Na última semana, foram divulgados os resultados das contas nacionais trimestrais. Pela primeira vez em quase dois anos e meio, o PIB do primeiro trimestre de 2017 apresentou crescimento em relação ao trimestre imediatamente anterior. Em um cenário de desemprego de 13,6% e de grande turbulência política, o resultado pode e foi (moderadamente) comemorado. Porém um olhar mais atento recomenda bastante cautela nessa celebração.

Primeiro, porque o cenário de grande incerteza política se agravou consideravelmente desde o fim do primeiro trimestre, e isso pode reduzir o teto de crescimento deste ano, seja por conta de uma menor chance de aprovação de reformas e a consequente desconfiança, por parte do mercado, na capacidade de crescimento no longo prazo, seja por conta da provável diminuição no ritmo de queda da taxa básica dos juros.

Segundo, porque o crescimento foi puxado em grande medida por uma safra recorde, que resultou em um crescimento de consideráveis 11,5% do setor agropecuário, melhor resultado do setor desde 1996. O setor de serviços, responsável por cerca de ¾ da economia brasileira, apresentou crescimento modesto (0,2%) no período. Por ser majoritariamente não-comercializável entre fronteiras, o setor é bastante pró-cíclico, e seguiu sentindo os efeitos das quedas do consumo, tanto das famílias (-0,1%) quanto do governo (-0,6%), e da formação bruta de capital fixo (-1,6%). Este último resultado é especialmente preocupante pois é um forte determinante de crescimento futuro.

Terceiro, porque, tanto no acumulado dos últimos quatro trimestres, quanto na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, o resultado segue no campo negativo: -2,3% e -0,4%, respectivamente. Como o lado do consumo segue fraco e parte considerável do crescimento no trimestre se deu por conta de um resultado extraordinário da agropecuária, é recomendável, novamente, ter cautela.

Olhando pelo lado positivo, alguns segmentos de serviços apresentaram crescimento no período, depois de diversos trimestres de queda: transporte, armazenagem e correio (3,1%); serviços de informação (1,9%); outros serviços (0,9%); e atividades imobiliárias (0,2%). Além disso, o setor como um todo, apesar de praticamente não ter crescido, teve, pela primeira vez desde o final de 2014, um resultado não negativo. Soma-se a isso o resultado positivo da indústria no período, de 0,7%, também pela primeira vez desde o último trimestre de 2014.

Em suma, o resultado do PIB no primeiro trimestre de 2017 trouxe algumas notícias positivas, mas ainda é cedo para comemorar o fim da crise. Além disso, ao mesmo tempo que temos que nos preocupar com as questões conjunturais, se certos obstáculos estruturais não forem enfrentados – como a baixa produtividade, em especial no setor de serviços, a baixa complexidade da nossa economia e nossa pequena integração a posições privilegiadas nas cadeias globais de valor –, dificilmente conseguiremos crescer de maneira sustentada nas próximas décadas.

PS: os dados do post e do gráfico abaixo foram atualizados com os resultados do segundo trimestre de 2017 do Sistema de Contas Nacionais.