Economia de Serviços

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Tag: densidade industrial

Serviços e riqueza

Como os serviços contribuem para a geração de riquezas? As respostas são, naturalmente, muitas e dependem do país e do seu estágio de desenvolvimento, da sua demografia e estrutura econômica, das condições internacionais, dentre outros aspectos. Mas uma das respostas está associada à relação entre os serviços e os demais setores da economia.

Evidências empíricas mostram que não é o tamanho do setor de serviços na economia que mais importa para a geração de riquezas, mas sim a parcela dos serviços que são voltados para a produção (e não para consumo). No Brasil, o setor de serviços responde por cerca de 74% do PIB, mas os serviços técnicos comerciais profissionais (PBS), que são insumos pré- e pós-produção, respondem por 18% do PIB. Nos Estados Unidos, os serviços representam 82% do PIB e o PBS por 31%, portanto, proporção mais que o dobro da brasileira.

A diferença entre Brasil e Estados Unidos não é casual. Afinal, o padrão e a quantidade de serviços produtivos são preditores da estrutura de produção e da complexidade do país e, assim, do estágio de desenvolvimento econômico. De fato, enquanto a economia brasileira é concentrada em serviços de consumo, bens manufaturados de baixo valor adicionado e commodities, a americana é concentrada na produção de serviços de média e alta sofisticação, manufaturas de alto valor adicionado e bens de capitais.

Conforme este blog tem destacado, os serviços estão se tornando componentes cada vez mais importantes – e determinantes, até – da produção da manufatura, agricultura e até mesmo da mineração. De serviços de logística, de manutenção de máquinas e equipamentos e financeiros a serviços de P&D, TI e design, as evidências empíricas mostram que os serviços se tornaram o componente com maior participação no valor adicionado. No Brasil, os serviços respondem por 64% do valor adicionado da manufatura. Nos Estados Unidos, passam dos 75%. No caso do iPhone, por exemplo, a participação dos serviços  é largamente predominante no valor adicionado.

Se os serviços correspondem a parcela tão elevada do valor adicionado, então a capacidade de desenvolver e gerenciar serviços produtivos é condição determinante para se ter uma economia competitiva. Há que se esperar, desta forma, relação positiva entre tamanho do PBS e variáveis como densidade industrial.

O gráfico 1 abaixo mostra evidências nesta direção. Observam-se, grosso modo, dois grupos de países. De um lado (parte alta e mais à direita), estão países de alta densidade industrial e alta renda per capita e; de outro lado estão países de baixa densidade industrial e de renda per capita relativamente mais baixa (parte de baixo e mais à esquerda).

Uma economia tão avançada e dinâmica com a alemã, por exemplo, cuja densidade industrial passa dos US$ 11 mil, requer muita capacidade de desenvolvimento de softwares, serviços de gestão de redes de distribuição e de cadeias de produção globais, logística avançada e tantos outros serviços críticos para se agregar valor à sua sofisticada manufatura. Não por acaso, a participação do PBS no PIB é de 28%. Já Turquia, Rússia e México têm densidade industrial de cerca de US$ 1800 e PBS no intervalo de 11% a 14%.

Para além do tamanho do PBS e da sua relação com a densidade industrial está a composição do PBS. Este blog classifica o PBS em dois grupos: serviços de custos e serviços de agregação de valor e diferenciação de produto. O primeiro grupo é composto, grosso modo, por serviços convencionais de cadeias de valor, como logística, manutenção de equipamentos, serviços de TI, financeiros e de telecomunicações básicos e tantos outros serviços que estão nas planilhas de custos das empresas. Já os serviços de valor incluem P&D, design, marketing, distribuição, marcas, instrumentos financeiros sofisticados, softwares customizados dentre outros que diferenciam o produto e lhes agregam valor.

Evidências empíricas mostram que a parcela de serviços de agregação de valor e diferenciação de produtos são maiores nos países de alta densidade industrial. E mostram,  também, que aqueles serviços estão por detrás do crescimento da produtividade, em contraposição aos serviços de custos, que têm pouco ou nenhum impacto nessa variável.

Em resposta à pergunta do início, os serviços contribuem para a geração de riquezas majoritariamente através do PBS e, mais especificamente, dos serviços de agregação de valor e diferenciação de produtos. Logo, para se ter indústria, agricultura ou mineração competitivos é também preciso que o país seja capaz de disponibilizar serviços modernos, sofisticados e competitivos.

Gráfico 1 – Densidade industrial e serviços técnicos comerciais e profissionais (PBS)

Nota: fontes primárias dos dados: densidade industrial – World Development Indicators; PBS – WIOD. Densidade industrial é expressa em dólar corrente. PBS é expresso em parcela do PIB (0-1). Densidade industrial refere-se ao valor adicionado da manufatura per capita (dividido pela população total do país). PBS (professional business services).

A transformação econômica da China e os serviços

A China experimenta a mais formidável transformação econômica que se tem registro. De uma economia rural e agrária, a China passou a ser uma economia industrial e voltada à exportação de bens industriais. Reformas políticas combinadas com políticas de realocação da mão-de-obra rural para movimentar fábricas e com políticas vigorosas de expansão do crédito, dos investimentos e das infraestruturas levaram o país à condição de segunda maior economia do globo em menos de duas gerações.

Mas o modelo de export-led strategy fortemente baseado em acumulação de capital e em trabalho barato está chegando ao fim. As taxas anuais de crescimento do PIB passaram da ordem de 10-12% para cerca de 6,5% e deverão caminhar para um patamar de 4,5-6,5% nos próximos anos.

A China está promovendo nova reestruturação da sua economia. Agora, em direção a uma economia com maior participação dos serviços e com maior protagonismo da ciência e da tecnologia. Busca-se organizar e preparar a economia para a etapa mais avançada do desenvolvimento econômico. Ao invés de fábricas de cimento e de aço, fábricas de bens sofisticados com alto conteúdo de inovações embarcadas e produzidos com sistemas avançados de gestão e produção. Ao invés de foco em serviços de consumo, foco em serviços sofisticados de apoio aos setores industrial, agrícola e de mineração que, de um lado, reduzam custos e, de outro, agreguem valor e diferenciem os produtos. Plantas industriais tecnologicamente defasadas, intensivas em mão-de-obra, poluidoras e que consomem muita água estão sendo fechadas ou relocalizadas em outros países. De “fábrica do mundo” a China busca ser produtora de bens e serviços altamente sofisticados e gestora de cadeias globais de valor.

O caminho será longo, mas indicadores já mostram sinais de que a transformação está em curso.

O gráfico abaixo apresenta indicadores selecionados da economia chinesa. A despeito de ligeira queda, a participação da manufatura no PIB segue elevada, por volta dos 30-35%, muito acima do padrão dos países avançados, que é de metade daquele patamar.

Gráfico – China, indicadores selecionados

Notas sobre o gráfico: Densidade industrial: valor adicionado da manufatura per capita (em US$), eixo da esquerda. Fonte: calculado com dados do World Development Indicators.

%Manuf-PIB: participação percentual da manufatura no PIB, eixo da direita. Fonte: World Development Indicators.

%PBS-PIB (professional business services): participação percentual dos serviços comerciais profissionais no PIB; consideram-se os serviços especializados destinados às cadeias de produção tais como correios e telecomunicações, intermediação financeira, atividades imobiliárias comerciais, aluguel de máquinas e equipamentos, TI e atividades correlatas, P&D e outras atividades comerciais profissionais, eixo da direita. Fonte: World Input-Output Database.

%Serviços-PIB: participação percentual dos serviços no PIB, eixo da direita. Fonte: World Development Indicators.

A densidade industrial teve aumento contínuo e absolutamente espetacular. Entre 1979 – ano do início das reformas – e 2014, a densidade aumentou nada menos que 29 vezes, o que mostra uma crescente capacidade da indústria chinesa de se aprimorar e agregar valor.

O aumento da participação do setor de serviços não veio em detrimento da indústria. Pelo contrário, como mostram evidências empíricas (Arbache 2012, 2015, 2016), o aumento da densidade industrial resulta do aumento da relação sinergética e simbiótica da indústria e dos serviços para criar valor. O rápido aumento dos serviços comerciais profissionais (PBS) no PIB, que passou de 12% para 18% entre 2000-2014, é uma expressão desse movimento.

A tendência é que o setor de serviços siga crescendo seu protagonismo na economia chinesa, seja para atender à nova etapa do desenvolvimento econômico, seja para atender à crescente demanda do mercado interno urbano de consumo. É improvável, porém, que o setor de serviços atinja participação no PIB comparável ao dos países avançados, mas é muito provável que o PBS cresça de forma desproporcional.

Qual a relação entre o setor de Tecnologia da Informação e Comunicação e o desenvolvimento econômico?

Desenvolvimento econômico e crescimento de longo prazo têm suas origens, usualmente, na inovação e no aumento da produtividade. A caracterização da produtividade e seu aumento contínuo como um fator determinante do desenvolvimento econômico é um fato estilizado da economia: um grande número de estudos mostra que diferenças no crescimento da produtividade são responsáveis não só pela variação na taxa de crescimento dos países ao longo do tempo, mas também pela diferença no nível de desenvolvimento deles.

Neste sentido, o objetivo deste post é avaliar qual a contribuição do setor de TIC para o desenvolvimento econômico dos países. Como este setor é conhecido por sua inovação constante e por fornecer significativos ganhos de produtividade, há de se esperar alguma correlação positiva entre o setor de TIC de um país e seu grau de desenvolvimento econômico. Para avaliar esta correlação quantitativamente, optou-se por calcular o coeficiente de correlação de Pearson utilizando as seguintes variáveis: como medida do setor de TIC, utilizou-se o Networked Readiness Index (NRI); como medida de desenvolvimento econômico, foi utilizado o conceito de densidade industrial.

O coeficiente de correlação de Pearson é uma medida do grau de relação linear entre duas variáveis quantitativas. Calculando-se o coeficiente de correlação entre duas variáveis, podemos avaliar não só se elas estão relacionadas, mas também qual a intensidade desta relação. O coeficiente varia entre -1 e 1. Quanto mais próximo dos extremos, mais correlacionadas as variáveis estão: ou seja, o crescimento de está associado ao crescimento da outra. O sinal indica se a correlação observada é direta ou inversa (se elas crescem no mesmo sentido ou em sentidos opostos).

O Networked Readiness Index (NRI) é um índice desenvolvido pelo Fórum Econômico Mundial para medir o nível de preparo tecnológico das economias. Seu objetivo é avaliar o grau de propensão dos países analisados para explorar as oportunidades oferecidas pelo setor de TIC, possibilitando, com isso, identificar áreas de prioridade para alavancar o desenvolvimento. Por ser considerado o indicador mais abrangente na avaliação das tecnologias da informação e comunicação dos países analisados, ele pode ser considerado um bom indicador de medida do grau de desenvolvimento do setor de TIC de um país. O índice foi abordado de forma mais abrangente em um post anterior.

A densidade industrial é uma medida que reflete a razão entre o valor adicionado da indústria de um país e sua população total. O conceito de densidade industrial busca identificar a capacidade e o interesse de um país em mobilizar seus recursos produtivos para promover o desenvolvimento industrial. O diagrama de espaço indústria, mostrado na Figura 1 abaixo (e explorado em post anterior), descreve a trajetória do desenvolvimento industrial dos países, utilizando um gráfico de três dimensões: densidade industrial, participação da indústria no PIB e participação dos serviços comerciais no PIB. O diagrama é dividido em quatro regiões distintas: R1, R2, R3 e R4.

Figura 1 – Diagrama Espaço Indústria

Diagrama Espaço IndustriaFonte: Arbache (2014).

Em geral, os países iniciam sua trajetória rumo ao desenvolvimento industrial na região R1. Nesta região, a densidade industrial é baixa, a participação da indústria no PIB é pequena e a participação dos serviços no PIB também é baixa. Logo, pode-se concluir que os países em R1 são essencialmente agrários, com grande parte do PIB vindo da agricultura. Com a chegada à região R2, os países alcançam o primeiro estágio de desenvolvimento industrial: indústrias de base, manufaturas de baixo valor adicionado e serviços de custo ganham importância na economia: a participação da manufatura no PIB cresce, mas a dos serviços comerciais é baixa.

O grande salto para o desenvolvimento é observado na transição da Região R2 para R3. Neste estágio, a densidade industrial passa a crescer rapidamente e vem acompanhada do aumento da participação dos serviços comerciais no PIB. A indústria passa a produzir bens mais sofisticados, que começam a requerer serviços profissionais especializados no processo de produção. Em virtude disso, a participação da indústria no PIB tende a diminuir: parte dos serviços da linha montagem industrial, até então executados internamente pela própria indústria, passam a ser terceirizados para empresas de serviços comerciais mais especializadas. É justamente neste ponto que começam a aparecer os serviços de outsourcing.

Finalmente, a região R4 é caracterizada pelo estágio mais avançado do desenvolvimento industrial (o qual poucos países alcançam). Nela, a densidade industrial continua a se expandir, juntamente com a demanda por serviços comerciais. Como consequência, a participação da indústria tende a declinar ainda mais, indicando uma intensa participação do setor de serviços profissionais na indústria, visando à produção de bens cada vez mais sofisticados: bens e serviços passam a se combinar para criar um terceiro produto, que não é um bem industrial tradicional, nem tampouco um serviço convencional. Os exemplos vão desde smartphones e tablets (nos quais os serviços de software compõem a maior parte do valor agregado) até mesmo carros e apartamentos do século XXI (com seus computadores de bordo e softwares de automação residencial).

Se, empiricamente, podemos esperar uma correlação positiva entre densidade industrial e serviços comerciais e profissionais, podemos esperar que esta correlação se manifeste também entre a densidade industrial e o setor de TIC. Este comportamento foi de fato observado avaliando-se os valores dos coeficientes de correlação calculados, apresentados na Tabela 1 abaixo.

Tabela 1 – Coeficiente de Correlação de Pearson para NRI e Densidade Industrial – 2012 a 2014

Coeficientes Correlação NRI-DIFonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial e do Fórum Econômico Mundial.

Como era de se esperar, a correlação calculada é positiva e bastante forte. O resultado indica que os conceitos e indicadores por trás do NRI estão fortemente correlacionados com a densidade industrial dos países. Como o conceito de densidade industrial é uma medida de desenvolvimento econômico, o resultado nos leva a crer que o setor de TIC pode ter papel importante no desenvolvimento econômico dos países. Consequentemente, dar atenção especial ao setor de TIC pode ser um caminho interessante para o desenvolvimento.

O Brasil precisa pensar políticas públicas de desenvolvimento econômico que levem em conta o setor de serviços, que hoje representa 75% do PIB nacional. O tempo de se negociar acordos de comércio pensando em commodities e subsídios agrários ficou para trás: o país precisa pensar em como transformar seu setor de serviços, hoje essencialmente focado em serviços de custo de baixo valor agregado e de baixa produtividade, em um setor de serviços comerciais sofisticados, de alto valor agregado. Para tanto, reformas estruturantes (política, administrativa, tributária) são necessárias para que não só o setor de TIC volte a crescer, mas principalmente para que os setores demandantes de soluções de TIC também voltem a crescer, impulsionando assim a inovação e o desenvolvimento do país.

Modernização dos Serviços e Marcos Regulatórios

Este blog tem insistido no argumento de que a baixa competitividade do setor de serviços compromete a competitividade de toda a economia brasileira.

Indicadores sugerem que, de fato, os nossos serviços têm preços relativamente altos e qualidade relativamente baixa. Não surpreende saber que estamos na penúltima colocação no ranking de competitividade internacional de serviços.

O Global Competitiveness Report 2015/2016 identifica que o Brasil está particularmente mal colocado em áreas críticas para o desenvolvimento dos negócios, como serviços financeiros, de telecomunicações, legais, de logística, de energia, de pesquisa e desenvolvimento e educacionais. A piora das condições de alguns desses serviços ajuda a explicar a significativa queda do Brasil no ranking do Global Competitiveness Report — passamos da 57ª para a 75ª posição do relatório anterior para o atual.

Mas de onde vem tão baixa competitividade? Claro, as causas são muitas, mas uma que se destaca é o marco regulatório. Os serviços em geral são excessivamente regulados para padrões internacionais, muitas vezes com provisões anacrônicas e de difícil justificação. Não por acaso, indicadores internacionais mostram  que a restrição à competição e a reserva de mercado são elevadas quando comparadas a outros países.

A consequência mais visível desse sistema regulatório, que parece ter sido erigido para atender a interesses específicos, é a elevada ineficiência e a baixa competitividade sistêmica.

Considere serviços como os financeiros, legais e de telecomunicações.  Como mostra o gráfico abaixo, os indicadores de restrititividade desses segmentos são superiores aos observados no resto do mundo. No caso dos serviços financeiros, destacam-se reservas de mercado de certos produtos para instituições de capital nacional, barreiras de entrada maiores para capital estrangeiro e outras medidas discriminatórias e elevadíssimos custos iniciais de entrada. No caso dos serviços legais, destacam-se as restrições ao movimento internacional de profissionais e ao exercício da profissão por estrangeiros licenciados em outros países. No caso das telecomunicações, destacam-se inúmeras barreiras que elevam sobremaneira os custos de entrada e restrições ao capital estrangeiro. O problema é que esses  serviços são importantes itens da cesta de insumos das empresas, sendo que os serviços financeiros são, de longe, o serviço com maior peso, com participação de 26% no total de serviços consumidos pela indústria.

A melhoria da competitividade da economia brasileira requer ampla revisão dos marcos regulatórios dos serviços em consonância com as melhores práticas internacionais de forma a que se estimule a modernização e os investimentos no setor e se encoraje a entrada de novos concorrentes.

STRI

 

Como se dá a moderna relação entre bens e serviços?

O aumento da participação do setor de serviços na economia é um fato estilizado. Mas o aumento desta participação e a forma como ela evolui dependem do estágio de desenvolvimento do país.

Análise da trajetória do desenvolvimento industrial ajuda no exame do crescimento e da dinâmica dos serviços.[1] Os países iniciam as suas respectivas jornadas de desenvolvimento industrial, cada um ao seu tempo e ao seu modo, na região R1 do gráfico 1 abaixo. Nessa região, a participação da agricultura no PIB ainda é elevada. Mas à medida que as economias se urbanizam, cresce a demanda por produtos industriais básicos como ferro, aço, cimento e produtos químicos. A região R2 caracteriza a fase do desenvolvimento em que expandem a indústria de base, manufaturas de baixo valor adicionado e serviços gerais.

Tudo o mais constante, quanto mais as indústrias básicas e leves expandem, menor será a sua contribuição marginal para o crescimento do PIB, o que decorre do aumento da diversificação da demanda em favor de bens e serviços mais sofisticados.

espaco industria

As economias eventualmente atingem um ponto de inflexão e entram num outro estágio da dinâmica do desenvolvimento industrial, este, muito mais sofisticado que R2. A região R3 é caracterizada pela fase em que crescem os investimentos em atividades industriais que requerem mais serviços de logística, serviços financeiros, projetos de engenharia, marketing, dentre tantos outros de apoio ao desenvolvimento industrial, ao comércio e à terceirização da produção. Nesta fase, a densidade industrial passa a crescer rapidamente e vir acompanhada do aumento da participação dos serviços comerciais na economia, ao tempo em que declina a participação relativa da indústria no PIB.

A passagem de R2 para R3 normalmente caracteriza o rompimento da armadilha da renda média. Neste estágio, a demanda das famílias por serviços mais sofisticados de saúde, educação, previdência, lazer, mobilidade urbana, segurança e conectividade crescem rapidamente.

A região R4 é caracterizada pelo estágio mais avançado do desenvolvimento industrial. A densidade industrial continua a expandir e vem acompanhada de demanda mais que proporcional de serviços comerciais, enquanto a participação relativa da indústria continua a declinar. Esse estágio também é caracterizado pela intensa participação da indústria no desenvolvimento de inovações e soluções do setor de serviços com vistas a se produzir bens cada vez mais sofisticados e com mais funcionalidades. Serviços avançados nas áreas de telecomunicações, serviços de Internet, big data, internet das coisas, cloud computing e desenho de sistemas de computadores, por exemplo, estão na mira dos investimentos em P&D da indústria.

O declínio da participação relativa da indústria no PIB não implica dizer que a indústria perdeu relevância. Na verdade, o aumento da densidade industrial caracteriza uma fase muito mais sofisticada e influente da indústria, a qual é marcada pela mudança da natureza dos bens, da forma como são produzidos e da sua relação com os serviços. A indústria passa a ocupar papel catalisador de geração de riquezas e de P&D, mas num nível muito mais complexo e sofisticado.

As regiões R3 e R4 caracterizam estágios do desenvolvimento industrial em que se desenvolve relação simbiótica e sinergética entre a indústria e os serviços para criar valor. O valor do bem industrial será maior quando combinado com serviços para formar um terceiro produto que não é propriamente um bem industrial nem tampouco um serviço. Trata-se de bens industriais com elevada participação de serviços no seu valor agregado, como é o caso dos iPads e de produtos vendidos em “pacotes”, como computadores de grande porte ou turbinas de aviões – a comercialização de turbinas, por exemplo, é acompanhada de serviços de leasing, seguros, treinamento, engenharia, manutenção e outros serviços pós-venda e B2B. Mas produtos com elevado componente de serviços, como aqueles em que design e branding têm grande contribuição no valor final, também não se enquadram nas rígidas classificações convencionais de bens e serviços.

O gráfico 2 mostra o espaço-indústria em 2011. Brasil e Estados Unidos tinham participação parecida da indústria no PIB. No entanto, a densidade industrial americana era oito vezes maior que a brasileira, a qual se devia, em boa parte, à criação de valor conjunta e complementar entre a indústria e os serviços. No século XXI, o setor de serviços é crucial e determinante para o desempenho da indústria e para a geração de riquezas.

Espaço Indústria

[1] A densidade industrial de um país é calculada como o valor adicionado da indústria de transformação dividido pela sua população total. A densidade industrial reflete a disponibilidade de recursos que contribuem para a agregação de valor, incluindo capital humano, C&T, P&D, instituições e infraestrutura. A densidade industrial captura a disposição, tácita ou explicitamente, da sociedade de disponibilizar recursos para o avanço do desenvolvimento industrial (Arbache 2012). O espaço-indústria tem três dimensões: participação da indústria no valor adicionado (D1), densidade industrial (D2), e participação dos serviços comerciais no PIB (D3).