Economia de Serviços

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O ensejo protecionista de Trump e o futuro do emprego nos EUA

Em seu governo, Trump mantém um discurso carregado de práticas protecionistas em relação ao comércio internacional, em conformidade com sua campanha presidencial. Muitas de suas ações vão no sentido de desmontar o legado de seu antecessor e, mais do que isso, desafiam fenômenos marcantes da economia global das últimas décadas, como a globalização, a interdependência e até o curso das revoluções tecnológicas e digitais. Dentre esses atos, estão a retirada dos Estados Unidos do Acordo Trans-Pacífico (TPP), as críticas direcionadas ao NAFTA e certa coerção a grandes montadoras para que mantenham as suas plantas industriais nos EUA.

A principal justificativa de Trump para tais atos e para os vários outros que poderão vir – cujas consequências para o mundo ainda são incertas – é a de aumento e/ou recuperação de empregos nos EUA, sobretudo para a classe média na produção do setor manufatureiro. Nos discursos do presidente, no entanto, há uma simplificação muito grande da complexidade da economia atual, em grande parte moldada pela globalização, tecnologia e serviços.

Em relação às tendências para o emprego, há grandes desafios críticos para a administração de Trump perante esse objetivo no médio prazo, sendo muitos deles ligados às transformações estruturais que tem ocorrido na economia norte-americana.

Apesar de não haver redução da produção manufatureira dos Estados Unidos, é mais do que evidente que nas últimas décadas houve um aumento da importância do setor de serviços em termos de agregação de valor “embarcados” no produto. Razões para isso não faltam, e destacam-se duas: primeira, o aumento de renda da população tende a aumentar a demanda por serviços de qualidade, como cuidados com a saúde; e, segundo,  a competitividade no setor manufatureiro demanda cada vez mais uma íntima relação com o setor de serviços, tornando-os, sob diversos aspectos, praticamente inseparáveis. Nesse sentido, serviços tais como pesquisa e desenvolvimento, engenharia de software, marketing e “health care”, por exemplo, tornam-se campos nos quais haveria maior perspectiva de geração de emprego, cuja oferta não supre a demanda.

A figura abaixo mostra a evolução dos principais setores em termos de emprego para cada estado americano em quatro tempos. Nota-se que pelo menos desde 1990, o setor manufatureiro foi perdendo constantemente participação relativa para o comércio de varejo. ‘Relativa’ também porque um setor não necessariamente cresce às custas de outro setor. A indústria manufatureira permaneceu como maior empregador em 2013 apenas em estados próximos da região “Rust Belt”, como Michigan, Iowa, Wisconsin, Indiana e Kentucky, e outros mais ao sul do país, como Alabama e Mississípi. Estes últimos são estados que não se destacam por dinamismo econômico e estão entre as mais baixas rendas per capita do país. Do outro lado, segundo o Bureau of Labor Statistics, em 2013, o setor de cuidados de saúde e assistência social era predominante em 34 estados, sendo que no moderno estado de Nova York é o setor predominante desde 1992.

Figura – Setores responsáveis pela maior parte do emprego por estado americano

A redução da participação relativa do setor manufatureiro é um marco da transição do sistema de riqueza industrial para a de economia do conhecimento. Em países de economia madura, dificilmente a produção manufatureira tradicional, de chão de fábrica, responderá de forma ascendente pela maior parte dos empregos. Países como a Alemanha – de alta participação do setor manufatureiro no PIB comparado a outros países desenvolvidos – têm reconhecido que, sem a incorporação de serviços de qualidade aos seus bens manufaturados (assim como sem a benesse do mercado europeu para as suas exportações), o país não conseguirá manter altos índices de competitividade na “Indústria 4.0”, ameaçando, assim, inclusive, os próprios ganhos salariais no setor de manufaturados.

De fato, o eleitor mediano de Trump não vem dos setores mais sofisticados voltados para serviços avançados e indústria de média/alta tecnologia, que são setores de alto desempenho na economia americana e mundial. Mas, com os novos modelos de negócios e revoluções tecnológicas, o hiato de salários entre os trabalhadores de alta e de baixa qualificação tende a aumentar, elevando ainda mais a preocupante desigualdade de renda. Seria mais razoável a utilização de recursos e esforços em um programa de requalificação de trabalhadores para reingressarem no mercado de trabalho com habilidades mais requeridas na economia moderna, mesmo que não seja efetivado na velocidade desejada.

O retorno aos EUA de etapas de processos produtivos que foram terceirizadas para o Leste Asiático na “fase de ouro” das cadeias globais de valor poderia ser feito pelas novas tecnologias de produção, reduzindo a fragmentação espacial da produção, e possibilitaria a produção fisicamente próxima do mercado consumidor. É incerto, no entanto, a velocidade com que esses processos se dariam, e se as normas e instituições internacionais contrarrupturas radicais poderiam adiar ou interromper tais mudanças.

Pode ser que o método da coerção realizado até aqui por Trump — discriminação contra produtos estrangeiros, privilégios tributários e investimentos em infraestrutura — traga de volta alguns empregos tradicionais para o solo americano sob o slogan “buy American, hire American”. Entretanto, é improvável que haverá geração significativa de empregos no setor manufatureiro, assim como é improvável que haverá prosperidade duradoura numa economia que se fecha.

Em algum momento, Trump terá que lidar de frente com o lado mais sofisticado e dinâmico da economia contemporânea, os serviços.

Jean Santos Lima é Doutorando em Relações Internacionais na UnB e se dedica ao estudo e pesquisa sobre Desenvolvimento Comparado, Globalização, e Política Internacional.

Os serviços incluídos nos carros autônomos

Quem não gostaria de parar de procurar vagas de estacionamento? Ou até mesmo de parar de dirigir em um engarrafamento longo e exaustivo? Enquanto a maioria dos consumidores aguarda pela chegada dos carros autônomos, as montadoras estão buscando cada vez mais agradar os seus clientes, oferecendo mimos tecnológicos. Uma das novidades é o assistente para estacionamento (park assistance), que é um comando que permite que o automóvel estacione sozinho. No Brasil, o Ford Focus Titanium Plus e alguns carros importados já possuem essa tecnologia. O Smile drive permite a conexão entre o carro e as redes sociais. Ele se conecta ao carro via bluetooth podendo compartilhar os caminhos percorridos, fazer check-in, postar fotos, enviar áudios, postar um texto, entre outros.

No mundo da tecnologia, as inovações têm surgido cada vez mais rapidamente. No mercado de automóveis não é diferente. Com tantas mudanças, Governos têm que agir mais rápido para atualizar sua normas e regras. A Alemanha e a França, por exemplo, já anunciaram que pretendem utilizar rotas para testar carros autônomos. Alguns países, se quiserem fazer o mesmo, terão que adaptar suas regulamentações para poder utilizar esses carros.

Os carros autônomos são mais um exemplo de bens industriais com alta proporção de serviços incorporados na sua fabricação. Como já explorado aqui no blog, esses serviços podem ser classificados como serviços de custo (ajudam a reduzir custos de produção), ou de agregação de valor, a depender de sua função no processo produtivo. No caso dos serviços embutidos nos carros autônomos, estes são majoritariamente de agregação de valor, já que, o valor do bem final (carro) será maior quanto mais desses serviços forem integrados na sua fabricação.

As grandes empresas perceberam o novo padrão do consumidor, que busca adquirir mais serviços tecnológicos. Com isso, essas empresas estão investindo alto em carros que podem, de alguma forma, trafegar sozinhos. O Pilot Assist é um serviço mais próximo dos carros autônomos. Com essa tecnologia os carros podem dirigir sozinhos na estrada, mantendo a sua posição na faixa e uma distância segura entre os carros.

Recentemente, a Tesla anunciou o lançamento de um carro quase autônomo, que prevê acidentes na pista, medindo precisamente a distância entre os veículos e a sua velocidade, bem como os obstáculos à frente. De acordo com a empresa: “a total autonomia permitirá a qualquer Tesla ser substancialmente mais seguro do que um condutor humano, baixar o custo financeiro dos transportes para quem tem um carro e oferecer mobilidade on-demand de baixo custo para quem não tem”. À medida que as empresas investem na pesquisa de carros autônomos, esses carros ficam cada vez mais eficientes e precisam cada vez menos de humanos em seus testes.

Figura 1. Tecnologias de um carro autônomo

Fonte: Product Design and Development (PDD)

De acordo com Wei, Pissardini e Fonseca (2013), alguns benefícios esperados com a chegada dos carros autônomos são:

1 – Redução de acidentes – pois serão quase que completamente eliminados os fatores erro e emoção;

2 – Melhoria do trânsito – em decorrência da organização e disciplina para o tráfego, gerada pela automação;

3 – Melhoria no ambiente de direção – pois não será preciso depender do ofuscamento dos faróis gerados por carros na direção oposta, já que toda a informação estará contida no para-brisas do carro.

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) fabricaram, em 2013, o primeiro carro autônomo do Brasil, um Palio Weekend, que circulou cerca de 5,5km na cidade de São Carlos, no interior de São Paulo. Esse mesmo grupo de pesquisa desenvolveu o primeiro caminhão autônomo da América Latina. Além da USP, pelo menos outras duas universidades brasileiras, a UFES, no Espírito Santo, e a UFMG, em Minas Gerais, têm projetos de pesquisa nessa área.

Porém, pelo seu custo elevado, esse tipo de pesquisa não é tão simples de se manter. O mercado automobilístico brasileiro tem reduzido a sua receita nos últimos anos, e, para além da crise, essa pode ser consequência de uma mudança no perfil do consumidor atual. Um estudo realizado pela Deloitte, em 2014, mostra que o consumidor brasileiro procura veículos com tecnologia voltada à segurança. Além da busca por segurança, os consumidores brasileiros parecem mais conscientes em relação ao alto custo de aquisição e manutenção de um automóvel. Essa é uma consequência da geração atual, que, muitas vezes, prefere abrir mão de adquirir um veículo para obter mais praticidade, trocando a necessidade de possuir um bem para simplesmente ter acesso a ele, por meio de serviços como o Uber.

Por conta desse processo, dificilmente a indústria automobilística venderá tantos de veículos como no passado. Mas certamente haverá mercado para carros autônomos, cada vez mais inteligentes, e com mais serviços embutidos. Nesse mercado promissor, empresas tradicionais do setor, como a Toyota, General Motors e outras já competem diretamente com empresas tradicionalmente de software e tecnologia, como Uber, Google e Baidu. Ainda não está certo qual dos dois grupos sairá vencedor, mas o consumidor certamente sairá beneficiado.

O preço do desenvolvimento

O sistema de preços relativos é a linguagem universal dos mercados. Friedrich Hayek, economista da escola austríaca, consolidou a ideia de que os preços traduzem toda sorte de eventos que afetam a escassez de bens e serviços no mercado. Se por estiagem ou praga a lavoura do trigo ruir, pouco importa: se a oferta cai, o pão nosso de cada dia encarece. No português claro: quando bate no bolso, amigo, todo mundo entende!

David Ricardo, grande economista clássico, estabeleceu a relação entre preço e escassez. Quanto mais pão queremos, mais terras precisamos; a expansão da fronteira agrícola incorpora terras cada vez menos produtivas e a produtividade média das lavouras cai; nosso pão de cada dia encarece. A ideia de preços ricardianos é essa: no longo prazo, a expansão da fronteira agrícola e a exaustão das reservas minerais aumentariam a carestia pelas crescentes dificuldades técnicas e quedas de produtividade, ainda que no curto prazo flutuações de oferta e demanda (as intempéries comentadas acima) reduzam ou reforcem essa tendência. Hayek e Ricardo estão dizendo que os preços entregam informações de escassez imediata e também de tendência.

No caso dos produtos industrializados a formação de preços não é ricardiana. A indústria persegue avanços tecnológicos e ganhos de escala permanentemente. A expansão da produção industrial está intimamente associada ao aumento da produtividade – essa é a Lei de Kaldor-Verdoorn; a produção aumenta por efeitos dinâmicos (tecnologia) ou por efeitos estáticos (escala), e ambos levam à queda de custos. Assim, a tendência deflacionária da produção industrial é inerente ao desenvolvimento industrial de longo prazo.

No setor de serviços os preços sofrem de limitações de comercialização. Se sua banda larga é cara e lenta você não pode contratar uma barata e veloz do Japão. Os serviços são pouco mecanizáveis, pouco padronizáveis e, em sua maioria, não-comercializáveis para além-fronteiras; portanto, conformam mercados menos concorrenciais em relação aos produtos comercializáveis, que enfrentam preços formados no cenário internacional. Ceteris paribus, produtos não-comercializáveis apresentam trajetória inflacionária em relação ao de produtos comercializáveis, que sofrem a disciplina de preços imposta pela mecanização, padronização e ampla e acirrada concorrência internacional.

Quando essa dinâmica de preços é inserida na contabilidade nacional vintage para o cálculo do valor adicionado, o setor industrial perde participação. Ao longo de todo o pós-guerra, o setor de serviços ganhou participação no PIB de diversas economias – sobretudo as desenvolvidas – às custas da redução do setor industrial. O fato estilizado mais apontado na tese da desindustrialização é a queda do valor adicionado da indústria em proporção ao valor adicionado total da economia. A indústria cede espaço para o setor de serviços como centro dinâmico; no caso dos desenvolvidos, esse seria um fenômeno natural, sustentado pela noção de que a elasticidade-renda da demanda por serviços aumenta – enquanto a de bens cai – com o aumento da renda per capita; no caso dos países em desenvolvimento, a desindustrialização seria uma patologia veiculada pela globalização e por uso cada vez maior de tecnologias poupadoras de mão-de-obra. A narrativa desse parágrafo foi rasteiramente banalizada: “Indústria pra quê? Os países desenvolvidos são economias de serviços”.

Ledo engano. As séries históricas do PIB americano que mostram mudanças na composição do valor adicionado não diferenciam variações reais decorrentes do quantum de variações reais decorrentes de preços relativos, escondendo os padrões de evolução produtiva e as regras subjacentes à formação de preços específicos de cada setor, como mencionado acima. As séries do PIB repartem o valor agregado setorialmente, desconsiderada a indissociável conexão entre indústria e serviços. Não existe aplicativo sem smartphone. Observando o caso americano a partir da evolução dos preços relativos dos setores industrial e de serviços a história é outra.

O gráfico abaixo mostra como quantum e preço evoluem de formas distintas entre os setores e como essa combinação produz a visão de mudança estrutural da economia americana. Os índices de quantum (linhas pontilhadas) do valor adicionado dos serviços e da indústria apresentaram comportamentos semelhantes, ainda que o quantum de serviços tenha atingido um nível maior; no entanto, os índices de preços se comportam diametralmente, com 30 anos de estagnação no setor industrial e persistente elevação no setor de serviços.

LEÃO, R. Reinterpretando a mudança estrutural dos EUA: a conexão entre indústria e serviços [Dissertação apresentada ao Mestrado em Economia do Setor Público – UnB]. – Brasília – DF, 2016. – Orientador: Jorge Arbache.

A ideia de uma economia americana avançada e, portanto, em desindustrialização, advém da miopia das contas nacionais, mas, sobretudo, pela desconsideração de diferenciais de produtividade que determinam a estrutura de preços relativos entre bens e serviços. Mecanização e padronização são os pais da produtividade, e crescimento da produtividade significa aumento do produto por trabalhador, mas, também, significa redução de trabalhadores por unidade de produto. A quantidade de trabalho humano envolvido na indústria depende da maturidade tecnológica, o que significa dizer que o trabalho humano é uma peça nas engrenagens até que máquinas possam fazer o mesmo trabalho com mais acurácia, velocidade e, portanto, menores custos. Esse não é o caso de extenso número de atividades econômicas nas quais o trabalho humano é quase ou totalmente insubstituível – basicamente, os serviços (e os de agregação de valor, em especial); na dificuldade de mecanização, padronização e comercialização, o setor de serviços cresce com elevação de seus preços.

A desindustrialização não é o preço do desenvolvimento. O dinâmico setor de serviços dos países avançados é o reflexo da sofisticação industrial que alcançaram; sofisticação que gerou um mundo de desafios tecnológicos que apenas o trabalho humano poderia solucionar. Em língua morta: o setor industrial estimulou o progresso do setor de serviços.

A importância das telecomunicações para o crescimento econômico

Conforme exposto no post de Giovanini e Arend, o setor de serviços é essencial para o crescimento econômico, na medida em que aumenta a produtividade industrial. Este argumento, similar ao apresentado por Arbache (2016), parece também se aplicar especificamente ao setor de telecomunicações no Brasil, conforme mostrado a seguir.

Ao longo do tempo, como esperado, o aumento do acesso à Internet foi acompanhado de aumento no consumo de bens industriais necessários para se usufruir do serviço de telecomunicações, como os computadores pessoais. Veja a figura abaixo.

Figura 1. Número de Computadores pessoais e Usuários de Internet

Já o aumento da oferta de serviços de comunicações móveis foi acompanhado de inovações de máquinas que se deslocam no espaço, como laptops e tablets. A demanda destes produtos industriais aumentou, substituindo, em parte, a dos antigos PCs. Concomitantemente, o acesso à internet via Banda Larga Móvel cresceu, substituindo o acesso discado. Veja as ilustrações abaixo.

Estimativas da OCDE revelam que conexões à Internet promovem exportações de produtos a preços mais altos em diversos setores de manufatura, principalmente eletrônicos. Além disso, um aumento na densidade de telecomunicações de 10% está associado a preços entre 2% e 4% mais elevados no setor eletrônico e a um aumento no comércio intra-indústria deste setor, entre 7% e 9%.

No Brasil, de acordo com a Telebrasil e Teleco (2016), somente em 2015, o setor de telecomunicações movimentou R$ 232 bilhões, ou 4% do PIB nacional, além de ter sido responsável por R$ 28,6 bilhões investidos no ano, o equivalente a 3% da Formação Bruta de Capital Fixo. Segundo estimativas da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE), a indústria de bens de telecomunicação passou a ser, em 2016, a de maior faturamento no setor da indústria eletroeletrônica.

Em comparação com outros países, o Brasil obteve a quinta maior receita mundial de telecomunicações no varejo em 2015, segundo a Ofcom (reguladora de comunicações do Reino Unido). O país está entre os 10 com maior número de linhas de telefones celulares ativas no mundo, sendo a maior parte delas pré-pagas, ou seja, das mais baratas para o consumidor. Em 2015, de acordo com a Anatel, existiam 125 celulares ativos para cada 100 brasileiros, isto é, mais de uma linha para cada pessoa. Esses dados evidenciam a importância das comunicações na vida da população brasileira, que parece priorizar a compra de serviços de telecomunicações, em detrimento de outros gastos.

Tal prioridade é observável em todas as regiões do País, para ambos os sexos e em todas as classes sociais. Ademais, o desenvolvimento das comunicações móveis tem colaborado com a inclusão social e democratização do acesso aos serviços digitais (OCDE, p.36) na medida em que o acesso à Internet realizado exclusivamente por meio do celular é mais frequente entre a população de baixa renda e entre os usuários residentes nas regiões cuja infraestrutura de internet fixa é mais precária, como no Nordeste, Norte e nas zonas rurais, tal como apontado no estudo TIC Domicílos 2015, do Comitê Gestor da Internet (CGI).

Está clara a contribuição do setor de telecomunicações para o PIB, investimentos, inclusão social e bem-estar da população, que só tende a aumentar, considerando a evolução do setor e as preferências do consumidor. Portanto, políticas que incentivem a ampliação do acesso à internet e o desenvolvimento do setor são cruciais para o crescimento sustentado, e o aprimoramento do setor por meio de políticas de organização, fomento e adaptação às características nacionais pode ser uma eficaz estratégia de catch-up.

Débora Albuquerque é economista e mestranda em telecomunicações e redes de comunicação de dados pela Universidade de Brasília (UnB). Especialista em economia e finanças, exerce a profissão no Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC)

 

Os Serviços e a Indústria Química

Com o objetivo de se tornarem mais competitivos globalmente, segmentos da indústria brasileira começaram a implementar mudanças importantes nos últimos anos. Com a indústria química não foi diferente. Uma das principais mudanças foi a maior incorporação de serviços na comercialização de seus produtos.

A indústria química, segundo elo na cadeia de produção, tem como produto base commodities químicas utilizadas pelas empresas fabricantes de bens de consumo, como tintas, cosméticos, produtos de limpeza, etc. 

Figura 1 – Elos da cadeia da indústria petroquímica e química

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM) a indústria química brasileira é a 6ª colocada em faturamento no ranking mundial. Em 2015, o segmento, no Brasil, faturou US$ 54,9 bilhões, com exportação de US$ 13,1 bilhões e importação de US$ 39,6 bilhões. Pelo significativo déficit na balança comercial do setor, é possível observar a pouca competitividade internacional da indústria química nacional. Matéria-prima cara, cadeias produtivas não integradas e altos custos de produção tornam as commodities químicas brasileiras praticamente inviáveis no mercado externo.

Atendendo basicamente ao mercado interno, a indústria química brasileira teve que se reinventar agregando valor aos seus produtos e focando na prestação de serviços para seus clientes. O que se observa neste setor é o desenvolvimento de especialidades químicas e químicos de fontes renováveis.

Aproveitando a biodiversidade brasileira e as pesquisas para combustíveis de fontes renováveis, a indústria química passou a desenvolver produtos que as serve, utilizando essas mesmas bases. Esses produtos, como o plástico verde e o eteno derivado de cana de açúcar, tornaram-se produtos específicos do Brasil, permitindo à indústria a entrada em um nicho de mercado, ligados aos valores de sustentabilidade. Os serviços nos elos da cadeia do setor também são, em geral, relacionados às questões ambientais, como a redução de emissões na fabricação e no uso pelo cliente e pelo consumidor.

Já nas especialidades químicas, a indústria tem agregado ainda mais serviços. As especialidades são produtos desenvolvidos a partir de demandas específicas dos clientes. O cliente demanda algo específico para seu produto e a indústria química faz a pesquisa e o desenvolvimento de matérias-primas que podem ser aplicadas. Além do desenvolvimento específico, a indústria presta assistência técnica para a aplicação correta da matéria-prima e a adequação do processo produtivo do cliente, visando otimizar a matéria-prima na produção.

As especialidades são produzidas em menor escala, em plantas multipropósitos, o que pode reduzir custos de produção, apesar de ter maior custo de desenvolvimento. Em geral, as empresas que demandam especialidades químicas estão dispostas a pagar pelo desenvolvimento específico.

As especialidades podem auxiliar a indústria brasileira a entrar de maneira mais substancial nas cadeias globais de valor. Indústrias químicas multinacionais podem atender outras indústrias em todo mundo, tornando-se fornecedores globais de determinadas especialidades, principalmente especialidades de fontes renováveis.

Uma das principais barreiras competitivas para essa indústria no Brasil é a infraestrutura insuficiente e de baixa qualidade, principalmente logística. Este é um gargalo que precisa ser resolvido o quanto antes, caso o Brasil queira se tornar um país com empresas globais no setor.

Observa-se a migração da indústria química fabricante de commodities para uma indústria química voltada cada vez mais para as especialidades, agregando mais serviços nos seus produtos. Esta agregação de valor por meio de serviços pode contribuir para aumentar a competitividade da indústria nacional no mercado internacional. É esperar para ver!

A contribuição do setor de serviços para o aumento da competitividade industrial

Por Adilson Giovanini e Marcelo Arend

Seguindo Adam Smith (1983), Kaldor (1966) mostra que o aumento na demanda por produtos industriais resulta em maior divisão do trabalho. Esta, por sua vez, permite a maior especialização dos trabalhadores e a obtenção de ganhos de produtividade. Assim, o crescimento do setor industrial resulta no aumento da produtividade deste setor e em crescimento econômico. Com base nestas evidências, Kaldor defende a realização de políticas de aumento da demanda industrial como instrumento capaz de promover o crescimento econômico.

A partir da década de 1980, com a emergência das novas tecnologias ancoradas no novo paradigma tecno-econômico, a importância da indústria como proporção do PIB diminuiu na geração de emprego e renda, sobretudo nas economias avançadas. Mudanças tecnológicas, institucionais e geográficas transformaram o setor de serviços para níveis de complexidade econômica crescentes, tornando sua relação com o setor industrial moderno muito mais dinâmica do que no antigo padrão fordista de produção.

Este post explora esta contradição. Um modelo VAR em painel é estimado para verificar se o aumento da participação do setor de serviços no PIB resulta em aumento na produtividade do setor industrial. Os dados de produtividade industrial e participação do setor de serviços no PIB foram obtidos no Groningen Growth and Development Centre (GGDC) e o estoque de capital é extraído do Penn World Table. A amostra é composta por dados de oito países (Japão, Estados Unidos, Dinamarca, Espanha, França, Reino Unido, Itália e Holanda) para o período de 1980-2009.

O setor de serviços intermediários é definido como a agregação de dois dos cinco setores de serviços discriminados pelo GGDC: 1) Transportes, Armazenagem e Comunicação e 2) Intermediação financeira, arrendamento e serviços empresariais.

O valor encontrado para os coeficientes estimados corrobora a hipótese defendida. O valor adicionado do setor de serviços (gs,it) causa (“causa-Granger”) a produtividade industrial (em,it). Mais especificamente, a variação em 1% no valor adicionado do setor de serviços resulta em variação de 0,090% na produtividade industrial. Ademais, a variação em 1% na produção industrial (gm,it) resulta em variação de 0,294% na produtividade deste setor (em,it) e a variação de 1% na sua produtividade defasada resulta em variação de 0,424% nesta mesma série.

Tabela – Valor encontrado para o modelo VAR em painel estimado**

reg-serv

Fonte: Elaboração própria, todos os testes estatísticos recomendados pela literatura foram realizados.

**Todas as variáveis foram defasadas uma vez.

Estes resultados mostram que o setor de serviços contribui para o crescimento econômico através do aumento da produtividade industrial. Este resultado reconcilia as leis propostas por Kaldor com as evidências empíricas que apontam para o setor de serviços como principal responsável pelo crescimento econômico. Argumenta-se que o crescimento da indústria continua sendo responsável pelo desenvolvimento econômico. Contudo, a competitividade da indústria depende do grau de desenvolvimento do setor de serviços. O setor de serviços contribui para o crescimento econômico por meio do efeito positivo que ele exerce sobre o setor industrial.

Como conclusão, ressaltamos a necessidade de maior atenção ao setor de serviços por parte de pesquisadores, sobretudo aos dedicados a problemas contemporâneos de países em desenvolvimento como a “armadilha da renda média” e a “desindustrialização prematura”, ambos presentes na economia brasileira.

Referências bibliográficas:

SMITH, Adam. A riqueza das nações. Martins Fontes, 2003.

KALDOR, Nicholas. Causes of the slow rate of economic growth of the United Kingdom: an inaugural lecture. Cambridge University Press, 1966.

O que a comparação internacional revela sobre o comportamento recente do setor de serviços intermediários do Brasil?

A literatura de serviços e de complexidade econômica mostra que o desenvolvimento do setor de serviços contribui para o aumento da competitividade industrial. Em especial, a emergência das novas tecnologias de comunicação, a partir da década de 1980, resultou no aumento da contribuição deste setor para a competitividade industrial. Paralelo a isto, a literatura que estuda o setor industrial brasileiro mostra que este setor está passando por um intenso processo de desindustrialização. Deste modo, surge o seguinte questionamento: será que o comportamento do setor de serviços explica a ocorrência da desindustrialização?

Respondemos a pergunta a partir da análise do comportamento e evolução do setor de serviços intermediários no período 1980-2009. Para mensurar a trajetória do setor de serviços no Brasil no longo prazo e relativizar seu desempenho com o de outras economias, adaptamos o indicador de Desindustrialização Relativa Internacional (DRI), apresentado por Arend (2014), para criar o indicador de Deservicilização Relativa Internacional (DRS).

Se o DRS for maior (menor) que 1, o crescimento do setor de serviços no país é superior (inferior) ao observado na amostra usada na análise. Isto é, em termos relativos, o país está se servicilizando (deservicilizando).

O Gráfico 1 foi construído a partir de dados disponibilizados pelo Groningen Growth and Development Centre para o período 1980-2009. Ele apresenta a evolução do DRS calculado para o Brasil em relação a seis regiões selecionadas mais os Estados Unidos. Os dados revelam o crescimento inferior do setor de serviços intermediários no Brasil quando comparado às regiões selecionadas. Até mesmo a África subsaariana e a América Latina apresentam maior crescimento relativo deste setor.

A região contra a qual o Brasil se encontra relativamente melhor posicionado é a Ásia. Contudo, no período analisado, o setor de serviços intermediários do Brasil cresceu apenas 76% do crescimento observado por aquela região. Por outro lado, a região contra a qual o Brasil apresenta pior posicionamento é a Europa. No período 1980-2009, o setor de serviços intermediários brasileiro apresentou apenas 47% do crescimento observado naquela região.

Estes dados revelam tendências preocupantes. Dado que o desenvolvimento do setor de serviços intermediários resulta em aumento da competitividade industrial, a diminuição da sua participação relativa pode explicar o processo de desindustrialização observado no Brasil. O não desenvolvimento deste setor pode dificultar a entrada do Brasil nas novas tecnologias de informação que emergiram a partir da década de 1980 o que, por sua vez, pode resultar em menor competitividade industrial e em desindustrialização.

Gráfico 1 – Evolução da Deservicilização Relativa Internacional (DSR)

DRS

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados disponibilizados pelo Groningen Growth and Development Centre.

 

Autores:

20160812_094831-2-3Adilson Giovanni é Economista, com graduação pela Universidade Federal de Santa Maria. Tem mestrado e atualmente é doutorando pelo Programa de Pós-graduação em Economia da UFSC.
fotomarceloMarcelo Arend é Pós-doc (Universidad Autónoma de Madrid, 2015-2016), Doutor em Economia (UFRGS, 2009), Mestre em Economia (UFSC, 2004) e Bacharel em Ciências Econômicas (UFSM, 2002). Professor Adjunto da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no Departamento de Economia e Relações Internacionais.

Referência bibliográfica

AREND, M. A industrialização do Brasil ante a nova divisão internacional do trabalho. In: IPEA. Presente e Futuro: desafios ao desenvolvimentismo brasileiro. IPEA, 2014.

O Retorno da ‘Mudança Estrutural’ à Agenda de Pesquisa de Crescimento Econômico

A visão de que as mudanças estruturais desempenham um papel fundamental no processo de desenvolvimento econômico não é nova na Economia. A possibilidade de que economias concentradas em setores tradicionais e produtores de bens com baixa elasticidade renda da demanda apresentassem entraves graves ao processo de desenvolvimento econômico já era levantada por estudiosos do desenvolvimento econômico desde a década de 50[1]. De acordo com essa visão estruturalista, por exemplo, [ver e.g. Prebisch (1950, 1959)], a posição de cada país na hierarquia mundial, baseada na sua estrutura produtiva desempenharia um papel fundamental no padrão de desenvolvimento econômico a ser seguido.

Nesse sentido, o desafio do desenvolvimento econômico não consistiria em apenas se alcançar elevadas taxas de crescimento, mas sim em ter sucesso na realização de transformações estruturais necessárias para permitir o país superar restrições em termos de uma estrutura produtiva arcaica. Nesse contexto, a existência de mudanças na estrutura de uma economia como pré-requisito para o desenvolvimento econômico já está presente na literatura há algum tempo. Tais padrões já haviam sido documentados do ponto de vista empírico por Kuznets (1966). Apesar disso, a mudança estrutural ainda continua ser uma área pouca estudada dentro do campo de crescimento econômico.

Pasinetti (1993) foi um dos primeiros autores que procurou desenvolver, do ponto de vista teórico, um arcabouço matemático que levasse em conta padrões específicos de mudança estrutural. O ponto de partida para isso foi a abordagem da dinâmica de mudança estrutural, proposta por Pasinetti para o estudo da interação entre o progresso tecnológico e as preferências não homotéticas dos consumidores, capturadas através da Lei de Engel. Por um lado, o progresso tecnológico traz aumentos de renda per capita, em função do aumento da produtividade, que se traduzem em aumentos desiguais na demanda por bens e serviços. Por outro, ela gera o desemprego setorial em função de sua natureza poupadora de trabalho. Assim, a estrutura produtiva da economia reflete no longo prazo os padrões dinâmicos de evolução da demanda e das necessidades básicas dos consumidores. Por sua vez, a estrutura resultante desse processo determina em larga medida o perfil tecnológico a ser adotado. Ou seja, a mudança estrutural é afetada e acaba afetando a absorção e difusão de novas tecnologias.

Além disso, a partir dessa abordagem é possível identificar padrões de desenvolvimento relativamente estáveis para diferentes países com níveis de renda per capita semelhantes. Isso porque, para níveis de renda per capita mais baixos, há o predomínio do setor primário, uma vez que as necessidades básicas têm de ser satisfeitas.  Na medida em que ocorrem aumentos permanentes do nível de renda per capita, devido a processos como acumulação de capital e progresso tecnológico, há a tendência de diminuição de participação do setor primário. Essa diminuição de participação do setor primário é acompanhada pelo aumento de participação do setor secundário, fato esse que é em geral explicado pelos ganhos mais expressivos de produtividade, uma vez que tal setor é caracterizado por retornos crescentes de escala. Tal fenômeno pode dar origem a aumentos mais expressivos de renda per capita que vão permitir a continuidade da evolução nos padrões de consumo, fazendo, assim, que o setor de serviços passe a ter primazia na participação setorial em economias desenvolvidas. Não é sem motivo que atualmente esse setor desempenha um importante papel na dinâmica de mudança estrutural. Economias que têm sido capazes de reconhecer a relevância do setor de serviços no sentido de gerar encadeamentos produtivos com o setor industrial têm sido mais bem-sucedidas em levar adiante mudanças estruturais adequadas.

Quando se trata de se estabelecer um marco em termos do renovado interesse em se estudar a mudança estrutural, é necessário levar em consideração o estudo de Alwyn Young (1995) sobre a experiência de crescimento dos chamados ‘tigres asiáticos’. Esse autor mostrou que a experiência bem sucedida de Hong Kong, Singapura, Coreia do Sul e Taiwan não poderia ser explicada apenas pelo aumento da produtividade total dos fatores (PTF), mas principalmente pela acumulação de capital e realocação de trabalho e outros fatores de produção de setores com baixa produtividade para setores com produtividade mais elevadas. Esse autor foi o primeiro a desafiar a visão de que a experiência de crescimento dos tigres havia sido ‘milagrosa’ no sentido de não haver uma explicação econômica plausível pra elas em termos de aumento da PTF.

Mais recentemente McMillan e Rodrik (2011) confirmaram que, na verdade, a fonte de crescimento dos países asiáticos foi a destacada mudança estrutural ocorrida no período. Ou seja, a mão-de-obra se deslocando de setores com baixa produtividade para outros com mais alta produtividade levou a um aumento na produtividade média da economia como um todo. Eles observaram também que na América Latina o contrário ocorreu, sendo a mudança estrutural growth-reducing, ou seja, de setores mais dinâmicos para especialização na produção e exportação de produtos primários. Como resultado, os países asiáticos analisados tiveram um crescimento da produtividade do trabalho de cerca de 2,5% ao ano acima do que os países da América Latina entre 1990 e 2005. Assim, uma explicação a la Arthur Lewis se adequa melhor do que uma explicação a la Solow à experiência de crescimento tanto de países asiáticos quanto latino-americanos. Diante dessas evidências, atualmente é reconhecido que o desafio do crescimento econômico é na verdade o desafio de se fazer as mudanças estruturais adequadas [Ocampo (2005)], fazendo com que esse tópico volte a estar presente na agenda de pesquisa da teoria do crescimento econômico [ver e.g. Acemoglu e Guerrieri, (2008) e Ngai e Pissarides (2007)].

 

servletrecuperafotoRicardo Azevedo Araújo é Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade de Brasília, Brasil, desde 2008. Ele também é bolsista de produtividade  do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CNPq) e líder do grupo de pesquisa ‘Crescimento e Distribuição’ da UnB/CNPq. Atualmente é coordenador da programa de pós-graduação em Economia da UnB e editor associado da revista EconomiA.

Referências

Acemoglu, D. e Guerrieri, V. (2008), Capital Deepening and Nonbalanced Economic Growth.  Journal of Political Economy 116(3), 467 – 498.

McMillan, M. and Rodrik, D. (2011). Globalization, Structural Change and Productivity Growth. NBER Working Paper No. 17143.

Ngai, R. and Pissarides, C. (2007). Structural Change in a Multisector Model of Growth, American Economic Review, 97(1), 429 – 443.

Ocampo, J. (2005) The Quest for Dynamic Efficiency: Structural Dynamics and Economic Growth in Developing Countries. In: J. Ocampo. Beyond Reforms: Structural Dynamics and Macroeconomic Vulnerability. Stanford University Press and The World Bank.

Pasinetti, L. (1993). Structural Economic Dynamics – A Theory of the Economic Consequences of Human Learning. Cambridge University Press. Cambridge, UK.

Prebisch, R. (1950). The Economic Development of Latin America and its Principal Problems, New York: ECLA.

Prebisch, R. (1959). Commercial Policy in Underdeveloped Countries, American Economic Review, Paper and Proceedings 49(2), 251 – 273

Young, A. (1995). The Tyranny of Numbers:  Confronting the Statistical Realities of the East Asian Growth Experience. Quarterly Journal of Economics 110, 641 – 680.

[1] Esse tipo de mudança estrutural já havia sido considerado por Arthur Lewis (1952) em seu modelo dual, que assume a existência de um setor tradicional com baixa produtividade e outro, moderno, com elevada produtividade. Nesse caso, a variável chave é a capacidade de transição de mão-de-obra do setor tradicional para o setor moderno.

Indústria 4.0: O que esperar?

Considerada a 4ª Revolução Industrial, a indústria manufatureira passa por uma intensa transformação digital, acelerada pelo desenvolvimento de diversas novas tecnologias – “Internet das Coisas” (Internet of Things), big data, impressoras 3D, robôs inteligentes, drones e modernos sensores. Corroborando com esse processo, a adoção em maior escala de tecnologias de informação e comunicação (TIC) também representa um dos principais motores para as inovações que vêm ocorrendo na produção e em toda a cadeia logística do setor, características essas, conjuntamente, incorporadas ao conceito de Indústria 4.0.

Como consequência dessa modernização, são esperadas mudanças em múltiplas áreas, em especial no emprego e no modus operandi das empresas. Assim como em períodos passados, há forte crença na “destruição criativa” de ocupações na indústria e setores correlacionados, porém projeta-se a criação de diversas outras oportunidades, demandando novas habilidades e conhecimentos dos trabalhadores. Vale ressaltar que a sinergia entre diferentes setores da economia, em especial Indústria e Serviços, deverá ser ainda mais intensa, contribuindo para a ampliação das transformações ligadas à Indústria 4.0.

Em um estudo elaborado pela consultoria The Boston Consulting Group (BCG) e publicado em 2015, desenvolveu-se um modelo quantitativo de evolução do mercado de trabalho até o ano de 2025, a partir do qual foi possível inferir alguns resultados importantes.

indústria 4.0

Fonte: Man and Machine in Industry 4.0: How will technology transform the Industrial Workforce through 2025? (CCG, 2015).

Utilizando o caso da Alemanha, os autores se propuseram a analisar os efeitos na evolução de 40 empregos em 23 ramos industriais, examinando diferentes cenários para duas principais variáveis: o crescimento de receita adicional das empresas gerado pelos avanços tecnológicos da Indústria 4.0 e a respectiva taxa de adoção dessas inovações pelo setor. A partir do cenário base – crescimento adicional de 1% das receitas anuais e taxa de adoção de 50%–, estima-se um crescimento líquido no emprego de aproximadamente 350.000 vagas. Embora o estudo preveja uma redução superior a 600.000 postos de trabalho ligados a atividades padronizadas, projeta-se uma criação de mais de 950.000 vagas nas mais diversas áreas, em especial nas de TIC, P&D e ciência da informação.

No âmbito das empresas, estas terão que adotar novos modelos de organização e trabalho, envolvendo constante treinamento de seus empregados, aplicando diferentes métodos de recrutamento e um maior envolvimento no planejamento estratégico da força de trabalho. Além de uma estrutura de tomada de decisão mais horizontal, dado o dinamismo crescente da atividade, prevê-se uma maior pressão para flexibilização das jornadas de trabalho a depender das funções desenvolvidas em cada cargo. Uma característica também importante desse processo será o treinamento em habilidades multidisciplinares, tendo em vista a mudança das competências exigidas pela Indústria 4.0.

Por fim, vale citar o alerta feito pelo Profº Dr. Leonardo Trevisan em artigo publicado no jornal Estadão: “Em bem pouco tempo, a evolução de qualquer negócio, a projeção de carreira ou toda gestão de pessoas irá topar não só com estas palavras (Indústria 4.0), mas com os efeitos dela. E quem acha que está longe disso, porque trabalha em “outro setor”, está apenas mal informado”.

Processed with VSCO Fernando Esteves é mestrando em Economia na Universidade de Brasília (UnB) e bolsista do CNPQ.

Qual o impacto da tributação na importação de serviços destinados à produção industrial no Brasil? Parte 2

Em post anterior, afirmamos que a pergunta título permanecia aberta à apresentação de números que revelassem se a tributação de serviços impacta o custo da indústria brasileira de modo a afetar sua competitividade no mercado global. A seguir, apresentamos e discutimos  alguns dados levantados com este fim na Pesquisa Industrial Anual (PIA), nas Contas Nacionais (IBGE) e na arrecadação da Receita Federal do Brasil (RFB), para o período de 2009 a 2013.

Para dimensionar os serviços utilizados como insumos na produção industrial brasileira, usamos o Consumo Intermediário de Serviços (CIS) calculado por metodologia semelhante à utilizada por Arbache (2014). Assim, o CIS abrange, entre outros serviços, aluguéis, arrendamentos, arrendamento mercantil, propaganda, fretes, prêmios de seguros, royalties e assistência técnica.  No período considerado, houve um aumento de 37% do CIS, o que confirma a importância crescente dos serviços para a produção industrial brasileira apontada pela Confederação Nacional da Indústria (2013).

Em relação aos tributos que incidem sobre a importação dos serviços, o estudo da CNI identificou seis que tanto podem incidir seletivamente sobre alguns serviços, como pode ocorrer a aplicação de alíquotas distintas a depender do serviço ou da situação específica. Por exemplo, no IRRF, há diversas hipóteses de redução a 0% da alíquota aplicável. Utilizamos a arrecadação pela Receita Federal do Brasil do IRRF[1], da Cide, do PIS/PASEP-importação e da Cofins-importação[2].

Gráfico I

A evolução da carga tributária[3] na importação de serviços pelo setor industrial, apresentada no Gráfico I, mostra que a carga tributária na importação de serviços pela indústria não superou 0,7% do PIB industrial.  O percentual baixo pode ter as seguintes explicações: o CIS industrial é composto por parcela ínfima de serviços importados ou são aplicáveis isenções e alíquotas reduzidas aos serviços importados pela indústria. A investigação desses aspectos passa por conhecer a cesta de serviços importados que compõem o CIS de cada indústria e a tributação exata aplicável a tais serviços.

Observa-se que a evolução da carga tributária na indústria brasileira como um todo seguiu, no período, a tendência de crescimento da carga tributária das indústrias de transformação, enquanto nas indústrias extrativistas há aparente tendência de queda.  Assim, vale o estudo da tributação dos serviços que compõem a demanda das indústrias de transformação.

Gráfico IIa Gráfico IIb

A participação dos tributos sobre importação de serviços no CIS industrial, de 2009 a 2013, apresentada no Gráfico II-a e Gráfico II-b, mostra que a arrecadação representou menos de 5% do CIS na maioria das indústrias extrativistas e menos de 1,5% na maioria das indústrias de transformação. A indústria de extração de petróleo e gás natural se destaca, contudo, pois os tributos incidentes na sua importação de serviços tiveram uma queda de 40% do CIS para menos de 5%, no período.  Não encontramos uma explicação óbvia para esse comportamento, o que justificaria um estudo futuro.

Ainda em relação à indústria extrativista, 5% dos custos de serviços destinados à produção industrial não é um percentual desprezível, mas tampouco é elevado. Naturalmente, é possível que a competitividade de uma indústria particular ou de um produto seja impactada por uma tributação de 5% do CIS, mas, em geral, este não parece ser o caso.

Já uma participação da arrecadação de menos de 1,5% do CIS na indústria de transformação nos revela ser improvável que a tributação dos serviços importados de fato afete a competitividade do produto industrial.

Surpreende a inexistência de tendência clara de crescimento na participação da tributação na importação de serviços no CIS industrial.  Como o CIS cresceu em todas as indústrias, esperava-se um aumento da participação da arrecadação.  Entretanto, a situação seria explicada se o crescimento do CIS tiver sido com serviços nacionais ou com serviços importados isentos, o que também explicaria a baixa representatividade da arrecadação no CIS.  São pontos a serem pesquisados.

Portanto, apesar das evidências de que o consumo intermediário de serviços (CIS) na produção industrial venha crescendo, os números levantados não revelaram um impacto relevante da tributação sobre importação de serviços, seja sob a óptica do impacto no CIS na produção industrial, seja sob a óptica da carga tributária suportada pelo setor industrial.  Neste contexto, revelou-se a importância de conhecer profundamente a cesta de serviços demandada por cada indústria frente à legislação tributária aplicável aos serviços que compõem essa cesta para conhecer os reais impactos da tributação na importação de serviços na produção industrial brasileira.

 

[1] Incluímos a arrecadação do IRRF sobre os rendimentos de residentes no exterior pagos pela indústria no Brasil a título de royalties, assistência técnica, juros e comissões em geral, fretes internacionais, remuneração de direitos, aluguel e arrendamento e rendimento do trabalho.

[2] O ISS não foi incluído pela dificuldade de levantar a arrecadação desse imposto sobre a importação de serviços. Igualmente, para o IOF-Seguros, não há como diferenciar o tributo sobre o seguro contratado no Brasil daquele no exterior.  Já o IOF-Crédito foi excluído porque no CIS não incluímos os serviços financeiros.  Por fim, o IOF-Câmbio foi excluído pela inexpressividade de sua arrecadação pelo setor industrial.

[3] Entende-se carga tributária como a arrecadação pelas indústrias dos tributos incidentes na importação de serviços dividida pelo PIB Industrial.

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