Economia de Serviços

um espaço para debate

Month: maio 2016

Por que a regulação tradicional não pode ser a única resposta a serviços inovadores

Este mês o Google anunciou um novo serviço de carona na Califórnia, chamado Waze Carpool. O aplicativo Waze, comprado pelo Google por US$ 1,5 bilhões em 2013, possui hoje mais de 50 milhões de usuários em todo mundo conectados diariamente em busca da melhor rota para fugir de engarrafamentos e demais problemas do trânsito. Uma mistura de rede social com um sistema de navegação via GPS, o Waze utiliza informações providas pelos próprios usuários para definir a melhor rota de um ponto a outro.

O novo serviço funciona da seguinte forma: passageiros devem fazer o download de um novo aplicativo, o Waze Rider. Pelo aplicativo, os passageiros procuram pelo motorista mais próximo que já está planejando dirigir pela mesma rota do passageiro para ir ao trabalho. Os motoristas, por sua vez, recebem pedidos de carona no próprio aplicativo Waze. O serviço faz a correspondência entre motoristas e passageiros com rotas praticamente idênticas, baseados nos seus endereços residenciais e de trabalho, cadastrados previamente em uma base de dados.

Disponível inicialmente apenas na região do Vale do Silício, o objetivo do serviço é permitir que os trabalhadores da região encontrem mais facilmente caronas de ida e volta de casa ao trabalho, uma maneira de incentivar caronas solidárias e viagens compartilhadas. Além de oferecer mais uma alternativa de transporte a custos relativamente baixos, a medida também ajuda a reduzir engarrafamentos e a poluição. Pesquisas na região mostraram que, durante os horários de pico, 70% dos veículos trafegam apenas com o motorista.

Um sistema automático de transferência de recursos, embarcado no aplicativo, transfere o dinheiro referente ao combustível de passageiros para o motorista por meio de um cartão de crédito cadastrado, a exemplo de outros aplicativos de carona e transporte privado. O valor atual é de US$ 0,54 por milha percorrida (cerca de R$ 3,10 por km), valor sugerido pelo Internal Revenue Service (IRS), uma agência americana com funções similares às da Receita Federal no Brasil. Esta é a grande diferença do Waze Carpool para os demais aplicativos de transporte como Uber: os recursos repassados ao motorista são suficientes apenas para cobrir os custos com combustível. Ele não consegue fazer deste serviço seu meio de ganhar a vida. Não há margem de lucro para o motorista. Ele não pode pegar passageiros que vão para outro lugar diferente do endereço de trabalho cadastrado. Além disso, as corridas estão limitadas a duas por dia: uma para ir, outra para voltar do trabalho.

Por mais que o novo serviço seja diferente de um serviço de táxi, uma vez que não tem por objetivo contratar motoristas para o transporte de passageiros, ele pode gerar competição com táxis e com o Uber, por fornecer uma alternativa de baixo custo, ou por servir como opção para aqueles que preferem socializar com colegas de trabalho da mesma empresa durante o trajeto casa-trabalho. Portanto, é natural se esperar que o novo serviço sofra algum tipo de tentativa de censura e repressão, assim como enfrenta o Uber na maioria das praças em que o serviço é lançado.

O rápido crescimento dos serviços de corrida compartilhada por aplicativos tem forçado mudanças fundamentais em um setor antigo e tradicionalmente protegido da competição pela regulação. O que se observa são batalhas entre atores que seguem um mesmo padrão: uma empresa startup entrega um novo serviço criativo e inovador que nasce quebrando regras antigas e segue ignorando estas mesmas regras até obter uma grande massa crítica de clientes satisfeitos. Os prestadores do antigo serviço, desacostumados com um ambiente de competição, passam a pressionar os formadores de opinião e reguladores para tentar encerrar os novos serviços inovadores. As empresas inovadoras e seus clientes satisfeitos contra-atacam, criticando os reguladores. Este ciclo se repete até que se chegue a um consenso, uma solução regulatória que, usualmente, não é um Ótimo de Pareto.

Na visão tradicional de modelo regulatório, normalmente utilizada pelo governo na regulação do mercado privado, a autorização prévia ou licença para prestação do serviço é utilizada como ferramenta básica. Assim funciona, por exemplo, com as licenças emitidas pela ANATEL quando um provedor quer começar a prestar um serviço de internet em banda larga e precisa de uma licença de Serviço de Comunicação Multimídia (SCM) para iniciar suas operações. A abordagem da regulação é impor o controle prévio dos atores por meio da imposição de altas barreiras de entrada.

Entretanto, para os novos serviços de tecnologia prestados sobre plataformas de comunicação e sobre a internet, este modelo não funciona. A maioria desses serviços não teria o sucesso que têm hoje se tivessem de pedir permissão para iniciar suas operações. Suas ideias simplesmente não teriam sido colocadas à prova. Na verdade, umas das principais inovações trazidas por estas plataformas é justamente a capacidade de se autorregularem, adaptativamente e em escala. A partir da grande quantidade de dados em tempo real disponíveis, os próprios provedores do serviço passam a fazer sua regulação. Esta realidade já é observada hoje pelo Uber. Por meio de um sistema que analisa uma grande quantidade de informação (as avaliações dos usuários finais do serviço), o Uber regula sua relação com seus motoristas, utilizando as informações disponibilizadas pelos usuários para forçar um padrão de atendimento e de comportamento aceitável. Esse processo se repete para grande maioria dos novos serviços solicitados por meio de aplicativos.

Nesse sentido, a pergunta que se faz é como implementar a regulação destes novos serviços? A questão, ainda sem resposta definitiva, nos traz também uma certeza: não será utilizando o modelo ultrapassado de barreiras de entrada criado no século passado. Os processos e modelos regulatórios devem ser transformados para adotar a ampla quantidade de dados disponíveis hoje, num modelo similar ao utilizado pelas empresas de inovação para regular seus parceiros.

O novo modelo deve oferecer um trade-off entre as partes, propondo uma relação “ganha-ganha” entre regulados e reguladores: por um lado, ele deve oferecer menores barreiras de entrada a empresas que queiram ingressar no mercado por meio da inovação, garantindo uma maior liberdade de operação para startups. Por outro, deve prever uma relação de maior cooperação dos regulados para com os reguladores, com mais transparência e, principalmente, com acordos de compartilhamento de informações com o poder público em caso de problemas específicos, como uma grande concentração de reclamações dos usuários ou em casos de crimes e infrações às leis nacionais.

Enquanto não houver consenso sobre as premissas acima entre as partes interessadas, vamos continuar tentando regular serviços inovadores da mesma forma que se iniciou a regulação de serviços de infraestrutura básica como energia elétrica, água e esgoto. As propostas de regulamentação dos serviços de transporte por aplicativo atualmente se baseiam, quase que majoritariamente, na cobrança de uma licença anual e um valor por quilômetro rodado. A proposta resolve apenas em parte o problema, pois acaba com o argumento de ilegalidade que paira atualmente sobre o Uber. Porém, certamente não é uma solução ideal, pois faz da barreira à entrada o ponto principal da regulamentação. Um serviço de carona solidária como o Waze Carpool, que propõe apenas um compartilhamento de custos entre os usuários dos serviços, poderia não resistir a uma cobrança destas, proposta por este modelo de regulação. Neste caso, estaríamos diante do cenário mais temerário a respeito deste tema: ao invés de termos um serviço inovador atuando às margens da lei, estaríamos diante de uma regulação anacrônica que inibe e atrapalha a inovação e a criação de novos serviços tecnológicos.

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Entrar na era da economia digital garantirá maior crescimento ao Brasil? Não

Já sabemos que o Brasil é uma economia relativamente fechada para o comércio. Indicadores de conectividade global, tais como o MGI e o DHL, que levam em conta fluxos financeiros, de dados, de conhecimento, de pessoas, de serviços e de comunicação sugerem que o Brasil também é fechado nessas áreas.

Se ser uma economia fechada para o comércio já era comprometedor para o crescimento, ser fechado para a economia digital pode ser ainda mais comprometedor. Afinal, a era digital está rompendo tudo: a natureza dos produtos, a forma de produzí-los, o universo dos produtores e consumidores, as formas de entrega de bens e serviços, a escala do capital para se operar globalmente e os requerimentos de capital humano.

De fato, estatísticas da McKinsey mostram que, enquanto o fluxo de comércio de bens e finanças está desacelerando, o de dados vem crescendo de forma exponencial – entre 2005 e 2014 esse volume cresceu nada menos que 45 vezes! O fluxo de dados adicionou US$ 2,2 trilhões ao PIB global em 2014 de forma direta e outros US$ 2,8 trilhões de forma indireta.

A economia digital promove produtividade ao expor as empresas a novas ideias, pesquisas, tecnologias, melhores práticas operacionais e de gestão e ao criar novos canais de acesso aos mercados globais, ao tempo em que ajuda a reduzir custos.

Embora tudo isto seja muito valioso e positivo, é preciso ter em mente o que venho chamando de “commoditização digital”, qual seja, a popularização de acesso e uso de tecnologias digitais. O conceito diz que, no final das contas, usar tecnologias digitais pode fazer pouca ou nenhuma diferença para a competitividade se aquela tecnologia ou prática estiver ao alcance geral. Logo, tecnologias digitais podem ser condição necessária, mas não suficiente para fazer a diferença em termos de competitividade em nível global.

Logo, por mais sofisticada que seja, os benefícios marginais do uso de tecnologias digitais tendem a ser decrescentes e, eventualmente, até nulos. Prevemos que, a partir do momento que tecnologias se tornam acessíveis e comuns, as vantagens comparativas clássicas voltarão a ser fator de competitividade.

As evidências empíricas estão nos mostrando que o que importa mesmo e faz a diferença para a criação de riqueza é a capacidade de desenvolver tecnologias digitais e de desenvolver e gerir novos modelos, plataformas e padrões de negócios digitais. O efeito-rede e o efeito-plataforma são evidências disto. Pense nos casos da Google, Amazon, Apple, Microsoft, Facebook e outras que “chegaram primeiro” e estabeleceram as bases de operação de negócios e segmentos que as tornaram superestrelas com poucas possibilidades de serem contestadas por entrantes, a não ser em razão de questões regulatórias. Esta é uma das principais explicações da desaceleração e perda de brilho dos “unicórnios”, as startups que rapidamente chegam a valer mais de US$ 1 bilhão.

Isto nos traz a um outro conceito relevante para os dias de hoje, o de “falácia da composição” na era da economia digital (Arbache 2015), qual seja, a ideia de que é improvável que haja lugar para todos na economia digital, em especial em razão do efeito-plataforma e da redução do ciclo de vida das tecnologias e dos serviços digitais.

Com o encurtamento cada vez maior dos ciclos tecnológicos, já não se pode mais falar de convergência de produtividade nos termos propostos por Dani Rodrik (QJE 2013).

Embora entrar na era da economia digital seja mais que relevante para um país como o Brasil, é preciso ter em mente que usar mais e melhor as tecnologias digitais não garantirá crescer a taxas mais elevadas nem gerar mais e melhores empregos.

O século XXI nos lembra todos os dias que o mundo já é, mas será ainda mais dividido entre aqueles que usam e aqueles que desenvolvem tecnologias, padrões e negócios digitais.

Neste momento, o segundo grupo está majoritariamente concentrado em alguns poucos países avançados. E é provável que assim continue, ao menos no horizonte previsível, com efeitos importantes em termos de aumento das diferenças de PIB per capita entre países e de perspectivas de desenvolvimento econômico.

Educação básica: um século de atraso a superar

Em post anterior, abordamos os limites do sistema educacional para preparar os jovens para lidar com as transformações de um mundo que se torna cada vez mais tecnológico e digitalizado. No Brasil, a estória não é diferente.

Segundo dados da CNI de outubro de 2013, a falta de trabalhadores qualificados é um problema para 65% das empresas das indústrias extrativas e de transformação. Este alto percentual é corroborado pelos dados da MangroupPower sobre o tema: de acordo com a instituição, 61% dos empregadores brasileiros reportam dificuldades em contratar trabalhadores com as habilidades demandadas, enquanto a média mundial é de 32%.

Como já dito em post anterior, embora não sejam suficientes, aptidões em disciplinas básicas ainda são cruciais para o desenvolvimento de habilidades demandadas pelo mundo tecnológico. O problema é que o Brasil ainda tem grandes dificuldades a superar em termos de indicadores básicos de educação.

Conforme apresentado no gráfico 1,  a escolaridade média da população brasileira em 2000 estava pouco acima da média de países como Estados Unidos, Canadá e Austrália em 1900 . Isso significa que chegamos aos anos 2000 com um século de atraso no quesito educação na comparação com países desenvolvidos. Mas talvez ainda mais grave seja o efeito cumulativo daquele atraso em áreas como produtividade, inovação, ciências e tecnologia.

Gráfico 1 – Escolaridade média para países selecionadosEscolaridade média

Fonte: OCDE

Os dados para o início do século XXI indicam que o Brasil segue atrasado em indicadores educacionais. Com base nas estimativas de escolaridade média de Barro-Lee para 2015, o Brasil encontra-se muito longe do nível educacional dos países desenvolvidos, tal como mostra o gráfico 2. Enquanto os brasileiros estudam em média 7,7 anos, a média de países como Estados Unidos e Coreia do Sul é de 13,3 anos. Previsões estatísticas de Barro-Lee também sugerem que o Brasil não ultrapasse 10 anos de estudo antes de 2040, permanecendo atrás dos demais países do BRICS.

Além do atraso em relação aos países mais desenvolvidos em termos quantitativos, ainda há o atraso em termos de qualidade. Considerando os resultados do PISA, o Brasil encontra-se entre os últimos colocados dentre os países avaliados pela pesquisa, destacando o fraco desempenho dos jovens em matemática, ciências e leitura (ver gráfico 3).

Esta breve exposição dos gargalos educacionais brasileiros levanta algumas questões cruciais para que o país possa superar os entraves ao desenvolvimento associados às lacunas de habilidades. Indiscutivelmente, não basta expandir a educação sem pensar em qualidade. E qualidade, neste caso, refere-se não apenas à garantia de que os alunos sairão da escola sabendo matemática e português, mas, principalmente, que saibam aplicar o conhecimento adquirido a situações reais.

O Brasil está chegando atrasado à era digital. E a tendência é de que fiquemos cada vez mais para trás se não formos capazes de desenvolver o capital humano necessário para competir no século XXI.

Gráfico 2

Fonte: Barro-Lee (2016).

Gráfico 3

Fonte: PISA.

Por que a participação dos serviços no PIB de Alagoas é próxima à de São Paulo?

Como já comentado em posts anteriores, via de regra, os países atualmente desenvolvidos passaram por um processo de transformação estrutural de sua economia. Nesse processo, inicialmente a economia se concentra em atividades agropecuárias e, posteriormente, passa a se industrializar, principalmente com manufatura de baixa complexidade.

Na sequência, a sociedade passa a ser majoritariamente urbana e demandar serviços básicos. Neste momento, costuma haver um forte crescimento na participação do setor terciário no PIB e uma redução na participação do setor primário. Numa próxima etapa, a sociedade, mais urbana e escolarizada, passa a demandar produtos e serviços mais sofisticados. Nesse momento, o setor terciário passa a interagir mais fortemente com a indústria, gerando bens mais complexos e com serviços intensivos em conhecimento “abarcados”. Por conta desse processo, à medida que um país vai se desenvolvendo, em geral, a participação de serviços na economia também cresce.

Espera-se, portanto, que regiões de diferentes níveis de desenvolvimento tenham níveis distintos de participação de serviços no PIB. Se isso é verdade, por quê, então, São Paulo (estado com o segundo maior PIB per capita do país) e Alagoas (terceiro menor PIB per capita) têm níveis similares de participação do setor de serviços em suas economias?  Como é possível ver no mapa 1 abaixo, o setor terciário responde por 75% e 72% das economias de SP e AL, respectivamente.

Esse aparente paradigma tem diversos motivos, mas o principal deles parece ser a natureza heterogênea do setor de serviços. Por conter atividades tão díspares quanto bancos e salões de beleza, a participação do setor de serviços no PIB, por si só, diz pouco sobre o grau de desenvolvimento de um país, região ou estado.

Seguindo nos exemplos já citados, enquanto em Alagoas 39% dos serviços são de atividades essencialmente providas pelo setor público (administração, educação, saúde, pesquisa e desenvolvimento públicas, defesa, seguridade social), esse percentual é de apenas 13% em São Paulo (ver gráfico abaixo). Ademais, em SP, percebe-se uma participação muito mais elevada de serviços voltados para empresas, muitos deles de alta complexidade, como atividades profissionais, científicas e técnicas, administrativas e serviços complementares (14%, vs. 6% em AL) e serviços de informação e comunicação (7%, vs. 2% em AL).

Exemplo tão anacrônico como o citado ressalta a importância de se buscar classificar as atividades de serviços em grupos mais homogêneos. Alguns exemplos disso são as classificações da OCDE (serviços comerciais profissionais x tradicionais), por destino (para o consumo final x para empresas), padrão tecnológico (modernos x tradicionais) ou funcionalidade (serviços de custo x serviços de agregação de valor)[1].

Tais classificações são úteis para melhor compreender o setor de serviços e desenhar políticas mais corretamente direcionadas para o segmento. Portanto, mais importante que pensar no tamanho do setor de serviços parece ser refletir sobre sua composição e suas distintas funções na economia.

Mapa 1 – Dados de 2013

Gráfico 1 – Participação das atividades de serviços no PIB do setor, em Alagoas e São Paulo (2013).Servicos por atividadeFonte: IBGE (2016).

[1] Essas classificações são utilizadas no Boletim de Serviços. Para conhecer melhor essas categorizações, ver Nota Técnica do Boletim.

Chamada de trabalhos – V Conferência REDLAS, em São Paulo

Copiamos abaixo mensagem de Felix Hugo (Universidade Presbiteriana Mackenzie) e Nanno Mulder (CEPAL/REDLAS), com uma chamada para trabalhos para a V Conferência REDLAS (Rede Latino-Americana de Investigação em Serviços), com tema “Services, technology and international trade: Trends, challenges and opportunities for Latin America” que ocorrerá nos dias 5 e 6 de outubro em São Paulo. Os resumos devem ser enviados até o dia 15 de junho de 2016 para congressodeservicos@mackenzie.br

Segue a mensagem, em espanhol e inglês:

“Estimad@s colegas,

Con mucho gusto reiteramos que la quinta conferencia de la Red Latinoamericana de Investigación en Servicios (REDLAS) se celebrará el  4 y 5 de octubre 2016 en Sao Paulo, Brasil. El tema de esta conferencia es “Servicios, tecnología y comercio internacional: Tendencias, desafíos y oportunidades para América Latina”. El anfitrión de la conferencia es la Universidad Prebistariana Mackenzie y los coorganizadores son la Asociación Latinoamericana de exportadores de servicios (ALES), la CEPAL, el Centro de Estudios del Comercio Mundial e Inversiones de la Fundación Getulio Vargas y la Universidad de Chile. Para mayores informaciones del Call for Papers, véase http://www.redlas.net/materiali/priloge/slo/llamada-de-trabajos–redlas-2016–espa~nol.pdf

Le invitamos enviar un resumen de un trabajo para presentar en la conferencia antes del 15 de junio al correo congressodeservicos@mackenzie.br. Una selección de los mejores resúmenes recibirán un apoyo financiero para asistir a la conferencia.

Estamos a la orden por cualquier consulta.

Saludos atentos,

En nombre del comité organizador, Felix Hugo (Universidad Prebistariana Mackenzie) y Nanno Mulder (Presidente REDLAS) 

—————————–

Dear colleagues,

With great pleasure we would like to remind you that the fifth Conference of the Latin American Network for Research on Services (REDLAS) will take place on 4 and 5 October 2016 in Sao Paulo, Brazil. The theme of this conference is “Services, technology and international trade: Trends, challenges and opportunities for Latin America”. The meeting is hosted by Mackenzie Presbyterian University and co-organized with the Latin American Association of Service Exporters (ALES), the Center of Global Trade and Investment Studies of the Getulio Vargas Foundation, ECLAC, and  the University of Chile. For more information on the Call for Papers, please see http://www.redlas.net/materiali/priloge/slo/call-for-papers-new-deadline.pdf.

We kindly invite you to send an abstract of a paper you could present before  15 June to the email congressodeservicos@mackenzie.br. A selection of the best abstracts will receive financial support to attend the meeting.

Please contact if you have any queries.

Kind regards,

On behalf of the organizers,  Felix Hugo (Mackenzie Presbyterian University) and Nanno Mulder (President REDLAS)”

Dados abertos e o seu potencial para serviços

Apesar de parte dos dados gerados diariamente ser de uso privado e sigiloso, há um potencial imenso a ser explorado no que se refere a dados abertos (open data). Utilizando a definição da Open Knowledge Foundation, o termo se refere a dados que podem ser livremente utilizados, reutilizados e redistribuídos. Eles seguem três leis básicas propostas por David Eaves, referência na área:

  • Se o dado não pode ser indexado, isto é, encontrado na web, ele não existe. Isso é bem claro:  se o dado não pode ser encontrado pelo usuário numa busca simples no Google, é como se ele, de fato, não existisse.
  • Se não está em formato compreensível por máquina (por exemplo, se está como imagem), ele não gera engajamento. Isso não significa que documentos em pdf ou formatos semelhantes não forneçam dados de valor. Significa apenas que o usuário não consegue trabalhar esse dado (no excel por exemplo), o que limita bastante o seu uso.
  • Se não é possível replicá-lo por alguma questão legal, ele não “tem/dá poder”. Se não é possível compartilhar o resultado de um trabalho com dados pela existência de licenças para uso, seu potencial para gerar valor é reduzido.

Open Data é o mesmo que Big Data?

Como colocado por Joe Gurin, presidente do Center for Open Data Enterprise, enquanto o big data é definido pelo seu volume, variedade e velocidade, o open data é definido pelo seu uso.[1]  As bases de big data que seguem as leis ditadas acima passam também a serem consideradas dados abertos.

Figura 1 – Tipos de Dados

tipos de dado

                                                                        Fonte: Gurin, J. (2014)

Estudo da Mckinsey Global revela que uma agenda global de dados abertos tem potencial para gerar três trilhões de dólares, em particular nos setores de educação, transporte e saúde. A consultoria Lateral Economics estima que políticas pró-abertura de dados podem resultar em acréscimo de até 1,1% do PIB para as economias do G20.

Dados abertos são um combustível para inovações em serviços e produtos justamente por serem fáceis de encontrar e manipular, com produtos resultantes dessa manipulação que podem ser amplamente compartilhados. Por mais senso comum que isso pareça, é a partir desses dados abertos que vários aplicativos, por exemplo, melhoram diariamente a vida de usuários em diversas áreas, como lazer, segurança e transporte.

Boa parte dos aplicativos mais usados hoje atingiram esse sucesso por conseguirem traduzir, em formato de aplicativo, milhares de dados – abertos – fornecidos pelo governo. Um exemplo disso é o aplicativo sul-coreano Naver, que usa open data do Ministério dos Transportes para gerar um aplicativo capaz de destrinchar o complexo sistema de ônibus do país. No Reino Unido, a plataforma Illustreets coleta informações de diversos departamentos como transporte e educação para construir índices que auxiliam na escolha de regiões para morar. Em Uganda, 80% dos recursos destinados a escolas se perdia pela corrupção. Após a divulgação dos dados abertos sobre a destinação desses recursos, essa cifra reduziu-se para 10%.

Como o Governo pode promover dados abertos?

Diversos são os motivos para que o Governo lidere a agenda de dados abertos. Conforme elencado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), eles contribuem para o aumento da transparência na gestão pública, o surgimento de novos serviços e inovações a partir de seu uso, a melhoria na qualidade dos dados do governo e a viabilização de novos negócios. No Brasil, a Lei de Acesso à Informação e a Instrução Normativa que instituiu a Infraestrutura Nacional de Dados Abertos (INDA) fornecem as diretrizes para todas as iniciativas do Governo nessa área. O Governo também tem papel relevante como promotor da cultura e do uso de dados abertos. Hackathons (maratonas de programação) e desconferências  são iniciativas populares nesse sentido. No Brasil já houve Hackathons organizados pela Câmara dos DeputadosINEP e Ministério da Justiça[1]

Entende-se, claramente, que ainda há muitos desafios a serem enfrentados para o crescimento da disponibilidade de dados abertos no Brasil e no mundo, principalmente no que se refere à segurança da informação e qualidade dos dados. Há custos inerentes de disponibilização e manutenção das bases e necessidade de servidores para sua gestão, para padronização e suporte. Com o crescimento no número de fontes capazes de fornecer bases de dados abertas, sistemas cada vez mais complexos serão necessários para administrar esse volume de informações. A manutenção de uma trajetória firme para disponibilizar cada vez mais dados abertos é importante para garantir que o País não fique ainda mais atrás na corrida de inovação.

[1] Para mais informações sobre dados abertos no Brasil, clique aqui.

 

Agradeço os comentários do economista Rafael Leão durante a elaboração deste post.

Como a Internet das Coisas pode mudar o setor de turismo

Nas palavras do famoso cientista da computação Mark Weiser, “as tecnologias mais importantes são aquelas que desaparecem; elas se integram à vida do dia a dia, ao nosso cotidiano, até serem indistinguíveis dele”. É nesse contexto que a Internet das Coisas (IoT) encontra solo fértil. A proposta é conectar tudo à Internet de forma a facilitar a vida dos usuários e promover constantes interações. Seria a terceira fase da internet, que já passou de uma rede de computadores (1ª fase) para uma rede de pessoas e comunidades (2ª fase).

As cifras da IoT apresentam crescente exponencial. Estima-se que em 2015 a Internet das Coisas gerou US$ 779,9 bi. de entradas, crescimento de 18,9% em um ano. Apesar desse montante, essa área ainda parece pouco explorada. Segundo estimativa de Amil Menon, executivo da Cisco, menos de 2% das coisas estão efetivamente conectadas.

Por mais que a realidade da Internet das Coisas pareça distante do Brasil, já existem exemplos de cidades latino-americanas que estão utilizando a tecnologia para resolver problemas do cotidiano. Desde 2008, Buenos Aires tem passado por um processo de modernização da administração pública por meio da IoT, que resultou na automatização e integração de diversos aspectos da cidade.

O melhor exemplo disso foi a implantação do programa “cidades futuras”, após grandes inundações que acometeram a cidade em 2013. O programa coleta dados, por meio de sensores que medem a direção, a velocidade e o nível da água nas ruas. As informações são disponibilizadas para a prefeitura de Buenos Aires em tempo real, o que torna a tomada de decisão muito mais ágil.

Mas o que cidades inteligentes e a Internet das Coisas têm a ver com o turismo? Imagine chegar a um hotel no qual você nunca esteve e não precisar preencher aquela enfadonha ficha de hospedagem? Mais do que isso, chegar ao quarto e encontrar uma decoração baseada nas suas preferências. Um colchão que regula a temperatura de acordo com a sua sensação térmica e inclina a cabeça de seu companheiro roncador. Nas refeições, um cardápio desenvolvido especialmente para você, que quer perder alguns quilinhos. No final do dia, uma pré-reserva, com desconto, para aquela festa que você pesquisou quando estava planejando a viagem. E, no dia seguinte, um city tour exclusivo pelos cantinhos mais remotos e interessantes do destino. Tudo isso feito pelo hotel sem nada te perguntar, apenas com base nas informações colhidas na internet e ajustadas para sua hospedagem.

A IoT também pode ser a solução para o controle da capacidade de carga de pontos turísticos naturais, como parques e grutas. Pode, ainda, auxiliar na mensuração do fluxo turístico das fronteiras, por exemplo. Tudo isso com base em um simples dispositivo acoplado a carros que é lido por câmeras de vigilância.

Naturalmente, tamanha omnisciência tem seu custo. Ao acessar sites e aplicativos, mesmo sem perceber, deixamos vários dados pessoais disponíveis. Estamos dispostos a abrir mão de nossa privacidade para estarmos cada vez mais conectados?

Além disso, para funcionar bem, a Internet das Coisas exige um acesso rápido e confiável. Como se sabe, o Brasil ainda tem grandes deficiências nesse quesito, o que pode ser agravado caso as provedoras de internet passem a impor limitações no tráfego de dados. Essas questões podem ser especialmente limitadoras em destinações turísticas fora dos grandes centros.

Não obstante esses desafios, a Internet das Coisas tem potencial para ser um importante aliado do mercado de turismo, ajudando a proporcionar experiências únicas, que ficam marcadas na memória do cliente. Se o pensamento de Weiser se concretizar, em breve a IoT deixará de ser um diferencial e será pré-requisito do mercado de turismo.

O mundo dos Jetsons está chegando e o turista tem muito a ganhar. Resta saber se teremos infraestrutura suficiente para isso e se os empreendedores de turismo enxergam a Internet das Coisas como oportunidade ou como só mais um gasto.

11701145_885099661565134_5694412369975954743_nGraziele Vilela é mestranda em Turismo pela Universidade de Brasília (UnB) e Coordenadora Nacional dos segmentos de turismo de sol e praia e turismo cultural do Sebrae.

Boletim de Serviços – Maio de 2016

O Boletim de Serviços de maio de 2016 está no ar, clique aqui para acessá-lo. Alguns dos destaques:

  • A receita nominal do setor de serviços subiu 2%, enquanto o volume de atividades teve redução de quase 4%, em fevereiro
  • Em março, a inflação anual de serviços desacelerou para 9,4%
  • O setor registrou o fechamento de 83,3 mil postos de trabalho em março
  • A balança de serviços segue registrando um déficit inferior ao dos anos anteriores, liderado pela contração das importações
  • O investimento direto estrangeiro em serviços aumentou 5,4% na comparação anual

Para acessar a metodologia e as séries históricas em excel, acesse: https://economiadeservicos.com/boletim 

Sem título

O financiamento dos serviços de saúde no Brasil

A saúde no Brasil não vai bem. Observa-se diariamente a dificuldade financeira da União, dos estados e municípios em manter o Sistema Único de Saúde (SUS) e garantir o direito constitucional à saúde universal no país. A saúde suplementar não está em situação melhor, sofrendo com dificuldades financeiras e uma estrutura de financiamento não sustentável.

Foram feitas diversas mudanças na legislação que regula o financiamento do SUS nos últimos anos. Em 1996, houve a criação da CPMF (suspensa em 2007); em 2000, a promulgação da Emenda Constitucional nº 29 e a regulamentação desta em 2012. Essa regulamentação (dada pela Lei Complementar 141/2012) não previu mudanças na participação federal no financiamento dos serviços de saúde. Com isso, estados e municípios, que costumam ter maior limitação orçamentária que o Governo Federal, seguiram financiando importante parte dos serviços de saúde.

O gráfico 1 mostra a contribuição, em percentual da receita de impostos, nos últimos três anos, da União, estado de SP e município de São Paulo (usados como exemplo), para o financiamento dos serviços de saúde. De acordo com a Lei Complementar 141/2012, os estados e Distrito Federal devem destinar no mínimo 12% da receita de impostos e os municípios 15% . À União cabe o investimento de 10% da receita arrecadada com impostos. Assim, observa-se que os municípios investem muito mais do que o exigido por lei, enquanto estados e União investem menos do que o mínimo obrigatório.

Gráfico 1: Financiamento dos serviços de saúde de São Paulo-SP, por fonte, em percentual da receita de impostos.

Gráfico financiamento saúde

 

Fonte: autoria própria, a partir de dados do SIOPS (2016).

Além da questão do financiamento, outros aspectos contribuem para a atual situação dos serviços de saúde. Nas últimas décadas, o poder público tem conseguido dar mais acesso à saúde. Com isso, pessoas que não tinham atendimento passaram a tê-lo com a descentralização do sistema e a criação de unidades básicas. O aumento do número de pessoas atendidas gerou aumento da demanda. Porém, como tratado anteriormente, a destinação de recursos para saúde não acompanhou o ritmo.

Especificamente nos últimos dois anos, tem-se observado significativo aumento do número de atendimentos, o que pode ser explicado, ao menos em parte, pelo aumento das pessoas que deixaram de ter planos de saúde, seja porque perderam o emprego, seja para cortar despesas de seu orçamento. Esse aspecto atinge tanto a saúde suplementar, que perde recursos para o financiamento da sua rede privada, como também o SUS, que vê a demanda pelos seus serviços aumentarem e a arrecadação diminuir.

Somam-se a esse quadro:

  •  O envelhecimento da população, que contribui consideravelmente para o aumento das despesas com saúde.
  • O maior número de carros e motocicletas, o que vem acompanhado de maior número acidentes de trânsito, com impacto nas despesas com saúde — entre 2008 e 2013, o número de internações por acidentes de transporte terrestre no SUS aumentou 72%.
  • Tendência à judicialização dos serviços de saúde — tratamentos que não tinham cobertura prevista passaram a ser obrigatórios por meio de mandados judiciais, criando despesas imprevistas para o Estado e planos de saúde.

É preciso reconhecer que o atual sistema de financiamento dos serviços de saúde, tanto público como privado, não tem funcionado. Diante dos enormes desafios que se apresentam, atores públicos e privados do setor de saúde terão que desenvolver novas estratégias de financiamento ou até mesmo repensar o próprio sistema.

Lacunas de habilidades: o trabalhador que o mercado do século XXI precisa

Aqui no blog, têm-se discutido os novos desafios da competitividade, que envolvem a tendência de crescente  digitalizaçãomudanças disruptivas no sistema produtivo. Nesse contexto, um ponto crucial reside na demanda cada vez mais intensa por um capital humano capaz de lidar com a dinâmica de um sistema produtivo cada vez mais baseado na tecnologia.

Como consequência, a contratação de trabalhadores se tornou tarefa mais árdua para os empregadores. De acordo com estudo do MangroupPower, cerca de 32% dos empregadores no mundo têm dificuldades em contratar trabalhadores com o talento desejado para as vagas disponíveis (ver gráfico abaixo). No Brasil, esse percentual é de 61%. E o resultado é que muitas dessas vagas permanecem desocupadas.

Gráfico – Percentual de empregadores que enfrentam dificuldades para contratar empregados qualificadosgrafFonte: MangroupPower

A justificativa para esse fenômeno é bem simples: de acordo com a coluna da Harvard Business Review, as novas tecnologias demandam habilidades específicas que não são ensinadas nas escolas e nem o mercado supre. Em meio a constantes avanços tecnológicos, empregadores simplesmente não encontram profissionais capazes de lidar com essas novas tecnologias. É a chamada lacuna de habilidades (ou skills gap, em inglês).

Conforme estudo do World Economic Forum, as economias caminham para um perfil mais criativo, inovador e colaborativo, o que demanda empregos voltados para a solução de problemas e a análise eficiente de informações e dados.

O fato é que o mundo está avançando tecnologicamente mais rápido do que a capacidade de adaptação dos trabalhadores. E, mais do que isso, o tradicional sistema educacional não parece capaz de suprir tais lacunas de habilidades. Isto não significa que o ensino usual de ciências, matemáticas e línguas deixou de ser importante. Certamente, tais conhecimentos ainda são importantes, porém não são suficientes. Tal como proposto pela WEF, é necessário combinar fundamentos teóricos com competências práticas.

Imagem – Habilidades demandas no século 21skills21stFonte: World Economic Forum

Mais do que um problema, as lacunas de habilidades também trazem oportunidade: os trabalhadores que adquirirem mais rapidamente as habilidades demandadas pela nova dinâmica produtiva conseguirão melhores empregos e maiores salários. Mas é preciso ter em conta que parte daquelas habilidades são desenvolvidas no próprio ambiente de trabalho. Logo, há que se desenvolver uma agenda de interesse mútuo entre trabalhadores  e empregadores — aqui reside uma das chaves para a qualificação do capital humano no século XXI.

No fim das contas, o que importa é que o capital humano seja capaz de lidar com o novo, o inexplorado e o incerto. Preparar trabalhadores para a era tecnológica é um processo que demanda esforços que vão desde o maior interesse dos jovens e a reestruturação do modelo educacional tradicional que incite o pensamento crítico e o raciocínio lógico passando pelo planejamento estratégico das empresas para o desenvolvimento das habilidades requeridas para se competir nesta nova era.