômeno de polarização identificado para os Estados Unidos e apresenta evidências preliminares de que algo similar tem ocorrido no mercado de trabalho brasileiro. Os dados mostram a variação (em pontos percentuais – p.p.) na participação no emprego total de cada percentil de salário para os dois países, com base em dados de pesquisas censitárias. A hipótese central é de que o percentil de salário capta não apenas a remuneração pelo nível educacional como também a valoração do grau de complexidade das tarefas desempenhadas pelos empregados em uma determinada função[3].

A figura deixa claro que há um aumento no emprego nos dois extremos de grau de habilidade das ocupações no Brasil entre 2000 e 2010. Assim, são registradas variações positivas na participação das ocupações de menor nível de habilidade (classificadas até o 13º percentil) e das ocupações de maior nível de habilidade (acima do 55º percentil) no emprego total, enquanto as ocupações classificadas entre os percentis 14º e 54º registraram uma variação negativa. Mais ainda, a sobreposição da curva calculada para os Estados Unidos por Autor e Dorn (2013) enfatiza a similaridade entre os casos brasileiro e americano. Embora as curvas tratem de períodos distintos, o fenômeno em si é o mesmo: a ocupação caiu primordialmente em ocupações consideradas de média habilidade nos dois países.

GRÁFICO – Variação do emprego por percentil de salário (Em p.p.)*

Fonte: Censo/IBGE e Autor e Dorn (2013). Cálculos da autora.

Mas, afinal, quais são essas ocupações de baixa e de alta habilidade que lideram o fenômeno da polarização? Basicamente, o aumento da demanda por trabalhadores altamente habilidosos vem ocorrendo em ocupações associadas ao manuseio de tecnologias de ponta, como programadores, engenheiros e cientistas da computação. Por outro lado, o aumento do emprego de baixa habilidade ocorre, primordialmente, entre ocupações associadas a serviços, tais como atendentes, pedreiros, cabelereiros, cuidadores, motoristas, entres outras ocupações ligadas a prestação de serviços pessoais, cuja função ainda não pode ser facilmente substituída por máquinas, embora demandem baixa qualificação do trabalhador.

Nesse sentido, ao que tudo indica, o setor de serviços, mais uma vez, tem uma papel decisivo na definição da estrutura produtiva e, em particular, do padrão de emprego.

Sobre isso, o próximo gráfico desagrega os dados por setor de atividade, permitindo identificar como a variação do emprego na indústria de transformação, na agropecuária e no setor de comércio e serviços contribuiu para o processo de polarização estimado anteriormente. Ao se observar as ocupações de menor habilidade (até o 15º percentil) e as ocupações classificadas acima do 85º percentil, o setor de comércio e serviços é o principal responsável pela expansão do emprego nesses grupos de ocupações. Em outras palavras, mais uma vez evidencia-se a alta heterogeneidade dos serviços: neste caso, vemos a capacidade de esse setor ser capaz de alterar a dinâmica do emprego nos dois extremos de grau de habilidade demandados dos trabalhadores.

GRÁFICO – Decomposição da variação do emprego por atividade econômica entre 2000 e 2010* (Em p.p.)

Fonte: Censo/IBGE. Cálculos da autora.

Diante desse cenário, o setor de serviços aparenta ser o ponto crítico para explicar a polarização. Enquanto a indústria e a agropecuária perderam espaço na economia nas últimas décadas, os serviços se expandiram tanto em atividades que demandam mão de obra de baixa qualificação (como serviços pessoais), quanto em atividades que contratam empregados altamente qualificados (como os serviços empresariais associados ao desenvolvimento de tecnologias e soluções para empresas).

A compreensão desse fenômeno e, especialmente, da alocação de trabalhadores mais qualificados nesse contexto representa um aspecto relevante para o debate sobre as mudanças tecnológicas e seu impacto sobre o mercado de trabalho no futuro.

*Notas metodológicas sobre a elaboração dos gráficos:

  1. As ocupações foram ordenadas pelo log do salário médio em 2000. Foram excluídas observações de pessoas que reportaram renda do trabalho principal inferior a R$ 200.
  2. Para os dados americanos, Autor e Dorn (2013) ordenaram as profissões com base no log do salário médio de 1980. Além disso, os autores excluem ocupações associadas ao setor agropecuário.
  3. A estimação do gráfico baseou-se na mudança suavizada no emprego para cada período, utilizando regressão local ponderada, seguindo a mesma estratégia utilizada para o cálculo da curva de polarização americana de Autor e Dorn (2013).

Para mais detalhes sobre a metodologia, ver o texto original sobre o tema publicado em Machado (2017).[4]

Referências

[1] AUTOR, D.; KATZ, L.; KEARNEY, M. The polarization of the U.S. Labor Market. The American Economic Review, v. 96, n. 2, p. 189-194, 2006.

[2]GOOS, M.; MANNING, A.; SALOMONS, A. Job polarization in Europe. The American Economic Review, v. 99, n. 2, p. 58-63, 2009.

[3]A estratégia para a construção dos gráficos de polarização é similar à adotada por Autor e Dorn (2013) em AUTOR, D.; DORN, D. The growth of low-skill service jobs and the polarization of the US Labor Market. American Economic Review, v. 103, n. 5, p. 1553-1597, 2013.

[4]MACHADO, A. Existe polarização no mercado de trabalho brasileiro? RADAR: Tecnologia, Produção e Comércio Exterior, v. 53, p. 13-17, 2017.

Boletim de Serviços – Janeiro de 2018

O Boletim de Serviços de janeiro de 2018 está no ar, clique aqui para acessá-lo. Alguns dos destaques:

  • A receita nominal do setor de serviços registrou contração de 4,1% em outubro, enquanto o volume de atividades contraiu 1,5%, na comparação anual
  • A inflação de serviços acumulada em 12 meses foi de 5,8% em novembro
  • O emprego no setor de serviços apresentou saldo positivo, com a criação de mais de 38 mil vagas, principalmente no setor de serviços tradicionais
  • As exportações de serviços registraram um aumento de 3,3% na comparação anual, enquanto as importações cresceram 13,3%
  • O IDE em serviços apresentou variação positiva de 17,7% na comparação anual

Para acessar a metodologia e as séries históricas em excel, acesse: https://economiadeservicos.com/boletim.

Boletim de Serviços – Abril de 2017

O Boletim de Serviços de abril de 2017 está no ar, clique aqui para acessá-lo. Alguns dos destaques:

  • A receita nominal do setor de serviços registrou contração de 1,9% em janeiro, enquanto o volume de atividades contraiu 13,2%, na comparação anual
  • A inflação acumulada em 12 meses foi de 4,6% em fevereiro
  • Pela primeira vez desde março de 2015, foi registrado um saldo positivo no emprego em serviços
  • As exportações de serviços registraram um aumento de 2,6% na comparação anual, enquanto as importações cresceram 12,5%
  • O IDE em serviços contabilizou expansão de 23,5% na comparação anual

Para acessar a metodologia e as séries históricas em excel, acesse: https://economiadeservicos.com/boletim.

Boletim de Serviços – Março de 2017

O Boletim de Serviços de março de 2017 está disponível, clique aqui para acessá-lo. Alguns dos destaques:

  • A receita nominal do setor de serviços registrou contração de 1,43% em dezembro, na comparação anual, enquanto o volume de atividade contraiu 5,72%
  • A inflação de serviços atingiu 4,84% no acumulado em 12 meses
  • O primeiro mês de 2017 registrou o encerramento de 69 mil vagas de trabalho no setor de serviços
  • O déficit da balança de serviços foi de US$ 2,4 bilhões em janeiro
  • O IDE em serviços contabilizou crescimento de 353% na comparação anual

Para acessar a metodologia e as séries históricas em excel, acesse: https://economiadeservicos.com/boletim.

Boletim de Serviços – Dezembro de 2016

O Boletim de Serviços de dezembro de 2016 está no ar, clique aqui para acessá-lo. Alguns dos destaques:

  • A receita nominal do setor de serviços registrou contração de 0,23% em setembro, enquanto o volume de atividades contraiu 4,84%, na comparação anual
  • A inflação de serviços acumulada em 12 meses foi de 7,03% em outubro
  • No mês, 57 mil postos de trabalho foram encerrados no setor de serviços
  • O déficit da balança de serviços foi de US$ 2,78 bilhões em outubro
  • O IED em serviços contabilizou contração de 8,3% na comparação anual

Para acessar a metodologia e as séries históricas em excel, acesse: https://economiadeservicos.com/boletim.

Boletim de Serviços – Novembro de 2016

O Boletim de Serviços de novembro de 2016 está no ar, clique aqui para acessá-lo. Alguns dos destaques:

  • A receita nominal do setor de serviços registrou variação positiva de 2,12% em agosto, enquanto o volume de atividades contraiu 4%, na comparação anual
  • A inflação do setor acumulada em 12 meses reduziu a 7,03%
  • Foram encerradas 40.544 vagas no setor de serviços em setembro
  • O déficit da balança de serviços foi de US$ 2,6 bilhões em setembro
  • O IDE em serviços contabilizou contração de 8% em relação ao mesmo período de 2015

Para acessar a metodologia e as séries históricas em excel, acesse: https://economiadeservicos.com/boletim.

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Automação e o futuro do emprego

Em agosto deste ano, a UBER deu um novo passo em direção à substituição de pessoas por máquinas, com o lançamento do serviço prestado por carros autônomos em Pittsburgh. A novidade ainda está em fase de teste, mas já dá o sabor de como atividades rotineiras estão começando a ser executadas por máquinas inteligentes.

Essa nova realidade indica que tecnologias de automação extrapolam a substituição de mão de obra no ambiente industrial e já alcançam setores de serviços. O resultado desse processo evidencia uma tendência de extinção de diversas profissões tradicionais em diferentes setores da economia.

Pesquisadores de Oxford analisaram a suscetibilidade de empregos à informatização nos Estados Unidos, com o intuito de verificar o impacto sobre o mercado de trabalho da substituição de pessoas por computadores. Com base no estudo, os autores constatam que 47% do emprego total na economia americana encontra-se em situação de alto risco de automação nas próximas duas décadas – isto é, essas vagas apresentam uma probabilidade de computadorisation superior a 70%. O estudo indica, ainda, que os setores mais suscetíveis à automação são produção, serviços e comércio (ver gráfico abaixo).

Gráfico – distribuição do emprego por setor nos Estados Unidos, conforme probabilidade de automação

automacao

Fonte: Frey e Osborne (2013)

O estudo ainda permite verificar quais as áreas mais passíveis de serem automatizadas. Profissões como comerciantes, atendentes de caixa, contadores, auditores, atendentes de telemarketing, taxistas e motoristas de caminhão apresentam probabilidade em torno de 90% de serem automatizadas. E esses são apenas alguns exemplos de empregos que podem sumir em áreas como logística e transporte, atividades de escritório e serviços.

Conforme publicação recente da The Economist, o que determina a vulnerabilidade à automação é o quanto um trabalho pode ser considerado rotineiro. Atualmente, as máquinas são capazes de executar uma variedade de trabalhos manuais, bastando a programação adequada. E o mais surpreendente é que essas máquinas já são capazes de executar tarefas rotineiras mais complexas que exigem alguma capacidade cognitiva.

Na prática, as máquinas inteligentes já são capazes de executar algumas tarefas com qualidade superior a pessoas. O texto da The Economist cita o exemplo de uma máquina de radiografia capaz de escanear pacientes e identificar risco de tumor com grande precisão. Em comparação com radiologistas especializados, a máquina apresentou capacidade de classificação de tumores malignos 50% superior.

Por um lado, a automação é um salto no desenvolvimento, tornando possível a execução de atividades com maior grau de eficiência e precisão, por meio do emprego de tecnologias cada vez mais sofisticadas. Por outro lado, surge uma questão crucial: a automação resultará em maior desemprego?

Ainda não há uma resposta categórica para essa pergunta. Alguns especialistas argumentam que a automação substitui mais trabalhadores do que a capacidade da economia americana gerar novos empregos. Outros especialistas já são mais otimistas e garantem que a automação também abre novas oportunidades para a geração de empregos em áreas associadas ao desenvolvimento de tecnologias. Em outras palavras, o fator humano ainda é necessário para executar tarefas não automatizáveis.

De todo modo, a automação impõe um desafio maior para o mercado de trabalho: o capital humano deve ser cada vez mais habilidoso para que tenha chances de competir por vagas.

Achar uma solução para a equação automação e desemprego é um desafio para economias modernas. E essa solução demanda uma variedade de esforços para que o capital humano desenvolva as habilidades exigidas para acompanhar a nova dinâmica do mercado de trabalho cada vez mais automatizado.

Boletim de Serviços – Outubro de 2016

O Boletim de Serviços de outubro de 2016 está no ar, clique aqui para acessá-lo. Alguns dos destaques:

  • A receita nominal do setor de serviços registrou recuperação de 0,23% em agosto, enquanto o volume de atividades contraiu 4,47%, na comparação anual
  • A inflação acumulada em 12 meses apresentou declínio de 7,67% em julho para 6,93% em agosto
  • Foram fechadas 27.646 vagas no setor de serviços em agosto
  • O déficit da balança de serviços foi de US$ 2,2 bilhões em agosto
  • O IDE em serviços expandiu 121% na comparação anual

Para acessar a metodologia e as séries históricas em excel, acesse: https://economiadeservicos.com/boletim.

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Boletim de Serviços – Setembro de 2016

O Boletim de Serviços de setembro de 2016 está no ar, clique aqui para acessá-lo. Alguns dos destaques:

  • A receita nominal do setor de serviços registrou variação positiva de 0,55% em junho, enquanto o volume de atividades contraiu 3,39%, na comparação anual
  • A inflação acumulada em 12 meses passou de 8,13% em abril para 7,53% em julho
  • Em julho, foram encerrados 84 mil postos de trabalho
  • O déficit da balança de serviços se reduziu, devido a contração nas importações
  • O IDE em serviços contabilizou contração de 26,5% na comparação anual

Para acessar a metodologia e as séries históricas em excel, acesse: https://economiadeservicos.com/boletim.

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Boletim de Serviços – Agosto de 2016

O Boletim de Serviços de agosto de 2016 está no ar, clique aqui para acessá-lo. Alguns dos destaques:

  • A receita nominal do setor de serviços registrou contração de 0,71% em maio, enquanto o volume de atividades contraiu 6%, na comparação anual
  • A inflação acumulada em 12 meses passou de 8,68% em abril para 8,13% em maio
  • O primeiro semestre de 2016 registrou o encerramento de 450 mil vagas no setor de serviços
  • O déficit da balança de serviços foi de US$ 3,5 bilhões em junho
  • O IDE em serviços contabilizou contração de 8% na comparação anual

Para acessar a metodologia e as séries históricas em excel, acesse: https://economiadeservicos.com/boletim.

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