Está se tornando lugar comum nos círculos governamentais, acadêmicos, privados e diplomáticos a tese de que países em desenvolvimento deveriam perseguir políticas arrojadas de exportação de serviços com fins de promover o emprego e o crescimento econômico. A tese é mais que meritória, mas, infelizmente, carece de maior amparo empírico.

As exportações de serviços finais, que são aqueles que majoritariamente são exportados por países em desenvolvimento, são apenas uma fração das exportações totais de serviços quando contabilizados em valor adicionado. A maior parte dos serviços transacionados entre-fronteiras está, direta ou indiretamente, “embutida” em outros produtos, sejam eles bens industriais, agrícolas, minerais ou mesmo outros serviços. Tratam-se de serviços comerciais na forma de P&D, softwares, marcas, design, serviços técnicos especializados, serviços financeiros, seguros, logística dentre muitos outros que perfazem parcela crescente do valor final dos bens.

De fato, os serviços respondem por cerca de 20% do total do comércio global. Mas, quando contabilizados em valor adicionado, são 54% do total – estima-se que serão 75% até 2025.

A experiência americana, alemã e de outros países avançados mostra que o desenvolvimento e a exportação de serviços estão diretamente associados à estrutura econômica do país – quanto mais sofisticados forem a indústria e outros setores, mais sofisticado tende a ser o seu setor de serviços. A razão é que o desenvolvimento de serviços “responde” às demandas por novas soluções e desafios tecnológicos e de mercado. Não por outra razão, a indústria americana é o principal financiador do P&D do setor de serviços daquele país. As evidências empíricas sugerem que não devemos esperar que serviços comerciais sejam desenvolvidos de forma isolada ou autóctone num país.

Estamos aprendendo que a criação de valor está associada à relação sinergética e simbiótica entre bens e serviços. Logo, o caminho mais promissor para países em desenvolvimento é associar exportações de serviços a uma agenda mais ampla de crescimento.

Países em desenvolvimento devem, sim, explorar alternativas econômicas na área dos serviços. Turismo, cassinos, call centers, serviços de manutenção, de contabilidade e mesmo serviços finais com algum grau de sofisticação, que são aqueles que hoje predominam nas exportações daqueles países, são mais que bem-vindos. Porém, não devem ser vistos como panaceia. Os serviços que devem estar no radar das estratégias de desenvolvimento econômico são aqueles que podem pavimentar o caminho para o avanço do conhecimento e para a inserção do país em cadeias globais de mais alto valor agregado, que é uma das fontes primárias de aprendizagem, interação, upgrade tecnológico e de acesso a mercados.

Um já testado caminho para adentrar no segmento de produção e exportação de serviços é o desenvolvimento de serviços associados aos setores em que o país já tem vantagem comparativa estática ou dinâmica.

O caso da pecuária do Uruguai é ilustrativo. Após ser afetado pela doença da vaca louca no início dos anos 2000, o país se impôs o objetivo de ser o primeiro a ter o gado bovino totalmente identificado e rastreado. Para tanto, teve que desenvolver conhecimento e tecnologias de rastreamento desde o nascimento do animal até a carne chegar às gôndolas dos supermercados dos países importadores. Hoje, para os rancheiros uruguaios, instrumento de trabalho tão importante quanto o cavalo são os laptops e os chips. O Uruguai não apenas passou a produzir carne em conformidade com os cada vez mais rigorosos padrões sanitários internacionais, mas, também, a desenvolver todo um setor de tecnologia de rastreamento que hoje já é vendido para o Brasil e outros países.

O caso do setor de flores ornamentais para exportação no Quênia também é ilustrativo. Para estar em condições de competir com outros países no mercado global de flores, o país teve que desenvolver serviços que viabilizassem a produção e a entrega competitivas na bolsa de flores da Holanda. Os vários segmentos de serviços desenvolvidos hoje contribuem para o potencial de negócios de outras atividades econômicas.

Muito pode ser feito para ampliar as exportações de serviços dos países em desenvolvimento. Mas o sucesso da empreitada será, provavelmente, tão maior, quanto mais ela estiver ancorada nos princípios fundamentais da geração de riqueza do século XXI.