A figura 1 mostra estimativas do PIB per capita e de sua taxa de crescimento até 2023. Se as nossas estimativas de taxa de crescimento do PIB per capita para 2016 se realizarem, ou mesmo que algo um pouco mais brando se verifique, ainda assim teremos configurado um quadro técnico de depressão. Infelizmente, as estimativas sugerem que  recuperaremos o PIB per capita de 2014 somente por volta de 2022. Esta perspectiva dramática requer estratégias de política econômica incisivas para se evitar que a economia permaneça estagnada por tanto tempo. E, para isto, teremos que pensar “fora da caixa”.

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Diferentemente de setores como a indústria, a agricultura e a mineração, o setor de serviços tem recebido historicamente pouca atenção das políticas de crescimento econômico. Embora o setor esteja atraindo um pouco mais atenção recentemente, ele ainda é visto como parte de uma agenda econômica secundária ou, se muito, complementar. De fato, nunca houve no país uma política para o setor de serviços ou algo que se assemelhe a isto.

Parte da explicação desta desatenção pode ser creditada à grande heterogeneidade do setor de serviços. Mas, ainda assim, o argumento pouco se sustenta à luz da experiência internacional – a União Europeia, por exemplo, reconhecendo a relevância da atividade, divulgou recentemente uma ampla estratégia para a modernização do setor visando competir globalmente. Estados Unidos, Nova Zelândia e outros países avançados também têm as suas estratégias. A China, por sua vez, reconhecendo a baixa competitividade dos seus serviços e a sua vital relevância para as suas aspirações de seguir crescendo velozmente, elegeu os serviços como uma das suas prioridades. E os resultados já começaram a surgir, seja no front da participação do setor no PIB, seja na capacidade de desenvolver tecnologias e agregar valor à indústria a partir de serviços.

No Brasil, a participação dos serviços no PIB e no emprego atinge padrões de países avançados – 72% e 74%, respectivamente. Para além desses números, o setor tem elevada participação nos custos das empresas industriais e de commodities e é parcela majoritária do consumo das famílias, com 64% da cesta de consumo. Logo, o setor é determinante para a competitividade setorial e agregada e é crucial para o bem-estar e para o combate à pobreza. Parece-nos, por isto, mais que razoável concluir que os serviços deveriam ser parte do “core” de qualquer estratégia de saída da crise.

Mas o que fazer? Por certo, há muito a se fazer nos âmbitos regulatório, de integração com outros setores para se fomentar uma relação sinergética e simbiótica, de desenvolvimento de capital humano e de gestão e de atração de investimentos, tal como já vem sendo discutido por este blog. Mas, dentre as chagas do setor que precisam ser atacadas com determinação, destaca-se a sua baixa competitividade.

A figura 2 mostra indicador de competitividade do setor de serviços construído a partir da razão entre preços relativos e produtividade do trabalho (ambos em relação aos EUA). O Brasil está na penúltima posição. Em razão da baixa eficiência e produtividade do setor, políticas inteligentes, bem desenhadas e focadas podem ter retornos elevados e podem ser determinantes para que o país possa abreviar a depressão em que está metido e retomar mais rapidamente o crescimento.

Pensar fora da caixa é atacar um setor esquecido, embora crítico para a economia.

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