Economia de Serviços

um espaço para debate

Author: Rodrigo Dantas

O mercado de serviços (e de tecnologia) está para peixe

A área de tecnologia é uma das mais aquecidas do mercado e, hoje, praticamente qualquer tipo de empresa ou negócio precisa de soluções deste tipo para conduzir suas atividades, otimizar tarefas e processos e aumentar a produtividade e segurança em todos os níveis.

Toda empresa em breve, deverá ser uma empresa de tecnologia.

Empresas petrolíferas, automotivas e especialmente as do segmento de serviços terão que ser essencialmente “empresas de tecnologia”. Senão, morrerão.

A demanda por softwares, sistemas integrados, automação e customização é crescente entre as companhias de sucesso, que passam a incorporá-los não só na rotina, serviços e comunicação como também em pontos importantes de interação com os clientes, a exemplo dos sistemas de pagamentos realizados online, que precisam ser cada vez mais seguros e práticos.

O ano é para aquisições

Tanto para o dia-a-dia dos atendimentos, produção ou – o mais comum – para um bom backoffice dos trabalhos, soluções em tecnologia são cada vez mais requisitadas e de tempos em tempos as grandes empresas do setor fazem novas aquisições. No entanto, ao passo em que sobe esta demanda, cresce também a competição. E, por isso, tais empresas têm se acostumado não só a adquirir mais recursos, como também a realizar acordos com outras competidoras do ramo para aumentar as fatias de mercado e o alcance de soluções integradas. Esse deve ser um ano em que algumas aquisições devem acontecer, pelo enfraquecimento de algumas economias e empresas com menos capacidade de inovação.

Nesse post, vamos falar um pouco sobre algumas das maiores aquisições entre empresas de tecnologia (em nível global) e mostrar de forma rápida o que pode acontecer de forma mais intensificada nesse ano. Veja a seguir algumas das maiores “saídas” (vendas) em empresas de tecnologia do mundo:

Dell e EMC

Cloud computing é uma realidade já bastante ampla nas empresas. A EMC, famosa por atuar neste mercado, tornou-se dona da VMware (virtualização de servidores) e, por nada menos que US$67 bilhões de dólares, foi adquirida pela Dell em 2015, uma das maiores fabricantes de computadores e implementadoras de hardware do mercado de tecnologia no mundo.

Avago Technologies e Broadcom

Se este nome ainda não lhe era conhecido, eis aqui o que ela faz: Avago fabrica semicondutores para veículos e aparelhos celulares, por exemplo. A Broadcom, por sua vez, produz chips para Wi-fi e Bluetooth. Ambas se juntaram para dominar ainda mais o mercado de dispositivos sem fios, que “surfam” a boa onda da mobilidade, do B.Y.O.D. e da nuvem, prometendo só crescer nos próximos anos. Em 2015, a Avago adquiriu a Broadcom por U$37 bilhões.

Facebook e Whatsapp

Algo em torno de 20 bilhões de dólares. Foi o preço que o gigante das redes sociais (o Facebook) pagou pelo Whatsapp, atualmente o maior sistema de troca de mensagens instantâneas do mundo. O Facebook, que já tinha ousado comprar o Instagram, desta vez deu um pulo mais alto e espera, com isso, (quem sabe?!) adquirir talentos ou patentes, mas fato é que a companhia de Zuckerberg tem corrido bastante atrás do objetivo de tornar a internet e a comunicação possível para todos.

Symantec e Veritas

Segurança da informação é um assunto sério. A Symantec (detentora do antivírus Norton, por exemplo) e a Veritas, referências neste mercado, se juntaram (ou melhor, a Veritas foi comprada) para oferecer soluções ainda mais integradas a seus clientes. Mas, neste caso, o negócio falhou e as duas voltaram a trabalhar separadamente. Prova de que tentativas são importantes, mas muitas vezes são apenas tentativas. E não há nada de mal nisso: o mercado de TI exige ousadia. A Symantec comprou a Veritas por US$13,5 bilhões em 2004.

Oracle e PeopleSoft

Às vezes mudanças causam dores. Mas, problemas com quadro de pessoal à parte, esta foi outra aquisição de destaque nos últimos tempos: a Oracle, gigante no setor (inclusive de in-memory database) adquiriu a PeopleSoft por mais de US$ 11 bilhões e passou a engrossar ainda mais o rol de soluções que oferecia para suas empresas clientes administrarem o fluxo de informações referente a seus ativos, recursos humanos e clientes, contribuindo para o sucesso de tais.

Embora haja ainda muitas outras aquisições que poderíamos citar, os exemplos acima nos mostram, ao fim, que toda empresa que queira se manter competitiva e qualificada, em um mercado tão dinâmico e veloz, deve constantemente se adequar às necessidades de seus clientes.

Não parece haver uma “feira” de aquisições por conta do momento econômico, mas este provavelmente será um ano de oportunidades, especialmente em serviços e tecnologia.

Por que as novas gerações não vão adquirir produtos?

Somos parte da geração que pertence à modernidade, tecnologia e facilidades! O que dizer de tempos passados quando o celular só servia para fazer ligações e mais nada? Hoje temos um computador na palma da mão e uma vida alterada pelo acesso.

Os serviços de assinatura, por exemplo, tornaram-se imprescindíveis para o cotidiano dos conectados. Se música é a paixão, o Spotify é o primeiro nome que jovens citam. Se livros: Amazon. E filmes, então, já não vêm mais em mídias, e sim por streaming.

Não dá para ficar sem as atualizações do LinkedIn que indicam quais são os melhores profissionais para a empresa, sem a timeline do Facebook, que mais parece um planeta do que uma rede social, sem as notificações do Twitter quando alguém que você segue favorita algo, sem as atualizações do app de música, sem todas as opções de assistir séries pelo Netflix, Youtube e aquela foto do almoço em família, que você precisa postar no Instagram. É o mundo em torno de um smartphone. E esse mundo é bem diferente de tempos atrás.

É uma vida mobile.

life as a service

(Foto: reprodução ilustração do livro Life as a Service)

Antigamente, somente pessoas mais velhas tinham condições e poder para comprar e tomar as decisões. Hoje, o alcance da maturidade possibilita que jovens de todas as idades comprem casas, carros e tudo mais. Mas será que eles estão preocupados com isso? Na constante transformação pela qual adquirir algo é menos importante que experimentar, os jovens serão os grandes donos das novas economias. O sonho de um jovem, na sua maioria, não é mais ter bens, acumular patrimônios, ter a segurança de se aposentar em uma grande empresa e ter a tranquilidade que nossos pais sempre buscaram.

Agora, o sonho é a experiência e a liberdade de escolher o próprio futuro, sem precisar seguir os padrões com os quais estávamos acostumados.

Economia do acesso 

Setenta e dois porcento da geração Millennials não sobrevivem sem seus dispositivos. Pesquisa da Nielsen identificou que, para os jovens de até 29 anos, o maior sonho é o acesso. Eles não sabem o que é viver sem internet, smartphones, aplicativos e toda tecnologia de conexão com a qual vivemos hoje. Muitos colocam celulares, por exemplo, como itens indispensáveis. Já automóveis, sonho máximo da “geração coca-cola”, não é mais o desejo deles.

As gerações anteriores, de certa forma, prepararam esse novo consumidor para dar valor às novas tendências de produtos e serviços. Com o advento da tecnologia no final dos anos 90, nossos pais começaram com a mudança de “Propriedade para Acesso”. E isso vem transformando empresas, vidas, negócios e produtos. Tudo passa a ser serviço.

life-as-a-service

(Foto: reprodução ilustração do livro Life as a Service)

Na ilustração acima, a casa é o único item no qual necessitamos ainda ter a propriedade. Até o telefone, que há 20 anos era item que se adquiria com linha e título, já virou um serviço mais do que comum.

Da propriedade para o acesso

Dois grandes exemplos de que o acesso a serviços já domina parte do nosso consumo são os filmes e a fotografia. Difícil não ter na nossa cabeça como principal exemplo a morte da Blockbuster e a crescente adesão a serviços de streaming de filmes. Pra quê, em pleno 2015, precisamos comprar um DVD? Nesse mesmo espírito, deixamos de revelar fotos há anos.

life-as-a-service2

(Foto: reprodução ilustração do livro Life as a Service)

Esse novo consumo nos trouxe um agente importante para o segmento de serviços. Tudo é serviço, praticamente. Música, filmes, educação, entretenimento, segurança e, agora, transporte. Sem levar em questão a miopia de empresas como Kodak, Blockbuster, entre outras que vão morrer brevemente, podemos afirmar que quem dita a regra são os consumidores empurrados pela tecnologia. O Uber é um bom exemplo. Deixando de lado a polêmica, ele potencializa ainda mais a teoria do acesso. Em algumas cidades dos Estados Unidos, caso de São Francisco, o Uber, Lyft e Sidecar geram mais receita do que a maioria dos transportes públicos.

O Airbnb, o serviço de hospedagens 3.0, permite que, cada vez mais, preços e experiência estejam na vida dos viajantes. Redes de hotéis, operadoras de turismo e até sites de reservas já se desesperam por conta da popularização de serviços como esse, no qual o usuário quer a experiência além do serviço. Poderíamos enumerar centenas de novas empresas como essas que já iniciam a revolução do consumo de propriedade para acesso.

Preço e valor percebido

O valor percebido pelos consumidores atuais mudou bastante, o que faz com que algumas culturas simplesmente desapareçam. Adquirir algo e usar por poucas vezes é extremamente desnecessário nesses tempos. No livro Life as a Service, em parceria com o Murilo Gun, um dos pontos centrais é o exercício comum das pessoas em ter algo extremamente obsoleto como um bem. Caso da furadeira, citada pelo livro, ferramenta comum de se ter em casa, mas de pouco uso. Pra que a furadeira, se o que precisamos é um furo? Esse tipo de produto será automaticamente colocado na proposta de acesso. Alugar uma furadeira por, por exemplo, R$15/dia vale muito mais à pena que comprar uma por R$250 numa loja de departamentos.

Imobilizar um patrimônio será um grande sacrilégio para novas gerações.

A experiência acima de tudo e a reputação como pagamento

A geração Y (dos chamados Millennials) e as novas que virão vão pressionar ainda mais a mudança como empresas ganham dinheiro. Negócios que visam ao lucro somente já são percebidos por eles como “sem valor algum”. É evidente que algumas empresas ainda não notaram, outras tentam se adaptar e poucas assumem as rédeas da transformação.

Novas economias como a Criativa, a da Recorrência e a do Compartilhamento (todas elas inseridas no segmento de serviços) serão, de fato, os pilares para que empresas como o Uber, por exemplo, valha mais do que uma mineradora, que aplicativos como WhatsApp sejam o meio de comunicação universal, entre outros bons exemplos nos quais a experiência do consumidor está acima de qualquer coisa. Já existem, inclusive, formas de pagamento para receber um serviço que vão além da questão financeira. Caso do CouchSurfing, onde pessoas recebem, em suas casas, viajantes de quaisquer lugares do mundo, sem cobrar um centavo em troca. É a reputação em forma de pagamento. Dois imóveis no mesmo local, com o mesmo preço de aluguel, mas com reputações diferentes no Airbnb são diferenciados rapidamente um do outro, por conta de um simples “review” positivo. E o que esses novos consumidores buscam? Experiência e acesso.

Acima de tudo, as novas gerações serão os motores para que empresas tradicionais desapareçam e novas formas de se ganhar dinheiro e emprego se renovem.

 

rodrigo dantasRodrigo Dantas é fundador e CEO da Vindi (www.vindi.com.br) – plataforma de pagamentos online), criador do maior evento de empresas SaaS e Assinaturas do país, o “Assinaturas Day” (assinaturasday.com) e co-autor do livro Economia do Acesso e os modelos de negócios baseados em compartilhamento, recorrência e assinaturas.