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10 tendências que moldarão o ensino superior no Brasil em 2025

O tempo pode parecer curto. São apenas mais oito anos até 2025. Uma criança com dez anos hoje será um candidato a uma vaga nas universidades de meados da próxima década. As mudanças serão grandes, para o jovem e para os seus pais. No cenário do curtíssimo prazo traçado pela influência exponencial das tecnologias e pela introdução de novos modelos de negócios, o sistema de ensino superior terá uma aparência surpreendentemente diversa da atual. Dentro e fora de sala de aula.

Grupos gigantes e globais de ensino superior, com bancos próprios para financiar o estudo dos alunos, utilização massiva de educação a distância (EaD), ensino híbrido — presencial e virtual — e novos perfis de estudantes. No cenário de influência exponencial das tecnologias e de introdução de novos modelos de negócios, estas são algumas das forças de mudanças descritas pelo estudo “Dez tendências estratégicas que moldarão o ensino superior em 2025”, produzido pela consultoria de inteligência empresarial Nous Sense-Making[1]  e coordenado pelo autor deste post.

A lista de 10 projeções é o resultado da aplicação de metodologia de identificação de visões de futuro, desenvolvida pela empresa, com base em processos de elaboração de cenários. As três etapas de produção das informações incluíram entrevistas com mais de 50 especialistas, além de envolvimento da equipe de consultores especializados, que mapearam as principais forças das mudanças para identificar as questões estratégicas que deverão estar presentes no radar de prioridades das principais instituições do mercado global de ensino.

A atualização tecnológica, reivindicada, hoje, por professores e especialistas em educação como uma necessidade prioritária, terá se consolidado nesses próximos anos nas salas de aula do ensino superior. Os universitários, integrantes da geração dos “centennials”, as primeiras turmas dos nascidos após 2010, terão crescido com um smartphone e um tablet nas mãos.

Não há como evitar as transformações e seus impactos disruptivos. Segundo o estudo, já em 2023 a graduação on-line deverá ser responsável pela formação da maioria dos estudantes. Será o resultado do fato de que a internet estará presente em todos os cantos — ubíqua, por definição.

Caso não queiram ficar para trás, organizações de ensino, pesquisadores e gestores das organizações de políticas públicas no campo da educação precisam reconhecer as hipóteses para o futuro a partir da identificação dos principais drivers que possibilitam a compreensão do ambiente de negócios do segmento. As forças das mudanças já estão ativas. As peças se movem para construir o futuro do sistema educacional.

Entre os drivers de mudanças imediatas, há a formação das “escolas-banco” pelas grandes instituições privadas de ensino. Recentemente, o grupo Kroton fez parceria com um banco para financiar estudantes. A rede de universidades é, hoje, um dos principais players do ensino no Brasil, com vínculos globais. E o Banco Votorantin entrou no mercado de crédito estudantil com uma nova unidade especializada. São estratégias que deverão se intensificar nos próximos anos, como um efeito da redução drástica do financiamento público e um possível esvaziamento da rede pública de universidades federais.

Outra tendência clara é a concentração de mercado. A tentativa do grupo Kroton de comprar o controle da Estácio, abortada pelo Conselho Administrativo de Ordem Econômica (Cade), é um indicador claro da estrutura em formação no mercado. A união das duas redes privadas de ensino reuniria 1,5 milhão de alunos e a criação de uma rede detentora de 23% do mercado. Pequenas redes de ensino identificam, diante de tal abordagem, riscos enormes, contra os quais dificilmente conseguirão resistir nos próximos anos.

Abaixo listamos as 10 principais tendências que, de acordo com o estudo, moldarão o ensino superior em 2025:

  1. Educação virtualizada
  2. Educação one-to-one
  3.  Wazeirização
  4. Ensino baseado em projetos
  5. Novos mestres
  6. Novas habilidades, novos desafios
  7. Mercado de gigantes
  8. Desafio do foco-atenção
  9. Ensino em rede
  10. Escolas-banco

Para um aprofundamento das temáticas resultantes do estudo, publicaremos posts onde discutiremos cada uma das dez tendências identificadas pelo nosso estudo.

[1]Nota do blog: o autor do texto é sócio da empresa citada.

Outsourcing, shelfsourcing e netsourcing

A palavra outsourcing não é um desses anglicismos de modismo. Sua incorporação no linguajar empresarial/acadêmico brasileiro se presta a diferenciar a aquisição de serviços de custo de serviços de agregação de valor. Os serviços de custo são aqueles identificados com a terceirização.

A terceirização é decorre do acirramento da concorrência e da necessidade de cortar custos em toda sorte de atividades auxiliares – altamente padronizadas e raramente customizadas; são serviços de prateleira, simbolizando estágios cada vez mais radicais de um fenômeno que é tão antigo quanto o capitalismo: a divisão e especialização do trabalho. Portanto, o shelfsourcing não traz mudanças conceituais relevantes, pois a empresa compradora desse serviço apenas deixa de realizá-lo por conta própria e o adquire pronto e embalado nas prateleiras do mercado. Na contabilidade nacional, parte do crescimento do setor de serviços se deu pela mensuração do shelfsourcing (advocacia, contabilidade, transporte, limpeza, etc., são bons exemplos de atividades terceirizadas), que gerou uma “desindustrialização contábil” pela mudança de propriedade, mas dificilmente por mudanças estruturais reais.

Estudos[1] que investigam as razões que levam a organização empresarial para formatos mais centralizados ou descentralizados – no que diz respeito às suas atividades finalísticas – mostram que o alto nível de complexidade tecnológica de uma determinada atividade pode induzir à descentralização das decisões dentro de uma empresa. O aumento dessa complexidade proporciona estruturas de comando mais descentralizadas, na qual os gerentes das áreas finalísticas possuem maior autonomia decisória em virtude da elevação da assimetria de informações entre a direção central e os gerentes; um trade-off clássico do modelo principal-agente no qual os custos de delegação são comparados aos seus benefícios.

Se entendermos o outsourcing como o próximo passo após a descentralização empresarial, entenderemos que isso não trata da delegação externa de atividades avançadas previamente desempenhadas dentro da empresa; pelo contrário, elas representam o surgimento de soluções para desafios internos das empresas industriais, mas que, em face ao elevado grau de complexidade que tais desafios têm alcançado, não poderiam surgir internamente ou surgiriam a custos e esforços relativamente elevados. Mais do que isso, a multiplicação e o acúmulo de soluções disponíveis no mercado afrouxaram as fronteiras da capacidade inovadora de toda a economia, não apenas implicando em reduções de custo, mas tornando possível produtos e processos antes inimagináveis. Não se trata de uma empresa contratar um serviço de design industrial como ela contrataria um escritório de contabilidade. Nessa modalidade, a sinergia e a simbiose entre serviços e indústria não se manifesta apenas no design arrojado de um produto, mas na noção de que empresas operando em mercados distintos apenas conseguem evoluir em seus próprios negócios quando fornecem feedback mútuo. Nesse sentido, as empresas praticam netsourcing, pois a criação de soluções ocorre em redes, e é nelas que as empresas buscam e entregam tecnologias.

Esse momento de extrapolação dos limites da empresa em suas atividades finalísticas as coloca como conectores de um emaranhado de soluções que podem ou não ter sido elaboradas, inicialmente, para seus problemas específicos – essas soluções estão intimamente associadas aos serviços de agregação de valor. O netsourcing pode, sim, significar uma mudança conceitual relevante na forma como as empresas se organizam para a produção. No espaço-indústria a elevação da participação dos serviços na economia dos países desenvolvidos conjugada com o aumento da densidade industrial é consequência direta do netsourcing, e não do shelfsourcing – essas nações tornaram-se economias de serviços de agregação de valor, e não de custos. Muitos antigos centros de P&D internos de grandes corporações industriais abandonaram a pesquisa propriamente dita e tornaram-se membros colaborativos em redes de empresas, laboratórios governamentais e universidades, intercambiando agendas de pesquisa e soluções tecnológicas.

A maturidade e sofisticação industrial das últimas décadas estão na raiz do protagonismo do setor de serviços. O mundo moderno gerou uma vasta e complexa necessidade de novas soluções que estimulou a consolidação de uma rede de empresas especializadas em provê-las. Trabalhar em rede (o netsourcing) não é apenas o mantra do momento dos gurus da administração; é a verdadeira prática de organização empresarial que sustenta o domínio tecnológico e econômico das grandes corporações e das nações às quais pertencem.

[1] ACEMOGLU D. [et al.] Technology, information, and the decentralization of the firm [Artigo] // The Quarterly Journal of Economics. – Novembro de 2007. – pp. 1759-1799.

Tendências de consumo global para as próximas décadas

A análise das tendências de crescimento populacional pode fornecer informações  importantes para o o posicionamento de qualquer empresa em relação a quais grupos da população terão gastos mais robustos, sua localização geográfica e quais produtos e serviços serão de sua preferência. Relatório da Mckinsey aponta que, até o ano 2000, mais da metade do consumo mundial vinha da expansão no número de consumidores no mundo. Até 2030, o que se verá, todavia, é que o crescimento populacional deverá gerar apenas 25% do crescimento de consumo global. O restante virá do aumento no consumo per capita, conforme quadro abaixo:

consumption trend

Fonte: Mckinsey, 2016

Aponta-se ainda que nove grupos urbanos gerarão três quartos do consumo global até 2030 – dentre esses nove, três serão responsáveis por metade do crescimento projetado: a população aposentada e idosa em regiões desenvolvidas e a população economicamente ativa na China e nos EUA. As tendências no padrão de consumo da população chinesa revelam que o aumento no número de consumidores aliado ao aumento na renda no país tem o potencial de impactar o consumo global tanto quanto o impacto gerado pela geração baby-boomer, tida como a geração mais rica da história.

Entre os setores com forte crescimento no consumo está o educacional. Entre 2015 e 2030, espera-se que os chineses gastem 12,5% do crescimento total do consumo em educação – valor bastante próximo ao esperado na Suécia (12,6%). Esse valor é superior ao estimado para todos os demais países da amostra analisada pela Mckinsey, e bastante acima do valor estimado para o Brasil, de 2%. Diferentemente do que se via em gerações passadas, os jovens chineses têm opções de consumos bastante diversas de seus pais, pois alocam parcela maior de recursos em consumo imediato, têm desejo de compras mais próximos ao visto no Ocidente (como opção por marcas mais renomadas) e estão muito mais engajados no consumo digital.

Como esperado, ainda que a demanda pelo consumo de bens ainda esteja crescendo em diversas economias, o relatório também mostra uma mudança importante no padrão de consumo na direção de serviços tradicionais com o aumento da renda per capita. Isso é reflexo de duas tendências: a primeira delas refere-se ao aumento na demanda por serviços de saúde nos países desenvolvidos, em particular entre a população acima de 60 anos. Como exemplo, observa-se que o consumo per capita de serviços de saúde tende a aumentar de cerca de US$ 8.200 aos 60 anos para US$ 35.000 quando se chega próximo aos 90 anos, em regiões desenvolvidas. Uma segunda tendência importante refere-se ao aumento no consumo de serviços como comunicação, transporte, bancário, alimentação e educação em economias emergentes, gerado pela elevação de renda. Também como esperado, o consumo nas regiões urbanas será responsável por parcela considerável (81%) do consumo global.

As implicações dessas estimativas para as empresas são bastante relevantes para seu desempenho no futuro: como três quartos do consumo global até 2030 dependerá do aumento do gasto individual, é preciso entender melhor quais são os consumidores mais propensos a ingressar nessa trajetória e quais os próximos bens e serviços que estes desejam adicionar ao seu orçamento. Além disso, as firmas terão de se mostrar dispostas a se adaptarem às novas demandas dos diferentes grupos com poder aquisitivo em crescimento. Como já indicado antes neste blog, é preciso que as empresas evoluam para fornecer produtos e serviços mais customizados, para satisfazer demandas cada vez mais sofisticadas, num ambiente de alta competição no mercado. Por fim, também como já exposto aqui, como o setor de serviços responde não apenas pelo aumento direto no consumo, como também pelo aumento indireto, via seu uso em bens, é inegável que a estratégia das empresas deve perpassar uma visão mais estratégica e uma compreensão maior sobre as dinâmicas entre os setores de manufatura e serviços.